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Capítulo 44 - O Ladrão de Almas

Por longos segundos, tudo que Alec conseguiu fazer foi ficar parado encarando a pessoa sentada naquele trono. Os cabelos escuros estavam maiores, batiam no maxilar agora, e sua aparência era o completo oposto da última vez que Alec o vira. Em vez de terno, usava uma calça de couro preta, estava sem camisa e descalço, as unhas de seus pés e mãos eram pretas, longas e afiadas. Havia uma cicatriz grotesca em seu peito pulsando em um brilho azulado e frio. O coração de Alec martelava contra as costelas, totalmente confuso e estarrecido.

-Você... O que você...? - ele não era capaz de produzir uma frase inteira. Havia um zumbido alto em seus ouvidos.

-Vo-você. - Nathan repetiu a palavra três vezes, gaguejando ao imitar Alec, debochando dele.

-O que você está fazendo aqui? - finalmente conseguiu exprimir, as palavras carregadas de descrença.

-Bom, eu meio que moro aqui, dã? - Nathan descruzou as pernas. -Aproveitando essa reunião, queria pedir desculpa por ter tentado te matar naquele beco. Não queria realmente te matar, era só um teste que aquele idiota achou que ia funcionar.

Alec não conseguia sair do estado de choque. Nathan falava como se nada demais estivesse acontecendo. Como se tivessem apenas se encontrado por acaso em uma esquina no mundo mortal. Mas, ao mesmo tempo, tudo nele era infinitamente diferente. Um ódio velado faiscava em seus olhos azuis ao olhar para Alec, e a boca tinha uma curva cruel ao sorrir para ele.

De todas as pessoas, Nathan era a última que ele esperava encontrar ali. Além de seus pais, presos nos pilares, claro. Ele não sabia o significado daquilo, mas quanto mais olhava para o ex-namorado, mais enojado ele ficava. Era Nathan o tempo todo. A primeira vez que fora atacado naquele beco, tinha sido ele. Alguém que ele sempre achara ser apenas um passante em sua vida, mas que no fundo, era mais que isso. E de um jeito muito ruim. Alec tentou se recompor. Ele olhou para Lynx que ainda se debatia, mas parecia incapaz de conseguir falar.

-Não perca seu tempo falando com ele. - Nathan bocejou, percebendo a intenção de Alec. -Selei a fala dele. Odeio quando as pessoas me interrompem quando estou falando, e Lynx adora se intrometer na conversa dos outros.

Nathan olhou para o anjo caído com ódio. Um ódio antigo.

-Era por isso que você vivia sumindo quando estava comigo. - constatou Alec. -Não podia ficar muito tempo fora do inferno, porque se não seu corpo apodrecia. Você vinha pra cá se fortalecer.

-Ah, por favor. - Nathan revirou os olhos. -Mal chegou e já está querendo bancar o sabichão. Guarde suas observações astutas para depois.

-Qual o sentido de tudo isso? O que você quer? - em vez de ficar nadando em choque, Alec achou mais produtivo começar com as perguntas mais obvias.

-Eu não consigo decidir se fico irritado por você não se lembrar de nada ou se fico feliz com o papel de idiota que você tem feito por todos esses anos. - ele tamborilava os dedos no braço do trono. -Se bem que é muito engraçado ver como você não tem noção de nada. Talvez eu devesse agradecer a ele.

-Azazel? Você trabalha para ele?

Nathan cuspiu no chão, uma demonstração de desdém e nojo, mas no lugar de saliva, o que saiu foi uma pequena cobra preta que deslizou pelo salão e se enfiou em um canto na parede.

-Azazel. - ele pronunciou o nome com desprazer. -No início sim, trabalhávamos juntos. Azazel precisava de um olho aqui no inferno, para cuidar do território dele. As vezes eu tinha que me disfarçar como ele e ir até lá, e em troca ele disse que me ajudaria com você. Só que... nossos objetivos divergiam muito então fomos obrigados a romper nossa parceria. Graças ao Satã, eu odeio aquele idiota prepotente.

-Tradução... - começou Alec com sarcasmo. -Ele estava só usando você, e no fundo, planejava te descartar assim que não fosse mais útil.

