Capítulo 45 - Onde Tudo Começou
720 Anos Atrás
O vinco entre as sobrancelhas do príncipe se aprofundava cada vez mais, quanto mais ele pensava. Se continuasse assim, acabaria se fundindo aquela cadeira e virando uma estatua. Estava sentado em uma mesa, posicionada de modo que podia olhar o céu crepuscular pelas janelas dos aposentos, cujas janelas iam do chão ao teto, e se abriam para a uma sacada. Ele bebeu um gole do chá e fez uma careta, estava frio e doce demais. Olhou pensativo para o líquido marrom na caneca de porcelana cara, como se pudesse encontrar alguma resposta ali. Havia alguém na corte tentando matá-lo, mas tinha tantos inimigos que não conseguia concluir quem era.
Nunca tinha sido o tipo de príncipe que fazia questão de ser bajulado por todos, e justamente por isso, que ele era. As circunstâncias o obrigaram a criar uma máscara de arrogância, mas não conseguia ser cem por cento falso, então essa máscara tinha se mesclado um pouco com quem ele era de verdade. No fim, sua personalidade forte e seu espírito nobre eram um ímã, atraindo tanto admiradores quanto inimigos.
Não era segredo para ninguém que os conflitos no reino estavam chegando ao ápice. Revolta. Briga por territórios. Disputas de poder. Um exército dividido em facções. E um rei que não parecia disposto a fazer nada quanto a tudo isso. A guerra civil estava batendo a suas portas. Ele sabia que seu pai, o rei, estava ciente de todos esses problemas, mas ele dizia que as coisas se resolveriam e que não tinha com o que se preocupar. O rei estava errado. O príncipe sabia que as coisas só iam piorar, e era por isso que a maioria dos conselheiros queriam Alec no lugar do pai.
Mas, apesar disso, ele não podia simplesmente chutar o próprio pai do trono só porque não concordava com o jeito que ele governava. No entanto, estava em conflito, porque também não queria ver a ruína de seu lar. Por isso ele passava muito tempo pensando. Pensando em como poderia consertar tudo sem ter que recorrer a um golpe de estado. Leonardo era um rei fraco, desleixado e ignorante, mas ainda era seu pai.
E para completar, ainda tinha o assassino. Uma figura suspeita estava rondando o castelo já fazia mais de uma semana, e ninguém além do príncipe tinha notado. Alec tinha um palpite de quem era, embora nunca o tenha visto de perto. Um mercenário famoso no reino, e o terror dos nobres. Também sabia que o sujeito estava ali para dar um fim a ele. Alguém, ao que parecia, não queria nem o rei, e nem o príncipe no trono. Era o único motivo pelo qual ele achava que alguém estaria disposto a matar o herdeiro. Alguns queriam Alec no trono, mas também haviam aqueles que ficariam felizes em tomá-lo para si.
Todas as noites, ele se trancava em seus aposentos, e esperava. Uma hora o tal Olhos de Lince ia tentar atacar. Ele mal podia esperar. Queria vê-lo de perto e descobrir se sua fama era justificada ou equivocada, mas dai se fosse a primeira opção, significaria que Alec estaria morto antes que pudesse piscar.
Uma batida soou na porta, e em seguida ela se abriu, tirando Alec de seus devaneios.
—Achei você! — o amigo parou ao lado dele. —Você tem passado muito tempo trancado no quarto e está com umas olheiras enormes. Está tudo bem? Se precisar conversar...
—Está tudo bem, Nathan. — Alec se levantou ajeitando as roupas claras. Ele odiava bege, mas diziam que ficava bem nele. —O que houve? Tem alguma coisa para falar?
—Como assim? Você se esqueceu? — sua voz era impaciente, mas olhos azuis do amigo se voltaram para ele cheios de entusiasmo. —Os Lordes do sul chegaram. Mas seu pai está furioso porque você não estava lá para a recepção, então eles estão te esperando.
—É ridículo. — disse o príncipe irritado. —Um banquete sem motivo nenhum, no meio de tudo que está acontecendo. O que há para comemorar?
—Alec, esse banquete é uma oportunidade de fortalecer as alianças.
