Capítulo 1. Jurerê Internacional
Meu nome é Alessia, e esta é uma história que aconteceu alguns anos atrás. Nasci na cidade de Florianópolis, pelo menos é o que minha mãe, Helena, costumava dizer. Nunca conheci meu pai, pois minha mãe afirmava que ele faleceu devido a um câncer logo após meu nascimento. Fui criada por minha mãe, que sempre garantiu que não faltasse nada em nossa casa e sempre me incentivou a continuar meus estudos. Não tive irmãos, e minha mãe nunca aceitou se casar novamente, embora tivesse alguns bons pretendentes.
Minha mãe trabalhava na casa da Dona Joana, uma senhora casada com um magnata rico do ramo de eletrônicos da cidade. Joana tinha cerca de 40 anos. O casal tinha dois filhos, Tomás, meu melhor amigo, e seu irmão, Rodrigo.
A casa era enorme, e muitas vezes minha mãe me levava com ela para ajudar ou para brincar com os dois meninos. Passei praticamente toda a infância com os dois meninos, mas minha aproximação com Tomás era mais especial, eu sentia algo a mais, e ele dizia o mesmo de mim. Começamos a criar uma relação amorosa, sem claro, avançar muito mais ao que dois pré-adolescentes poderiam fazer, era apenas beijos e trocas de carícias.
Sempre olhava tudo naquela casa com incredulidade, como alguém poderia ter tanto, enquanto minha mãe e eu tínhamos tão pouco? Os brinquedos, os carros, a piscina, a comida... eu era muito feliz sempre que estava lá. Sempre fui tratada muito bem, até que...
Um dia, eu e Tomás estávamos brincando em uma barraca montada em seu quarto. Apesar de sermos pré-adolescentes, ainda brincávamos às vezes de coisas infantis. Começamos a conversar sobre coisas mais maduras...
- Minha mãe disse que quando eu crescer, vou casar com a filha do prefeito. – disse Tomás.
Levantei-me e olhei profundamente em seus olhos pretos.
- Mas eu não quero ficar com ela, quero ficar com você. – ele falou com toda a inocência de um adolescente.
- Você acha que um dia a gente vai se casar mesmo? Acho que sua mãe não vai permitir. – falei, tentando trazê-lo de volta à realidade. Joana sempre tentava nos separar quando estávamos juntos, ela tentava fazer com que eu ficasse com minha mãe, mas o pai de Tomás sempre permitia que ficássemos juntos, sem ver naquela relação alguma maldade.
- Ela não manda em mim. – disse Tomás em tom ríspido.
- É o que você diz. – respondi.
Tomás fixou os olhos nos meus; sempre que fazia isso, era porque queria me beijar. No entanto, ele tinha um pouco de medo e timidez, que se misturavam com sua ansiedade excessiva (pela qual ele passava por tratamentos constantes para ansiedade e nervosismo). Assim, era sempre eu quem tomava a iniciativa.
Segurei a mão de Tomás e senti sua pulsação aumentar; ele ficou excessivamente vermelho e paralisado. Apertei sua mão com mais firmeza e comecei a fazer pequenos movimentos circulares nela.
Muitas vezes, testemunhei os surtos de Tomás e sua ansiedade extrema. Sempre fiquei maravilhada com as psicólogas que o atendiam. "Um dia..." – disse a ele – "serei sua psicóloga."
Ele se inclinou em minha direção e aproximou a boca da minha. Senti sua respiração pesada e nervosa. Aproximei minha boca da dele e lhe dei um selinho demorado.
Senti seus lábios tocarem os meus. Não era a primeira vez que fazíamos isso, e sempre era a mesma sensação. Era como se estivéssemos saboreando um mel fresco, saboroso e doce. Aquela sensação molhada e açucarada ao mesmo tempo. Rapidamente, Tomás se acalmou; sua pulsação diminuiu, a cor de sua pele voltou ao normal e sua respiração ficou tranquila. Era como se eu fosse seu remédio, a cura para seus momentos de turbulência.
Meus devaneios foram interrompidos por um grito estridente:
- O que está acontecendo aqui? – gritou a mãe de Tomás com voz e olhar de reprovação. Ela balançou a cabeça em sinal negativo. Senti o corpo de Tomás gelar. Ela se retirou e, após alguns minutos, gritou como uma trombeta, chamando por Tomás.
Tomás continuou me olhando nos olhos; eu podia sentir o medo que ele tinha de sua mãe, que o castigava muito mais do que seu irmão. Ela exigia de Tomás um comportamento que não exigia de seu irmão Rodrigo. Algo era diferente entre os dois.
