11º Capítulo - Lucy
O almoço foi rápido. Cerca de uma hora após sentar-me na mesa, já me levantava novamente e seguia para o quarto de Clara.
Minha filha não descera para almoçar e isto me preocupava muito. Na verdade, o fato dela não aparecer estava ok, o complicado seria o motivo que acarretou isso...
_ Clara? - chamei, batendo na porta de seu quarto em seguida.
Não obtive resposta.
Aproximei meu ouvido da parede para tentar ouvir algo, mas tudo estava um completo silêncio.
_ Filha, por favor, abra... - algo me interrompeu. A tranca se abriu e pude entrar.
Clara estava recostada à janela, observando a chuva que despencava lá fora.
_ Dia de folga. - murmurou ela. Depois virou-se e lançou-me um terno sorriso.
Fiquei espantada. Há quanto tempo não via minha filha agir de forma... Ahn... Normal?
Lentamente aproximei-me dela.
_ Não quis almoçar? - perguntei.
_ Acordei há cerca de uma hora. Estou sem fome, por isso não desci. - ela suspirou. - Desculpe.
_ Tudo bem, querida. - escorei-me junto a ela na janela. - Só fiquei um pouco preocupada.
Ela sorriu novamente. Naquele momento, notei certa leveza em seu rosto. Clara parecia mais feliz...
_ Cansou, ontem, com o super treinamento de Marcel? - indaguei.
_ Com certeza! Todos os meus músculos doíam quando me deitei na cama. Acho que por isso dormi tanto! Meu corpo precisava se recuperar. - respondeu minha filha num lamento. Entretanto, não esboçava nem um pingo de raiva ou amargura na voz, por ter sido forçada a enfrentar aquilo.
Observei o tempo lá fora. Relâmpagos e trovões ribombavam de minuto em minuto. A chuva caía como minhas lágrimas no dia em que perdi mamãe: de forma incrivelmente descontrolada e exagerada.
Mãe... Que saudades tenho dela! Vovó exerceu muito bem o papel de substituta, mas não é a mesma coisa. Nunca é... Fico imaginando como teria sido minha vida se ela não tivesse partido.
Será que eu teria ido para New Jersey encontrar Ícaro de um jeito ou de outro?
Lembro-me que, na época da perda, Aurora - que era apenas a voz - afirmou que seria melhor para mim. Será mesmo que minha vida teria sido diferente com mamãe viva?
Um sentimento de vazio encheu-me o peito, ainda mais quando me lembrei do dia em que vovó partiu. Eu havia acabado de completar 30 anos de idade quando o hospital ligou.
"_ Senhorita Lucy? - soou a voz abafada ao telefone.
_Sim? - respondi normalmente.
_ É do hospital de New Jersey. Sinto informa-lhe dessa forma, mas seus avós não estão bem.
_ O quê? - minhas pernas viraram gelatina de forma instantânea.
_ Peço que venha para cá. Lhe diremos melhor o que houve quando chegar aqui."
Tremia feito louca. Clara chorava desesperadamente por ter sido arrancada da aula de artes na escola de forma tão brusca. Ícaro brigava com ela e eu mandava-o deixá-la chorar.
Esta foi a pior viagem de minha vida.
Ao chegarmos na cidade, recebi a terrível notícia de que os dois haviam falecido. Primeiro vovó. Alguns minutos depois, vovô também se foi.
Os médicos disseram que, antes de partir, vovó deixou uma mensagem para mim, que fora escrita num bilhete: "Você ficará bem, minha neta. Amo-te muito! Saiba que tenho inestimável orgulho da líder que se tornou. Quando sentir medo, olhe para o céu e fale comigo. Eu estarei lá."
Chorei tanto naquele dia... O destino despedaçou meu coração ao levar os dois juntos.
Aquilo fora injusto comigo! Por que ela não pôde ficar mais tempo comigo? Por que ele teve que deixar-me sem seus abraços?
Um turbilhão de sentimentos do passado voltava a incomodar-me. Uma lágrima escorreu por meu rosto e Clara notou minha expressão de saudade, tristeza e raiva.
Sem pronunciar uma única palavra, minha filha embalou-me num longo abraço. Senti-me grata por este gesto.
_ Você está fazendo o papel da mãe, Clara. - murmurei.
Ela se afastou e sorriu.
_ Vai ficar tudo bem. - afirmou, com plena convicção na voz.
Sorri e limpei as lágrimas que haviam escapado de meus olhos.
_ Sabe, - continuou ela. - agora estou ficando com fome. Será que tia Ana já guardou as panelas?
_ Só indo até a cozinha para descobrir. - respondi em tom travesso.
Ela riu e saiu correndo do quarto. Segui atrás dela, mas de forma mais preguiçosa.
Ao alcançar a porta, virei-me e observei o quarto: as paredes rosa-bebê, as cortinas brancas, a cama toda bagunçada e o guarda-roupas num tom mais escuro, que contrastava com o resto do cômodo... Tudo parecia normal, exceto por algo escrito na parede próxima a cama.
A inscrição era ilegível a distância - parecia mais um rabisco -, mas, ao aproximar-me, enxerguei a terrível palavra escrita a lápis. Abafei um grito.
Com a perfeita letra de minha filha, lia-se "Jake" na altura da cabeceira. Meu mundo virou de cabeça para baixo.
Era simplesmente impossível.
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