22º Capítulo - Clara
Caminhei sem rumo pelos cantos do lugar.
Poderia ter observado cada detalhe da sede, mas estava muito atordoada para isso.
Na verdade, não estava prestando atenção nem em meus próprios passos.
Bem, isso até ouvir uma voz conhecida...
_ Você sabe que ela deveria morrer. – soou a voz de Andrew, assustadoramente calma, por detrás de uma porta.
Aproximei-me.
Escutar a conversa dos outros não é uma coisa muito legal de se fazer, mas ultimamente esse hábito estava tornando-se frequente e assombroso em minha vida. Geralmente, o que ouvia não era de meu agrado.
_ Está ficando louco? – soou a voz de Jake, em protesto.
_ Viva ela corre o risco de decidir voltar aos Luminescentes, contando nossa localização e massacrando-nos na batalha. - argumentou Andrew.
_ Ela não voltará à luz! Além disso, o caminho entre ambas as sedes é longo e sinuoso. Clara estava tão atordoada que não deve ter prestado atenção nem em seus próprios passos. Caso ela volte para sua origem, jamais saberá revelar nossa localização! - exclamou meu defensor.
_ Morta não apresentaria risco algum... - soou a voz do cara mais assustador do mundo, aparentemente pensativo, deliciando-se com a ideia de matar-me e ignorando por completo os protestos de Jake.
_ Lutando ao nosso lado, Clara é bem mais valiosa que qualquer um de nós. - bufou meu único "amigo".
Em seguida, ouvi o som de passos pesados aproximando-se. Lancei minhas costas na parede do corredor e saí cambaleando a procura de um esconderijo.
Encontrei um armário (não me pergunte o porquê de haver um armário no meio do corredor), joguei-me lá dentro e fechei a porta.
O pequeno móvel cheirava a coisa guardada. Meu nariz começava a coçar e eu sentia um espirro inevitável aproximando-se.
Um terrível desespero tomou conta de meu peito.
Pude ouvir a porta se abrir, mas todo e qualquer ruído foi abafado pelo som de meu "atchiiiin!" agudo.
Tudo ficou em silêncio.
Meu coração parecia querer saltar boca afora.
Passos soaram, vindos em minha direção.
_ Jake, ainda não decidi. - soou subitamente a voz de Andrew.
Silêncio novamente.
O caminhar recomeçou, mas afastava-se lentamente.
_ Não pense que permitirei esta morte. - afirmou Jake.
Meus batimentos suavizaram-se. Pelo menos morrer eu não iria.
_ Por que... Não! Jake, está apaixonado por ela? - exclamou o líder em tom de zombaria.
_ Cale a boca, imprestável! - ordenou meu defensor.
Por entre risos, passos ecoaram, deixando claro que ambos os rapazes haviam deixado o recinto.
Respirei fundo e abri lentamente a porta. Observei o local e não vi ninguém.
Resolvi que, após ter conhecimento do fato de que eu deveria estar morta, era melhor voltar à "sala de jantar".
_ Jake? - chamei, parada a porta.
Ele não ouviu. Estava de costas conversando com um grupo de meninas ensandecidas e desnecessariamente assanhadas.
_ JAKE! - gritei.
Para minha infelicidade, todos ficaram em silêncio. Jake encarou-me, assustado.
_ Ahn... - gaguejei. - Posso falar com você?
Provavelmente minha cor já havia passado do vermelho ao roxo.
Andrew não estava na sala.
_ O que foi? - perguntou meu defensor, aparentemente confuso, enquanto se aproximava.
_ Desculpe pelo grito. É que você estava lá, no meio daquele monte de garotas, todas gritando e... - comecei a me explicar, mas fui interrompida por uma gargalhada.
_ Ciúmes? - exclamou ele, animado.
_ O quê? Não! Não é ciúmes! É que você não havia me escutado e... - ele me olhava com cara de quem não acredita. - Ah! Esqueça. Queria pedir permissão para voltar à meu quarto. Posso?
_ Por quê? - indagou ele, com o sorriso desvanecendo em seu rosto.
_ Por favor, posso? - implorei.
A esta altura do campeonato, meus olhos já estavam marejados.
O medo de estar jurada de morte por Andrew, o Caos tomando posse de meu espírito, a saudade da Luz e, principalmente, a falta de mamãe, faziam-me ter vontade de sentar no chão, baixar a cabeça e chorar.
_ Tudo bem. - respondeu ele, permitindo minha saída.
Baixei os olhos, virei-me lentamente e saí.
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