—Isso é hipocrisia, não precisaríamos fortalecer alianças se eles mesmo não estivessem tentando destruí-las. — argumentou Alec. —Esses são os mesmos Lordes que tem roubado terras de camponeses menos favorecidos, dizendo que eles não tem direito a elas, falsificando documentos e expulsando as pessoas de suas casas! Prefiro comer com os porcos do que me juntar a eles.
—Tem razão. — Nathan concordou suspirando. —Eles são desprezíveis, mas é seu dever. Se não aparecer, eles vão considerar uma afronta e as coisas vão piorar.
Alec suspirou também, derrotado.
—Eu sei.
Sabia que o amigo tinha razão. Tudo que Alec queria era conseguir expurgar esses vermes corruptos de seu reino, assim as coisas ficariam bem, mas seu pai não lhe dava ouvidos. E o conselho, embora quisessem o príncipe no trono, não lhe dariam carta branca para simplesmente prender todos os nobres que vinham cometendo crimes. Não sem provas que seriam bem complicadas de conseguir.
O príncipe não tinha escolha a não ser manter as aparências, então foi com Nathan. O salão do trono onde acontecia o evento, estava cheio da nobreza. Pessoas vestidas com tecido caro e adornadas com joias que valiam mais que uma casa. Mesas abarrotadas de comida preenchiam os cantos do salão, cuja comida os cozinheiros passaram dias preparando, e que ninguém ia comer de fato. Alec sempre ordenava que a comida fosse distribuída na rua, mas sabia que ela sempre acabava sendo jogada fora. A desculpa do conselho era que de isso passaria uma má impressão, e incentivaria a preguiça das pessoas em trabalhar para se sustentar. Alec apenas achava que eles eram um bando de velhos avarentos e infelizes.
Ele pegou uma taça de vinho de uma das mesas e beliscou algumas comidas, ele próprio não conseguiria comer muito, mas mais por falta de fome do que qualquer outra coisa. De repente, algo na multidão chamou sua atenção. Um dos garçons. Tinha cabelos muito claros presos em um rabo na nuca e um belo par de olhos dourados, os olhares se cruzaram por meros segundos, mas Alec sentiu um choque percorrer seu corpo. O garçom se afastou com a bandeja na mão sem sequer dispensar um segundo olhar para o príncipe.
—Finalmente nos agraciou com sua presença, Alteza. — disse uma voz anasalada surgindo entre as pessoas. A multidão se abriu para encarar o príncipe, sem se preocupar em disfarçar os cochichos.
—Achei que seria uma pena vocês virem de tão longe e não ter nem um vislumbre do meu belo rosto. — o sorriso de Alec era tão falso quanto o do Lorde a sua frente. —Espero que esteja se divertindo. Por favor, aproveite nossa hospitalidade, Lorde Ambrose.
—Meu nome é Evander. — ele rangeu os dentes.
—Foi o que eu disse. — Alec se virou e saiu andando. O que não era um gesto muito educado, mas ele era o príncipe herdeiro e ninguém além do rei tinha direito de questionar seu comportamento. E o rei estava ocupado demais sendo bajulado por suas concubinas, para se importar se o filho estava sendo mal-educado.
Lorde Evander era um dos urubus que rodeavam o trono, e também um dos mais corruptos. Parado em um canto, Alec viu quando Nathan foi falar com ele, provavelmente para tentar consertar o insulto de Alec. Ele era sempre assim. Uma sombra no rastro de Alec, tentando aconselhá-lo e guiá-lo no caminho que achava correto, mas Alec achava que Nathan era muito ingênuo e sonhador, ele acreditava em um mundo que não existia. Vivia falando de paz e alianças, de um reino mais justo. Obvio que isso era algo com o qual Alec também sonhava, mas não era tão fácil conseguir quanto Nathan acreditava. O amigo de infância era digno e bondoso, mas também era um tolo.
Mais tarde, Alec descobriria que não poderia estar mais errado sobre Nathan, e que o único fazendo papel de bobo nessa história, era ele mesmo.
