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O gemido do Oceano

"Estás todo em ti, mar, e, todavia,

como sem ti estás, que solitário,

que distante, sempre, de ti mesmo!" (Solidão - Juan Ramón Jiménez)

Capítulo 8 - O gemido do oceano

Max nunca esqueceria seus primeiros meses com Ariel. Apenas uma coisinha curiosa e assustada, que o olhava com aqueles olhos grandes para tudo. Lembrava como foi segurar nas mãos tão pequenas na enseada nas manhãs frias, o ensinando a andar, sentindo a total confiança, tão assustadora, que o pequeno tinha nele. Daquele calor no peito sempre que ele sorria, sempre que sentia que fazia algo certo.

Lembrava também do medo absurdo. Em como sempre esperava o dia que saísse de casa e quando retornasse Ariel não estivesse mais lá. Que um dia, o mar acabaria levando seu filho embora, pegando de volta aquilo que foi tirado dele naquela tempestade.

Era aquele medo que sentia no momento, esperando no umbral da porta, vendo a noite que caia rapidamente no povoado ainda sem energia além dos lampiões. Podia sentir os mosquitos ao redor, a umidade salina que impregnava a pele, o calor abafado que anunciava uma nova chuva. Ariel nunca voltava tarde para casa e com certeza não com uma tempestade chegando.

Sentiu o coração acelerar ao ouvir passos correndo na terra, uma luz de lanterna vindo pela escuridão da praia, apenas para sentir nova onda de mal-estar ao ver que Sam vinha com Linguado em seus calcanhares. Sozinhos. O sorriso cansado do homem mudou em uma carranca de preocupação ao ver o que quer que estivesse em sua expressão.

"Ariel não estava com vocês?" Perguntou antes mesmo do homem chegar à varanda.

"Ele não apareceu." O outro colocou no chão as ferramentas que havia pego para consertar os telhados. A testa franzida.

Sentiu o peito afundar. Havia algo de errado.

Ariel devia levar os mantimentos para alguns moradores que trabalharam nos telhados e voltar para casa. Então ia passar em Sam e pegar as ferramentas.

Horas atrás.

"Max..."

Antes que o homem terminasse já pegava a lanterna da mão dele e sumia na noite.

"Sam?" Linguado perguntou incerto, sentindo a tensão no ar.

"Linguado, preciso que fique aqui, caso Ariel volte. Vou ajudar Max a procurá-lo."

"Sam..."

"Vai ficar tudo bem, camarada. Ele deve ter se distraído, como sempre."

O garotinho assentiu, incerto. Antes que pudesse falar algo a mais, Sam também já havia ganhado a noite.

................................................................

Quando Eric retornou para casa, após uma busca infrutífera por Ariel por toda a enseada, uma chuva grossa já começava. Diante de toda frustração apenas queria acreditar que o garoto havia ido para casa. Por mais que quisesse correr pelas dunas em direção a casa que se destacava ao longe na enseada, não tinha a coragem de encarar Max depois do que havia feito.

Eu sou um covarde.

Com um som frustrado bateu a porta, a esmurrando. Sentindo um descontrole já conhecido, pegou o objeto mais próximo e jogou na parede. A comida do depósito que arremessara espalhou-se pela parede encardida e pelo chão, o cheiro antes apetitoso no ar agora lhe dando náusea.  Quando olhou para a mesa, os dois pratos que havia colocado estavam lá e acabaram tendo o mesmo destino do depósito, logo eram apenas cacos de vidro espatifados no chão úmido. 

Deixou sua respiração acalmar-se, os olhos varrendo pela casa vazia e agora bagunçada por seu ataque de ira, finalmente focando no tecido no chão perto do balcão. Abaixou-se devagar pegando o pano frio. O gorro de Ariel. Apertou-o com força lembrando do caleidoscópio que eram os olhos de Ariel o fitando em fúria e cautela. 

Antes que se desse conta do que fazia, estava com o tecido perto do rosto, aspirando um aroma salitre.  Afastou-o horrorizado ao perceber o que fazia, soltando o gorro no chão como se fosse um animal venenoso.

O que há de errado comigo?

Deu alguns passos para trás, tentando pensar com coerência.

