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Capítulo 5 - Descobertas e Segredos

Diferente dos dias cinzentos anteriores, aquela tarde estava mais clara. Era possível até mesmo ver um sol aguado dando o ar da graça no céu entre as nuvens. Foi o suficiente para Alec trocar seu moletom quente por uma camiseta, sem perceber que ele e Lynx agora estavam combinando de jeans, camiseta preta e coturno. No dia anterior, ele havia dado uma camiseta cinza para Lynx, mas ele havia sujado ela toda de farinha em sua aventura culinária, então Alec deu uma preta para ele trocar. Não fazia diferença a cor da camiseta, ele ficaria lindo usando um saco de batata, pensou Alec. Ele lembrou de Amarantha usando terno e pensou que se Lynx usasse um, ele pararia o trânsito. Se Lynx sempre se vestia do jeito que tinha aparecido na noite anterior, então seu estilo era parecido com o de Alec. Ele olhou para a jaqueta de couro do anjo que jazia destruída no canto da sala e achou uma pena pois era bonita e ficava muito bem nele.

O estilo de Alec poderia ser classificado como alternativo, mas no geral, qualquer coisa preta e coturno, ele estaria pronto para ir a qualquer lugar. Mesmo se estivesse calor, ele era uma pessoa friorenta, então isso não era tão incomodo.

Ele também tinha muitas camisetas de bandas e animes, mas as de anime ele usava apenas em casa, com exceção das que eram mais sutis. O cabelo castanho escuro - que já tinha sido descolorido algumas vezes, mas agora estava natural - ele gostava de manter um pouco abaixo do queixo porque suas orelhas eram sensíveis e qualquer ar frio nelas deixava ele desconfortável. O piercing na sobrancelha havia sido um protesto contra seus pais, mas ele acabou gostando e mantendo o acessório mesmo depois de ter saído de casa. E assim ele também descobriu que gostava de acessórios. Costumava usar coisas com spikes e arrebites, colares, chokers e pulseiras imitando de couro com pingentes variados, mas a maioria era de caveiras e guitarras, e não conseguia sair de casa sem pelo menos um anel no dedo.

Lynx usava muitos anéis, em quase todos os dedos. Seus coturnos eram parecidos com os de Alec, mas tinham uma singela plataforma deixando ele mais alto ainda. As tatuagens pretas em seu corpo eram como várias cobras pretas se entrelaçando na pele. Graças a exibição inesperada do anjo aquele dia no banheiro, Alec tinha reparado vagamente que elas começavam no pescoço e desciam pelos ombros até as costas da mão, e pelo peito até metade da coxa. E só agora Alec se perguntou como ele havia conseguido elas. Anjos não podiam ter contato com tecnologia e cultura mundana, mas tatuagens e piercings tudo bem? Era meio contraditório. Enquanto se arrumava fez uma nota mental para perguntar a Lynx sobre isso mais tarde.

Depois que os dois estavam prontos, eles saíram juntos do apartamento. Quando chegaram no portão de entrada do prédio, Alec olhou para o céu satisfeito com a melhora no clima.

Quem olhasse veria apenas dois jovens comuns, porém, muito bonitos e estilosos, caminhando pela calçada do bairro, completamente alheios do drama entre eles. Um com cabelos loiros pálidos e tatuagens à mostra, o outro com cabelos escuros rebeldes e uma expressão de poucos amigos. Mas era só a expressão, Alec era do tipo que podia andar na rua de cara feia com Taylor Swift explodindo nos fones de ouvido - seu gênero favorito era rock, mas ele curtia ouvir de tudo um pouco - e se por acaso alguém perguntasse as horas ele daria um sorriso gentil e diria o horário. Os dois juntos chamavam atenção, e Alec fingiu não perceber os olhares da vizinhança no momento em que eles saíram do prédio em direção a rua. Logo circulariam fofocas sobre quem era aquele belo jovem tatuado com ele.

