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Capítulo 6 - Calmaria Antes do Caos

Se Alec fosse um anjo, aquela seria sua ideia de paraíso.

Um lugar onde, de um jeito literal, a música estava presente aonde quer que você olhasse. Instrumentos para todos os gostos e estilos cobriam o espaço, a parede abarrotada de guitarras brilhantes nos fundos era sua parte favorita. Alec costumava frequentar a loja quase religiosamente, embora fizesse alguns meses que não aparecesse ali. Primeiro por causa do stalker, e depois porque se sentia meio desanimado nos últimos tempos. Ele ainda se lembrava da emoção que sentiu quando entrou ali pela primeira vez. A inspiração que se apoderou de cada célula de seu corpo, implorando para criar algo novo. Já tinha visto instrumentos antes, mas não tantos assim, tão bonitos, novos e vibrantes. Foi como se apaixonar por música mais uma vez. Redescobrir o quanto ele gostava de compor melodias e escrever letras. Talvez parecesse exagero para alguns, mas só Alec sabia como aquela visão aquecia seu coração. A música e os instrumentos musicais eram parte dele, como ar em seus pulmões, ele não conseguiria viver sem.

A decisão de sair de casa foi difícil, mas seria ainda pior ter que desistir daquilo. Era parte de sua identidade, outra coisa que ele teria que abrir mão se tivesse ficado.

Notando a empolgação silenciosa de Lynx ao seu lado, Alec se lembrou da primeira vez que pegou em um violão. Era o de um de seus colegas de escola do ensino médio. Ele sempre adorou música e logo descobriu um fascínio pela forma como as outras pessoas conseguiam dominar essa arte. Aquela foi a primeira vez que teve contato com um. Ele não sabia tocar, obviamente, mas decidiu que aprenderia. Então pediu um violão aos pais. Naquela época ele ainda era só um garoto riquinho mimado, e os pais não pensaram muito disso e deram um violão extremamente caro para ele. Alec aprendeu sozinho com a ajuda de tutoriais na internet, seus pais achavam que era apenas uma fase. Até ele pedir uma guitarra e declarar que queria ser músico.

Seus pais não lhe deram uma guitarra, e seu pai quebrou seu violão.

Sua primeira guitarra tinha sido comprada com muito esforço, ele ajuntou dinheiro durante meses e comprou usada pela internet. A segunda foi nova, bem daquela loja onde estavam, e era o seu maior xodó. Se um dia sua casa pegasse fogo, ela seria a primeira coisa que ele tentaria salvar além de si mesmo.

O dia que antes estava claro começou a se tornar parcialmente nublado, portanto, a iluminação dentro do recinto era fornecida mais pelas luzes no teto do que a luz natural da rua. A loja tinha bastante variedade. Havia algumas guitarras expostas na vitrine, mas aquela sessão da entrada era mais reservada para violões, teclados, amplificadores, pedais e outros acessórios relacionados. Eles passaram por uma fileira de violões tão limpos e impecáveis que era possível ver o próprio reflexo, e dava até dó de colocar a mão. O lugar tinha uma vibe vintage e a música ambiente era rock clássico. O chão era emborrachado e nas paredes de madeira se penduravam vários quadros de bandas famosas e algumas guitarras clássicas que eram apenas decoração. No entanto, ele não era o único apreciando a vista. Lynx estava maravilhado ao seu lado, os olhos brilhavam percorrendo cada item com curiosidade e fascinação. Um sorriso curvava seus lábios bem desenhados.

Alec se sentiu satisfeito com aquela reação. Era meio frustrante mostrar algo que você gostava muito para alguém e a pessoa não demonstrar pelo menos um pingo de animação. Lynx era o oposto disso, apesar de estar em silêncio e não ter saído tocando em nada, como se soubesse o quanto aquelas coisas valiam, seus olhos falavam mais do que qualquer palavra, e Alec conseguia ver o deslumbramento presente ali.

Aquela era apenas uma loja mundana de instrumentos musicais, não era um lugar místico capaz de realizar milagres, mas foi o suficiente para amenizar o clima sombrio da discussão na praça. Ainda tinha certa estranheza pairando entre eles, mas Alec se sentia meio aliviado. No fim, Lynx não tinha tentado matar ele. Era sua tarefa, mas ele nunca tinha cumprido ela e ainda foi banido evitando que outra pessoa, ou coisa, o fizesse. Essa era a verdade, ao que parecia.

