Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 35 - Espiã ou Vítima?

Ao ouvir o próprio nome, a anjo no chão se contraiu, mas não levantou. Ela continuou encolhida em uma bola trêmula. Alec olhou para os soldados com as espadas ainda estendidas e fechou a cara. A contragosto, eles se entreolharam e abaixaram as armas. Alec sabia que não devia agir assim, não deveria se intrometer Mas talvez devesse. Eles estavam intimidando uma pessoa já caída, que estava severamente machucada. Se ele não fizesse nada, estaria indo contra os próprios princípios. Em outra situação, ele seria o primeiro a apontar uma espada para ela, mas não assim, quando ela estava claramente indefesa. Alec considerou as consequências, mas lidaria com elas depois se fosse preciso.

Ele se aproximou cuidadosamente, como se ela fosse um animal selvagem. Amarantha estava claramente aterrorizada, vê-la naquele estado era chocante. E Alec percebeu que aquele monte de sangue em suas costas era porque tinham arrancado suas asas. Dois cotocos irregulares despontavam de suas omoplatas. Ele estremeceu com a visão horrenda.

-Amarantha? É você mesmo? - ele se agachou e tentou a voz mais suave que conseguiu.

Lentamente, ela ergueu a cabeça e seus olhos verdes encararam Alec. Era ela, mas não era. Seus cabelos outrora longos, estavam cortados na altura do pescoço, despontados como se tivessem sido cortados com uma faca cega. Mas não era sua aparência que fazia ela parecer outra pessoa, e sim a expressão em seu rosto. A Amarantha que Alec conhecia, não tinha expressão, como uma pintura ou um robô, mas a mulher a sua frente tinha um misto de emoções no rosto. Tristeza, vulnerabilidade, pavor. Emoções dolorosas, como se tivesse passado pelo próprio inferno.

-Amarantha, o que aconteceu? - ele perguntou. Será que era uma armadilha de Azazel? Mandar ela até ali parecendo indefesa, para então se infiltrar na cidade? Era plausível, mas a dor estampada no rosto da mulher Não era algo fácil de fingir, especialmente para alguém que costumava não expressar emoção nenhuma.

Ela olhava para Alec como se não o reconhecesse.

-Sou Alec. - ele disse. -Não lembra de mim?

Com isso, um flash de reconhecimento passou pelo rosto dela.

-Alec. - ela disse como se estivesse testando o nome dele, sua voz era rouca, como se tivesse gritado muito. -Ele quer matar você.

-Azazel? - perguntou Alec estupidamente. Quem mais seria?

Ela estremeceu ao ouvir o nome dele, mas fez que sim com a cabeça. Nesse momento, Lynx apareceu, e quando ele viu Amarantha, seus olhos foram tomados por fúria. Sem pensar duas vezes ele puxou Alec para trás de si, sacou a foice e a colocou na garganta dela.

-Espera, Lynx! Tem algo estranho nisso. - Alec entrou na frente dele, tentando acalmá-lo, mas Lynx não deu atenção. -Amarantha está diferente. Presta atenção.

-Ela foi mandada por Azazel, vamos matá-la. - disse sombriamente.

-Lynx. - Alec falou com firmeza, o anjo caído finalmente olhou para ele, mas a foice continuou onde estava. -Olhe bem para ela. Mesmo que seja alguma armadilha de Azazel, ela está muito machucada e assustada. Arrancaram suas asas.

Lynx reavaliou Amarantha caída no chão, que agora tremia ainda mais sob o brilho afiado da foice dele em sua garganta. Ao olhar para as asas arrancadas dela, ele franziu o rosto e puxou um pouco o ar, horrorizado.

-Chamem Luce. - ordenou. -Agora.

-O que está acontecendo aqui? - perguntou Tales que observava tudo confuso. -Vocês conhecem ela?

-Longa história. - disse Alec. -Basicamente, ela trabalha pro anjo malvado, ou melhor, Príncipe no Inferno, que quer me matar.

-Ah, que linda. - ele olhou sem interesse para Amarantha, mas então seus olhos se voltaram espantados para Alec. -Príncipe do Inferno? Com o que você andou mexendo?

Alec apenas balançou a cabeça, sem responder as perguntas, e disse meio que para si mesmo:

-Mas não faz sentido... Ela está diferente.

-Talvez seja toda sujeira e aquela coisa nas costas dela - Tales soltou um som de espanto e empalideceu. -Arrancaram suas asas.

-Sim. - Alec olhou para Amarantha com pena.

