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28º Capítulo - Clara

Não sonhei com nada. O sono e o cansaço eram tão intensos que não permitiram a meu cérebro nem um pouco de imaginação ou diversão.

Ao acordar, notei que já anoitecia.

Olhando pela janela, observei as cores do entardecer. Os diversos tons de azul e alaranjado que invadiam meu quarto faziam-me suspirar... O ar fresco que enchia meus pulmões era tão revigorante que chegava a machucar-me, por tentar respirar tão fundo. Na região mais escura do céu, uma única estrela brilhava, solitária e digna de atenção.

Lembrei-me da época em que era criança e via mamãe fazer um pedido à primeira estrela que surgia no céu. Ela afirmou-me que, se meu desejo fosse verdadeiramente necessário, seria atendido. Além disso, deixou claro que quem atendia meu alento não era a estrela, mas sim os espíritos antigos que também a observavam de algum lugar do universo.

Nunca acreditei naquilo, mas naquele momento, qualquer coisa podia ajudar...

Com os olhos lacrimejando, sussurrei:

_ Seja lá quem está ouvindo isso... – abafei um soluço. A tristeza era sufocante. – Por favor, eu imploro! Faça com que eu retorne à Luz. Já não aguento mais...

Uma sensação, parecida com aquela que sentimos quando estamos sendo ouvidos, percorreu meu corpo. Junto disso, um arrepio fez-me tremer.

Infelizmente, a sensação de calor e calma passou rápido. Um ruído fez-me segurar em meu arco com força.

O som vinha de fora do quarto. Parecia a voz de alguém... Ou vozes... Não sei bem, pois era difícil entender.

Estiquei a cabeça para fora da janela e observei o local.

As folhas das árvores brincavam com o vento, dançando de um lado a outro, fixadas em seus devidos galhos.

A paisagem começava a ficar escura, devido ao cair da noite, mas nada suspeito estava em meu campo de visão. Nenhuma pessoa passava por ali. O lugar estava deserto, ao menos até onde meus olhos podiam alcançar.

Decidi que era melhor investigar. Tomei em minhas mãos o arco e uma flecha. Coloquei a aljava nas costas e saltei a janela. A arma pronta para um disparo.

Arrastando as costas na parede, percebi o gradual aumento no tom de voz. Eu estava chegando perto...

De repente, ao reconhecer de quem era a voz, gelei e parei instantaneamente. Não seria preciso ver a pessoa. O lugar em que estava já bastava para entender as palavras ditas e compreender o assunto. Quanto menos me arriscar com relação àquele crápula, melhor.

_ Não importa o que Jake quer! Ele era um bom companheiro até a chegada dessa menina, mas, depois de suas visitas noturnas, o rapaz não é o mesmo. Mais um motivo para matá-la! – afirmou Andrew, como se aquilo fosse algo normal. Tão normal quanto falar "quero ovos fritos! Não quero bacon".

_ Mas senhor... – soou uma voz desconhecida, aparentemente assustada e trêmula. Provavelmente um membro qualquer do Caos, um subordinado de Andrew.

_ Sem mas, rapaz tolo. Tem medo? – debochou ele.

_ Ahn... – creio que o desconhecido pensou em dizer que sim, mas mudou de ideia. – Não, senhor.

_ Melhor assim. Devemos traçar um plano para ser cumprido o mais rápido possível. A iniciada deve morrer o quanto antes!

Engoli em seco. Mais que nunca eu precisava deixar o Caos!

Não havia como esperar. Seria naquele momento que fugiria. Com ou sem Jake, sendo ou não aceita de volta na sede dos Luminescentes. Isso não importava mais. O importante era conseguir sobreviver.

Virei-me bruscamente, na intenção de sair correndo, mas dei de cara com Jake. Abafei um grito.

Ele estava com o dedo indicador entre os lábios, em sinal de silêncio. Minhas pernas tremiam. Será que ele iria me impedir de fugir?

Entretanto, em contradição a todas as minhas expectativas, ele disse:

_ Precisamos te tirar daqui.

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