Então essa era a morte terrível de Alec? Ser atacado por um stalker demônio? Não podia ao menos ser um stalker normal? Talvez ele próprio não fosse normal para começo de conversa e por isso coisas tão bizarras aconteciam com ele.

Alec até tentou pensar em mais motivos para desconfiar de Lynx em relação a esse assunto, mas não conseguiu pensar em nada que fizesse sentido. A menos que o anjo estivesse encenando tudo isso, mas parecia ser um trabalho que não valia a pena. Mas mesmo que Lynx não fosse o stalker do beco, ele não estava completamente livre de suspeitas, haviam coisas que ele sabia e não estava contando. Tudo que Alec podia fazer era continuar sendo paciente até o anjo deixar mais alguma coisa escapar, ou decidir contar naturalmente.

No entanto, Alec se deu conta de que nunca pressionava Lynx porque tinha medo do que ele poderia ter a dizer.

—E ai, Alec? Quanto tempo! Você deu uma sumida. — Disse o dono da loja conforme eles se aproximaram do balcão. Ele pousou a guitarra que estava em sua mão em cima da bancada e deu a volta, cumprimentando Alec com um abraço de um lado só dando alguns tapinhas nas costas.

—Aconteceram algumas coisas e andei meio cansado. — Alec respondeu vagamente não querendo explicar mais do que isso. —Tudo bem com você?

—Ah, sim, Tudo bem... — O cara notou algo, mas não pressionou. —Procurando o quê hoje então? Chegou um pedal novo, quer dar uma olhada?

—Hoje não, Jason. — Disse Alec apontando para Lynx sem se virar. —Só vim mostrar a loja pra um amigo.

Jason era um cara na casa dos quarenta anos, porém, tinha boa aparência, seus cabelos eram longos e repicados como os de um astro do rock dos anos oitenta e várias tatuagens cobriam seus braços. Sua aparência poderia ser considerada intimidadora para alguns, mas sua personalidade era mais como a do tiozão legal que não conta para a mãe quando os sobrinhos adolescentes estão fumando maconha escondido. Ele era o tipo de pessoa que se empolgava falando sobre as coisas que gostava, e como música também era o assunto favorito de Alec, eles tinham se tornado grandes amigos.

Quando o homem reparou na presença de Lynx ali, ele ergueu as sobrancelhas e deu um assobio.

—Eita, amigo bonitão. — Elogiou retornando para trás do balcão, voltando a se ocupar com a guitarra a qual ele trocava as cordas. —Bom, vou deixar vocês à vontade então, qualquer coisa chama ai.

Alec riu com escárnio. Lynx estava ocupado demais para prestar atenção na cena, até Alec falar com ele.

—Vem bonitão. — Alec zombou.

No entanto, Lynx tinha perdido a piada em seu estado de êxtase pelos instrumentos, e provavelmente não entendeu porque Alec estava chamando ele de bonitão do nada. Ele reparou que Lynx ficou vermelho ao ser elogiado por ele e sentiu o próprio rosto esquentar. Ele só estava fazendo uma piada, por que Lynx tinha que deixar a situação tão esquisita ficando todo corado como um adolescente virjão?

Os dois ficaram em silêncio enquanto adentraram mais a loja. No fundo ficavam as guitarras e as baterias. Alec viu um vulto passar ao seu lado, era Lynx indo ansiosamente admirar mais de perto. O entusiasmo dele era quase palpável. Alec tinha acertado muito em levá-lo até ali, pois de todas as coisas que eles viram durante o passeio, nenhuma delas fez os olhos do anjo cintilarem daquela forma. A cena causou uma sensação estranha em Alec que não era nem um pouco ruim, por isso ele reprimiu o sentimento.

—Isso são guitarras, né? — Perguntou Lynx olhando para elas com fascínio.

—Pensei que ia ter que explicar isso também. — Alec disse rindo com surpresa.

—Não sou tão burro assim, Alec. — Ele fez aquela expressão chorosa que Alec não tinha certeza se era sério ou se ele apenas estava sendo manhoso.

—Não disse que você é burro, para com isso... — Alec coçou a cabeça se sentindo um pouco sem graça.

—Ah! Eu já vi isso! — Lynx deu um susto nele com a mudança repentina de humor e falando mais alto que o necessário. —É uma bateria! Vi na TV.

—Isso mesmo... — Ele cruzou os braços observando Lynx. —Você gosta?