Arrancar as asas de um anjo era um sacrilégio, e era nítido que Amarantha não pretendia lutar. Por cima do medo, parecia até que ela ficaria feliz se a foice de Lynx deslizasse por seu pescoço. A tensão no ar misturada ao desespero dela fizeram o clima pesar. A cena pareceu congelar em uma bolha de apreensão.

Até Luce chegar.

Quando a anjo caído surgiu, ela parou alguns bons metros de Amarantha, encarando-a com um olhar que Alec nunca tinha visto. Sua expressão era um mix de emoções, do espanto a raiva, então tristeza e agonia. Tudo isso numa fração de segundos, pois ela logo se recompôs. Luce começou a se aproximar com passos firmes, colocou a mão no braço de Lynx para que ele abaixasse a foice. O tempo todo sem tirar os olhos de Amarantha.

-O que você está fazendo aqui? - perguntou com a voz cuidadosamente neutra.

E foi então que Alec reparou na expressão de Amarantha.

-Lucinda! - ela se arrastou até Luce, jogando-se nos pés dela. Sua expressão era esperançosa, feliz e amorosa. Alec ficou chocado em ver o rosto normalmente frio, oscilar em emoções tão humanas.

-Não toque em mim. - Luce deu um passo para trás, evitando as mãos imundas dela. - Responda a pergunta.

-Eu... - o rosto de Amarantha se quebrou em mil pedacinhos. -Luce, eu senti muito sua falta.

A cabeça de Luce foi para trás como se ela tivesse levado um tapa.

-Sentiu minha falta. - ela ecoou. -Como você ousa... Você virou as costas para mim. Como ousa me olhar desse jeito agora? Dizer tais coisas?

-Eu não... Não! Luce, você precisa me ouvir. - Amarantha se desesperou. Listras brancas se formaram em seu rosto, lágrimas lavando a sujeira. -Azazel me enganou! Foi tudo culpa dele! Eu tentei reparar meu erro, mas ele me...

-Levem-na para a prisão. - ordenou Luce cortando as palavras de Amarantha, ela parecia perdida e atordoada. -Não. levem-na para a masmorra do castelo. Cuidem de suas feridas e deem aguá, mas não falem com ela.

-Sim, senhora.

-Alec. Lynx. - Luce tinha uma expressão fixa no chão, perdida em memórias talvez, ela piscou e olhou para os dois. -Venham me ver depois que trocarem de turno com a outra divisão.

E então ela se foi, enquanto os soldados arrastavam Amarantha pelo chão sujo.

-Acha que Luce vai matá-la? - Alec perguntou a Lynx.

-Acho que ela só não o fez agora porque sabe que Amarantha é mais útil viva... Por enquanto.

-Eu acho que vale a pena ouvir o que ela tem a dizer, algo nessa história está muito estranho. Quero dizer, olha o estado dela.

-Não sei, não, Alec. Não confio nela.

-Eu também não, mas uma história assim sempre tem dois lados.

Após a troca de turnos, Alec e Lynx fizeram como ordenado e foram para o castelo de Luce. A construção gótica majestosa, tomando conta de parte do céu roxo de fim de tarde lhes dando boas vindas. Chegando lá eles foram guiados por outros dois guardas até as masmorras que ficava no subsolo. Alec não sabia que o lugar tinha uma masmorra, mas devia ter previsto já que era um castelo medieval imenso. O caminho até lá serpenteava por corredores de pedra, úmidos, abafados, e escuros que pareciam intermináveis, do jeito que uma masmorra deveria ser. A única iluminação ali embaixo eram bolas flutuantes de energia.

Tinham detido Amarantha em uma pequena cela no final do corredor, sem janelas. Quando os dois se aproximaram, Luce já estava lá. Em pé de braços cruzados, encarando Amarantha encolhida e amarrada em uma cadeira. Tinham limpado o sangue, e até colocado uma roupa limpa nela, calças brancas largas e uma blusa verde musgo, mas seu rosto ainda estava sujo. Embora Luce fosse baixinha, e Amarantha bem mais alta, naquele estado, ela parecia mil vezes menor do que Luce. Sua cabeça estava abaixada e ela encarava os próprios pés descalços com um olhar desolado.

-Que bom que chegaram. - disse Luce, sem se virar. -Achei quer seria bom vocês estarem presentes, já que isso também diz respeito a vocês.

-Você acha mesmo que ela é uma armadilha? - Alec perguntou a Luce.