-Isso mesmo, espertinho. - sua expressão era de desgosto. -Azazel me mandou para testar você, tentar colocá-lo em situações que fizessem sua força despertar e acompanhar de perto o desenvolvimento, mas acabei sendo dispensado porque não podia permanecer no mundo mortal. Não só por isso, mas também porque Azazel nunca planejou dividir você... Só que eu também não.

A raiva brilhava nos olhos dele, mas sua boca tinha um leve sorriso maligno. Uma boca que Alec beijou muitas vezes. Ele queria vomitar.

-Então aquele idiota do Azazel colocou Lynx no meu lugar. - Nathan apertou tanto o braço do trono que acabou amassando o metal, mas em seguida se recompôs. -Mas tudo bem. Não ia dar certo mesmo, nenhum de nós estava disposto a dividir seu poder. Só que para o azar de Azazel, eu cheguei primeiro.

Nathan parecia ressentido de Lynx ter sido envolvido na situação, mas não como ciume ou algo do tipo, Alec não sabia decifrar a emoção que via no rosto dele. E se perguntou se Nathan percebia que ele próprio não sabia muita coisa sobre essa história. Alec duvidava que Azazel tivesse contado todos os seu planos a ele.

-Você sabe o que Azazel quer comigo? - perguntou se aproveitando da oportunidade de que Nathan gostava de se gabar e se ouvir falar. Se ele tivesse algo a dizer que acharia que elevaria o próprio ego, então ele falaria. Alec podia ter se enganado completamente sobre quem ou o quê ele era, mas a personalidade dele, ao que parecia, era a mesma. Egocêntrica e arrogante.

-Não faço ideia. - Nathan deu de ombros, e deu um sorriso oleoso. -Mas não importa. Ele perdeu.

-Se você quer só meus poderes, então deixe meus pais e Lynx irem embora. Eles não tem nada a ver...

-Por quê? Não gostou da reunião de família? - perguntou. -Além disso, a diversão só está começando. Vai ficar ainda melhor depois que Lynx testemunhar o que farei com você.

Alec não sentiu medo com a ameaça direta, sentia mais medo pelos outros. Por mais que não tivesse um bom relacionamento com seus pais, não queria vê-los sofrendo assim, ainda mais por algo que sequer entenderiam. E Lynx...

-Sabe, talvez você devesse agradecer Azazel. - o demônio levou a mão ao queixo, pensativo. -Não sei como ele conseguiu isso, mas teve todo esse trabalho de reencarnar seus pais de novo e novo...

-De que merda você está falando? - perguntou Alec perdendo a paciência. -Reencarnação?

-Ah, Alexander. - Nathan sorriu, se saboreando com o fato de que sabia coisas que Alec desconhecia. -Nós somos amigos de longa data, sabia? Infelizmente, Lynx também, mas ele é só um estorvo que surgiu para testar minha paciência.

Alec absorveu as palavras dele, sem entender nada.

-Você é alguém do passado de Lynx, de quando ele era humano?

-Do seu passado também. - disse Nathan. -Você acredita que nasceu nesse século, mas é tão velho quanto eu. Tão velho quanto, Lynx.

-Eu...? - isso talvez explicasse muita coisa.

Alec lembrou de algumas coisas. Lynx sempre pareceu saber mais sobre esse demônio do que queria dizer. Certa vez, disse a Alec que era um humano que se corrompeu e virou um demônio. Porém, nem em seus sonhos mais loucos, imaginaria que esse demônio fosse Nathan. Se Lynx sabia que o demônio stalker era alguém que fazia parte do passado deles, era porque tinha coisas sobre esse passado que ele não queria que Alec soubesse. Mas o que era? E como era possível que Alec tivesse mais de setecentos anos se ele não se lembrava disso? Porém, agora que ele sabia que era algo mais além de humano, essa outra descoberta não o surpreendeu tanto. Ele só queria entender a raiz de toda essa história.

-Está dizendo que sou uma reencarnação?

-Nããão. - ele se inclinou para frente. -Estou dizendo que você, de algum modo, foi congelado no tempo, e que Azazel manipulou suas memórias durante séculos para que você nunca se lembrasse quem era. Só não faço ideia do motivo pelo qual ele fez isso, embora tenha sido bem conveniente para mim. No começo, eu nem sabia que você tinha poderes. Depois do que aconteceu setecentos anos atrás fui mandado para esse lugar. Eu ia ao mundo mortal, mas não podia ficar por que era fraco demais.