O anjo, obviamente, chamava o dobro de atenção, mas isso se devia a cor incomum de seus olhos e sua aura angelical que parecia fazer todos quererem se aproximar naturalmente. Duas garotas realmente chegaram a parar os dois na rua para pedir uma foto de Lynx e perguntar se ele era algum famoso da Internet. Alec não as culpava, mas revirou os olhos internamente e pensou que se elas soubessem o quê Lynx realmente era, correriam na direção oposta. Lynx interagiu com elas com normalidade a princípio, sua simpatia e charme genuíno deixando-as encantadas. Até ele perguntar o que era uma foto e onde ficava a Internet, e Alec ter que intervir dando algumas desculpas vagas e se livrar educadamente das jovens confusas.

—Foto é tipo uma pintura, mas a gente faz com o celular ou câmeras hoje em dia. — Ele explicou pacientemente ao anjo. Tirou o aparelho do bolso e mostrou para ele. —Isso é um celular. — Abriu a câmera e tirou uma foto do céu. —E isso é uma foto.

—Ah! — Lynx parecia maravilhado segurando o celular de Alec e olhando para a foto que ele tinha acabado de tirar. -E a Internet está aqui dentro?

Alec estava pensando em uma forma fácil de explicar o conceito de Internet quando o ônibus chegou no ponto.

—Basicamente, depois explico melhor. Vamos.

Eles pegaram o ônibus que ia do bairro até o centro da cidade. Alec estava se divertindo horrores com as reações de Lynx a tudo que lhe era novo, tipo a catraca do ônibus, na qual ele tinha passado de costas olhando para ela e o interior do ônibus como se tudo fosse uma construção alienígena. Alguns passageiros ficaram encarando com olhares engraçados enquanto Alec começou a sentir dor na barriga por estar segurando o riso. Quando o ônibus começou a se mexer, Lynx arregalou os olhos e cambaleou, Alec o segurou pelo braço antes que ele caísse em cima de uma mulher com um bebê no colo, que olhou para eles de cara amarrada.

Ele guiou Lynx para um par de assentos vazios no fundo e se sentou ao lado dele. Alec não era um homem pequeno, e Lynx tampouco, os dois estavam tão próximos nos bancos estreitos que as laterais de seus corpos estavam espremidas juntas. Pela primeira vez ele sentiu o cheiro do anjo. Sempre achou ridículo a forma que os livros geralmente descreviam cheiros de pessoas de formas esquisitas, mas naquele momento entendeu como alguém poderia cheirar a noite misturado com sabonete. O cheiro que você sente quando abre a janela e inspira o ar puro de uma madrugada fria. O sabonete era porque ele havia tomado banho em seu banheiro, então era basicamente o mesmo cheiro que o seu. Mas também havia um outro cheiro que Alec não sabia descrever, um cheiro muito bom e aconchegante que fazia ele querer se inclinar para perto do anjo e inspirar o perfume. Alec se deu um tapa mental afastando esses pensamentos ridículos.

—Imagino que pra alguém acostumado a voar, isso aqui seja bem lento. — Ele sussurrou para Lynx que estava estranhamente imóvel ao seu lado.

—Hmhm. — Lynx resmungou como resposta.

—O que foi? — Alec perguntou distraidamente. Não fazia o tipo dele dar respostas assim por isso fez a pergunta, mas imaginou que não fosse nada demais.

—Lembra quando eu disse para Amarantha que voar me deixa enjoado? — Lynx olhava fixamente para a frente, as mãos estavam cerradas em punhos em cima dos joelhos.

—Sim? — Alec franziu a testa para a mudança súbita no estado de espírito dele. —O que tem?

—Eu estava falando sério. —Ele confessou. —Mas isso aqui é muito pior.

Com isso, Alec se inclinou no assento para olhar o rosto dele. Nunca em sua vida imaginou que veria o anjo naquele estado. Lynx estava completamente paralisado, mais pálido que o normal com os lábios esbranquiçados. Ele apertou os olhos e respirou fundo. Parecia alguém andando em uma montanha-russa pela primeira vez. Alec não queria ser maldoso, mas isso era infinitamente mais engraçado. Em defesa do anjo, aquele motorista realmente estava correndo mais que o necessário e o ônibus chacoalhava muito.