-Vamos descobrir, não é? - Luce respondeu virando-se para dar um breve olhar a ele, então voltou seus olhos frios de volta para Amarantha. -Vamos. Diga por que está aqui. E dependendo da resposta eu posso acabar arrancando sua cabeça.

-Luce. - Amarantha exalou, finalmente tendo permissão para falar. -Azazel me enganou, ele me usou.

-E isso foi antes ou depois de você me abandonar? - Luce inclinou a cabeça, seu rosto exibia deboche e frieza.

-Eu errei. - ela respondeu com uma voz rouca. -Eu cometi um erro, mas...

-Suponho que tenha chegado a essa conclusão tarde demais.

-Eu me arrependi, Luce. Todos os dias, eu me arrependo.

-Sei. - Luce claramente não acreditava em uma palavra que saia da boca dela. -Não estamos aqui para discutir as mágoas do passado. Fale-me sobre Azazel e seja breve, tenho mais o que fazer.

Apesar da pose, dava para notar o quanto Luce estava se contendo, a única dica do seu estado de espirito eram as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo.

-Eu... Eu realmente tinha escolhido o céu acima de você. - Amarantha admitiu corando de vergonha.

-Tsc. - Luce sorriu friamente. -Mal começou e já está se contradizendo.

Alec queria interferir e pedir que Luce deixasse ela terminar, mas ele sentia que devia ficar quieto. Ele e Lynx eram apenas espectadores.

-Mas me arrependi! - Amarantha ressaltou apressadamente. -Você tem razão, demorei para concluir que estava errada. Eu não queria o céu, queria você.

Luce fechou os olhos como se essas palavras cutucassem uma ferida aberta.

-Então depois de muito tempo eu desci, - continuou Amarantha. - e fui até o inferno procurar ajuda de algum anjo caído que soubesse como encontrar você, mas você tinha simplesmente sumido. Eu estava desesperada, mesmo com o medalhão, não conseguia sentir sua essência. Então Azazel apareceu. Ele prometeu que me levaria até você, mas então... Ele usou algum tipo de feitiço de controle mental em mim. Ele precisava de alguém para entrar no céu e encontrar aliados lá, e como eu ainda não tinha me rebelado oficialmente... Fui a chance perfeita para ele.

Alec ouvia ela, tentando raciocinar e avaliar suas expressões. Luce, por outro lado, não parecia tão disposta a questionar se o que ela dizia poderia ser verdade. Alec sentiu a adrenalina aumentar pensando nas possibilidades. Se o que Amarantha dizia era a verdade, ela era uma mina de ouro de informações sobre Azazel, e considerando como ela olhava para Luce, não hesitaria em contar tudo que eles quisessem saber.

-Controle mental? - zombou Luce. -Essa é a desculpa mais ridícula que você poderia ter me dado.

-Não é uma desculpa, Luce. - Amarantha se encolheu um pouco na cadeira. -Eu sei que você não confia em mim, mas...

-Continue. - Luce cortou o sentimentalismo dela. -Como é que conseguiu escapar desse controle mental então? Parece ter sido muito fácil.

-Não foi, fiquei anos, séculos, sob o poder dele, mas consegui por pura força de vontade. - ela respondeu, mas não havia arrogância no tom, parecia meio surpresa consigo mesma pelo feito. -Eu acho que era como se eu estivesse presa dentro da minha própria cabeça. Vendo tudo e não tendo controle de nada. Eu falava o que Azazel me mandava falar, fazia o que ele me mandava fazer.

Amarantha era muito convincente, mas Alec não achava que ela estava tentando ser. Talvez ele fosse ingênuo demais, mas simplesmente achava que ela podia estar dizendo a verdade. Por que se daria ao trabalho de fazer toda essa cena? Ter suas asas arrancadas? Tudo isso por lealdade a Azazel, mas a troco de quê? Só por esse momento, onde ela podia olhar no rosto de Luce novamente? Não fazia sentido.

-Mas toda vez que eu pensava em você, eu me sentia mais livre do controle dele. - ela continuou. Luce enrijeceu ao ouvir as palavras. -Foi assim que me libertei, pensando em você. Desejando te ver de novo.

-E você espera que eu acredite nesse conto? - escarneceu Luce, os olhos brancos nadavam em emoções contidas. -Você é inacreditável! Você veio até mim naquela época, disse todas aquelas coisas frias e horríveis

-Não era eu! - Amarantha pela primeira vez levantou a voz se debatendo na cadeira, desesperada para que Luce acreditasse nela. -Eu já estava sobre o poder dele quando te encontrei! Ele fez com que eu a encontrasse, porque queria que eu dissesse aquelas coisas e então você me odiaria e não tentaria me procurar depois.