"Eu só preciso saber do segredo dele, e acabar de pensar nisso." Falou sozinho para a casa vazia. " Só isso."

Era isso. Era apenas uma charada, um mistério. Estava obcecado.

Tentou se convencer, passando a mão no rosto, tentando tirar a imagem do garoto da cabeça. Aquela hora ele devia estar em casa, já aquecido. Talvez Max nem descobrisse o que aconteceu ali. Ariel não falaria, obviamente.

Covarde.

Mas o braço dele...fechou os olhos ao lembrar do som de dor que ecoara na casa.

Por Deus, como isso foi acontecer?

Por mais que puxasse por sua memória, Eric não conseguia entender como as coisas chegaram nesse ponto, na razão de forçar um beijo em Ariel, em um machucar daquela forma. Eric nunca havia se quer cogitado esse tipo de ação com alguém, em se forçar em alguém. E logo Ariel.

Lembrou da tarde anterior, de como os dois ficaram imersos no farol por tanto tempo que havia esquecido do mundo.  Ariel era a única pessoa em muito tempo em que queria ficar em companhia, em que ansiava ficar por perto.  Com que se sentia realmente bem. Naquelas horas ele não lembrou de Marina, dos seus pais, de como largou tudo, de como se sentia perdido. Em como se questionava se o motivo de vir para ilha seria acabar com tudo de uma vez. Só havia Ariel e sua curiosidade insaciável, seu brilho de intuição por trás dos olhos que muitos achavam inocente. 

Então, por quê?

Ariel era atraente, isso era algo que não poderia negar, mas não justificava. Nada justificava. O sentimento que teve naquele momento também, entre uma névoa estranha se sensações, não havia sido atração apenas. Havia sentido necessidade de machucar Ariel.

Por quê? O que está acontecendo comigo?

Por que havia machucado Ariel? Era assustador pensar, em como se Ariel não o tivesse parado, qualquer que tenha sido o meio que usou, Eric talvez não tivesse parado em um beijo. 

Havia algo ali, na periferia de sua mente, uma explicação, uma memória que não conseguia alcançar. Algo sobre como teve certeza de ouvir a voz de Marina o mandando parar enquanto estava com Ariel. Era algo comum, ouvir Marina. Sua consciência tinha a voz dela, porque sua irmã sempre conseguiu o fazer repensar suas escolhas.

"Estou enlouquecendo."

Seus olhos caíram na garrafa de rum que ganhara dos moradores, que escapara de sua ira ainda há pouco. Sem pensar muito a pegou.

.......................

A água acima do mar agitava-se, novamente furiosa. As ondas batiam nas pedras com violência, com vingança. Entre as rochas próximas ao penhasco, olhos seguiam a terra dos homens, buscando. Sentindo em seu âmago o pedido de socorro que vinha de seu sangue.

Um som piedoso e angustiado forçou sua garganta, os olhos seguindo para trás, para o mar que agitava-se furioso, para a terra desconhecida que era ameaçada pela água. 

Na sua cabeça veio um rosto pequeno que pensou que nunca veria novamente e sangue rubro nublando a água anos atrás.

.......................

Em algum ponto os gotas grossas começaram a cair, ensopando a areia a seus pés. Ainda assim Max não diminuiu seu passo, gritando o nome de seu filho através do barulho do vento.

Em minutos havia alcançado o farol, em puro instinto. As escadas de pedra estavam escorregadias, mas deixou um suspiro de alivio escapar sua garganta ao ver o cabelo vermelho. Correu no mesmo instante ajoelhando-se ao lado do corpo caído e encolhido em um canto. Ao tocar-lhe a testa sentiu como se segurasse gelo entre os dedos.

"Ariel!"

Não houve resposta. Procurou o pulso no pescoço pálido e o encontrou fraco, quase inexistente.

O pânico entrou em seu coração e pegou seu filho nos braços mais do que depressa. Seu primeiro pensamento foi correr para o mar. Reconhecia aqueles sintomas. Porém, ao lembrar do que havia acontecido, sabia que não podia fazer isso sem arriscar a vida dele mais ainda. Havia outro meio. 

Protegendo-o com o corpo como podia correu pela enseada em direção a sua casa.

.................................