Anjos, criaturas etéreas que não tinham as mesmas necessidades básicas dos humanos, aparentemente, eram capazes de ficar enjoados com um simples passeio de ônibus. Isso era hilário.

—Por favor, tente não vomitar. — Alec disse com uma tosse para disfarçar a risada. —Se bem que você não come, fiquei curioso pra saber o que sairia de dentro de você.

—Você está zombando de mim. — Lynx olhou para ele fazendo beicinho. —Isso é sério, estou me sentindo muito mal agora. Tanta tecnologia e vocês não conseguem inventar um meio de transporte que não balance tanto? Ugh.

—Já vai melhorar. — Alec engoliu a risada e tentou acalmar ele, começando a sentir um pouco de pena ao ver Lynx daquele jeito. —É porque as ruas são mais esburacadas aqui, mas depois balança menos.

Isso não foi de muita ajuda, Lynx parecia prestes a sair pela janela do ônibus e se jogar no asfalto.

—Me dá seu pulso. — Pediu Alec ao anjo.

Lynx estendeu o braço para ele sem entender. Alec pressionou a parte de trás de seu pulso com o indicador e o outro lado com o dedão pressionando o tendão no meio e fazendo movimentos lentos e circulares. A pele dele era macia, ele notou que o anjo estremeceu, devia ser porque suas mãos estavam frias ao tocar nele. Seus dedos de músico eram gentis apesar da aspereza nas pontas por causa das cordas da guitarra, mas Lynx não pareceu se importar. O braço dele estava praticamente em seu colo e seus ombros roçavam um no outro. Enquanto massageava o pulso de Lynx, ele distraidamente levou a outra mão até as tatuagens, traçando o contorno de um tribal com a ponta do indicador. Os pelos loiros no braço de Lynx ficaram arrepiados. Alec retirou a mão quando percebeu o que estava fazendo e engoliu em seco.

—É uma técnica de acupressão pra aliviar a náusea. — Explicou ele olhando para o pulso tatuado de Lynx. —Parece idiota, mas...

—Não é nem um pouco idiota. — A voz de Lynx soou baixa e meio rouca. Quando Alec levantou o olhar, os olhos de gato de Lynx estavam mais escuros e prenderam os dele deixando-o meio tonto, a sugestão de um sorriso brincava em seus lábios perfeitos. Alec entreabriu a boca como se fosse dizer algo, mas desistiu e desviou o olhar pressionando os próprios lábios com força.

—Não sei se realmente funciona, talvez seja psicológico, mas costumo fazer isso quando estou enjoado e me sinto melhor. — Alec continuou o que estava fazendo, sem conseguir olhar mais para o anjo.

—Funciona sim, me sinto muito melhor. — Lynx falou.

—Que ótimo. — Alec soltou o pulso dele bruscamente. —Seria humilhante você sujar o ônibus, ou pior, a mim, com seu vômito angelical. Agora vem, vamos descer aqui.

Lynx se levantou imediatamente seguindo Alec para fora do ônibus.

—Nunca mais entro nessa máquina de tortura. — Lynx declarou.

—Como você acha que vamos voltar pra casa? — Alec perguntou olhando para ele.

—Voando? — O sorriso dele era esperançoso.

—Me recuso. — Alec sentiu o próprio estômago revirar ao pensar em voar com ele de novo. —E você disse que voar também te deixa enjoado. Então qual a diferença?

—Mas é suportável. Melhor do que essa coisa balançando. — Lynx olhou com desgosto para um ônibus que passava na rua.

Alec suspirou.

—Não vamos discutir sobre isso agora. — Ele começou a desviar de uma multidão de pessoas na calçada e quando olhou para trás para ver se Lynx o seguia, sentiu um toque em sua mão. Quando olhou para baixo viu dedos longos e pálidos adornados com anéis, que pertenciam a uma mão tatuada, segurando as pontas de seus dedos. Alec evitou olhar para o rosto de Lynx, ele pretendia dizer mais alguma coisa, mas acabou esquecendo o que era.