Luce pareceu pensar nas palavras dela por um momento, antes de dizer:

-Está mentindo. - mas sua voz soou fraca, incerta.

-Luce, por favor. - Amarantha implorou e mais lágrimas começaram a escorrer pelos seus olhos. -Eu não estou mentindo. Eu errei sim, eu devia ter caído com você, mas assim que percebi meu erro, fui te procurar. Infelizmente, encontrei Azazel antes, mas eu nunca deixei de te amar.

-Chega! - Luce perdeu a calma e gritou, ela abriu as palmas das mãos e sangue escorreu pelos seus dedos. Ela respirou fundo se recompondo. -Quais são os planos de Azazel? Por que ele precisava de uma espiã no céu?

-Eu não lembro todos os detalhes... - ela franziu o rosto como se sentisse dor. -Ele estava preso no inferno, tinha cometido algum outro crime além de se juntar a Lúcifer, e precisava de aliados e uma forma de escapar de lá. Quanto aos planos atuais dele, tudo que sei é que envolve o menino Alec.

-Como não lembra? Você trabalhou para ele durante séculos. - o tom dela era descrente. Alec se perguntava a mesma coisa.

-Depois que consegui escapar do feitiço dele, Azazel disse que eu não era mais útil. Ele apagou parte da minha memória, justamente para eu não vazar informações importantes. - ela respondeu. -Só me lembro do básico, coisas que não vão ser muito úteis. Sinto muito.

-Ora, que conveniente, não é mesmo? - Luce falou com uma calma que era arrepiante. O tipo de calma que tem algo afiado por baixo. -Você sabe onde está Castiel?

-Provavelmente morto. - disse Amarantha. -Ele descobriu os planos de Azazel e tentou confrontá-lo... Eles brigaram, mas não me lembro o que aconteceu depois.

Alec sentiu a própria respiração parar na garganta e olhou para Lynx. Ele estava imóvel, e a expressão em seu rosto era de dor. Se Castiel realmente estivesse morto... Ele esperava que Amarantha estivesse errada. Castiel era esperto, ele deveria ter conseguido escapar. Porém, todo dia Lynx tentava entrar em contato com ele por telepatia, mas até então não teve nenhum sucesso.

-Tudo que sei é que Azazel quer Alec para concluir algum tipo de ritual, mas não lembro mais do que isso. Azazel parece estar esperando por alguma coisa, e seus planos não são recentes, acho que ele está esperando por algo a muito tempo. - ela estava fazendo um esforço visível para se lembrar, querendo ser útil. -Ouvi apenas metade da conversa dele com outro anjo, um aliado que ele tem no céu, antes de ele me descobrir e então me capturar e me torturar Quando terminou, me jogou no mundo mortal.

Alec se apegou as novas informações. Azazel queria ele para concluir um ritual. Que tipo de ritual? Ele estremeceu ao ter imagens mentais de rituais satânicos e coisas que já tinha visto em filmes ou na Internet. A situação era pior do que imaginavam. E se os planos de Azazel não eram recentes, isso significava que ele já estava de olho em Alec a muito tempo. Talvez até mesmo esperando que ele nascesse nesse mundo, ou algo assim. Ocorreu a Alec que se o Príncipe do Inferno controlava Lynx, então ter dado o nome de Alec para ele matá-lo, não era pura coincidência. Mas não fazia sentido. Se tudo que Azazel queria era capturar Alec para um ritual, ele poderia simplesmente ter mantido Lynx fora do caminho e continuado com seus planos. Em vez disso, ele colocou Lynx diretamente no rasto de Alec. Qual o propósito de tudo isso?

Quanto mais ele tentava achar uma explicação, mais ele se frustrava. Era como tentar montar um quebra-cabeça com as peças erradas.

-Quem é esse outro anjo? - Luce perguntava quando Alec voltou a prestar atenção nelas. Seu tom ainda era frio, mas ela olhava para os ferimentos de Amarantha. -E como você veio parar aqui exatamente?

-Não vi seu rosto, ele sumiu antes que eu o visse, mas é alguém poderoso, um arcanjo. - ela baixou a voz. -E quanto a como te achei, eu segui a essência disso.

Ela apontou com o queixo para o próprio peito. Luce se aproximou bruscamente, enfiando a mão dentro da blusa dela e tirando algo de dentro. Era um medalhão, com uma pedra roxa incrustada, a pedra parecia brilhar como algo vivo.