Nathan tirou uma faca longa e afiada sabe se lá de onde e começou a limpar embaixo das unhas.

-E então um belo dia, andando pelas ruas mortais, quem eu vejo? Isso mesmo você. - ele continuou tentando sem muito sucesso conter sua raiva. -Um dos motivos da minha ruína. Tentei matá-lo, mas então Azazel apareceu e me impediu. Ele disse que você era importante para algo no futuro, que precisava despertar algo em você. Então fizemos uma aliança, ele precisava de alguém que ficasse de olho no inferno enquanto ele brincava de governar no céu. Falso céu. Então eu comecei a traçar meus próprios planos, roubar seu poder para que eu pudesse me libertar no mundo mortal.

-Isso tudo é muito interessante. - Alec disse com a mente em um turbilhão de pensamentos. -Mas ainda não entendi o que tenho a ver com sua ruína ou sei lá o que mais você disse, muito menos Lynx.

-Me admira que Lynx não tenha aberto a boca. - Nathan riu. -Se intrometer onde não foi chamado é a especialidade dele.

No meio daquele embate, os pais de Alec começaram a despertar. Ele sentiu um aperto no peito. Lembrou-se de Madame Lara dizendo que em breve ele teria uma reunião de família, mas não imaginou que seria assim.

-Finalmente! Estava ficando entediado com toda essa conversa. - Nathan bateu palmas e as correntes que prendiam os pais de Alec sumiram, fazendo os dois caírem no chão. Sua mãe, uma mulher pequena e delicada olhou para o filho confusa, e com os olhos cheios de coisas não ditas.

-Alexander... - disse Marisa com a voz ecoando pelo salão. -Meu filho, o que está acontecendo?

-Vai ficar tudo bem, mãe. - ele mentiu. -Não se preocupe.

Já o pai de Alec, o encarava com frieza, e suspeita.

-No que você nos meteu? Onde estamos? - Leonardo perguntou com rudeza.

-Vou tirar vocês daqui.

-Vai mesmo? - Nathan zombou. -Só existe um jeito de seus pais saírem daqui, e esse jeito é lutando contra você. Se eles ganharem, eu os liberto. Não preciso de você inteiro, só dos seus poderes.

Alec o encarou.

-Não seja ridículo.

Nathan jogou a faca que usava para limpar as unhas no chão, aos pés do pai de Alec. Ele sorria, apreciando o fato de que sabia que Alec jamais lutaria com o pai, e que mesmo se fizesse, Leonardo não tinha nenhuma chance contra ele.

-Por que está fazendo isso? - ele perguntou sem esperar uma resposta lógica.

-Porque quero que você perca tudo, assim como eu perdi setecentos anos atrás. - não havia mais aquela diversão perversa em sua expressão, apenas ódio. -Não vou te matar, mas vou sugar sua alma e te transformar em uma marionete, então você vai me servir pelo resto da eternidade.

-Eu não sei porque você está fazendo tudo isso. - Alec encarou ele, olhando dentro de seus olhos azuis. -Mas se não vai me contar a verdade, eu não preciso de você vivo. Eu vou te matar. Eu juro.

Nathan gargalhou desdenhosamente.

-Boa sorte com isso.

No mesmo instante, o pai de Alec deixou de hesitar e pegou a faca.

-Pai, não precisa fazer isso. - Alec arregalou os olhos. Apesar de tudo, não esperava essa traição. -Eu vou tirar você e a mãe daqui!

-Cale a boca, garoto idiota! Você nunca deveria ter nascido, e agora olha só onde estamos por sua causa! Você é uma aberração também, não é? Como ele? - perguntou apontando com o queixo para Nathan. Aberração. Alec de um passo para trás como se tivesse levado um tapa. -Eu e sua mãe estamos aqui a meses. Meses. Ele nos contou sobre sua cidade cheia de monstros que fingem ser humanos, e o quanto você estava feliz lá, enquanto nós estávamos aqui sofrendo.

-Leonardo, o que você está fazendo? - a mãe perguntou, enquanto o pai ia em direção a Alec. -Ele é nosso filho!

-Ele não é meu filho! - gritou o pai de Alec. A mãe tampou a boca chorando ainda mais. Alec dissecou as palavras do pai. Ele tinha dito isso porque não considerava mais Alec seu filho, ou estava sendo literal?

-Eu sou adotado? - Alec perguntou. -Ou um de vocês realmente não é meu parente?