O centro da cidade estava consideravelmente tranquilo para uma quarta-feira. Havia alguns trechos de rua na cidade onde não era permitido o trânsito de veículos, então era onde havia maior concentração de pessoas e lojas. Lynx olhava para tudo com um certo fascínio. Apontava para lojas, e era do tipo que não se contentava em ver apenas com os olhos e tinha que sair tocando em tudo. Ele perguntava a Alec sobre tudo, principalmente sobre comidas, parecia ser a coisa que ele mais sentia falta de quando era humano, olhava avidamente para os vendedores de rua, lanchonetes e restaurantes. Por algum motivo, Alec sentiu um nó na garganta.

—Depois que fui banido, — Começou Lynx tirando Alec de seus pensamentos. — conheci um lugar parecido com o mundo mortal, porém, um pouco mais... Sombrio.

—O mundo mortal é bem sombrio. — Alec disse. —Você já viu o preço da gasolina? Ainda bem que não dirijo.

—Você sempre tem uma resposta engraçadinha, né? — Lynx deu uma risada.

—Todo dia antes de dormir eu fico pensando em respostas sagazes e anoto no meu diário pra usar no dia seguinte. — Alec respondeu, embora achasse que desde que Lynx apareceu no dia anterior, ele já tivesse ficado um bocado de vezes sem palavras.

Lynx riu de novo.

—Mas esse lugar... Não tem como explicar, talvez um dia eu te mostre.

—Seria legal, eu acho. — Alec estava mais animado com a ideia do que deixou transparecer.

Do mesmo jeito que Lynx parecia adorar o mundo mortal, Alec também achava fascinante a ideia de conhecer um mundo sobrenatural. Passado todo choque inicial, e ignorando algumas preocupações iminentes, Alec começou a pensar que o que estava acontecendo com ele era meio incrível. Coisas que ele só tinha visto em filmes, livros, mangás e animes se mostraram reais. Claro que o fim de sua história ainda poderia ser muito trágico, mas de certa forma, o caminho até lá seria mais emocionante do que o da maioria das pessoas. Ele não sabia o que esperar depois da morte, mas certamente teria algumas boas histórias para contar.

Eles atravessaram o centro da cidade apreciando todo o caminho até o destino que Alec tinha em mente. Ele não estava com pressa, principalmente porque observar um ex humano privado de liberdade por mais de setecentos anos redescobrir o mundo, era algo extremamente satisfatório. E Alec jamais admitiria, mas ele se sentia um pouco orgulhoso de si mesmo por ser aquele mostrando tudo a ele. Lynx não conhecia muitas coisas, mas outras ele dizia já ter ouvido falar ou então mencionava que tinha visto algo parecido no tal lugar que ele queria mostrar a Alec.

A loja que Alec queria ir ficava em uma calçada do outro lado da praça em que eles estavam agora, de longe ele já podia ver a fachada da loja espremida entre uma ótica e um mini mercado. Quando ele olhou para Lynx, este tinha arrumado um pedaço de pão sabe se lá de onde e alimentava os pombos.

—Criando laços com seus novos amigos? — Ele perguntou em tom de piada se aproximando de Lynx.

—O que quer dizer? — Perguntou Lynx tentando se livrar de uma horda faminta de pombos que se aglomerou ao redor deles. As pessoas ao redor começaram a encarar a cena, e Alec começou a rir baixinho. Ele pegou o pedaço de pão da mão de Lynx e jogou longe puxando o anjo para perto dele.

—Você disse pra Amarantha que preferia renascer como um pombo do que voltar pro céu. —Por causa da proximidade, Alec teve que inclinar minimamente a cabeça para olhar para ele. Ele ainda segurava o braço do outro, guiando-o na direção que ele queria.

—Você se lembra do que eu falei? — Lynx tinha um sorriso, mas parecia agradavelmente surpreso também. Seus olhos brilhavam um pouco.