-Você quem me deu, a muito tempo. - Amarantha buscou o olhar de Luce, mas esta soltou a pedra como se lhe queimasse a mão.

-E me arrependo todos os dias por isso.

-Não funcionou da primeira vez porque você não queria que eu te encontrasse. - Amarantha falou mais alto, sufocando as palavras de Luce. -Mas funcionou agora, porque você também sente minha falta.

Alec esperou que Luce gritasse ou xingasse, mas ela simplesmente deu as costas a Amarantha. Quando virou, sua expressão fria se desfez e pela primeira vez Alec viu o rosto dela tomado por uma dor vulnerável que a fazia parecer ainda mais jovem. Lynx seguiu ela para fora da cela da masmorra, e Alec deu uma última olhada em Amarantha antes de segui-los, ela chorava silenciosamente ao ver Luce partir.

-Não acredito nela. - Luce disse quando eles já estavam bem longe no corredor. -Tem alguma coisa ai.

-Luce, sei que você provavelmente não quer ouvir isso...

-Então não fale.

-Mas não acho que ela esteja mentindo. - Alec sabia que estava pisando em terreno perigoso, mas não recuou. Luce se virou para encará-lo.

-Acha que eu não a conheço? Que estou fazendo um julgamento errado e sendo injusta?

-Não, acho que você a conhece muito bem, mas está com raiva e magoada demais para julgar certo e ser justa. - ele disse. -Tem todo direito de estar inclusive, mas acho que deveria se acalmar, e reavaliar a situação depois.

As palavras pareciam tê-la afetado um pouco. Luce abriu a boca para falar e então fechou de novo em uma linha tensa, por fim se virou e disse:

-Você não sabe de nada, garoto.

E então saiu pelo corredor deixando-os para trás.

-Amor, você é tão corajoso as vezes que sinto medo por você. - Lynx disse com uma expressão de assombro. -Ninguém dá conselhos assim para Luce quando ela está com raiva e sai com todos os dentes.

-Sério? Deveriam. - disse Alec. -Eu entendo que ela é mais velha e tem mais experiência de vida que todo mundo, mas as vezes os velhos podem aprender com os mais jovens também, basta ter uma mente aberta.

-Minha nossa, como eu te amo.

Alec sorriu.

-Cuidado, se algum soldado ouvir você falando isso pra mim, vai te desafiar para um duelo.

Lynx soltou um ruido de sarcasmo.

-Coitado dele.

***

Os dias se passaram lentamente. A nova rotina era meio cansativa com todos os turnos nas barreiras e os todos estavam ficando com os nervos exaltados. Felizmente, os soldados estavam lentamente começando a ficar mais dispostos a colaborar. Em parte porque morriam de medo de Lynx, por causa da forma como ele praticamente aniquilou uma tropa inteira de demônios, sozinho, no dia em que acordou do coma. Mas também havia respeito. Ter um anjo caído como capitão não era pouca coisa, em termos de poder, ele se igualava a Luce. Os híbridos ainda causavam alguns problemas, discussões internas e brincadeiras fora de hora, mas só precisavam de um pouco mais de pulso firme.

Não aconteceram novos ataques demoníacos, o que era bom e ruim. Bom, porque não aconteceram novos ataques, e ruim porque os soldados irritadiços não tinham como liberar toda raiva e tensão. Eles eram treinados para lutar e não ter com o que lutar deixava todos meio entediados e alterados. Alec e Lynx não eram exceção, embora nada que uns amassos quando chegavam em casa não resolvesse, e devolvesse o bom humor.

-Sorte a de Alec. - disse Dan, em um fim de tarde onde as coisas estavam tão calmas, que eles simplesmente se sentaram em um tronco caído de árvore para jogar conversa fora. Dessa vez, Lynx havia permitido. -Pelo menos ele namora. Não tá sozinho que nem todos nós, fracassados.

Lucas revirou os olhos.

-Fale por você, eu não estou sozinho. - disse. -E você só está sozinho porque quer.

Os soldados ao redor concordaram, dizendo que Dan poderia ter quem ele quisesse.

-Quem eu quero não vai me querer. - ele disse melancolicamente. Os soldados riram achando que era brincadeira.

-Desde quando você é tão sentimental assim? - Lucas zombou. Dan olhou para ele por um momento.

