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Capítulo 40 - Fogos de Artificio

-Ah! Ai está você. - ele entrou na biblioteca onde Alec se encontrava no momento, enfiado nos livros novamente, tentando descobrir que tipo de anomalia ele era. Desde a Intervenção Hibrida - como ele tinha nomeado o evento - ele estava aprendendo a lidar melhor com as coisas, pelo menos estava tentando lidar, e isso não significava que tinha desistido de tentar entender. Não que esperasse encontrar sua árvore genealógica em algum daqueles livros, mas se encontrasse algo sobre algum tipo de poder desconhecido que transformava ele num pilar de fogo branco, talvez ajudasse.

-A cidade já está bem agitada. - Lynx apoiou o queixo no ombro dele, olhando curiosamente para o livro que ele lia.

-Quando a cidade não está agitada? - Alec perguntou retoricamente. Quando se virou, Lynx seu um beijo rápido em seus lábios.

-Lynx. - seu tom era de alerta.

O anjo caído estava arrumado, usando roupas pretas simples, camiseta, jeans e botas, e ainda assim parecia um modelo. Tinha prendido o cabelo em tranças embutidas e elaboradas, e quando Alec viu ficou meia hora encarando ele sem dizer nada. O cabelo preso ressaltava os ângulos perfeitos de seu rosto, e Alec ficou arrebatado pela beleza.

-Foi só um beijo, não vai machucar. - Lynx suspirou. -Como você está se sentindo?

-Eu estou bem. - respondeu sem encontrar o olhar dele. Tinha colocado uma mesa perto da janela de frente para a poltrona, mas um pouco antes de Lynx chegar, se levantou para pegar outro livro da pilha.

-Alec, de verdade. - ele se aproximou, sem tocá-lo. -Não estou perguntando apenas fisicamente. Já faz um mês, você fica dizendo que está bem, mas não é o que parece. Você sabe que pode ser sincero comigo. Estou ao seu lado.

-Eu não sei. Como eu deveria me sentir? - ele não esperava uma resposta. -Vocês têm me ajudado bastante, e eu realmente estou melhor, mas ainda fico tentando não ter crises existenciais a cada cinco minutos pensando no quê eu sou. Quem eu sou?

-Você é você, amor. - Lynx estava bem perto dele agora, os sapatos se tocando. -Nada vai mudar isso, não importa o quê você seja. Continua sendo meu Alec, forte e incrível.

-Obrigado. - ele sorriu e acariciou o rosto de Lynx suave e rapidamente. -Eu sei que mesmo se não encontrarmos nada a respeito disso, vou aprender conviver com essa nova... informação. É parte de mim, afinal, independente do que seja. Eu só preciso de um tempo para me acostumar, até la...

-Viu só, como você é incrível? - Lynx estava com o rosto bem próximo do dele, e por um momento Alec quis beijá-lo. Mas se conteve. Eles nunca conseguiam parar só nos beijos, e era ai que morava o perigo.

-Mas e esse festival? É em homenagem a que mesmo? - perguntou virando o rosto no momento em que Lynx se inclinou para beijar ele.

-Hoje completa 700 anos desde a guerra que destruiu a cidade. - ele explicou com um suspiro frustrado. -A cada cem anos, eles comemoram o fato de ela ter permanecido intacta. Basicamente, tem muitas barracas vendendo comida, jogos, e depois uma queima de fogos.

-Ah, legal. Uma quermesse. - Alec não estava muito animado, e sabia que isso estava obvio em seu rosto.

-Se não quiser, não precisamos ir. - Lynx se aproximou por trás dele. -Podemos ficar aqui...

Ele levou as mãos até a cintura de Alec, o toque foi leve como um sopro, mas o suficiente para ele sentir uma corrente elétrica percorrer o corpo. Alec se virou bruscamente afastando as mãos dele, e indo para o outro lado da mesa.

-É claro que eu vou, todo mundo vai estar lá.

Lynx não o seguiu, apenas se apoiou na ponta da mesa.

-Alec... Eu não aguento mas ficar longe de você. Acho que vou morrer.