-Do que está falando, Alexander? - a mãe perguntou em meio as lágrimas. -É claro que somos seus pais. Meu filho, tem tanta coisa que quero dizer...

-Chega, Marisa! - gritou Leonardo. -Deixa de ser ingênua! - ele se virou para Alec. -Você morreu para mim no dia em que largou seus deveres com a empresa, e jogou seu futuro no lixo.

A faca na mão do pai tremia, o suor escorria pela testa, molhando os cabelos castanhos bagunçados. Não havia nele um resquício do empresário respeitado, sério e frio que ele costumava ser. Sua mãe apenas chorava no canto, os cabelos escuros como os de Alec estavam sujos com o que parecia ser sangue seco, como se ela tivesse levado um golpe na cabeça. Alec imaginou eles em casa, vivendo suas vidas mundanas quando do nada são sequestrados por demônios e levados para o inferno. Os irmãos sombras não alertou ele sobre isso, mas quando Alec olhou de lado para eles, viu que não tinham a menor noção de que aqueles dois eram pais de Alec.

O pai avançou contra ele, tão fraco e desajeitado que Alec apenas deu um passo para o lado para desviar, fazendo com que ele cambaleasse para a frente. Com um movimento habilidoso, Alec girou o braço do pai, desarmando-o.

-Isso vai ser muito sem graça. - Nathan estava com o cotovelo apoiado no braço do trono e a bochecha apoiada na mão, como se assistisse a um filme que estivesse deixando ele entediado. -Vamos tornar as coisas mais interessante?

Ele estendeu a mão, um jato de escuridão disparou de sua palma, como um enxame de moscas voando direto para a boca de Leonardo. A garganta dele se moveu de um jeito nauseante enquanto ele engolia forçosamente aquela podridão. Os olhos dele mudaram, tornando-se diabólicos, inteiramente pretos sem íris ou pupila. Quando ele atacou Alec novamente, não era um humano comum e sem força, era outra coisa. Alec engoliu o nó na garganta e mal conseguiu se defender quando o pai atacou, fazendo um rasgo na frente de sua blusa, atingindo a pele por baixo. Se estivesse de uniforme, isso não teria acontecido, mas não teve tempo para se trocar, ainda usava a blusa preta e vermelha e calça comuns, completamente destoante do cenário e situação. Ele sentiu o sangue quente escorrer pelo peito do corte superficial.

-Pai! Me escuta! Sei que está ai...

Mas tudo que teve em resposta foi um grunhido animal, e mais ataques. Ele não conseguia atacar de volta. Apesar de tudo, ainda era seu pai. Alec apenas desviava indo cada vez mais para trás, sendo encurralado contra um dos pilares. O pai conseguiu acertar outro golpe nele, causando um corte superficial no rosto. A raiva inflamou em Alec, ele empunhou Defensora, e o próximo golpe de Leonardo foi bloqueado com um barulho metálico.

-Por que você nunca me ouve? - Alec gritou. Ele notou que Nathan encarava a cena com os olhos brilhantes de deleite. Quem exatamente era ele? O que Alec e ele tinham a ver? Alec não tinha entendido uma palavra do que saíra da boca de Nathan desde que chegou ali, e pelo jeito, não teria tais respostas, pois o demônio só estava a fim de ver Alec se destruir com a família.

Alec estava apenas defendendo os ataques no pai, e ele não sabia se era o ar abafado, todo choque reprimido, só sabia que estava começando a ofegar e se cansar.

-Isso está ficando muito chato, será que dá pra você matar logo ele, Alec? - Nathan gritou de seu lugar.

E foi nesse leve momento de distração que a faca do pai de Alec entrou em sua lateral, entre as costelas. Alec trincou os dentes, e grunhiu de dor. Ele girou a faca e tirou, a lâmina vermelha de sangue até o cabo. A mãe de Alec gritou.

-Leonardo! Pare com isso!

Ele não pareceu ouvir, se preparando para outro golpe. Lynx não parava de se forçar contra o pilar tentando partir as correntes, que não deveriam ser correntes comuns, ou jamais seriam capazes de deter ele. Alec olhou para ele tentando se comunicar com o olhar. A ferida em sua lateral escorria muito sangue. Com uma espécie de humor mórbido, Alec começou a pensar que esse tal poder era uma droga. Ele podia destruir, mas não podia curar a si mesmo, exceto que não tinha sequer tentando fazer isso antes. Mas não importava. Ele já sentia a visão começar a escurecer pela perda de sangue. Seu pai avançou novamente com a faca erguida acima da cabeça. Foi quando um vulto entrou em sua frente.