-Realmente, não tenho sentimentos. Estava brincando. - ele riu e se levantou indo embora. Lucas ficou confuso, enquanto os outros continuavam rindo e conversavam sem prestar atenção neles. Todos exceto Tales, que observava os dois atentamente. Alec notou isso também e trocou um olhar com o amigo, provavelmente chegando a mesma conclusão. Por que todo mundo nessa cidade era tão burro quando se tratava de assuntos do coração? Seria por que esse tipo amor era algo feito exclusivamente para a humanidade e eles não eram totalmente humanos? Vai saber.

A terceira divisão, como de costume, tinha se dividido em duas, cada tropa responsável por uma área. Lynx estava do outro lado, com a outra tropa. E Alec estava no comando dessa. Luce não tinha aceitado ele como vice capitão, mas enquanto Lynx não colocasse alguém oficialmente no cargo, poderia escolher quem quisesse para cobrir em tarefas como essa. Uma forma bem sagaz que ele tinha encontrado de burlar as regras de Luce.

-Mas parece que Tales não teve tanta sorte assim. - zombou um dos soldados. Aparentemente, relacionamentos ainda era o tópico da conversa. -Foi ficar gamado logo no namorado do chefe.

-Cala boca, cara. - disse Tales incomodado. Alec se fez de sonso e fingiu que não estavam falando dele.

-Mas fala sério, Alec. - o cara, seu nome era Sebastião ou algo que terminava com ão, Alec não conseguia lembrar, insistiu no assunto, mesmo vendo o clima mudar. -Se Lynx não tivesse acordado, aposto que vocês teriam ficado juntos. Todo mundo sabe que você e o Tales são muito próximos.

-Você só fala merda. - Tales disse ficando com raiva.

Alec se preparou para responder, as palavras na ponta da língua, mas então sentiu. Uma presença familiar. Quando se virou, Lynx estava parado atrás deles de braços cruzados apoiado em uma árvore. Ele comprimiu os lábios e sem dizer nada saiu andando.

-Caramba. - Alec se levantou. -Enfiou a noção aonde?

-Como eu ia saber que ele estava ouvindo? Além disso, se ele tem alguma insegurança o problema não é meu.

Alec teve que se segurar muito para não chutar a cara do Sebastião-ão, ou seja lá qual o nome do sujeito. Em vez de desperdiçar tempo com ele, saiu atrás de Lynx.

-Está quase acabando nosso turno. - Alec seguiu Lynx até um riacho que cortava a floresta. O anjo caído estava abaixado lavando o rosto. -Quer ir comer algo na cidade depois?

Lynx se levantou.

-Parece uma boa. - ele sorriu, mas não era um sorriso de verdade. Alec suspirou.

-Espero que não esteja levando o que aquele cara disse a sério. Ele é só um fofoqueiro.

-Não estou.

-Lynx, eu te conheço.

Foi a vez de Lynx suspirar.

-Acho que só me incomodou porque é verdade.

-Não é...

-Mas é. - o tom dele foi resoluto. -Se eu não tivesse acordado, você teria que seguir sua vida, sem mim, com outra pessoa.

-Seguir minha vida sem você nunca foi uma opção.

-Alec, eu jamais ia querer que você ficasse sozinho sofrendo. - ele estava meio horrorizado. -Mesmo que me doa imaginar você com outro alguém, eu ia querer que você fosse feliz.

Alec envolveu os braços ao redor dele, apertando-o forte. Lynx o afastou gentilmente e pousou a mão na lateral de seu rosto, ele franziu um pouco as sobrancelhas.

-Sua mão está tão fresquinha. - Alec se inclinou no toque dele, esfregando o rosto em sua mão fria.

-Você está quente. - disse Lynx. -Está se sentindo bem?

-Sim. - Alec virou a cabeça e beijou a palma da mão dele. Lynx sorriu.

-Queria muito te beijar agora. - falou mais baixo.

-Bom, - Alec olhou em volta. - não estou vendo nenhum ataque de demônio ou híbrido curioso aqui

Lynx puxou seu rosto o beijou. Eles já tinham feito isso tantas vezes, mas toda vez parecia ter uma sensação nova que eles ainda não tinham experimentado. Toda vez era delicioso e surpreendente como se fosse uma nova descoberta. Talvez fossem os lugares que traziam vibes diferentes, ou talvez fosse porque agora os sentimentos entre eles estavam escancarados e enraizados.

No entanto, não era a primeira vez que eles eram interrompidos no meio de alguma coisa por algo urgente. E dessa vez foi a sirene da cidade indicando um ataque. Eles se separaram atordoados e logo seguiram para se juntar ao resto da divisão. Surpreendentemente, os soldados já tinham se reunido, aguardando ordens.