—Sim! — Lynx tocou em um dos pratos da bateria com cuidado. —Será que eu conseguiria aprender a tocar isso? É muito difícil?

—Bom, você fez um bolo sem nunca ter mexido em um fogão antes, tenho certeza que uma bateria não é nada pra você.

—Você sabe tocar? — Lynx não tirava os olhos do instrumento. Rodeava a bateria como se estivesse apreciando um monumento.

—Sei, um pouco. — Alec respondeu.

—Então pode me ensinar, aprendo mais rápido ainda se você for meu professor.

Primeiro Alec ficou sem saber o que dizer, Lynx disse isso com tanta naturalidade que o deixou sem reação. Ele era assim, ficava envergonhado com coisas bobas, mas aí do nada soltava uma dessa. E então Alec teve uma imagem mental de Lynx sem camisa todo tatuado sentado atrás de uma bateria. Balançou a cabeça como se isso pudesse ajudar a afastar a visão.

—Claro. Ensino. — Ele balbuciou tentando se livrar dos pensamentos intrusivos inapropriados.

Só porque Lynx, aparentemente, não era o cara do beco, não significava que estava livre para ver ele desse jeito. Ele ainda era um anjo, talvez anjos nem pensassem nesse tipo de coisa. Era verdade que ele achava Lynx extremamente atraente e que tinha certo interesse em saber mais sobre ele. Mas precisava se lembrar que Lynx não era humano, e que aquela situação não era normal. Alec nem sabia ao certo o quê nele estava despertando tanto seu interesse. Não tinha a ver apenas com sua aparência, embora ela fosse um fator que contribuísse bastante. Alec não era do tipo que se apegava rápido as pessoas, então ele não entendia o que estava sentindo e tinha medo da velocidade com que tudo estava acontecendo.

Tentando ignorar sua mente acelerada, Alec se reaproximou do balcão deixando Lynx e as guitarras para trás.

—Jason, libera lá em cima pra mim? — Pediu ao seu velho amigo. Lynx surgiu atrás dele sem entender sobre o que ele estava falando, mas o rosto exibia curiosidade.

—Tá destrancado, pode subir. — Jason disse com um sorriso para eles.

Alec segurou o pulso de Lynx trazendo ele consigo até uma entrada lateral ao lado do balcão sem dizer nada. Havia uma escada estreita na qual eles começaram a subir. No meio da subida Alec notou que ainda segurava o pulso dele e soltou rapidamente feliz por estar indo na frente e Lynx não ser capaz de ver seu rosto. Tinha que parar com esse hábito de ficar tocando no anjo tão casualmente.

Alec se sentia muito idiota depois da discussão na praça. Por que em vez de bravo ou abalado, ele estava aliviado? Claro que ele estava preocupado com o fato de que um demônio entrou na sua cabeça e mexeu com suas memórias, mas ele sentia que sua reação sobre o assunto deveria ser mais dramática. Contudo, Lynx havia dito que poderia ajudar a remover o bloqueio, e estranhamente, isso tinha deixado ele mais tranquilo.

Eles chegaram na porta do final da escadaria e Alec afastou os pensamentos confusos e as perguntas. Estava de folga, não queria saber de mais drama naquele dia.

Ele abriu a porta e deu espaço para Lynx passar.

Era um estúdio a prova de som que ficava anexado à loja. Muitas bandas alugavam o espaço para ensaiar, mas também haviam músicos como Alec que simplesmente iam ali tocar porque não tinham onde fazer isso. Alec até podia tocar em seu apartamento, mas em um volume extremamente entediante de tão baixo. Não que o prédio tivesse alguma regra quanto a barulhos altos, Alec apenas não queria incomodar seus vizinhos então ele impôs a regra a si mesmo. Sendo assim, ele ia até o estúdio toda vez que tinha uma folga, Jason gostava muito dele e por isso havia parado de cobrar dizendo que o garoto podia aparecer lá sempre que quisesse. O espaço não era muito grande, mas era equipado com o necessário. Geralmente, Alec levava sua própria guitarra, mas estava tão distraído por Lynx que tinha se esquecido. Por sorte haviam instrumentos disponíveis da própria loja ali. Duas guitarras e um baixo descansavam em seus respectivos suportes e havia uma bateria no canto. Do outro lado ficavam os amplificadores alinhados na parede.

Lynx se sentou em um deles e Alec achou o gesto tão natural que por um momento até esqueceu de que aquele homem era um ser de outro mundo que não estava muito familiarizado com as coisas a sua volta.

