40º Capítulo - Clara
Acordei ainda chorando em meio a madrugada. Sequei o rosto, sem entender o motivo de tantas lágrimas, e observei o quarto, sentindo a ausência de mamãe e papai, que antes estavam ali comigo.
De repente, todos os músculos de meu corpo se retesaram e eu encarei a janela. Um par de olhos verdes me observava.
Minha primeira reação? O susto. A segunda? Abafar um grito. A terceira? Imaginar ser Jake.
Dei um pulo desastrado da cama e, por conta do gesso, caí no chão. Encarei novamente a janela, ainda deitada sobre o piso, mas não havia mais nada nem ninguém me observando.
O soluço foi o primeiro sinal de mais um choro doentio que estava para começar. Sentei-me ali mesmo, encostei-me à cama e me deixei levar pela tristeza.
_ Não! – bufei. – Só para estragar minha noite?
Soquei o móvel mais próximo e praguejei mentalmente.
De repente, algo me ocorreu: talvez doesse tanto por não desabafar com ninguém, por sufocar tudo dentro de mim.
_ Precis... – um soluço me interrompeu. – Preciso colocar isso para fora!
Apertei as mãos com força até que os nós de meus dedos ficassem sem cor. Foi aí que tive uma ideia.
Fiquei de pé com certa dificuldade e caminhei pesadamente até minha escrivaninha. Sentei-me na cadeira e suspirei, tentando acalmar o choro.
Abri uma das gavetas, peguei papel, caneta e pus-me a escrever segundos depois.
"As lágrimas são inevitáveis, o que é bom, afinal mostram-se como fontes de alívio aparentemente inacabáveis.
A sensação de perda massacra meu peito! Por mais que hajam outros próximos a mim, você ainda ocupa grande espaço de minha mente. E isto é cruel.
Renego este sentimento sob o luar todas as noites, incessantemente, mas de nada adianta. A Lua parece não querer me ouvir falar disso... Até ela reconhece o quão errada é esta paixão e resolve demonstrar desinteresse..."
De repente, parei e encarei a parede. Tentando controlar as lágrimas que pingavam e molhavam o papel, murmurei:
_ Realmente devo estar ficando louca. Lendo as expressões da Lua? Sério isso, Clara?
Ninguém me escutou, assim como em todas as outras infinitas vezes que tentei conversar com as sombras de meu quarto, o vento do jardim ou as estrelas do céu. Infelizmente, só tinha a eles para tratar deste assunto... Acho que por isso, por falta de opção, resolvi conversar comigo mesma. Mas como?
Voltei os olhos ao papel e continuei desabafando da maneira mais estranha que já recorri.
"Escrever esta carta para mim mesma foi a única saída..."
De repente, uma inspiração inesperada tomou minha mente e comecei a redigir um poema.
"Aquele brilho...
Aquele brilho em teus olhos.
Aquele lindo brilho...
Acorrentado àqueles lindos olhos.
O doce aroma...
O doce aroma que invade meu ser...
O doce e bom aroma.
Aroma este que acompanha meu viver...
Para você, sorrio...
Sorrio minha alma para você!
Mas também choro um longo rio...
Um longo rio também choro por você.
Por que, amado meu?
Por que faze-me sofrer?
Amado meu, por que não dizes...
Não dizes que quer a meu lado viver?
Sofro sorrindo...
Sorrindo, sofro calada.
Por você, faço tudo na vida...
Por você, não desisto por nada!"
Após sentir que havia finalizado, suspirei. Não estava acostumada com este tipo de sentimentalismo... Sinceramente, nunca havia amado algum rapaz como amava Jake! E isso estava mexendo comigo. Sequer sabia reagir àquela situação.
Tomei nas mãos o papel por inteiro rabiscado e apertei-o contra meu peito. Estava descarregando a tristeza e o pesar que havia guardado por toda a minha vida.
As lágrimas cessaram, o coração desacelerou e a respiração tornou-se suave. Dobrei a folha, acomodei-a numa das gavetas e fiquei de pé.
Escorando-me nos móveis, caminhei até a cama e deitei-me nela. Com um último sorriso cansado, adormeci.
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