Cansado de sorrisos falsos e palavras vazias, Alec saiu do salão sem se despedir de ninguém, dando a noite por encerrada. No meio do caminho, procurou pelo garçom de olhos dourados de novo, mas não o viu em lugar nenhum. Uma vez em seus aposentos, ele sentou-se na mesa de canto, e serviu uma taça de vinho. Ficou um bom tempo olhando para a noite estrelada, quando uma sombra entrou pela sacada. Ele já esperava por isso, e sabia quem aquele deveria ser. Alec conhecia todos os criados do castelo e sabia que não tinha nenhum garçom tão bonito entre eles, e que eles também não tinham contratado pessoal novo.
A primeira coisa que o príncipe pensou era que as habilidades dele eram realmente admiráveis, fazendo jus a sua fama. Alec estava na torre mais alta do castelo, e para alguém conseguir escalar até ali, era um grande feito, embora ele não conseguisse imaginar porque ele tinha se dado ao trabalho de escalar do lado de fora se já estava dentro do castelo antes.
Quando o assassino o viu, ficou parado no meio do quarto encarando-o no escuro. Ele vestia roupas pretas e o cabelo loiro estava bagunçado ao redor do rosto. Seus olhos se destacavam na escuridão. Alec nunca tinha visto olhos tão dourados. E nem um rosto tão bonito, embora estivesse maculado por uma expressão tão triste e distante que fez o coração de Alec se contrair um pouco. Ridículo. Pensou ele. Nem conheço esse estranho, e ele quer tirar minha vida.
—Então? — disse ao assassino. Ele cruzou as pernas e bebeu outro gole de vinho. —Finalmente decidiu que era a hora certar de tentar me matar? Pensei que ficaria mais alguns dias me observando tal qual um maníaco. Espero que tenham lhe pagado bem para isso, pelo menos.
O assassino não disse nada.
—A guilda proíbe seus assassinos de falarem com o alvo, ou você é apenas tímido? — o canto da boca de Alec se contorceu ao ver a expressão engraçada no rosto do outro, como se estivesse arrebatado por alguma coisa. —Acho uma graça homens tímidos.
—Sua Alteza já sabia? Esse tempo todo? — o pomo de adão do Lince se moveu quando ele engoliu em seco. O nervosismo, agora, mais pronunciado do que sua expressão depressiva. A voz dele era profunda, e suave, mas estava manchada de um tipo de tormento que Alec não conseguia entender.
—Ora por favor! Sem formalidades, me chame de Alec. — ele sorriu pela borda da taça. Ele sabia que as pessoas costumavam ficar desconcertadas em sua presença, mas jamais imaginou que o efeito se estenderia a um assassino, e que ele se divertiria tanto com isso. O homem o encarava como se de repente tivesse esquecido o que tinha ido fazer ali. —Como devo chamá-lo?
—É... Eu... Meu...
—Você se esqueceu do próprio nome?
—Lynx.
—Lynx. — ele repetiu lentamente, como se estivesse saboreando o nome, e viu o assassino estremecer. Alec se levantou. —Belo nome, mas agora, acho que temos uma coisa a resolver, não é?
Uma faca prateada longa e afiada deslizou lentamente para fora da manga de Lynx.
—Eu sinto muito, Alteza. — ele franziu o rosto como se sentisse dor e avançou. Alec sorriu, e em seguida, Lynx estava no chão, com o braço torcido atrás das costas e o joelho do príncipe em sua lombar, a faca deslizou pelo piso de madeira.
—Acho que vai descobrir que não é tão fácil assim me matar. — ele sussurrou no ouvido de Lynx. —Não sou um idiota indefeso que não sabe lutar, embora eu fique feliz que meus inimigos me subestime tanto. Quem o contratou?
—Sigo apenas ordens do líder da guilda, — Lynx não demonstrava resistência alguma.— não tenho contato direto com os mandantes. Não sei quem quer Sua Alteza morto.
—Além dessa aparência, você é um assassino extremamente obediente. — o príncipe disse em um tom contemplativo. —Talvez eu devesse pegar você para mim.
Alec se levantou. Lynx continuou no chão, apenas virando para encará-lo.
—Você tem duas escolhas. — ele avisou. —Eu te mato agora. Ou você descobre para mim quem ordenou minha morte, e então eu deixo você viver. Posso até te tirar daquele buraco, se quiser.
Lynx se levantou lentamente, e Alec se preparou para encarar um pouco de resistência, mas para sua decepção, e alegria, Lynx disse:
—Sim, Alteza. — e então ele fez uma mesura profunda.