Inicialmente, ele pensou que era Lynx que de alguma forma conseguiu se libertar, mas quando olhou melhor, viu a figura pequena de sua mãe com a faca do pai enfiada no peito, os olhos escuros arregalados no rosto branco. Alec caiu de joelhos vendo a mãe sucumbir aos poucos, o sangue manchando a frente da blusa branca. Pensou na conversa que não teria mais com ela. A conversa onde tentariam consertar as coisas, tentariam viver como uma família, tentaria fazê-la entender. Quando a viu naquela noite, sabia que era possível, a mãe o havia magoado, mas se arrependia. Porém, agora estava morta, não haveria mais reconciliações. E a realização disso dilacerou Alec por dentro.

Leonardo olhava para ela sem emoção alguma, então Alec entendeu. Seu pai não estava mais ali, não havia chances de reconciliação com ele também. Seja lá o que era a coisa que Nathan colocou nele, havia devorado sua humanidade. Dolorosamente, só restava a Alec fazer um gesto de misericórdia. Ele se levantou, girou Defensora, e com um movimento rápido cortou a garganta do pai. Naquele momento, Alec sentiu como se algo tivesse partido dentro dele. Um laço que já era frágil, despedaçado pelo sopro de um vento.

-Onde você conseguiu isso? - perguntou Nathan olhando para a espada com cautela e um brilho faminto no olhar.

Alec não respondeu. Ele se sentia vazio por dentro. O fato de que tinha acabado de matar os próprios pais se assentou lentamente nele, mas ele guardou essa dor em uma caixa para que pudesse remoer depois quando estivesse sozinho. Contudo, algo começou a se agitar dentro dele. Era seu poder, mas ele sentia que estava diferente, mais intenso. Sentiu uma pontada aguda nas costas e se curvou para frente, tentando recuperar o folego. A quentura que ele sentia no peito, que passara a associar aos seus poderes, estava pulsando e enviando ondas de calor através de seu corpo.

Foi isso que o ajudou a clarear a mente e a visão. Ele ignorou a fraqueza, a dor e todo aquele sangue escorrendo pelas costelas, reuniu qualquer força que ainda lhe sobrava e atacou Nathan. Mas o demônio foi mais rápido, simplesmente voando no ar. Ele se lançou para cima de onde estava no trono, se empoleirando em apoios invisíveis no teto, como uma aranha demoníaca. Ele ria. Alec reuniu poder e o canalizou para a espada, ergueu o braço e então um raio de luz branca disparou da lâmina, quase acertando Nathan. O ataque de Alec bateu na parede causando uma cratera na pedra da montanha.

-Olha só, parece que você aprendeu uns truques. - Nathan zombou, mas parecia impressionado. -Azazel tinha razão, seu poder é tão massivo que me dá água na boca.

Alec não queria responder as provocações dele, se Nathan não iria lhe dizer o que importava, nada que saísse de sua boca era importante. Alec só se preocupava em matá-lo agora. E sinceramente, não achou que a coisa da espada ia funcionar, mas aparentemente, estava certo, de algum jeito a espada ajudava a controlar a energia dentro dele.

Lynx puxou mais uma vez as correntes tentando partir elas, mas Nathan estava de frente para Alec analisando-o, e ele ficou dividido entre soltar o anjo caído e continuar lutando. Nathan se aproveitou desse momento de hesitação para fingir que ia recuar, mas então, rápido além de qualquer reação, ele avançou e agarrou Alec pelo pescoço, apertando com força até quase cortar sua respiração, suas unhas afundando dolorosamente na pele. Defensora caiu com um baque metálico no chão.

-Um poder assim não vale de nada se não sabe como usá-lo. - Nathan sussurrou com o rosto próximo ao dele. -Por isso é melhor dar a alguém que sabe o que fazer com ele. Afinal, essas almas humanas dentro de mim logo vão ser consumidas...