-Não podemos. E não seja dramático. - ele sentiu a garganta fechar. -Não consigo tirar da cabeça a imagem das suas mãos e dos seus braços cheios de bolhas. E se eu te queimar de novo?

-Eu não me importo.

Alec soltou o livro em cima da mesa com um baque.

-Eu me importo! - ele circulou o móvel, ficando de frente para Lynx, então colocou uma mão de cada lado dele, apoiando as palmas na mesa. Encarando-o com um pouco de raiva pela sua falta de prudência. -Não é só porque estou treinando como controlar isso que está tudo bem, ainda não tenho controle de nada. Não é fácil para mim também, sabia?

Alec estava mesmo levando o treinamento a sério, mas até então, ele não achava que ter conseguido concentrar o poder só nas mãos fosse grande coisa. Ainda era perigoso.

-Só um beijo. - Lynx não colocou as mãos nele, mas se inclinou um pouco para frente. -Um beijo de verdade.

Ele sentiu a respiração acelerar. Os olhos de Lynx eram tão dourados e calorosos. Seu olhar desceu para os lábios entre abertos dele, e Alec engoliu em seco.

-Merda. - Alec apertou os olhos com força.

Então após uma breve batalha interna, ele o beijou indo contra tudo que tinha acabado de pensar e dizer. Deixando de lado toda a racionalidade, as consequências que esse simples gesto poderia ter. Começou leve, devagar, mas logo Lynx estava com as mãos em sua cintura, puxando seu corpo contra o dele. Alec sentiu a temperatura subir, sentiu algo percorrer seus membros concentrando-se nas mãos, mas estava perdido demais na sensação de ser tocado por ele depois de tantos dias, para se importar.

Foi então que o cheiro preencheu o ar. Madeira queimando. Alec interrompeu o beijo. Lynx olhou para ele meio embriagado, e então eles olharam para baixo. As palmas da mão de Alec estavam queimando. Fogo branco vazava das bordas entre as mãos dele e a mesa. Ele praticamente pulou para trás, colidindo contra a poltrona.

-Que droga! - ele se levantou de onde tinha caído. -Lynx, você está bem? Eu te queimei?

Ele procurou por feridas, mas o anjo não parecia preocupado com isso.

-Estou bem. - ele olhou pensativamente para as mãos de Alec. -Se é só nas suas mãos que acontece isso, podemos continuar nos beijando, então.

Alec riu com incredulidade.

-Você está se ouvindo? - outra pergunta retórica.

-Você não pode negar que eu tenho razão. - ele rebateu com um sorriso.

Alec esfregou o rosto, exasperado. O fogo nas mãos já tinha apagado como se nunca tivesse existido, ao menos ele também tinha aprendido a abafar aquilo rapidamente, não demorava mais como antes até que suas mãos parassem de queimar. Talvez fosse um progresso, afinal.

Lynx estava completamente inabalado, como se o fato de que seu namorado entrava em combustão espontânea fosse apenas um pequeno incomodo que poderia ser ignorado. Ele estava mais irritado que eles tivessem parado de fazer o que estavam fazendo, do que preocupado em se queimar de novo. Claro que Alec também detestava isso. Detestava não poder tocar nele. E tinha medo de esse novo estado de seu corpo ser algo permanente, e ele nunca mais poder tocar em Lynx de novo.

-Se você parar para pensar - ele se aproximou colocando a boca no ouvido de Alec, causando arrepios. - isso pode ser um bom jeito de treinar o seu autocontrole.

-Você está parecendo um diabinho me atentando.

-Você esperava o que de um anjo caído?

Lynx segurou o queixo dele tentando beijá-lo de novo. A abstinência estava deixando ele extremamente ousado, mas Alec se esquivou, pegando uma pilha de livros para guardá-los nas prateleiras.

-Vou me arrumar para o festival. - disse e depois saiu correndo da biblioteca.