—Aconteceu só ontem. Caso tenha esquecido, nos conhecemos faz menos de vinte e quatro horas. — Alec riu, e pensou que tudo aquilo parecia ter acontecido anos atrás. Sentia como se Lynx estivesse em sua vida muito mais tempo do que apenas menos de vinte e quatro horas. Era muito estranho, mas de um jeito estranho, muito normal.

—Sim, mas considerando tudo que aconteceu, — Lynx ergueu as sobrancelhas como se o gesto enfatizasse todo o ocorrido do dia anterior. — acho incrível que tenha lembrado de algo tão bobo.

—Minha memória é excelente, principalmente pra lembrar de coisas bobas.

—Talvez nem tão excelente assim. — Lynx desviou o olhar e apertou os lábios como se tivesse dito algo que não devia. —Então, onde estamos indo mesmo?

—O que você quis dizer com isso? — Alec franziu o rosto para ele.

Havia começado a ventar um pouco, ele penteou os cabelos que golpeavam seu rosto para trás com as mãos.

—Não é nada, esquece o que eu disse. — Lynx tentou sorrir, mas não foi convincente. Ele deixou que seus cabelos claros cobrissem um pouco de sua expressão.

—Ah tá. — Alec semicerrou os olhos para ele. —Eu tenho ansiedade. Como você solta algo assim e depois pede pra eu esquecer? Você está claramente escondendo alguma coisa.

A praça circular era bem grande, cheia de árvores, jardins e bancos espalhados, os dois tinham parado perto de um banco do lado de uma das árvores que compunham a decoração harmoniosa. A loja que Alec queria estava bem do outro lado da rua, mas com essa conversa tomando um rumo confuso e potencialmente ruim, ela parecia ter ficado a milhares de metros de distância. O dia todo parecia ter murchado, como se toda diversão nem tivesse acontecido.

—Não é importante. — O anjo não olhava para ele e fez um gesto com a mão descartando o assunto.

—Lynx, do que você está falando? — Saiu como uma ordem. Ele raramente se irritava, mas desde que Lynx tinha aparecido, ele havia experimentado mais estresse em um dia do que em seus vinte e cinco anos de vida.

Lynx bufou ficando irritado também, mas Alec suspeitou que fosse consigo mesmo.

—Eu não queria ter trazido isso à tona. — Lynx colocou casualmente as mãos nos bolsos do jeans e olhou para frente ainda evitando contato visual.

—Trazer o que à tona? — Alec detestava se sentir confuso e quando Lynx começava a fazer rodeios seu nível de ansiedade aumentava consideravelmente.

—O beco. — O anjo murmurou baixinho. —Aquele dia que você foi atacado no beco... Você não se lembra mesmo? Parece que não, de certa forma isso é bom, mas...

Não era a resposta que Alec esperava e a compreensão atingiu ele como uma pedrada. Ele ficou em choque.

—Espera aí... Então... Foi mesmo você? — Alec sussurrou. E odiou como o desapontamento ficou nítido em sua voz e provavelmente em seu rosto também. Apesar de tudo, esperava estar errado sobre Lynx. Além da decepção, ele começou a ficar com raiva porque Lynx parecia tão aflito e desapontado quanto ele. Desapontado por não ter conseguido me matar?!

Alec deu um passo para trás. Aquele dia estava sendo tão bom, era uma pena que fosse acabar assim. Conseguir escapar dos problemas era algo que tinha um tempo limite, ao que parecia.

E o deles havia acabado.

Lynx olhou de lado para ele brevemente e franziu a testa.

—Sim, foi eu. Mas... — A voz do anjo era baixa. Ele estava admitindo o que tinha feito, mas algo em sua expressão não parecia certo, porém, Alec não percebeu.

—Você é realmente um psicopata! Como você consegue ser tão manipulador? — Alec estava usando todo seu autocontrole para não chorar de raiva. Ele era uma pessoa que não gostava de conflitos, talvez por isso estivesse sendo tão tolerante com Lynx até agora.

Lynx se virou para ele ao ouvir suas palavras, ele parecia confuso e magoado.

—Do que você está falando, Alec?