Alec olhou para a luz pulsante que saia da ferida no peito dele. Não pela primeira vez na noite, ele se sentiu extremamente nauseado. Ele tinha namorado Nathan, todo aquele tempo acreditando que ele sentia algo, e mesmo quando percebeu que não sentia... Ele tinha dormido com esse demônio. Se saísse vivo dessa, a primeira coisa que faria era tomar um banho de álcool e se esfregar com uma lixa.

-Eu acho que seria sábio você me soltar, - as palavras saíram com muito esforço. - porque estou prestes a vomitar em você.

Nathan jogou Alec bruscamente no chão, sua costela já ferida protestou e ele engoliu o grito de dor, não daria essa satisfação a Nathan. Alec abriu os olhos deitado no chão, sua visão estava embaçada, mas ele viu o demônio em pé sobre ele.

-Suas últimas palavras antes de virar um vegetal?

-Seu pau é muito pequeno, não fazia nem cócegas.

Nathan travou a mandíbula e os olhos brilharam de raiva contida.

-Infantil como sempre. - cuspiu. -Queria ter tempo em te torturar mais, porém, Azazel deve estar mandando os lacaios dele atrás de você...

-E você é tão pateticamente fraco que precisa do meu poder para derrotar ele, porque sabe que ele pisaria em você como se fosse um pedaço de merda em baixo da sola do sapato polido dele.

-Seu...! - ele pisou na costela ferida de Alec, e dessa vez ele não conseguiu conter o berro de dor. -Vou tornar sua vida miserável.

O demônio estendeu a mão e começou a pronunciar palavras em uma língua estranha. De repente, Alec começou a sentir muito frio, como se todo seu calor corporal estivesse sendo sugado. E estava. Seu poder e sua alma estavam sendo sugados por Nathan. Ele olhou de lado para Lynx completamente fora de si se debatendo sem poder falar. Não queria que Lynx tivesse que presenciar aquilo. Queria pedir que ele fechasse os olhos e imaginasse os dois felizes. Alec começou a sentir medo. Medo do que Nathan faria com ele depois que acabasse com o próprio Alec.

-Eu te amo, Lynx. - sussurrou. Alec se sentia muito fraco. Uma dormência quase bem-vinda começou a se espalhar pelo corpo. Ele fechou os olhos querendo sucumbir a ela.

Mas antes que aquela inercia o levasse de vez para o esquecimento, algo aconteceu. Aquela energia vital sendo roubada dele pareceu ter retornado ao seu corpo com tanta força que Alec se curvou de lado sentindo dor física. O ar foi preenchido por vento e sombras. Tentáculos que se debatiam quebrando o chão e o teto, um deles partiu o pilar que Lynx estava preso libertando-o, partindo suas correntes em seguida. Ele correu até Alec, seus olhos dourados extremamente tristes e raivosos, ao mesmo tempo. Outro tentáculo atirou Nathan para longe, fazendo com que ele batesse contra um dos pilares.

Tinham sido salvos pelos Irmãos Sombras que abriram uma brecha para eles se defenderem. Não tinham atacado antes porque precisavam do momento certo. Quando Nathan estaria distraído com Alec, concentrado e de costas para eles.

-Traidores de merda! - esbravejou Nathan se levantando rapidamente. Os olhos dele mudaram, brilhando em luz azul. Ele abriu os braços e pronunciou palavras em uma língua demoníaca, e então dois tentáculos de energia azul dispararam de dentro da ferida em seu peito, cujos tentáculos se enrolaram ao redor dos pescoços de Kevin e Kaius, apertando até separar a cabeça do restante do corpo, decapitando-os. As cabeças caíram no chão com um barulho úmido horrível, seus corpos caíram em seguida, formando uma poça de sangue ao redor deles.

-Não! - Alec tentou gritar, mas o que saiu foi um sussurro fraco. Com uma pontada de culpa, Alec pensou que até alguns momentos atrás ainda desconfiava deles. No entanto, agora sentia a perda dos dois, não apenas porque não eram traidores, mas porque se importavam, porque foram leais a Luce até o fim, tentando descobrir o máximo que pudessem sobre os inimigos. Porque haviam salvo suas vidas.

-Agora, vocês dois... - apesar de tentar manter a pose, Nathan estava claramente nervoso com a mudança da situação. Os tentáculos em seu peito se retraíram contra a vontade dele, provavelmente eram as almas humanas enfraquecendo. Ele xingou baixinho. -Merda.