Sam chegava na entrada da casa no mesmo instante que avistou Max correndo em meio a tempestade. Gritou o nome do outro mas ele parecia alheio, carregando algo nos braços que logo percebeu ser um Ariel inconsciente.

Entrou dentro da casa atrás do homem, que só então pareceu o perceber. Os olhos de Max foram dele para Linguado assustado na porta. Ele apertou Ariel mais contra o corpo, o rosto pálido.

"Vai ficar tudo bem, vou cuidar dele, podem ir para casa."

"Max..."

" Melhor irem antes que a chuva fique mais forte."

O ignorou e o seguiu para dentro da casa.

"Sam!" Linguado gritou tentando o seguir também.

"Fique, Linguado!"

Não olhou para trás para saber se o menino havia o obedecido, sentindo-se mal sabendo o quanto ele deveria estar apavorado com tudo aquilo.

"Max!"

"Vá para casa, Sam!" A voz do outro tentou parecer autoritária, mas ouviu o pavor nela. Max parou e o encarou com raiva, segurando o corpo do filho contra o peito como um animal protegendo a cria. "Eu vou cuidar do meu filho, cuide de Linguado, o garoto está apavorado!"

"Nós vamos ajudar."

"Eu não preciso..."

"Max!" Encararam-se. As respirações rápidas. "Sou seu amigo. Quero ajudar você, Max. Quero ajudar Ariel."

O outro pareceu indeciso, o olhar voltando para o menino em seus braços. Sua voz ficou apavorada.

-"Você não entende, não sabe o que está oferecendo. Eu preciso que você saia agora."

"Eu não vou sair. Eu não vou contar nada a ninguém. Você sabe que não."

O outro o olhou assustado ao ouvir a última parte.

"Me diga o que fazer. O que precisa."

Max suspirou, longamente.

"Eu preciso... de água do mar."

....................

Eric olhou para a parede encardida, o som da chuva batendo nas janelas. Agora mais fraca, mas ainda impiedosa.

Havia algo amargo no seu peito. Olhou para o copo na sua mão, a garrafa quase vazia de rum no chão ao seu lado, sem saber ao certo quando começara a beber. Só sabia que a sensação amarga não havia ido embora. Assim como um gosto de maresia em sua boca, que não sabia se era do vento ou do beijo de Ariel.

Sua mão apertou o tecido frio do gorro que havia ficado para trás.

Aquela sensação em seu peito apenas crescia.

Eric.

Seus olhos azuis mortos vagaram pela casa. Era Marina. Marina estava na porta aberta, como da última vez que a vira. O rosto pálido, os olhos como os seus, sem vida. O cabelo solto, a roupa encharcada. E aquele sorriso triste, tão triste.

Marina havia se afogado. Em Ruislip Lido. Eric havia dito para ela não entrar mais no mar naquele dia, ela havia prometido. Havia uma tempestade vindo, ainda assim ela entrou no mar. Marina nunca havia quebrado uma promessa antes.

Eric lembrava de como ela estava estranha na praia, olhando a água, a expressão distante. Ele havia se virado para seguir em direção a pousada e ela havia ficado para trás. Quando retornou por ela, ela já estava na água, o corpo sendo arrastado. Ele saltou atrás dela. Dessa vez não havia nenhum anjo para os salvar. Dessa vez só um deles havia chegado em terra vivo. 

Ele não sabia como havia sobrevivido. Um dos moradores havia pulado e pego Marina, já sem vida, mas não havia encontrado Eric na água. Todos pensaram que ele havia sido arrastado para muito longe. Horas depois eles o encontraram em algum ponto da praia, na areia. Respirando. 

De alguma forma ele havia sido poupado de novo. Marina não. 

Soltou a garrafa que rolou pelo chão.

"Me desculpe. Que porcaria de irmão eu fui, Marina."

Aquele sorriso estupidamente triste.

Eric não merecia o sorriso de Marina. Ele não merecia o sorriso de Ariel. Eric não merecia nada de bom em sua vida, porque ele sempre destruía isso facilmente.

Oh, Eric...

Por fim levantou-se em direção a porta, ganhando a noite escura. 

Você precisa lembrar o que aconteceu, Eric. Você precisa lembrar.

Em segundos estava ensopado

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