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14º Capítulo - Clara

_ T-tia? – eu arfava.

Havia sido um susto e tanto.

_ Você não me respondeu. – murmurou ela, friamente.

_ É que... Ahn... Eu queria treinar. – gaguejei.

_ A esta hora da noite? - perguntou, franzindo a testa. 

Assenti.

Tia Aurora olhou-me atentamente dos pés a cabeça. Aquilo me deixou incomodada. Era como se estivesse tirando um raio x de meu íntimo, lendo minha alma, descobrindo meus segredos...

_ Ok. Espere aqui. – ordenou ela, após alguns instantes em silêncio.

Dito isto, virou-se e sumiu na escuridão de um corredor mal iluminado.

Minha mente mostrava-se confusa. Ela estava "desaparecida", entretanto, subitamente apareceu atrás de mim fazendo perguntas com um ar todo misterioso. Além disso, parecia extremamente ríspida e impassível. Seus olhares estavam causando-me calafrios, acarretando uma inevitável vontade de afastar-me dela. 

Enquanto ia afundando cada vez mais em meus pensamentos, minha tia retornava com uma aljava cheia de flechas e um arco brilhante.

Uma luz natural parecia irradiar dos objetos. Era lindo! Como eu queria que fosse...

_ É seu. – afirmou ela.

_ O quê? – perguntei confusa enquanto tomava a arma nas mãos.

_ Eu já devia ter entregue, mas preferi guardar até sentir que seria o momento certo.

O arco era prata, cheio de pequenos detalhes que, provavelmente, levaria horas para observar. As flechas eram comuns, mas a aljava era tão bonita quanto a própria arma.

_ Não treinarei com você, pois preciso descansar. Sinto muito... Divirta-se, minha flor! – exclamou ela.

_ Obrigada, tia. – agradeci meio sem jeito, ainda encantada com o presente.

Após um abraço, ela se foi, deixando-me sozinha.

Acomodei a aljava nas costas e fui de encontro à noite. A lua já não se mostrava mais tão tímida. Esta já abria passagem por entre as nuvens e começava a iluminar a grama ainda úmida por conta da tempestade.

Aproximei-me lentamente das bordas da floresta e preparei uma flecha. Mirei na árvore mais próxima e atirei, acertando bem no centro do caule.

O clima era gélido. Não havia muitas estrelas no céu. O local onde eu estava era mal iluminado, mas me sentia bem ali.

Uma sensação de solidão encheu-me o coração, fazendo com que meus instintos aflorassem. Mais uma flecha zuniu em direção à pobre "vítima".

_ Argh! – reclamei.

Os olhos de Jake pairavam por minha mente, assombrando-me sem piedade. Se eu pudesse voltar atrás, teria atirado-lhe uma flecha no primeiro momento em que o vi parado em minha janela!

Não... Talvez esteja exagerando. Matá-lo está fora da minha lista de desejos.

Preciso confessar... Tenho medo de que ele volte, mas no fundo, queria que isso acontecesse. Se soubesse desde o início que ele pertencia ao Caos, jamais teria permitido suas visitas a meu quarto. Na verdade, acho que o teria matado... Seria uma atitude errada, mas sendo o inimigo, era meu dever acabar com sua vida.

Foi pensando nisso que Jake escondeu-me a verdade. Ele sabia que morreria ou seria capturado.

A culpa começava a pesar em meu peito.

Por que ele não me matou? Teve a chance diversas vezes de me apunhalar pelas costas, mas não o fez.

O que me intriga, porém, é o motivo que incitou suas visitas.

Enquanto pensava, vários projéteis pontiagudos foram disparados de forma automática. Lançava-os sem nem perceber e acertava o alvo em cheio.

O vento soprava sem piedade, mas eu não descansaria até que todas as flechas acabassem.

Infelizmente, isso não demorou a acontecer. Alguns minutos mais e a munição chegou ao fim.

Aproximei-me da árvore e, cuidadosamente, arranquei flecha por flecha, colocando-as de volta na aljava. Depois, sentei-me recostada ao tronco e comecei a chorar – contra a minha vontade, mas era inevitável.












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