Alec pegou uma das guitarras, uma Fender Stratocaster preta e branca, e enquanto ajustava a correia em seu ombro observou Lynx que apenas olhava para ele com expectativa.

—Você tá muito quieto, Lynx. É estranho. — Disse e então desviou o olhar, enrolando um pouco enquanto fingia ajeitar o instrumento. Tinha sido ideia dele ir até ali, mas, de repente, começou a sentir meio tímido.

—Por quê? — Lynx sorriu. Esticou as pernas e apoiou as mãos na beirada da caixa de som em que estava sentado.

—Por que você fala sem parar, e quando fica quieto do nada é estranho, só isso. — Alec deu uma risada curta. —Se bem que você é tão imprevisível, isso não devia me surpreender tanto.

—Ouvir isso só me faz pensar que então você gosta de me ouvir tagarelar. — Ele fez uma pausa sorrindo. —Que bom. Pensei que já estava ficando cansado de mim.

—Você tem sorte que sou paciente. — Alec ergueu as sobrancelhas. —Qualquer outra pessoa já teria jogado você de cima de um prédio.

Lynx soltou gargalhada.

—Não seria muito efetivo, eu sei voar.

—Ah é. — Alec deu um tapinha na própria testa. —Esqueci que você também é basicamente indestrutível.

—Não por muito tempo, eu acho. — Lynx falou parecendo ter se esquecido de sua situação.

—Seja sincero. — Pediu Alec. Ele apoiou as mãos na guitarra. Estava parado de frente para Lynx, olhando para ele agora. —Você não está com medo? De ter sido banido e que pode até ser morto pelos outros anjos?

—Já vivi demais, e não tenho medo de morrer de novo. — Ele olhou bem nos olhos de Alec e demorou um tempo até continuar. —Também não me arrependo nenhum pouco do que fiz.

—Aposto que ainda não vai me contar por qual motivo fez. — Alec quebrou o contato visual não esperando uma resposta. Porém, para sua surpresa, Lynx respondeu:

—Você sairia correndo se eu contasse.

—Por que não experimenta? — Sugeriu Alec tentando ser persuasivo. —Não pode ser mais surpreendente do que tudo que já aconteceu.

Lynx pareceu considerar, mas no fim balançou a cabeça.

—Não quero assustar você, ou piorar a imagem que tem de mim.

—Que imagem você acha que tenho de você?

—Hm... Que eu sou um maníaco idiota?

—Passou perto. — Brincou Alec. —A verdade é que não tenho uma imagem consistente de você, ainda. Na maior parte do tempo acho que você é genuíno, meio bobo, e parece estar tentando me agradar, mas não entendo o porquê. Sei que você está escondendo alguma coisa. E isso me incomoda menos do que deveria. Eu quero saber quem você realmente é, mas não é como se eu pudesse te obrigar a fazer um relato completo da sua vida e dos seus pensamentos. E ai comecei a pensar que do mesmo jeito que você é um estranho pra mim, também sou um estranho pra você, por isso não posso te obrigar a contar coisas que talvez você não se sinta pronto pra falar. Mesmo que eu ache que tem a ver comigo.

Alec estava envergonhado de ter admitido tudo isso, mas não dava para engolir de volta as palavras.

—Você nunca falha em me impressionar. — Lynx falou depois de um tempo, com uma expressão que Alec não sabia decifrar.

—Não estava tentando impressionar você. — Alec ergueu as sobrancelhas tentando fingir que estava descontraído, como se o olhar no rosto do anjo não estivesse deixando suas pernas bambas e fazendo seu peito revirar.

—Você não precisa tentar. — Lynx não sorria, mas seu olhos dourados eram quentes. -Você é impressionante sem esforço nenhum.

—Eu só disse o que estava pensando. — Alec resmungou sem graça.

—Eu amo a forma como você pensa.

Alec encarou ele meio perplexo e pensou em várias respostas, mas preferiu não dizer nada. Eles se olharam por mais algum tempo. As sensações que Alec tentava reprimir desde que viu Lynx sentado na mesa do cybercafé atingiram ele naquele momento, e ele deixou elas atravessarem um milímetro de suas defesas, apenas para ver como era, e se arrependeu logo em seguida porque foi inundado por uma torrente de sentimentos e pensamentos que ele não conseguia compreender. Alec fechou os olhos e respirou fundo afastando tudo aquilo.