Tomás apertou minha mão com força e pediu para que eu o acompanhasse. Ao tocar sua mão, senti apenas um gelo intenso. Entramos na cozinha, e Joana estava gritando com seu sotaque português nativo. Minha mãe ouvia tudo com um semblante de choro e medo.
Meu temor agora era ainda maior, tanto por Tomás quanto pelo que poderia acontecer com minha mãe; ela não podia ser demitida.
- Eu não quero mais essa menina aqui na minha casa. – gritou Joana.
- Eu sinto muito, minha senhora, eu prometo não trazê-la mais aqui. – disse minha mãe. Nesse momento, senti que as consequências poderiam ser muito mais sérias do que eu havia imaginado.
- Mãe. – falou Tomás em voz fraca, mas conseguiu a atenção de todos. – Mãe, eu gosto da Alessia, eu quero namorar com ela. – afirmou Tomás com confiança.
Olhei para Tomás; ele realmente demonstrava a confiança que eu havia esperado dele há algum tempo. Desde que começamos o suposto "namoro", eu já havia pedido a ele para contar à sua mãe. Mas não podia culpá-lo; até eu tinha medo daquela mulher.
Joana ouviu aquela frase e arregalou os olhos, já sendo possível prever sua reprovação. Tomás, parado e estático, foi puxado com força por Joana, seguido por um tapa estridente em seu rosto desferido por ela, e outros tapas que se seguiram.
Tomás revidou, desferindo também um tapa no rosto de Joana. Isso só serviu para aumentar a fúria da mãe, que aumentou a força de suas pancadas com chineladas.
- Como você ousa? Você é apenas uma criança! Isso nunca vai acontecer; você jamais vai namorar essa menina enquanto eu estiver viva, seu garoto. – bradou Joana com raiva.
Aquilo doeu em meu coração. O que eu poderia ter feito de errado para merecer tanto ódio? Talvez fosse por eu ser uma menina pobre e sem muitas perspectivas de futuro aos olhos daquela senhora conservadora.
As agressões contra Tomás só cessaram quando gritei com todas as minhas forças e implorei para que ela parasse. Ela se virou para mim, com a mesma fúria com a qual havia agredido Tomás, erguendo a mão para me atacar.
Só não fui agredida naquele dia porque o pai de Tomás chegou do trabalho naquele exato momento e impediu sua esposa de me atingir. Todos estavam exaustos e chocados com a cena. Eu me sentia em um misto de vergonha e angústia, percebendo que tudo aquilo mudaria minha vida para sempre. O pai de Tomás, Eduardo, aproximou-se de mim.
- Você está bem, garota? – perguntou Eduardo, sentando-se em uma cadeira em minha frente.
- Estou sim, e o Tomás? – perguntei, preocupada.
- Ele está bem. – ele disse pausadamente. – Joana me contou o que aconteceu. Não acho que vocês dois não possam ser um casal no futuro. Mas vocês dois ainda são muito jovens, você entende? – ele falou enquanto acariciava meus cabelos.
- Eu entendo. – respondi. Ele me ofereceu um copo d'água, o que de certa forma me ajudou a acalmar. – Quando a gente for mais velho, o senhor deixa a gente namorar, doutor Eduardo?
- Tenha calma. – ele disse, esboçando um sorriso. – Você seria realmente uma ótima escolha para ele, sabia? Pelo que vejo, você é linda, inteligente e muito talentosa. Seu pai também era muito inteligente, sabia?
- O senhor conheceu meu pai, doutor Eduardo? – perguntei curiosa.
- Um dia, vou contar tudo sobre seu pai, tudo bem? – ele respondeu.
Assenti com a cabeça, satisfeita com sua resposta. O que será que o doutor Eduardo sabia sobre meu pai? Qual era a conexão entre os dois?
Minha mãe raramente falava do meu pai. Dizia que ele era açougueiro e trabalhava em um grande mercado de Florianópolis, e que eles se conheceram no trabalho, mas não dizia mais nada.
A convivência na casa nunca mais foi a mesma. Joana já não permitia que Tomás ficasse sozinho comigo. Se estávamos estudando, ela estava presente; se estávamos conversando, fazia questão de ouvir o que dizíamos, sempre bisbilhotando e analisando, monitorando cada passo de Tomás.
Um mês após esse episódio, Eduardo, pai de Tomás, veio a óbito em um acidente de carro. Ele nunca me contou nada sobre meu pai. Com sua morte, o segredo que eu tanto ansiava descobrir também se foi. Alguns dias após a morte do pai de Tomás, Joana agiu para finalmente se livrar de mim e nos separar de vez.
Nota: Como visto acima, cada capítulo estará com o nome da praia onde a cena contada se passa. Isso facilita para quem deseja visualizar no mapa o local onde a história acontece.
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