Seus olhos agora exibiam medo ao ver Lynx solto. Ele ainda não podia falar, por causa do feitiço de Nathan, mas seus olhos diziam tudo. Lynx avançou. Um instante ele estava ao lado de Alec, no outro, estava atrás de Nathan. Pegou o demônio pelos cabelos e afundou sua cabeça no chão violentamente, abrindo um buraco e rachaduras na pedra polida. Em seguida, ele arrastou Nathan pelos cabelos até Alec. Ele é todo seu. O olhar em chama de Lynx dizia, segurando Nathan, que estava com o rosto todo ensanguentado e o nariz quebrado, mas ria.

-Vai me contar a história toda antes de eu acabar com você? - perguntou Alec pela última vez.

-Por que não pede ao seu anjo que conte? - Nathan olhou de um para o outro com veneno nos olhos. -Aposto que vai adorar saber... Ah, mas que graça teria se eu contasse tudo de uma vez? Se me deixar...

Alec estendeu a espada e cutucou a ponta no peito de Nathan, cortando aquela enrolação. O demônio berrou de dor, e o encarou com raiva.

-O que mais você sabe sobre Azazel? - Alec não tinha expressão nenhuma ao falar. Depois de tudo, ele estava completamente anestesiado.

-Como se eu fosse... - outro berro de dor quando a espada afundou mais. -Eu não sei mais nada! Nunca soube o que ele pretendia exatamente, ou porque manipulou sua vida e suas memórias, mas sei de algo...

-O quê? - Alec parou o movimento da mão. Nathan sorriu cruelmente.

-Sei que a culpa é toda sua. - falou com um prazer maligno ao ver a confusão de Alec. -Posso não saber tudo, mas Azazel me contou muitas coisas. Você não aguentou... e fez merda. Saiba que tudo isso é sua culpa.

Nathan estava apenas tentando ganhar tempo, Alec não respondeu. Apenas afundou a espada na carne dele. O grito de Nathan foi horroroso, de dor e agonia pura. O peito dele começou a brilhar forte, e então de repente, Alec e Lynx foram atirados para trás por uma explosão azul. Alec bateu em um dos pilares - como se já não estivesse com dor o suficiente - e assistiu enquanto milhares de partículas azuis disparavam para a saída da caverna.

-São as almas que ele tinha roubado. - disse Lynx que tinha rolado para o lado dele. -As pessoas em coma vão acordar. Você conseguiu libertá-las antes que fossem consumidas. Salvou elas.

Quando o brilho se dispersou, restaram apenas Alec e Lynx se encarando, e o cadáver de Nathan se desfazendo no centro do espaço. Alec se curvou, abraçando o corpo machucado enquanto olhava para Lynx. Era como se todas as emoções do mundo oscilassem no rosto dele naquele momento.

-Você veio atrás de mim... Você veio por mim. - Lynx estava livre do feitiço de Nathan agora que ele havia morrido. E não disfarçou as lágrimas nos olhos. -Estou muito feliz, mas você correu um perigo muito grande.

-Lynx. - Alec balançou a cabeça. -Eu ia dizer que iria ao inferno por você, mas como já estamos aqui

Lynx riu, mas hesitou, então se aproximou. Ele estendeu as mãos curando as feridas de Alec.

-Você vai aprender a se curar sozinho, não tivemos tempo de treinar isso ainda. - falou sem olhar no rosto dele, mordia o lábio nervoso.

O momento se estendeu entre eles, assim como o silêncio. Alec queria enrolar os braços ao redor dele o beijá-lo, mas algo o conteve. Lynx suspirou.

-Alexander, preciso te contar uma coisa.

-Eu imagino. - Alec o encarou. -Mas que tal a gente tentar sair desse lugar antes?

Não havia como levarem os corpos dos pais e dos irmãos de volta, então Alec apenas os ajeitou em um canto, se sentindo extremamente péssimo. Não havia palavras. Quatro vidas levadas a um trágico fim por causa dele. Era horrível ter que deixá-los ali abandonados, como se não valessem nada, mas não tinham escolha.

-Isso foi tudo minha culpa. - Alec disse usando o casaco da mãe para cobrir seu rosto. -Eu matei eles. Meus próprios pai. E os irmãos

-Não foi culpa sua, Alec. - Lynx não tocou nele, mas sua voz era o mais suave possível. -Foi culpa de Nathan...

Alec interrompeu ele com um gesto.