Quando viu Lynx de novo, ele estava com um novo visual. Tinha adquirido tatuagens e os cabelos estavam presos em tranças elaboradas. Estava muito bonito, como sempre. Havia entrado pela janela como da primeira vez. O que era bom para evitar qualquer suspeita, não seria de grande ajuda se alguém o visse perambulando pelo castelo, e sua aparência marcante seria difícil de esquecer. Ele se aproximou de Alec, sentado em sua mesa habitual, e fez uma mesura, mantendo a cabeça abaixada.
—Descobriu algo? — perguntou Alec, mexendo em alguns papéis na mesa, sem olhar para ele.
—Meu antigo... mestre tem muitos contatos no reino. — começou ele. —Então comecei a investigá-lo para tentar encontrar alguma coisa, e acabei descobrindo que o mestre da guilda faz parte de uma das facções que querem derrubar o senhor, Alteza.
—Já pedi que parasse de me chamar de Alteza. — disse sem levantar os olhos dos documentos que assinava.
—Desculpe, Alteza. — o assassino ergueu um pouco a cabeça, fazendo o lábio de Alec tremer.
—E o que mais? Não me admira que o Mestre dos Assassinos esteja envolvido em algo assim, mas ele tem ligação pessoal com quem está tentando me matar?
—Na verdade tem... — Lynx hesitou um pouco. —A facção a qual ele pertence tem um líder, e eu descobri quem é.
—Prossiga. — ordenou Alec impaciente com a hesitação dele.
—Quem ordenou sua morte foi o líder dessa facção. — disse. —Seu nome é Nathan.
A mão de Alec deslizou pela folha, fazendo um rabisco que cruzou a página. Ele olhou para Lynx.
—Tem certeza disso?
—Absoluta, Alte... Alec.
O príncipe se recostou na cadeira, sem reação. Ele estava esperando que o nome que Lynx diria seria um de seus inimigos já conhecidos. Mas Nathan era seu melhor amigo. Não era possível que fosse um traidor. Se fosse, como ele conseguia fingir tão bem? Ele notou que Lynx o encarava com preocupação e se controlou, lidaria com aquilo depois. Não gostava de perder o controle das emoções na frente dos outros.
Em busca de distração, ele se levantou bruscamente, assustando Lynx. Precisava admitir que, só parte disso era, de fato, distração. A maior parte era curiosidade e desejo. Ele só queria experimentar uma coisa, não parava de pensar nisso ultimamente. Levantou-se e foi até Lynx que ficou completamente rijo, como uma estátua de mármore, quando Alec se aproximou. As tatuagens dele era visíveis apenas no pescoço e nas costas das mãos, sumindo dentro das roupas pretas apertadas. O assassino engoliu em seco visivelmente enquanto Alec o examinava. A pele pálida, os ângulos do rosto bonito, e os olhos de ouro.
—Você fez o que eu mandei bem rápido, merece uma recompensa. — ele deu mais um passo para perto e envolveu o queixo de Lynx com os dedos longos e esguios.
—S-sua Alteza? O que está fazendo? — Lynx gaguejou corando. Alec sorriu, ele tinha notado a forma como o assassino olhava para ele, e queria que ele soubesse que era recíproco.
—O que parece que estou fazendo? — sussurrou com um sorriso sensual curvando sua boca.
—Algo de que vai se arrepender. — Lynx sussurrou a resposta, mas Alec o ignorou.
—Sabe, seus lábios me lembram morangos. — disse com os olhos grudados na boca dele. —Será que são tão gostosos quanto?
Alec traçou o lábio inferior dele com o polegar e lambeu o próprio enquanto se aproximava lentamente.
—Não devia. — o assassino tinha um tom sofrido na voz. —Não faça isso, Alteza... Sou sujo.
Alec se afastou rapidamente, olhando para ele com o rosto franzido.
—Mas que bobagem é essa? — então o beijou. Lynx estava tremendo, mas logo relaxou e segurou o príncipe em seu braços, envolvendo-o pela cintura. A porta não estava trancada, e o fato de que qualquer um pudesse entrar ali e pegar o príncipe herdeiro aos beijos com um assassino, deixou Alec excitado. Seria um escândalo. Ele odiava conflitos sérios, mas não significava que não gostava de ver o circo pegar fogo com coisas banais, de vez em quando.