Ele pegou o cabo da guitarra, plugou na caixa e ligou o amplificador. Então ele parou olhando para Lynx com as mãos na cintura, pensativo.

—Que foi? — Lynx perguntou sem entender sua expressão.

—Estou pensando que tipo de música você gostaria de ouvir. — Ele pensou na personalidade de Lynx; agitada e imprevisível, calorosa e com um certo quê de inocência, então várias músicas vieram a sua mente.

—Qualquer coisa que você tocar eu vou gostar. — O anjo falou com um sorriso suave.

Alec virou de costas fingindo ajustar os botões do amplificador para Lynx não ver seu rosto vermelho. Ele aumentou o volume da guitarra, um zumbido elétrico preencheu o ar combinando com a ansiedade do anjo. Em seguida, Alec começou a brincar com alguns acordes. Uma hora tocava trechos de músicas que gostava, em outros momentos tocava algo que ele mesmo compôs, e ai complementava fazendo algum solo para exibir suas habilidades. Por um momento ficou imerso no som, era apenas ele, as cordas da guitarra sob seus dedos e o som estridente do instrumento nos ouvidos reverberando por cada centímetro de seu corpo.

Então ele olhou para Lynx, e a expressão no rosto do anjo fez com que ele sentisse como se tivesse sido eletrocutado. Seu coração começou a pulsar como se ele tivesse um amplificador no peito. Ele não sabia decifrar que tipo de olhar era aquele em seus olhos de gato, mas era tão intenso que Alec ficou com vergonha de novo. O tempo pareceu desacelerar e perder o sentido dentro daquela sala pequena. Era como se eles estivessem dentro de uma bolha, não havia nada ali além dos dois e o som da guitarra preenchendo o espaço entre eles.

Alec começou a ouvir uma nova melodia se formando em sua mente, acordes que foram reproduzidos naturalmente por suas mãos ágeis. Ele estava compondo algo. A música era enigmática, agitada, mas também passava um sentimento aconchegante e de nostalgia. A sensação de uma peça se encaixando em algum lugar. Era como voltar para o conforto do lar depois de um dia frio e cansativo. Mas então a música começou a tomar um rumo diferente, pesado e sombrio. A sensação de uma ferida aberta sendo pressionada. Era angustiante, como se as notas estivessem sofrendo penduradas nas cordas.

Alec parou de tocar abruptamente. Lynx olhava para ele preocupado, de um jeito que ele não tinha visto até agora, preocupado com Alec. Então Alec sentiu algo quente e molhado trilhar um caminho em seu rosto e percebeu que estava chorando. Ele se virou escondendo a expressão e se sentiu extremamente ridículo. Ele não sabia por que estava chorando, mas naquele momento tinha sido tomado por uma onda turbulenta de emoções e sentimentos que ele não sabia de onde vinham. De repente ele se sentiu sobrecarregado, como se carregasse um peso que só agora ele havia notado que existia.

Enquanto tentava entender porque seus olhos estúpidos estavam derramando lágrimas, sentiu uma mão em seu ombro, o toque o fez pular de susto e Alec começou a tremer. Lynx não disse nada, apenas acariciou seus ombros e sua cabeça por um tempo. Alec conseguia sentir a proximidade, embora as mãos dele sempre estivessem frias, o calor do corpo de Lynx chegava até ele. Alec parou de tremer.

—Não é nada. — Ele riu em meio as lágrimas, embora a situação não fosse minimamente engraçada. —Eu só... Nada...

Felizmente, Lynx não fez perguntas e Alec não queria olhar em seu rosto para saber qual era sua expressão.

—Por que você não toca um pouco de bateria? — Sugeriu Lynx. Sua voz era tão suave e gentil que era quase uma carícia. —Eu não estava brincando quando disse que queria que você me ensinasse.

Alec limpou as lágrimas do rosto e fungou.

—Sou um péssimo professor. — Ele tentou sorrir, mas imaginou que sua expressão agora era tão distorcida quanto seus sentimentos.

—Impossível. — O sorriso de Lynx era confiante.