***

Era bom usar roupas normais depois de tanto tempo usando apenas o uniforme do esquadrão ou pijama. Após o banho, Alec se enfiou em calças que imitavam couro, coturno e uma blusa fina de lã preta e vermelha listrada, cheia de rasgos. Se enfeitou com seus anéis e colares, e até gastou meia hora pintando as unhas de preto. Enfiou o celular que Castiel tinha lhe dado no bolso, apenas por precaução, ainda tinha esperanças de que ele ligasse. Quando desceu as escadas, Lynx o esperava no hall de entrada. Ele brincava com a foice, assobiando, girando o objeto tão rápido que não passava de um borrão. Parecia um garotinho travesso brincando com um objeto muito perigoso. O que não deixava de ser verdade. Alec sorriu, e quando Lynx virou e o viu parado no pé das escadas, sorriu de volta, guardando a foice com um clarão de poder.

-Como você faz isso? - Alec se aproximou com curiosidade. -Simplesmente some do nada? Para onde vai?

Lynx pensou por um momento.

-Não some do nada. - falou. -É como guardar em um bolso mágico. Está aqui, e ao mesmo tempo, não está.

-Tendi nada. - Alec riu. -Mas quero aprender. Como faz?

-Ah... - ele abriu a boca com uma expressão aturdida. -Agora?

-Sim. Vamos sair, mas não é como se eu pudesse andar por ai com Defensora. - explicou Alec. -Nem estou de uniforme, seria esquisito.

-Na verdade, você pode se quiser. - Lynx estava entretido. -Muitas pessoas aqui saem por ai exibindo armas.

-Eu sei, mas eu quero aprender para poder ficar com a espada o tempo todo. - sem saber o motivo, Alec ficou um pouco vermelho. -Ela me reconforta. É tipo um amuleto da sorte.

Lynx tentou disfarçar a risada com uma tosse.

-Você é muito fofo.

-Cala boca e me ensina. - Alec pegou a espada que estava pendurada na parede perto da entrada.

-Não sei com ensinar isso. - ele disse. -É algo que sempre fiz, sem saber como faço, é natural.

-Você é um péssimo professor.

-Tá bom. - Lynx colocou as mãos na cintura. -Imagina o negócio do bolso mágico que falei. Você trabalha melhor com analogias.

Alec segurou a espada, respirando fundo e fechou os olhos. Em vez de imaginar um bolso mágico, imaginou a espada fundindo-se ao próprio braço, se tornando parte dele como se fosse sua carne e sangue. Quando abriu os olhos, Lynx a sua frente tinha um olhar meio fascinado e meio preocupado. Os olhos de Alec desceram para a própria mão e ele quase engasgou. A espada tinha sumido quase completamente. Quase. Porque o cabo despontava de sua mão. Como se ele tivesse cravado a lâmina na palma, embora ela não vazasse do outro lado.

-Acho que não deu muito certo.

-Não. Você está no caminho certo. - Lynx deu uma breve risada. -Tenta de novo.

Alec puxou a espada de dentro da mão. Não sentiu dor. Ele achou aquilo meio legal. Fazia mais ou menos um mês que tinha descoberto seus poderes, e era a primeira vez que não pensava nele como algo a se temer ou que só poderia lhe trazer desgraça.

Ele segurou a espada e tentou de novo, mas dessa vez não fechou os olhos. De repente, houve um clarão de luz saindo de sua palma, igual acontecia com Lynx, e então Defensora sumiu. Mas não completamente, ela estava ali com ele, podia sentir, mas não vê-la.

-Consegui! - disse Alec maravilhado.

-Claro que conseguiu. - Lynx disse como se nunca tivesse duvidado dele e avançou abraçando-o. Em seguida, o beijou, e após um momento, Alec o afastou relutantemente.

-Temos que ir. - sussurrou.

Lynx resmungou, mas deixou que Alec o arrastasse para fora.

Durante o caminho até o centro da cidade, Alec entendeu porque Lynx gostava de ficar brincando com sua foice. Ele próprio ficou toda hora fazendo com que a espada aparecesse e desaparecesse, era viciante. Lynx apenas ria e olhava para ele com os olhos cheios de adoração.