—Do que eu estou falando? — Ele riu incrédulo. —Estou falando de você surgindo na minha vida como se nada tivesse acontecido! Tentando se aproximar de mim com todo esse papo confuso de que tentou me salvar e interferir na minha morte. Qual é a sua ein?

—Como assim?! — Lynx deu um passo na direção dele e Alec deu dois para longe. —Eu...

—Eu sabia que não devia confiar em você. — Alec engoliu o nó na garganta. Não fazia sentido ficar tão chateado, não era como se Lynx fosse importante, eles nem se conheciam direito. Ele se virou de costas para que o anjo não visse sua expressão. —Eu sou um idiota mesmo! Sempre confiando nas pessoas erradas e não aprendo a lição... Eu devo ter ficado maluco mesmo.

Alec pensou em sair correndo e largar ele ali.

—Você vai me deixar falar ou vai sair correndo? — Lynx previu. Seu tom foi tão calmo que Alec quis gritar.

—Explicar o quê? Você tentou me matar, Lynx! — Dizer os fatos em voz alta o deixou nauseado. Enquanto estava apenas dentro de sua cabeça ele podia lidar com isso, mas quando dito em alto e bom som era como concretizar algo que ele desejava que não fosse verdade.

Contudo, a situação não era tão dramática quanto parecia. Os dois discutiam aos sussurros para não chamar atenção das pessoas que passavam. Era meio ridículo para falar a verdade.

—Matar...? - Lynx se aproximou e o pegou pelos ombros virando-o para ele. Ele parecia ainda mais confuso que Alec. —Eu realmente salvei você, e você se esqueceu de mim! Eu disse que interferi na sua morte, e essa foi uma das vezes.

Os pensamentos angustiados e frenéticos de Alec paralisaram com essas palavras. Os olhos do anjo eram sinceros, mas cheios de tormento também. Ele analisou Lynx tentando decifrar se ele dizia a verdade, não parecia mentira mas... Ele sempre cometia o mesmo erro de confiar em quem não deveria, e infelizmente as decepções não corrompiam sua capacidade de continuar confiando. Talvez fosse um tolo, ingênuo demais para compreender a natureza dos seres humanos, pois embora Lynx fosse um anjo agora, ele já fora como Alec um dia. Com um suspiro, Alec se afastou dele e se sentou no banco próximo apoiando a cabeça entre as mãos. Lynx se sentou ao seu lado silenciosamente, esperando que ele falasse primeiro.

—Por que não falou isso antes? — Ele murmurou olhando para o chão se sentindo sem forças. —Passamos a noite toda conversando, não pensou nem por um momento em falar sobre isso?

—Você também não disse nada, eu achei estranho no começo, mas ai deduzi que você simplesmente não queria falar sobre o que aconteceu aquele dia. Foi traumático pra você e eu não queria falar de algo que fosse fazer você se sentir mal... — Lynx fez uma pausa como se estivesse com receio de falar o resto. —Mas ai depois achei que você simplesmente tivesse esquecido de mim. É muito idiota eu ficar chateado com isso, considerando que você quase morreu naquele beco. E parte de mim até prefere que você não lembre, mas, aparentemente, meu ego se importa.

Lynx parecia muito envergonhado com essa situação.

—Eu não falei nada porque realmente achei que você tinha algo a ver com aquilo... Eu... —Alec não conseguiu terminar.

—Você achou que fui eu que te agredi daquele jeito. Que eu ia te matar aquele dia. — Lynx parecia péssimo com essa sugestão mas também parecia com raiva, e Alec não se sentia muito melhor.

—Bem, era por isso que você estava aqui no mundo mortal pra começar, né? Você mesmo disse que sua tarefa era ceifar minha alma, então eu achei que aquele dia tinha sido sua... Tentativa. Mas depois fiquei confuso porque você apareceu dizendo que tinha interferido e tudo mais... Então eu decidi não falar nada pra ver se eu conseguia descobrir a verdade.

Lynx suspirou e alisou os próprios cabelos.