Quase três horas depois Alec estava completamente abismado. Ele sabia que Lynx era capaz de aprender sem dificuldade, mas não imaginava que fosse tão rápido. Ele encarava Lynx que estava sentado na bateria tocando como se não tivesse aprendido a quase três horas atrás. Claro que ele ainda não era tão bom quanto Alec, mas o modo que ele estava tocando levaria, pelo menos, um ano para uma pessoa normal aprender. Então Alec se desfez da perplexidade porque Lynx de fato não era normal. Ele definitivamente levava jeito para aquilo. E era uma bela imagem. Sua expressão concentrada, as sobrancelhas claras franzidas com o esforço, os músculos do braço tatuado flexionando com os movimentos. Toda vez que ele olhava para Alec ele sorria e seus olhos exibiam um tipo de expectativa como se ele estivesse esperando aprovação.

—Você está indo muito bem. — Alec elogiava sorrindo de volta.

Ele ainda se sentia envergonhado por ter começado a chorar do nada na frente dele, e não entendia o motivo por trás daquelas lágrimas, mas eles pareciam ter chegado a um entendimento tácito de que aquilo não tinha acontecido e que a situação não deveria ser mencionada de novo no futuro.

—Isso, continua nesse ritmo. — Instruiu Alec. Ele pegou a guitarra e começou a acompanhar Lynx na bateria.

Eles ficaram horas naquele estúdio tocando, com Alec dando mais dicas e lições enquanto ele ouvia atentamente e replicava tudo com precisão. Quando pararam, a loja já estava fechando e o céu estava escuro. Se despediram de Jason que disse para eles voltarem sempre e então os dois seguiram para casa.

As estrelas estavam escondidas por uma densa camada de nuvens. Alec se arrependeu de não ter trazido blusa, pois o vento estava muito frio. Lynx caminhava ao lado dele com um leve sorriso no rosto, e sua mente parecia vagar. Alec pensou na forma como o anjo confortou ele no estúdio e sentiu algo se contorcer em seu peito. As coisas estavam acontecendo rápido demais e ele não estava conseguindo acompanhar. Quando você conhecia alguém, tinha todo um período de adaptação até aquela pessoa se estabelecer em sua vida, mas com Lynx, parecia que ele tinha pulado várias etapas e isso era muito assustador.

—Não podemos ir andando? — Lynx resmungou tirando ele de seus devaneios. Os dois estavam no ponto de ônibus. —Eu te carrego nas costas. Ou então vamos voando, é rapidinho.

—Nem a pau, não quero voar nunca mais, uma vez foi o suficiente. — Só de pensar, Alec ficou enjoado.

—Uma vez de ônibus foi o suficiente pra mim também. — Lynx rebateu.

Eles pararam na calçada se encarando em um impasse.

—Lynx, você tem noção de quanto a minha casa tá longe daqui? Eu não vou andar a pé, tenho que trabalhar amanhã, preciso estar descansado. — Alec explicou calmamente. —De ônibus, a viagem nem é tão longa, aguente só um pouco.

O anjo suspirou.

—Tudo bem, mas... — Seus lábios se curvaram em um sorrisinho diabólico. -Então você vai ter que cuidar de mim que nem você fez antes.

-—Não vou fazer isso.

Mas ele fez.

Uma vez dentro do ônibus Alec cedeu as manhas de Lynx, embora ele não parecesse nem um pouco enjoado dessa vez e Alec suspeitasse que ele estivesse apenas se aproveitando de sua boa vontade. Ou talvez fosse porque ele havia sentado na janela, pois achou que Lynx se sentiria menos enjoado se não prestasse atenção no veículo em movimento. Ele massageou o pulso de Lynx usando mais força que o necessário, mas o anjo apenas riu.

Quando eles chegaram no prédio, ainda havia algumas pessoas na rua conversando e algumas crianças brincando, mas ninguém prestou atenção nos dois. Eles subiram as escadas sem dizer nada. Alec havia notado que o silêncio entre eles nunca era desconfortável, como geralmente era entre duas pessoas que acabaram de se conhecer. Isso só somava a todas as outras anormalidades desse relacionamento nada normal.

Alec destrancou a porta do apartamento, e quando entrou foi surpreendido por Lynx subitamente puxando ele para trás de si, usando seu próprio corpo como escudo. O anjo tomou uma posição defensiva. Alec não entendeu a princípio, mas então ficou em alerta assim que notou a silhueta parada próxima a janela. Ele tateou a parede em busca do interruptor, e sem tirar os olhos do intruso acendeu a luz. Lynx o puxou novamente para trás de si e encarava o invasor com um olhar afiado.

A pessoa parada perto da janela estava com as mãos atrás das costas, parecendo um vilão de desenho animado. Um homem alto e imponente que se virou lentamente para eles.

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