A comemoração se espalhava por toda a cidade. As casas estavam enfeitadas com lanternas de papel e outras decorações festivas. Bolas de energia flutuavam sozinhas pelas ruas como vaga-lumes gigantes, contrastando com o céu violeta, dando ao cenário uma estética de um sonho mistico. Muitas pessoas riam e conversavam, isso não era muito diferente do habitual, mas elas pareciam ainda mais alegres. Realmente aliviadas pela cidade estar em paz por setecentos anos. Uma paz frágil e conturbada, mas, ainda assim, era uma vitória só o fato de as barreiras estarem ali com força total de novo protegendo-os. Alec deixou aquela atmosfera reconfortante penetrar nele, esquecendo um pouco das próprias preocupações.

-Ei, bocós! - gritou uma voz vindo de trás dos dois que desciam uma rua, indo em direção a praça principal. -Esperem por nós.

A voz pertencia a Angela. Quando Alec e Lynx se viraram, ela se aproximava com toda a turma. Cain emburrado ao seu lado, provavelmente preferindo estar em casa do que indo a um festival. Gabriel e Levi de mãos dadas. Cadu e Rebeca, que não pareciam mais brigados. E surpreendentemente, Luce. Era raro vê-la nas ruas, e muitas pessoas paravam para prestar respeito a ela. A novidade era Amarantha ao seu lado, para a qual as pessoas olhavam com receio. Ela não usava mais a coleira, mas estava encolhida ao lado de Luce, como se torcesse para que sua presença não fosse notada.

-Bocó é seu pai. - Alec provocou erguendo as sobrancelhas.

-Ele é bem pior que isso. - Angela riu. -Era.

-Como você está, Alec? - perguntou Luce.

-Estou bem. - ele olhou em volta meio sem graça. -Nem agradeci vocês aquele dia. Obrigado.

Todos eles estavam vestidos casualmente, e era estranho vê-los sem o uniforme habitual. Angela usava botas de salto, calça de couro e uma blusa vermelha de seda combinando com o seu tapa olho novo. Luce usava um vestido roxo colante e botas pretas de plataforma que iam até os joelhos. Rebeca usava uma saia preta brilhante com um cropped rosa pálido e sandálias baixas nos pés. Já os homens eram mais simples, usando uma variedade de calças jeans e camisa. Até mesmo Amarantha estava mais arrumada, vestindo um terno preto, e o cabelo ruivo, agora curto, estava cacheado. Não que a roupa do grupo em si importasse, com aqueles físicos e os rostos angelicais, poderiam estar todos vestindo sacos de lixo que continuariam bonitos.

-E como tem ido a coisa com os poderes, amigo? - perguntou Rebeca animada. -Ainda não acredito nisso. Nunca imaginaria que você seria um... Sei lá, mas tipo, você é mágico também!

O grupo começou a rir, Alec junto.

-A coisa com os poderes tem ido bem até. - ele resumiu preferindo não mencionar que a pouco quase queimou a mesa da biblioteca de sua casa, e então se lembrou de algo. -Ah! Eu aprendi uma coisa agora pouco. Olhem!

Então ele mostrou aos amigos o truque de guardar a espada. Quando terminou, todo mundo encarava ele com expressões idênticas de perplexidade.

-Você disse que aprendeu isso agora pouco? - disse Levi.

-Sim. - Alec ficou confuso com as reações. Era só um truque simples e bobo. -Tipo, uns vinte minutos atrás. Não foi nada demais

-É que híbridos normais não conseguem fazer isso. - disse Cadu, que era sempre quieto na dele. -Esse tipo de magia é dimensional, afinal você está usando um lugar meio que fora da nossa realidade para guardar sua arma.

Luce assentiu. Alec começou a se sentir incomodado com os olhares. Híbridos normais. Ele era um híbrido anormal? Ou ele nem era um híbrido? Afastou os pensamentos e virou as costas.

-Mas então, cadê a comida? - disse andando rua abaixo. -Estou com fome.

-Comida! - gritou Levi com animação.

-Você acabou de jantar em casa. - Gabriel riu.

-Era só um aperitivo.

-Você jantou antes de sair de casa... Só para comer mais? - era Cadu perguntando.

-Você nunca? Recomendo. Abre o apetite. - Levi falou muito sério. -A menos que esteja indo comer churrasco, ai vai de barriga vazia para caber bastante.