—Eu entendo, Alec. Eu sei que sou um estranho pra você e toda essa situação é confusa... Mas você pode confiar em mim. — Lynx fez uma pausa como se estivesse pensando se diria o resto ou não, mas por fim falou: —Sei que é ousado da minha parte, mas queria que você confiasse em mim mesmo quando eu te der motivos pra desconfiar.

—Então não me dê motivos. — Alec olhou nos olhos dele tentando entender o que exatamente ele queria dizer com tudo isso, mas não conseguiu ter uma ideia.

A verdade era que Alec queria confiar em Lynx. Ele não entendia o porquê, mas simplesmente queria.

Naquele momento achou mais seguro mudar de assunto pois não tinha cabeça para lidar com as próprias contradições.

—Aquele dia, foi você que jogou aquele tijolo então? — Na cabeça de Alec isso era a única coisa que fazia sentido se ele estava mesmo falando a verdade. —Um tijolo? Sério?

Ele deu uma risada fraca, mas a confusão no rosto de Lynx se aprofundou.

—Que tijolo, Alec? — Perguntou sério.

Foi a vez de Alec franzir a testa.

—O tijolo que caiu na cabeça do stalker que tentou me matar. — Alec começou a explicar. —Ele estava agarrando meu pescoço contra a parede quando um tijolo caiu na cabeça dele. Depois disso tudo ficou meio borrado. Não foi você que atacou ele?

—Sim, mas não foi com um tijolo, isso é ridículo. — A voz dele ficou fria. —Bem que eu queria, mas aquele desgraçado não morreria com uma tijolada.

—Quem? — Quis saber Alec, mas Lynx não respondeu.

—Então, você não se lembra daquele dia. — Lynx refletiu. —Ou melhor, você se lembra, mas de um jeito diferente de como aconteceu. Eu sou muito idiota, é claro que tinha que ter algo errado nisso...

Lynx se virou de repente e pegou Alec pelo queixo, olhando dentro de seus olhos como se quisesse enxergar sua alma. Alec arregalou os olhos, assustado com a súbita aproximação e o toque.

—O que você está fazendo? — Perguntou em pânico tentando se desvencilhar. Lynx o soltou suavemente, seus dedos quase como uma carícia o rosto do outro.

—Tem um feitiço de bloqueio na sua mente. — Ele constatou. Lynx parecia calmo até, mas Alec conseguiu notar que por baixo daquela frieza ele estava fervendo de raiva. —A coisa que te atacou aquele dia deve ter alterado suas lembranças, apesar de eu não ter ideia de como ele fez isso. Eu devia mesmo ter imaginado que tinha algo errado, por mais traumatizante que fosse, você teria falado alguma coisa.

—Por quê? Será que aquele dia eu acabei vendo o rosto dele?

—Exatamente. — Disse Lynx e completou resmungando mais baixo: —Mas não precisava ter me apagado também.

—A pessoa que me atacou... — Alec sentiu um arrepio na espinha ao repassar o que se lembrava daquela noite na cabeça. —A pessoa que eu lembro de ter me atacado, usava uma máscara estranha, mas tinha os cabelos iguais ao seu. Por isso achei que era você.

—Ele definitivamente não tem o cabelo igual ao meu.

—Acho que ele fez isso pra que eu achasse que tinha sido você, mas então por que não usar seu rosto de uma vez? Em vez de uma máscara?

—Filho da puta. — Era a primeira vez que Alec via o anjo xingar. —Ele provavelmente fez isso porque não queria que você se lembrasse diretamente de mim também, mas caso você me visse em outra ocasião, queria que suspeitasse de mim. Que não confiasse em mim.

Não tinha dado muito certo, pensou Alec. Por mais que ele tivesse suspeitas em relação a Lynx, se não confiasse pelo menos um pouco nele, não estariam ali agora. Seja lá quem realmente fosse o stalker, certamente gostava de joguinhos. Era a única explicação para ele fazer coisas tão sem sentido em vez de ir direto ao ponto.

—Se ele foi capaz de ferrar com as minhas memórias então ele não era uma pessoa comum, é um anjo como você? — Alec deduziu.

Lynx balançou a cabeça negando.