A verdade, era que o assassino nunca quis matar o príncipe. Lynx nunca pensava muito sobre as pessoas que matava. Ele recebia uma ordem e a cumpria. Mas quando disseram que ele teria que matar o príncipe herdeiro, embora seu rosto tivesse permanecido neutro, seu interior se rebelou contra a ideia. E isso era por que conhecia a bondade do Príncipe Alexander. Todos diziam que ele era peculiar e egocêntrico, mas Lynx jamais se esqueceria da criança que fugia do castelo para levar frutas para ele, embora Alec não parecesse se lembrar.
Até o dia em que o outro garoto, um pequeno lorde de cabelos escuros e olhos azuis, denunciou ele dizendo que estava roubando do príncipe, então ele foi proibido de voltar ao castelo, e nunca mais viu Alec de novo. Isso foi um pouco antes de ser levado para a guilda. E sempre se perguntava como teria sido caso ele nunca tivesse se tornado um criminoso. Caso sua amizade com o príncipe não tivesse sido interrompida. Mais tarde descobriu que era possível se alistar para o exército e para a guarda real. Poderia ter se tornado protetor dele, e não seu suposto assassino. Se as coisas tivessem sido diferentes... mas tinha sido muito tarde. Ou talvez não.
Quando recebeu a ordem, tentou fingir que isso não o abalava e tentou cumprir o dever, mas quando entrou nos aposentos dele e o viu sentado ali, com aquela expressão astuta, os olhos escuros brilhantes e as belas pernas longas envolvidas pela calça e as botas polidas, ele simplesmente congelou. Não conseguiu matá-lo, tentou mesmo sabendo que não o faria. Ficou tão frustrado aquela noite que se embebedou pela primeira vez e então se tatuou. Falhou em uma missão e ainda por cima se apaixonou a primeira vista pelo alvo. Era uma piada de mau gosto. Exceto que, o príncipe havia lhe dado uma chance, e ele decidiu que a usaria. Sua lealdade nunca estivera com o mestre da guilda, ela não tinha dono, mas agora pertencia a Alexander.
Depois disso, Lynx entrou pela janela do quarto de Alec muitas e muitas vezes. Passavam horas discutindo estratégias. Lynx passou a ajudar ele a descobrir todos os traidores, e todos os planos das facções, e a montar os próprios. Já que Alec se recusava a tomar o trono do pai, eles queriam matar o príncipe e o rei, e então colocar Nathan no trono. O restante do tempo, eles gastavam com sabedoria, entrelaçados na cama, embora não fizessem mais do que beijar. Logo eles se viram completamente apaixonados um pelo outro. Um amor que nenhum deles esperava, encontrar nessas circunstâncias.
Enquanto o lado corrupto do conselho armava contra ele, Alec tinha seus próprios planos, tinha reunido provas e não havia sido uma tarefa fácil, mas conseguira graças a Lynx. Certo dia, ele convocou uma reunião com o rei e o conselho. Na esperança de que se expusesse aquela trama, seu pai abriria os olhos e começaria a levar as coisas a sério. Mas quem diria que eles decidiriam agir justo naquele dia?
Estavam todos presentes no salão do trono, e antes mesmo que Alec pudesse expor os traidores, o alarme de guerra soou, atravessando a cidade. A guarda de Alec se moveu para proteger o príncipe, com Lynx disfarçado entre eles, mas a guarda inimiga se revelou maior, pois os conselheiros tinham conseguido aliados em outros reinos, Nathan realmente tinha feito amigos naquele banquete, e Alec se sentiu tolo e fraco por não ter tentado fazer o mesmo. As ruas já estavam mergulhadas em fogo e caos, mas a situação não era muito diferente dentro daquele salão. No fim, os dois lados saíram perdendo, e o salão real presenciou um verdadeiro banho de sangue. O rei fora morto, junto com o conselho de traidores, então só restara Alec, Lynx e Nathan.
—Você tinha que estragar tudo, não é mesmo? — gritou Nathan enquanto eles lutavam. Ele não era bom em luta, mas era traiçoeiro, o que Alec considerava ainda mais perigoso.