-Nossa. - Luce riu revirando os olhos. -O Levi passa aquela energia de pessoas que vão em casamentos e guardam os doces na bolsa.

O grupo riu concordando.

-Tá tudo muito legal e bonito, mas já podemos ir embora? - perguntou Cain para Angela.

-Não. - ela deu um beijo no rosto dele. -Eu quero que você ganhe um daqueles bichos feios de pelúcia para mim.

-Linda, se a gente for embora eu posso comprar quantas pelúcias feias você quiser.

Ela cruzou os braços e bufou.

-E qual a graça nisso, seu palerma? Cadê o sacrifício e o suor?

Alec soltou uma risada ouvindo a conversa deles, então foi para o lado de Rebeca falar com a amiga. Ele a puxou de lado, olhando para Cadu com o canto do olho. Não foi muito discreto, visto que o namorado dela começou a rir.

-Então, - sussurrou - contou para ele?

-Af, sim. - ela revirou os olhos. -E minha barriga já está começando a aparecer então não poderia esconder nem se quisesse. Mas agora Cadu está irritantemente feliz e animado. Botou na cabeça que é um menino e sai comprando tudo que vê pela frente.

Apesar de tudo, ela terminou a frase sorrindo.

-Que bom que estão felizes. - Alec falou.

-É, estamos. - Rebeca virou um pouco o rosto. -Talvez ser mãe não seja tão ruim assim. E eu acho que nem preciso falar isso, mas quero que você seja o padrinho.

-Obviamente. - Alec Sorriu. -Mal posso esperar para dar o mau exemplo ao meu afilhado. Juntos iremos começar um novo reinado de terror contra você.

-Trouxa. - ela deu um tapa nele.

-Por que você está batendo no meu homem? - Lynx se intrometeu.

-Vocês deviam ter um filho também. - Rebeca falou do nada. -Ia ser engraçado ver vocês tentando fazer uma criança para de chorar. Lynx provavelmente ia fazer ela chorar mais ainda.

-Não gosto do que você está insinuando, eu seria um ótimo pai, tá? - Lynx semicerrou os olhos para ela.

Alec não disse nada, mas começou a ter imagens mentais dele e de Lynx com uma criança, e sorriu. Ele parecia gostar da ideia de ter um filho, e Alec nunca teve muito jeito com crianças, mas não era contra a ideia

O tal festival assemelhava-se mais a uma quermesse de bairro do que qualquer outra coisa. As barracas diversas se organizavam a redor da praça, e no meio havia um palco com músicos se apresentando. O que Alec adorou. Por um momento, sentiu uma certa nostalgia. Sua vida era mais emocionante agora, mas ele sentia falta do quanto era simples antes, e mesmo assim, ele não trocaria o presente por nada. Os vendedores animados atraiam as pessoas com frases de efeito e sorrisos. Crianças corriam e gritavam. Muitas das comidas vendidas nas barras eram coisas familiares. Pastéis, bolos, frutas caramelizadas, mas também tinham algumas especialidades da própria cidade, tipo um doce feito de uma fruta que Alec nunca ouviu falar antes, e que era uma delicia.

Ele viu Angela na barraca ao lado, tentar enfiar um pedaço de bolo na boca de Cain, que resmungou falando que não gostava de doces. Gabriel e Levi estavam em uma barrava de tiro ao alvo, onde Levi partiu o alvo ao meio com uma adaga e Gabriel se desculpou com o dono da barraca. Cadu e Rebeca voltavam de outro jogo, Rebeca segurava um urso rosa que Cadu tinha ganhado para ela, e a menina estava com lágrimas nos olhos. Angela bateu no ombro de Cain e gesticulou violentamente para a barraca de pelúcias. Luce e Amarantha estavam em um canto, observando o movimento. Luce olhava para a multidão com um sorriso afável no rosto e Amarantha tinha a mesma expressão ao olhar para ela. Quando Luce percebeu o olhar dela, ficou vermelha e fechou a cara.