—Demônio.

Alec sentiu um tremor de medo, e não sabia o que fazer com essa informação agora.

—Você conhece ele?

—Sim.

—Sabe o que ele quer comigo?

—Não exatamente.

—Você não está me contando toda verdade, né?

—Desculpa.

Ele parecia realmente lamentar, mas isso não fazia Alec se sentir melhor.

—Eu queria que você fosse mais honesto comigo. Como vou confiar em você assim? — Alec se sentia decepcionado, confuso, e por algum motivo triste. Ele se recostou no banco da praça. Sabia que pressionar não ia funcionar, mas ele tinha direito de saber, era tudo sobre ele afinal. Exceto que isso não parecia ser totalmente verdade. Ele sentia que não era inteiramente sobre ele, mas também sobre Lynx, e sentia que tinha muito mais nessa história do que ele imaginava, mas precisava ser cauteloso.

—Desculpa. — Lynx repetiu suspirando.

—O que a gente faz agora então? — Mais uma vez ele se sentia perdido nessa situação. —Eu não vou conseguir lembrar daquele dia? Esse bloqueio é permanente? Será que mais alguma memória minha foi alterada?

—Foi apenas essa memória pelo que vi. — Lynx não olhava para ele ao falar. —Se é o que você realmente quer, posso arrumar um jeito de tirar esse bloqueio da sua mente, mas...

—Como? — Alec ficou preocupado com isso. —De um jeito seguro? Não quero que algo dê errado com meu cérebro e eu fique como um vegetal pro resto da vida.

—Eu jamais faria algo que pudesse te colocar em perigo, Alec. — Lynx falou com acidez, mas então fez uma pausa pensativo. —Intencionalmente.

—Por isso não sei se consigo confiar totalmente em você. — Lynx pareceu se encolher um pouco com essa resposta. —Você só me contou tudo isso agora porque escapou sem querer, mas se você tivesse certeza antes que minha memória foi alterada, teria me contado a verdade?

—Não. — A resposta foi curta e sincera.

—Por que não? — Alec se aproximou mais dele sem perceber que já estavam um invadindo o espaço pessoal do outro. Quem olhasse de longe veria um casal conversando animadamente e não duas pessoas discutindo.

—Porque o que aconteceu naquele dia... — Ele hesitou um pouco, parecia preocupado com algo que Alec não conseguia ver. —É realmente melhor que você não se lembre, e acho que seria egoísta da minha parte fazer você lembrar de algo ruim só porque queria que você se lembrasse de mim.

Aquilo não fazia muito sentido para ele, mas sentiu que o anjo estava sendo sincero para variar. Alec observou seu perfil perfeito por um instante. Era obvio que havia mais nessa história toda, mas ele não parecia disposto a contar, assim como não queria dizer porquê havia impedido a morte de Alec. No entanto, ele estava começando a achar que tudo isso eram peças do mesmo quebra-cabeça. E Lynx só teria a confiança que queria depois que desembuchasse tudo.

—Não sei o que aconteceu naquele dia, mas eu tinha o direito de saber, Lynx. — Sem tom de voz foi suave. Se irritar com ele era inútil. O fato era que nenhum dos dois tinham culpa nessa situação, e sim o tal demônio.

—Desculpa, Alec. — Lynx disse depois de um tempo de silêncio.

—Pelo quê dessa vez?

—Por ter estragado nosso dia. — Ele pegou na mão de Alec, que deu um leve pulo de susto com o toque repentino. A mão de Lynx estava fria. —E por não ser totalmente sincero com você.

Alec olhou para o outro lado da rua e suspirou.

—O dia não acabou ainda. — Ele tentou sorrir e puxou o anjo pela mão. Lynx levantou abruptamente do banco e ficou surpreso com a reação de Alec depois de tudo que conversaram. Talvez ele realmente esperasse que o humano o deixasse ali e dissesse que nunca mais queria ver a cara dele.

—Vem Lynx, vou te mostrar um pouco do meu mundo.

Juntos eles entraram na loja de instrumentos musicais.

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