—O que você esperava? — Alec gritou de volta. —Que eu deixasse você me matar e tomar o que é meu por direito? Por que fez isso? Eu confiava em você!
—Confiança é para os tolos! Você e seu pai não servem para governar, são fracos e corruptos, se associando a plebeus e assassinos. — ele moveu o olhar para Lynx, que por ordem de Alec, não se intrometeu. Aquela luta não era dele.
—Você é um traidor! — Alec empurrou Nathan para longe. Ele se sentia ferido. Nathan era um de seus poucos amigos naquela corte podre, mas aparentemente, era unilateral. Nathan jamais o vira como nada além de uma pedra em seu caminho. Um obstáculo entre ele e o trono.
—Ouça, Alec... — ele suspirou abaixando a espada. —Ainda podemos arrumar isso, podemos... Governar juntos, temos os mesmos ideais...
Alec abaixou a própria espada lentamente, sentindo uma pontada. Nathan estava com ele desde que ele se conhecia por gente. Passaram muitos dias juntos durante a infância, explorando o castelo, lendo livros na biblioteca. Talvez... Mas Alec não teve tempo de continuar a linha de pensamento. Aconteceu muito rápido. Nathan avançando contra ele erguendo a espada, e então um borrão preto se jogando na frente dela. O tempo desacelerou enquanto ele assistia Lynx morrer em seu lugar, a espada de Nathan afundando em seu peito. O próprio Nathan pareceu surpreso por um momento, e depois ficou com raiva, jogando Lynx de lado com brutalidade. Alec saiu do torpor e no momento seguinte, sua visão apagou, quando ele se deu conta, estava em cima do corpo flácido de Nathan, as mãos cobertas com o sangue dele. Nathan não estava apenas cortado, ele tinha sido queimado por algo Mas Alec não prestou atenção nisso. A espada em sua mão, Defensora, tremia. Ele a jogou de lado e correu até Lynx, que ainda respirava com dificuldade.
—Alec... — ao falar, sangue escorreu pelo queixo. Ele sabia que seu assassino estava longe da salvação e tudo que pode fazer foi ajeitar ele confortavelmente no próprio colo.
—Você salvou minha vida. — disse Alec. —Serei eternamente grato.
—Não... — ele sussurrou. —Foi você quem salvou a minha.
Lynx morreu com um sorriso pacífico, mas Alec nunca se sentiu em paz.
Seu reino estava destruído. O povo que já estava a muito tempo infeliz com a forma como o rei governava, se rebelou, o restante fugiu para outros reinos. O exército dividido praticamente se aniquilou e Alec assistiu o declínio de seu reino, enquanto o cadáver de Lynx apodrecia no mausoléu real. Sua vida era uma desgraça. Desejou morrer diversas vezes, até que em uma noite de tempestade, decidiu que faria de tudo para trazê-lo de volta.
Já não havia mais criados ou guardas no castelo. Apenas um Alec exausto e sujo vagando pelos corredores. O príncipe decadente, que um dia fora exaltado e invejado por muitos, agora caído no esquecimento dentro das ruínas do próprio castelo. Ele vagou até a biblioteca. Nos dias atuais costumava ser um tabu, mas antigamente, havia muitos usuários de magia entre seu povo, muitos religiosos que conheciam lendas sobre anjos e feitiços demoníacos. Ele buscou nas sessões mais obscuras da biblioteca até encontrar os livros que procurava. Em uma língua estrangeira a qual ele passou meses decodificando. Ate finalmente encontrar o feitiço que precisava.
Como invocar um anjo.
Ele desenhou o pentagrama no salão do trono, usando Defensora para marcar o mármore, derramou o próprio sangue, entoou um cântico em uma língua esquecida, e então o anjo surgiu. A criatura bela e terrível se apresentou diante dele, e prometeu trazer o amado de Alec de volta, mas o sorriso que o tal anjo deu, não era nada angelical.
—Qual é o seu nome? — Alec perguntou ao ser celestial.
—Tenho muitos. — disse a criatura sorrindo. —Mas pode me chamar de Azazel.
Alec era leigo no assunto, e tinha feito tudo sob o véu da tristeza, sua mente confusa e desfocada. Em vez de invocar um anjo... Ele abriu acidentalmente um dos portões do inferno, libertando um dos sete príncipes infernais.
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