Todos estavam se divertindo em casa. Comemorando o fato de que tinham um lugar onde pertenciam, onde eram felizes e podiam ser eles mesmo sem serem julgados ou perseguidos. Alec sentiu o peito se apertar por algum motivo. Ele estava ali a pouco tempo, mas amava aquele lugar e aquelas pessoas. Imaginou como teria sido crescer ali. Imaginou se seus verdadeiros pais fossem algumas daquelas pessoas sorridentes. De repente, ele se sentiu extremamente melancólico.

-Está tudo bem? - Lynx perguntou com preocupação, notando a mudança no seu humor.

-Sim. - ele respondeu. -Só fiquei um pouco emotivo. Eu gosto muito daqui, queria ter descoberto tudo antes.

Lynx olhou para ele com uma expressão um pouco triste.

-Vamos. - ele pegou sua mão. -Daqui a pouco vão soltar os fogos. Lá de cima é mais bonito.

Alec sabia onde era lá em cima. Estavam próximos a Torre das Almas Perdidas. Após alguns labirintos de ruas eles entraram no prédio e começaram a subir a escada em caracol.

-Por que você não me contou que fazer aquele negócio com a espada era algo tão... - Alec começou, mas não encontrou a palavra certa. -Sei lá. Você viu a reação deles?

-Ficaram bem surpresos, mas eu não. - Lynx falou. As vozes deles ecoavam pelas paredes. Ele parou um degrau abaixo de Alec. -Desde que te vi... Aquele dia no beco, senti que tinha algo diferente em você, e com o tempo a sensação foi aumentando, mas como eu já disse antes, não quis falar nada porque já tinha tanta coisa acontecendo e não queria adicionar mais isso a sua lista de preocupações. Principalmente porque eu não tinha certeza do que era, mas...

-Mas? - Alec pressionou quando ele demorou para continuar.

-Mas agora me sinto culpado, - ele franziu os lábios. - se eu tivesse falado alguma coisa, poderíamos ter começado a tomar alguma precaução para que não fosse tão difícil para você lidar com isso agora.

-Nada ver. Eu não te culpo. - Alec disse, embora concordasse que teria sido melhor saber antes. Mas não quis falar. Aquela noite era para comemoração, e não dividir culpas e criar dramas.

-Luce também notou. - Alec pensou e então voltou a subir. -Provavelmente, todo mundo. Só eu que nunca notei nada comigo mesmo. Como isso é possível?

-Tem coisas em nós mesmos, que as pessoas de fora enxergam com mais facilidade, justamente porque elas nos veem de uma forma diferente da que a gente se vê.

-Sim, mas... isso é algo grande demais para mim nunca... - ele fez uma pausa. -Na verdade, não posso dizer que não senti nada diferente nos últimos tempos, pelo menos.

Eles tinham chegado no topo da torre.

-Como assim?

Alec foi até o parapeito, olhando para o céu.

-De vez em quando eu sentia como se tivesse algo estranho em mim, e tinha essa sensação de expectativa, como se algo fosse acontecer. - ele explicou. -Achei que era só ansiedade. Mas desde a noite em que descobrimos isso, a sensação passou um pouco. Agora só sinto como se tivesse algo diferente dentro de mim, uma coisa que não conheço direito, que não sei controlar.

-Você vai aprender controlar. - Lynx falou com firmeza. Vendo que a expressão angustiada de Alec não mudou, ele tentou de outro jeito: -Se pudesse ver como esse seu novo lado te deixa ainda mais gostoso, não ficaria tão deprimido.

Alec abafou a risada com a mão, e sentiu um tremor quando ele se moveu para abraçá-lo por trás. Sentia tanta falta da proximidade dele. Mas não podia arriscar. Não era porque Lynx se curava com facilidade, que ele não ia tomar cuidado. Não queria queimá-lo de novo. Se virou pronto para afastá-lo, mas ao olhar para o rosto dele, não conseguiu. Lynx olhou para ele através dos cílios claros e sorriu, e então toda sua precaução virou pó, como se tivesse sido queimada pelo fogo misterioso que habitava suas veias agora.

Ele entrelaçou as mãos na nuca de Lynx e o puxou para mais perto. Alec respirou fundo sentindo o ar da noite, e percebeu que o cheiro reconfortante e desconhecido que ele sempre sentiu em Lynx, era o cheiro da Cidade dos Mestiços. Cheiro de casa, e agora ambos eram seu lar.

-Você é péssimo para o meu auto controle.

Lynx se aproximou ainda mais, os lábios dele acariciaram os de Alec tão levemente que ele poderia ter imaginado o toque.

-Então para de se controlar.

Alec engoliu em seco. Se sentia sufocado e incomodado. Tinham se beijado mais cedo, mas não fora o suficiente. Se agora aquilo acontecia apenas com suas mãos... Ele tirou as mãos da nuca de Lynx e as apoiou na pedra fria atrás de suas costas. Não precisou dizer mais nada, como se fosse uma deixa, Lynx o beijou, fazendo seu corpo inteiro vibrar. Começou delicado e cuidadoso, mas entre eles, não precisava de muito para se tornar selvagem.

O corpo de Alec começou a esquentar, então ele sentiu. A perda do controle acompanhado daquele poder incontrolável. Queimando através de seu corpo, ameaçando explodir. Alec respirou fundo. Seu poder não estava intrinsecamente ligado ao contato físico, tinha mais a ver com instabilidade emocional, ele sabia disso. E por isso sabia que podia controlá-lo. Essa coisa pertencia a ele, e não ao contrário. Ele pertencia apenas a si mesmo, e a Lynx. Era difícil se concentrar em controlar isso com os lábios de Lynx colados no seu, mas ele sabia que era capaz.

Alec começou a sentir a pedra do parapeito esquentar sob suas mãos. Ele estava andando em uma corda bamba, se equilibrando precariamente entre o prazer e a destruição. O medo de machucar Lynx surgiu, opressor e horripilante. Ele temia machucá-lo mais do que qualquer coisa nesse mundo, e não só fisicamente. Lynx era sua preciosidade. Alguém que merecia ser cuidado e protegido. E a mera ideia de algo ou alguém machucando ele, fazia com que Alec quisesse incinerar o mundo. Pior ainda se essa pessoa fosse ele mesmo. Acabaria com a própria vida antes de fazer qualquer coisa que pudesse ferir seu anjo caído.

Foi no meio dessa pequena crise de pânico que ele teve uma súbita epifania, ele percebeu que era isso. O medo. Era o medo que o fazia perder o controle. Tinha tanto medo de machucar Lynx e de destruir tudo, que acabava deixando o sentimento desesperá-lo, e o desespero levava ao descontrole.

Essa conclusão se assentou lentamente nele. Alec relaxou a tensão pressionando seus nervos. Visualizou aquela árvore com raízes expostas que ele tinha imaginado antes, e imaginou a árvore absorvendo as raízes, dominando seu poder. Quando suas mãos envolveram a nuca de Lynx de novo. Estavam frias. Lynx se afastou e olhou para ele surpreso, como se tivesse sentido a mudança, mas antes que pudesse dizer algo, um estouro soou no ar, seguido por vários outros. Eles olharam para o céu e viram a chuva de faíscas coloridas que eram os fogos de artifícios.

A vista era de tirar o folego. Cores explodiam contra o pano de fundo violeta, as vezes formando desenhos no céu. Um deles foi o simbolo do Esquadrão, um par de asas atravessado por uma espada, brilhando em faíscas vermelhas. Alec sentiu uma emoção avassaladora vibrar em seu peito. A junção de tudo que havia acontecido em sua vida no último ano. As coisas boas e ruins que tornaram quem ele era agora. Por mais difícil que algumas coisas tenham sido no meio do caminho, ele gostava do lugar onde tinha chegado.

Um estouro diferente tirou ele de seus devaneios, mais como o barulho de um trovão. Listras de luz começaram a se espalhar pelo céu como uma teia de aranha. O barulho de trovão diminuiu até se transformar em um chiado, parecido com um ruído de eletricidade. Um silêncio diferente se abateu sobre a cidade, como se as festividades lá embaixo tivessem cessado. Lynx ficou tenso ao lado de Alec, que estava confuso.

-Esses fogos...

-Não são fogos.

-O que...?

-As barreiras... - ele ofegou alto, seu rosto completamente pálido e horrorizado. -As barreiras caíram. Completamente.

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