-Capitão, estão vindo do norte. - disse Tales que tinha chego ali correndo e estava ofegante. -Vi o portal se fechando atrás deles.

-Uma média? - Lynx perguntou.

-Provavelmente uns duzentos.

-Estamos em vantagem numérica. - disse Alec. -Mas com o acesso deles a portais e o ataque sendo tão perto da rachadura...

-Tropa um, protejam a rachadura. - ordenou Lynx. -O restante, em formação. O objetivo é não deixar eles chegarem até a tropa um.

-Sim, senhor.

Não demorou muito para que os demônios começassem a surgir, disparando de dentro da floresta, velozes e mortais como balas de canhão. Os híbridos entraram em ação.

Alec desembainhou Defensora e partiu para a luta também. Com a vantagem numérica, ele achou que não seria uma luta difícil, mas esses demônios eram diferentes, pareciam mais cruéis e sedentos. Alec viu um deles estripar um de seus colegas, rápido demais para que Alec pudesse salvá-lo, e mal teve tempo de sofrer pelo colega morto quando foi atacado com força por um demônio que o derrubou no chão, fazendo sua espada rolar na grama.

A criatura tinha o rosto cinzento todo enrugado, seus dentes eram cotocos pretos e afiados, ela colocou as garras ao redor de seu pescoço e começou a apertar, Alec já estava começando a ver pontos pretos em sua visão, quando o aperto aliviou. Sua visão turva registrou cabelos pálidos e olhos dourados.

-Você está bem? Tome cuidado. - disse Lynx examinando ele dos pés a cabeça, antes de voltar para luta. A foice em sua mão como se fosse uma extensão do braço, matando demônios com eficiência e pouco esforço.

Lynx lutando era como uma força da natureza. Nada que entrava em seu caminho saia ileso. Alec testemunhou de queixo caído, ele acabar com uma fileira de oito demônios com um golpe só. Os ataques de sua foice alcançavam longe, mas, de alguma forma, ele conseguia não atingir os companheiros, matando apenas os demônios. Quando Alec olhava para ele só conseguia pensar em deuses vingadores, anjos malvados lançando sua fúria sobre a terra. Era belo e terrível. Sangue e tripas de demônio manchavam suas botas, mas ele não se importava, continuava abrindo caminho e deixando para trás os corpos das criaturas que não pertenciam aquele mundo.

De repente, um portal se abriu na borda das árvores, do mesmo tamanho que o da última batalha. Alec se preparou para a enxurrada de demônios, mas o que saiu foi ainda mais preocupante.

Não foram hordas de demônios, apenas um. Contudo, era a coisa mais horripilante que Alec já tinha visto. E ele carregava uma foice que tinha o dobro de tamanho da de Lynx. O demônio era simplesmente um esqueleto prateado de quase três metros de altura. A única coisa de aparência orgânica nele era o coração cheio de veias verdes brilhantes pulsando entre as costelas. Sua cabeça era uma caveira com buracos profundos no lugar nos olhos, e quando ele abriu a mandíbula, um barulho que deveria ser um grito ecoou pela floresta. O demônio maior simplesmente matou os demônios menores que restavam ali, como se não precisasse deles e pudesse matar todos os híbridos presentes sozinho.

-Que gracinha, hein. - disse Tales enojado. -Eu fico com ele.

-Não. - decretou Lynx, e mais alto: -Não saiam de suas posições. Não é um demônio comum, é um Ceifador do Inferno. Continuem protegendo a barreira, eu lido com ele.

-Eu dou conta. - teimou Tales. -Esse monte de ossos não é nada.

Alec estava prestes a alertá-lo que era uma péssima ideia quando Tales saiu correndo em direção ao demônio, e quem acabou gritando com ele foi Lynx.

-Tales, Não! - mas já era tarde.

Tales estava frente a frente com o demônio, cujo demônio se virou para ele gritando. No mesmo instante, Lynx correu na direção de Tales, porém, antes que conseguisse alcançá-lo, o demônio atacou com uma mão cheia de garras. Tales voou pelo ar como se fosse um boneco e bateu contra uma árvore caindo desacordado.

-Tales! - Alec sentiu o impulso de correr até o amigo, mas ficou onde estava, pois a ordem de Lynx era que não saíssem de suas posições, Tales tinha sido atacado justamente por ter desobedecido. Alec observou a zona de ataque do demônio e vendo que Tales já estava fora do alcance dele, relaxou um pouco e se manteve no lugar.