-Deixa pra lá. Não quero falar sobre isso agora. - disse. -Apesar de que temos muito a conversar a respeito de Nathan. Mas vamos sair daqui primeiro.

Lynx tinha uma expressão pesada de culpa misturada a temor, ele abria e fechava as mãos compulsivamente, enquanto eles saiam da caverna e exploravam o inferno em busca de uma saída.

Um relâmpago cortou o céu alaranjado. A atmosfera ali parecia toxica, e Alec imaginou com uma pontada de medo que se chovesse provavelmente seria acido. Eles andaram durante muito tempo pelo deserto, mas não havia nenhum sinal de saída, apenas ruínas e cavernas. Quando os primeiros pingos de chuva - era realmente acida - começaram a cair do céu, eles encontraram uma caverna para se refugiar.

Ele e Lynx precisavam conversar. A conversa. Alec sempre soube que ele ainda escondia alguma coisa, mas não imaginava que essa coisa tivesse algo a ver diretamente com ele. Que o que ele tinha a contar envolvia Alec setecentos anos atrás. Ainda era difícil processar o fato de que ele era mais velho do que seus vinte e seis anos diziam. Nathan dissera que seus pais eram reencarnações, mas Alec não... A cabeça dele doía tentando entender. Ele queria sair dali antes de qualquer coisa, mas aparentemente, estavam presos no inferno.

-Os irmãos, talvez pudessem nos tirar daqui. - falou Lynx. -Eles me contaram que tinham um plano, mas não podiam me soltar antes da hora, se não Nathan agiria mais rápido.

-Você conhecia Nathan desde o começo. - a pedra áspera da caverna pressionava suas costas.

Lynx assentiu, sentado ao lado dele.

-Conhecia.

-Por que não me contou nada?

-Porque eu teria que explicar tudo. - ele respondeu. -E não queria te contar meias verdades.

-Sei, ai preferiu não contar verdade nenhuma. - o tom de Alec era acusatório e irritado. -Estou tentando muito ser compreensivo, como sempre fui, mas meu Deus, Lynx! Como você não me conta algo dessa magnitude?

-No começo, você teria acreditado? - ele começou a se irritar também. -Você já achava que eu era um doido, ai imagina eu chegando do nada e dizendo "Então humano, além do fato de que sou um anjo da morte que se recusa a te matar, nos conhecemos setecentos anos atrás, sabia disso?"

-No começo! - a voz de Alec ecoou na caverna. -Mas e depois? Eu confio em você. Acha que depois de tudo, eu não acreditaria no que você tivesse a dizer? Depois de todas as coisas absurdas que aconteceram...

Lynx desviou o olhar, culpado. Ele sabia que estava errado, mas, pela primeira vez, estava sendo teimoso em admitir.

-As coisas estavam tão boas entre a gente, eu não queria ressuscitar esse passado. - admitiu baixinho. -Você... não tem noção de como foi. E se você não lembrava, então para quê eu ia contar todas aquelas coisas?

Alec rangeu os dentes tentando conter a raiva.

-Só para saber, - começou com uma voz mortalmente baixa. - existe mais alguém do passado que vá aparecer do nada querendo me matar? Tipo sei lá, uma princesa furiosa?

De todas as coisas que Alec podia dizer ou questionar, essa era a que menos importava, mas simplesmente saiu.

-Que princesa? - Lynx franziu o rosto, mas logo em seguida pareceu entender. -Ah...

-Ah.

-Quem te contou isso? - quis saber.

-Lilith. - Alec mordeu o lábio se arrependendo de ter dito aquilo. Já estava quase no limite de suas emoções, não queria saber nada sobre essa tal princesa.

-Não existe princesa nenhuma.

Alec virou a cabeça para encará-lo.

-Mas...

-Eu menti. - ele olhou nos olhos de Alec. -Quando contei um pouco da minha história, disse ao círculo de Luce que era uma princesa... Porque se eu dissesse que era um príncipe eles ligariam você ao meu passado e acabariam abrindo a boca. Embora eu ache que Luce sempre soube, ela não é burra.

O coração de Alec disparou.

-Príncipe? O que você está dizendo exatamente, Lynx?

-Eu vou contar a história desde o começo, mas ela é meio longa.

Alec olhou para a chuva ácida e o cenário infernal lá fora e disse:

-Até a gente descobrir como sair daqui, acho que temos tempo.

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