Lynx continuou sem tempo de olhar para trás. Destemido, ele atacou. Quando sua foice e a do demônio se chocaram, um barulho metálico ensurdecedor preencheu a floresta. As árvores mais próximas foram arrancadas pela força do impacto, e Alec sentiu a rajada de vento quente no rosto. O demônio era grande demais, mas seus ossos pesados retardavam um pouco seus movimentos, então Lynx tinha a vantagem de ser mais rápido. Ele conseguiu acertar alguns golpes no demônio, mas era inútil tentar quebrar seus ossos que pareciam de aço.

De repente, no meio da luta, a foice de Lynx ficou presa entre as costelas do demônio, em uma tentativa de perfurar o coração dele. Lynx agora, apenas se esquivava, por muito pouco evitando ser fatiado. Ele já tinha um corte longo no braço que sangrava muito.

O coração de Alec estava batendo rápido demais. Lynx era imortal, mas isso não o impedia de morrer se fosse cortado ao meio por uma foice gigante. Ele apertou o punho ao redor do cabo de Defensora, sentindo aquela vibração familiar e bem-vinda que a espada lhe causava. Aquele calor persistente que vinha sentindo se espalhou pelo corpo, quase insuportável. Alec queria avançar, queria lutar, mas não podia se intrometer, isso reforçaria a ideia que os soldados tinham de que Alec podia fazer o que quisesse por estar com Lynx.

Mas então, ele teve uma ideia.

-Lynx! - ele gritou dando alguns passos a frente. -Aqui!

Virando minimamente a cabeça, Lynx entendeu a intenção. Alec arremessou a espada com uma força que surpreendeu até a si mesmo, Lynx ergueu o braço pegando a lâmina em pleno ar. Absurdamente rápido, ele girou a lâmina na mão e a arremessou na direção do demônio. Defensora disparou como uma bala, atravessando as costelas da criatura e cravando em cheio no coração dela.

O demônio berrou um som estridente e começou a se debater, a foice monstruosa caiu de sua mão com um baque alto. Aos poucos a coisa foi se desmontando até cair em uma pilha de ossos.

-Lynx! - deixando ordens e precaução de lado, Alec correu até ele. No meio do caminho viu que Tales tinha se sentado apoiado na árvore e segurava o ombro.

-Lynx, você está bem? - ele olhou para o corte no braço que já estava se fechando. Claro que ele estava bem. Ele era provavelmente um dos seres mais poderosos da cidade, um corte no braço não era nada. Lynx sorriu diante da preocupação dele, mas quando seus olhos viram Tales, escureceram. Ele passou por Alec indo até o soldado. Alec foi atrás, com um mau pressentimento.

-Você entende que poderia estar morto agora? - Lynx perguntou bruscamente, seu tom era muito ácido. -Se você quer ser útil, siga minhas ordens em vez de sair se jogando de cara no perigo.

-Eu... - Tales se levantou com um pouco de dificuldade. Os soldados se aglomeraram ao redor deles.

-Não vou tolerar esse tipo de comportamento imprudente. - Lynx continuou com a voz dura. Sua expressão ao olhar para Tales era furiosa, mas tinha mais alguma coisa ali. - Regras e treinamento existem para serem seguidos. Você está suspenso das atividades até segunda ordem. Não apareça mais no complexo. Entendido?

Alec encarou Lynx. Os soldados soltaram ruídos contidos de surpresa. Ser suspenso era uma punição que estava abaixo só de ser expulso. Reservada a soldados como Gus, que inclusive vivia sendo suspenso. Era uma punição meio severa demais, para alguém que só estava tentando ser corajoso.

-Sim... Senhor. - o tom de Tales foi seco. Alec estava acostumado a ver ele sempre sorridente e descontraído, mas no momento ele parecia envergonhado e com raiva.

-Lynx... - Alec murmurou, mas achou melhor não terem aquela conversa ali. Lynx não estava errado em chamar a atenção dele, Tales realmente tinha sido imprudente. Mas suspendê-lo das atividades em um momento que eles precisavam de todo apoio possível Alec franziu o rosto e virou as costas deixando Lynx e os outros para trás.

Talvez Luce tivesse razão, afinal. Trabalhar juntos não era boa ideia, Lynx não tinha tomado aquela decisão movido apenas pelo seu dever de capitão.

Ele estava sendo movido pelo ciúme.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro