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Capítulo 22 - O Amor Cria Idiotas

As vezes Levi desejava ter nascido uma planta, pois sentimentos eram coisas muito complicadas. Uma planta só precisava se preocupar com fotossíntese, e não se seu melhor amigo de infância gostava dela ou não. Nunca tinha tido essa dúvida a respeito de Gabriel, sempre tinha achado que a resposta para essa pergunta seria não. Contudo, a situação tinha mudado drasticamente duas semanas atrás por causa de um beijo. Como se a cabeça já não estivesse cheia de preocupações com ameaças ao seu lar e um traidor entre eles, agora tinha que se preocupar com isso também.

Uma porta que ele tinha fechado anos atrás e que agora fora escancarada pela única pessoa que tinha a chave.

Ele franziu o rosto e não era só por causa do sol. Estava no campo aberto de treinamento que ficava na sede do esquadrão. Era um espaço amplo gramado e cercado por árvores, com alvos de madeira e bonecos feitos com areia em sacos. Um grupo de soldados treinavam entre si, repassando as técnicas de espada que ele havia ensinado. Eles pareciam tão destemidos e cheios de vontade. Levi torcia para que não precisassem de fato colocar em prática o que estavam aprendendo. O campo de batalha não era um lugar bonito. Ele não tinha participado da guerra de quase seiscentos anos atrás que quase varreu a Cidade dos Mestiços do mapa, mas o temor que ele via nos olhos de Luce toda vez que uma nova tentativa de invasão acontecia, era o suficiente para que ele não quisesse experimentar algo parecido.

No entanto, enfrentar um exército demoníaco ainda parecia mais fácil do que entender Gabriel.

Ele era seu melhor amigo, e ainda assim, as vezes sentia como se não o conhecesse de fato. Quando percebeu o que sentia por ele, devia ter no máximo uns treze anos, e isso fazia muito tempo pois ambos já tinham duzentos. Quase dois séculos fugindo de um sentimento. Duzentos anos construindo uma barreira ao redor de si mesmo, dormindo com estranhos dos quais ele sequer se lembrava o nome no dia seguinte, para então um dia aquela barreira ser derrubada por aquele que foi o motivo de ela ter sido construída em primeiro lugar. Uma faísca de esperança foi acesa no peito dele, só para ser pisoteada logo em seguida por um guerreiro de expressão contida, mas que não era tão contido assim quando estava em seus braços.

O tempo de vida de um híbrido variava de acordo com o grau de parentesco que ele tinha com o anjo ou demônio que tinha dado origem a sua linhagem. O pai de Levi é um anjo caído, portanto ainda está vivo. A mãe por outro lado, era mortal, então está morta a muito tempo. E esse era quase o mesmo caso de Gabriel, seu bisavô por parte de mãe é um anjo caído, então ele e a mãe tem um tempo de vida prolongado, enquanto o pai dele também já havia morrido a muito tempo por ser mortal. Por conta do tempo de vida dos híbridos ser maior do que os das pessoas comuns, híbridos também envelheciam muito devagar, Gabriel por exemplo, não aparentava ter mais do que trinta anos, parecia pouca coisa mais velho que Levi.

Foi assim que a amizade dos dois começou, pois tinham algo em comum. A dor de saber que um dos pais não duraria para sempre.

Levi sempre lembrava da mãe com felicidade e tristeza misturados, não queria manchar a lembrança da mulher alegre que ela fora com melancolia, mas isso não diminuía a falta que sentia dela. Ele não sabia dizer como Gabriel realmente se sentia a respeito do falecido pai, ele nunca foi de falar sobre seus sentimentos e não era muito bom em se expressar.

-Muito bem. Por hoje é só. Dispensados. - Levi vociferou aos novos soldados de sua divisão. Sua voz era séria e autoritária.

As tentativas de invasão estavam cada vez mais insistentes e com a possibilidade de uma guerra, mais guerreiros estavam sendo recrutados para o esquadrão. Os jovens passaram por ele respeitosamente, alguns com medo visível nos olhos. Era compreensível. Ali com os soldados ele era um Capitão, poderoso e lendário por conta de suas habilidades. Alguém cujo sangue de anjo era quase puro, e que tinha vencido muitas batalhas nas barreiras que impediram que a cidade fosse invadida. Na hora do treinamento não aceitava gracinhas e corpo mole.

A personalidade frívola de quem não se importava com nada, ele guardava para quando estava entre amigos e conhecidos e precisava fingir que estava tudo bem. Principalmente para quando estava com Gabriel, embora o amigo sempre tenha enxergado através dessa máscara. Era injusto. Injusto que ele fosse tão transparente para Gabriel e o outro não fosse minimamente visível para ele, não conseguia enxergar absolutamente nada através daquela armadura de seriedade.

E era irônico também, que ambos se protegessem tanto que eram incapazes de ver o que estava bem na cara deles.

-Luce quer falar com você. - como se tivesse sido conjurado pelos seus pensamentos, a voz de seus sonhos e pesadelos surgiu atrás dele. Levi recolhia as espadas largadas nos bancos.

Ele fechou os olhos e suspirou discretamente antes de se virar.

-Olá, Gabs. - disse de um jeito que sabia que deixava o outro abalado.

Gabriel estremeceu visivelmente. Ele usava o uniforme do esquadrão que era feito de um tecido grosso, porém, flexível e tinha o símbolo deles estampado no peito, um broche com o mesmo símbolo estava grudado na roupa também um pouco abaixo do ombro. Levi não pode deixar de correr os olhos pelo corpo dele. A forma como o material se ajustava aos músculos do guerreiro eram quase uma afronta ao seu auto controle.

-Oi, Levi. - Gabriel pigarreou ao perceber que estava sendo secado pelo outro.

Gabs. Levi sabia que ele odiava ser chamado assim. Pelo menos, era o que pensava, mas depois do beijo, não tinha mais certeza se era ódio. O fato era que ele sempre achou que Gabriel nunca corresponderia seus sentimentos, mas agora ele não tinha mais certeza de nada. Começou com um beijo - e para o total choque de Levi quem tomou a iniciativa foi o próprio Gabriel - então até agora aconteceram um bocado de beijos.

Porém, quando Levi achava ter certeza de alguma coisa entre eles, sentia como se estivesse caminhando em chão firme só para de repente pisar em falso caindo dentro de um buraco.

-Bem, era só isso que eu tinha a dizer. - a trança em seu cabelo longo balançou com um chicote quando Gabriel se virou bruscamente. -Tchau.

-Não vai me xingar por te chamar de Gabs? Ou você só se importa se for na frente das pessoas? - Levi se aproximou sussurrando no ouvido dele. -Posso te chamar de Gabs se for só nos dois?

Gabriel se virou com os olhos afiados.

-Qual é o seu problema? - ele olhou em volta como de estivesse preocupado com a possibilidade de alguém estar vendo os dois.

-Qual é o seu problema? - Levi deu um passo para trás ficando irritado. -Você me beija e depois me trata como se eu fosse uma pilha de lixo na porta da sua casa! Por que está fazendo isso?

-Você não entenderia! - ele retrucou igualmente irritado. -Eu...

-Então explica! Fale comigo Gabriel, pelo menos uma vez na vida me diz o que está pensando de verdade.

-Tá! Eu... Eu estou pensando que isso tudo foi um erro. - ele engoliu em seco e virou o rosto olhando para a grama como se ela ferisse seus olhos. -Não vamos mais fazer isso. Nada disso. E não me chame mais assim.

-Um... Erro... - Levi repetiu lentamente. Ele raramente ficava com raiva, mas sentiu que poderia explodir de ira nesse momento. -Foi um erro? Devia ter chegado a essa conclusão brilhante antes de me beijar!

Com isso Levi saiu pisando duro deixando ele para trás. Nesses momentos, ele preferia como as coisas eram antes. Era mais fácil e menos confuso. E ele não precisava lidar com o tormento de saber como era o gosto dos lábios de Gabriel sem saber se iria beijar ele de novo. Considerando essa conversa, ou melhor, briga, não iria acontecer mais tão cedo. Nunca.

Ele rangeu os dentes enquanto entrava no castelo. Luce estava na sala de reuniões como sempre. A anjo caído parecia passar mais tempo ali do que em qualquer outro lugar, mas Levi sabia que era porque a sala ficava na torre mais alta do castelo, e pela janela, Luce conseguia ter uma visão ampla da cidade que tanto amava. Quando ele conheceu Luce achou ela muito adorável, mas, ao contrário do que todos pensam, ele nunca quis levá-la para cama. Respeitava demais ela para isso, entretanto, devido a sua personalidade e o fato de que ele tinha se acostumado a usar o flerte como uma arma em seu arsenal, foi o que pareceu.

Flertar com todo mundo era uma forma de tentar preencher um vazio, mas quanto mais ele tentava, mais vazio parecia ficar. E a única pessoa que poderia preenchê-lo, jamais o faria.

-Soube que minha ilustre presença foi requisitada. - ele disse encontrando Luce exatamente onde achou que ela estaria, de frente para a janela.

Luce era a luz e a esperança daquela cidade. Não era muito sentimental, mas era extremamente solidaria. Se importava de verdade com o povo, e faria de tudo para salvá-los, como fez na guerra. Luce viu todos os antigos capitães da época morrerem diante de seus olhos, mas ela honrou a memória deles salvando a cidade praticamente sozinha, já que parte do exercito também tinha sido dizimado.

Ele achava incrível o fato de passar por algo assim jamais ter abalado seu espirito. Obviamente, ela carregava a dor da perda, todos eles carregavam, mas não deixava isso consumi-la. Usava como força para ir ainda mais além, e manter a salvo o que tinha lhe restado.

-Olá, Capitão Levi. - duas vozes em uníssono o cumprimentaram, assustando-o.

-Puta merda! - ele deu um passo para o lado olhando as duas figuras próximas a porta. -Por que vocês sempre fazem isso?

Eram os gêmeos sombras, os espiões de Luce, de pé próximos da parede como se fossem parte da decoração. Ambos estavam uniformizados, a roupa preta e o cabelo escuro em contraste com a pele pálida faziam eles parecerem uma fotografia em preto e branco. Eles sempre surgiam do nada e ninguém sabia como eles tinham aparecido. Tudo por causa dos poderes peculiares que possuíam, podiam se transformar em sombras, literalmente.

Os dois eram como o reflexo um do outro. Os mesmos cabelos pretos compridos e os olhos inteiramente pretos, até a parte que deveria ser branca. Até onde Levi sabia, eles eram metade anjos e metade demônios. Haviam sido resgatados por Luce quando estavam prestes a queimar em uma fogueira por serem amaldiçoados. Eram tão discretos quanto a posição deles precisava que fossem, e isso acabava refletindo em suas vidas pessoais. Não falavam com muitas pessoas, não tinham amigos ou família, mas estavam sempre ali. Ninguém sequer sabia seus nomes, eles era apenas os Irmãos Sombras. A volta deles da missão em que estavam trazia junto um pouco de alívio, pois com eles ali seria muito mais fácil encontrar o traidor.

-Os gêmeos avisaram que estavam a caminho e pedi que dessem uma olhada onde ocorreu a última tentativa de invasão. - ela disse sem se virar. -E eles acabaram encontrando uma pista que pode ter a ver com o traidor.

-E o que é? - Levi olhou para eles.
Um dos gêmeos se aproximou e colocou um objeto sobre a mesa. Levi ficou confuso, mas quando percebeu o que era aquilo, ergueu as sobrancelhas.

-Encontramos caído no campo próximo as barreiras. - disse um deles.

-Detectamos também um rastro de poder, alguém mandou um sinal de localização daquele ponto. - o outro falou.

-É um broche com a insígnia do esquadrão. - Levi não precisava analisar de perto para saber, todos eles usavam um daquele, tinha um em seu peito agora mesmo. Porém, mais do que isso, os broches tinham sido feitos pessoalmente por Gabriel. Pintados a mão. Ele tinha passado noites em claro dando atenção especial a cada uma das peças.

-Como você sabe, existe apenas um para cada soldado, e não é possível conseguir um desse com facilidade. O que significa... - Luce estava com as mãos cruzadas atrás das costas, ainda observando a paisagem além da janela.

-Que quem tiver um broche faltando, pode ser o traidor. - o capitão completou.

-Provavelmente.

-Os outros já sabem?

-Sim, e estão atentos.

-Vou ficar de olho também.

Eles não podiam simplesmente interrogar todos os soldados pois isso geraria inquietação e insegurança. O traidor poderia ficar mais atento, e os soldados inocentes se sentiriam injustiçados por estarem sob suspeita.

-Preciso que passe um recado a Gabriel também. Peça que ele fique de olho na divisão de Lynx. - Luce se virou para ele. -Agora que ele está em coma, pode ser difícil para Lilith cuidar de tudo sozinha.

Levi fez uma careta.

-Ele não acabou de sair daqui? Por que você mesma não falou com ele?

-Porque estou mandando você falar. - ela se afastou um pouco da janela e encarou ele com as mãos na cintura. Seus cabelos pretos brilhavam com a luz do sol refletida nele. -O que foi? Já brigaram de novo?

-Não exatamente. É que...

-Não me interessa! - ela jogou as mãos para cima exasperada. -Resolvam logo seja lá o que for, pois não quero conflitos internos e muito menos climão na hora das reuniões.

-Sim, senhora. - Levi parecia uma criança fazendo deboche.

Luce semicerrou os olhos para ele com uma ameaça silenciosa. Levi limpou a garganta com uma tosse.

-Sim, senhora. - repetiu corrigindo o tom de voz para um mais reverente.

- Pirralho. - ela passou por ele deixando a sala. Parecia uma criança vestindo o uniforme, mas Levi conhecia muito bem sua força. Antes de entrar para o esquadrão tinha desafiado ela... E se arrependia amargamente até hoje.

Sabia que precisava encontrar Gabriel para dar o recado de Luce, mas pela primeira vez, não estava com a mínima vontade de ver ele. Em vez disso, tomou outro rumo indo para o único lugar em que poderia desabafar as mágoas no momento. Ele subiu as escadas do prédio de três andares com as botas ecoando no assoalho. Bateu na porta do apartamento no último andar cinco vezes antes do morador atender.

-Eu estava dormindo. - reclamou o inquilino com o rosto franzido de sono e irritação. -Você sabe que odeio quando me acordam.

-É bom ver você também, Cain.

Cain bufou e abriu mais a porta para ele entrar. Levi passou pelo corredor de entrada e se jogou em uma das poltronas na sala.

O apartamento de Cain lembrava a casa de uma avó e era totalmente destoante da aparência máscula do guerreiro. Tinha muitos enfeites bregas em cima dos móveis antiquados e um leve cheiro de naftalina. Isso se devia ao fato de que aquele apartamento realmente fora de sua avó. Sua avó adotiva, a mulher que o criou mesmo sabendo o que ele era.

Cain era resultado de um demônio que seduziu um anjo, e então largou ele na porta de um orfanato. Cain foi adotado por uma mulher que morreu logo em seguida e então ele ficou com a mãe dela. A senhora foi caçada pois começaram a se espalhar boatos de que Cain era uma criança demoníaca, e então Luce os encontrou e os trouxe para a cidade. A avó de Cain tinha morrido a uns duzentos anos, mas desde então ele permaneceu no apartamento. Ele não era depressivo nem nada do tipo, mas parecia não conseguir desapegar das memórias da única família que teve.

Cain seguiu o amigo até a sala, pegou a coberta no encosto da outra poltrona e sentou no sofá se enrolando nela enquanto encarava o outro capitão. Era engraçado ver um homem daquele tamanho com cara de poucos amigos, enrolado em um cobertor como se fosse uma criança.

-Você está doente? - Levi indagou com o rosto franzido. -Está fazendo o maior calor e você de coberta.

-Talvez você só esteja sentindo calor por que vive com fogo no...

-Ei! Nossa, para que tanta violência?

-Eu estava dormindo, pessoas que interrompem meu sono merecem uma morte horrível. - Cain bocejou e fechou os olhos, dormindo sentado.

-Tsc.

Cain suspirou.

-O que foi Levi? Fala, desembucha. Já me acordou mesmo. - ele disse ainda de olhos fechados.

-Gabriel disse que foi um erro. - ele murmurou parecendo uma criança desconsolada.

-Quê?

-Gabriel disse que foi um erro ter me beijado. - ele repetiu mais alto.

-Você perguntou o porquê?

-Não.

Cain abriu os olhos sonolentos e encarou ele por um tempo antes de responder.

-Já reparou que vocês estão sempre se atacando, assumindo coisas um sobre o outro, mas nunca conversam direito?

-Quando eu pergunto alguma coisa ele não responde, só age como se fosse a pessoa mais triste do mundo. Como se não fosse ele que estivesse me machucando. - Levi. O Capitão da segunda divisão que ganhou inúmeras batalhas e nunca se abalava com nada, sentiu um nó na garganta ao confessar isso.

-Isso porque você está sempre gritando com ele, em vez de falar como uma pessoa normal. - Cain observou. -Eu também não iria querer conversar assim.

Levi inclinou a cabeça no encosto da poltrona encarando o teto.

-Tem razão, não sei conversar. Mas é porque ele me tira do sério.

A cena era um tanto irônica. Algum tempo atrás, Levi queria matar Cain por ficar se metendo nos assuntos entre ele e Gabriel, mas agora era o único com quem podia conversar sobre ele. A verdade era que do jeito dele, Cain estava tentando ajudar os dois o tempo todo.

-Eu não sei o que mais dizer para vocês dois além de que vocês deveriam conversar que nem gente. - Cain tombou para o lado no sofá enrolado em seu casulo de coberta. -Sinceramente, estou ficando cansado e acho melhor se resolverem logo antes que isso fique pior.

-Vou tentar, mas...

-Além disso, alguma vez você disse a ele como realmente se sente? Não, né? Fica apenas esperando que ele adivinhe, principalmente quando você sai com uma pessoa diferente por dia e não leva ninguém a sério. Gabriel provavelmente acha que você vai tratá-lo da mesma forma. Você reclama que ele não se abre, mas você não faz o mesmo?

Levi ficou olhando para ele boquiaberto. Cain falava pouco, mas quando decidia falar, era uma facada após a outra. Ele era a melhor pessoa entre eles para se pedir conselho, pois ele falava pouco mas observava muito. No entanto, se a pessoa não estivesse pronta para ouvir a verdade, era melhor nem perguntar nada em primeiro lugar.

-Acho que você tem razão. - Levi respondeu depois de se recompor. -Mas Gabriel não é burro. Se eu tiver que deixar mais óbvio que gosto dele vou ter pedir em casamento de uma vez.

-Não me chame para ser o padrinho.

Levi fez um ruído de sarcasmo que parecia uma risada.

-Isso não é negociável, você vai ser e pronto. Angela vai ser a menina que entra na igreja jogando flores.

Cain deu uma rara gargalhada.

-Mais fácil ela entrar atirando facas nos convidados.

Levi também gargalhou ao imaginar a cena.

-Relacionamentos são tão complicados. - disse depois de acalmar o riso.

-Por isso prefiro ficar sozinho. - Cain tinha um olhar distante ao dizer isso.

-Falando nisso, Alec deve estar passando por um momento muito difícil agora, com Lynx em coma. - Levi lembrou de repente do casal peculiar. -Luce me disse que ele apareceu no meio da noite todo desesperado com Lynx nos braços... Deve gostar muito dele.

-Sim, só não acho que ele tenha percebido ainda. - Cain bufou. -Estou cercado de cegos idiotas.

-Me desculpe por ser um idiota, ó ser evoluído demais para pegar alguém.

-Vai se ferrar.

-Tenho que ir agora. - Levi se levantou relutante. -Preciso dar um recado de Luce a ele... E também vou tentar conversar com ele.

-Boa sorte. Se der errado não me procure, vou estar dormindo.

Levi sabia que ele não estava falando sério. Cain se fazia de frio e se isolava de propósito, mas ele talvez fosse a pessoa mais sensível entre todos eles.

A noite já tinha tomado conta do céu quando Levi deixou o apartamento de Cain. Ele vagou pelas ruas por um tempo, encontrava velhos conhecidos por onde passava, alguns convidavam ele para uma noite de bebedeira, mas pela primeira vez recusou todos. Tinha algo que precisava resolver. Cain estava certo. Ele e Gabriel nunca tinham de fato conversado sobre os acontecimentos recentes, e o que eles significavam um para o outro. Quando eram só amigos, era fácil, conversavam sobre quase tudo. Mas agora tudo que faziam eram se ignorar, ou gritar um com o outro, só não brigavam quando estavam ocupados se beijando.

Contudo, pela primeira vez na vida de Levi, contato físico só tinha piorado a situação.

Ele não sabia onde estava Gabriel, mas tinha uma ideia de onde poderia encontrá-lo. Havia uma galeria no centro, cuja dona era a mãe de Gabriel. Estaria fechada naquele horário, mas ele certamente estaria no andar de cima, no ateliê. Parou de frente para a fachada do lugar, uma construção simples de pedra escura. Sem se dar ao trabalho de bater na porta, ele simplesmente pulou até a janela do segundo andar que não era alta, e mesmo se fosse não seria problema. Ele era um híbrido, sangue angelical corria em suas veias, tornando-o mais forte do que pessoas comuns. Poderia saltar até no telhado do prédio mais alto da cidade sem sequer suar no processo.

-Existe uma coisa chamada porta. - Gabriel obviamente não tinha se assustado com ele.

Primeiramente, porque devia ter sentido sua presença, e além disso, ele era um guerreiro metade anjo treinado e tão forte quanto Levi. Não haviam ladrões na Cidade dos Mestiços, mas qualquer um que se dispusesse a invadir o território de um soldado do esquadrão, estaria cavando a própria cova.

-Mas entrar pela janela é muito mais emocionante. - Levi desceu do parapeito da janela, mas ficou sentado nele.

Gabriel estava de costas para ele. Vestia roupas comuns, camiseta branca e jeans. Uma tela estava disposta a sua frente com uma pintura em andamento. Guerreiro angelical treinado e artista. Um dos lados dele que mais fascinava Levi, o modo como ele poderia ser mortal e delicado ao mesmo tempo. Ser capaz de matar, e criar. Levi soltou um suspiro triste.

-Se veio aqui para ficar suspirando na minha janela, pode ir embora.

-Vim, porque Luce pediu para mandar um recado. - a imagem romântica se formando na mente de Levi foi apagada como a chama de uma vela com a frieza das palavras dele. -Disse para você ficar de olho na terceira divisão enquanto Lynx estiver em coma.

-Recado recebido.

Gabriel sequer teve a sensibilidade de se virar para reconhecer sua presença. A raiva inflamou no outro guerreiro como ar enchendo um balão. Toda sua boa vontade em conversar e resolver as coisas se esvaindo a cada pincelada que Gabriel dava na tela. Sem dizer nada, Levi apenas se virou para sair por onde tinha entrado, estava cansado de brigar com ele. Era como bater com a cabeça repetidamente na parede.

-Espera. - a voz que disse essa única palavra o congelou no lugar. -Eu queria me desculpar.

-Pelo quê exatamente?

-Por tudo. Pela forma que tenho agido com você, não é justo.

-Então me explica por que tem agido assim, talvez eu te perdoe.

Gabriel finalmente e virou para ele, e a expressão em seu rosto não era o que Levi esperava. Em vez daquela cara séria e fechada de sempre, ele carregava uma angustia tão grande que derrubou todas as defesas de Levi.

-Eu... - ele parecia estar com muita dificuldade de encontrar as palavras certas para dizer, sua expressão contorcida demonstrava isso. -Eu tentei. Esse tempo todo eu tentei ficar de longe de você. Justamente para evitar que você sofresse, mas acho que estraguei tudo de qualquer forma.

Levi se aproximou lentamente dele, como alguém com medo de espantar um gato selvagem. Mas Gabriel não parecia assustado, e nem arredio como sempre, seus olhos eram vulneráveis e a expressão aberta pela primeira vez.

-Do que você está falando?

-Estou falando - ele largou os materiais e arte e encurtou mais a distância entre eles. - do fato de que sou completamente apaixonado por você. Sempre fui.

O mundo de Levi parou de girar tão bruscamente que ele sentiu que tinha sido arremessado contra uma parede com o impacto.

-E eu sei que você sente o mesmo. - continuou Gabriel. -Mas é exatamente por isso que não podíamos ficar juntos.

-Não entendo. - Levi estava tão chocado que nem conseguia se mexer, essas duas palavras saíram de sua boca com um esforço imenso.

Gabriel respirou fundo e chegou até Levi, pegando sua mão, entrelaçando os dedos como se fosse a última vez.

-Sabe o que minha mãe me disse um pouco antes do meu pai morrer? - ele não esperava resposta para a pergunta. -Que as vezes o amor é a pior coisa que pode acontecer a alguém. Um dos lados sempre vai sair machucado, independente se for intencional ou não. Eu achei que ela estava sendo dramática na época, mas quando meu pai se foi, eu entendi. A morte dele destruiu ela, e o amor que ela sentia por ele também.

As coisas lentamente começaram a fazer sentido para Levi.

-Gabs...

-Eu vou morrer primeiro que você, Levi. - ele disparou. -Bem antes de você. Acha que quero vê-lo sofrer como minha mãe? Eu tentei te preservar, preservar o que tínhamos, mas não aguento mais ficar longe de você... Eu estraguei tudo, me desculpa.

-Você é um idiota, sabia? - Levi finalmente conseguiu dizer desviando do toque dele. -Em vez de se preocupar com a morte, porque não se preocupa com todo o tempo que já perdemos até aqui? É verdade que o amor machuca, mas as vezes ele também cura. Teria sido muito menos difícil para nós dois se estivéssemos aproveitando o tempo que temos juntos do que ficar remoendo o dia em que seríamos separados. Pelo amor de Deus! Temos duzentos anos, mesmo que isso vá acontecer... Vai demorar muito. Sério. Você tem um sério problema de ansiedade.

-Eu só queria evitar sofrimento.

-Evitar sofrimento com mais sofrimento é um método meio ilógico, você não acha?

Gabriel ficou em silêncio. Levi queria muito entender como funcionava a cabeça dele, mas, no fundo, meio que entendia. Ele soltou uma risada amarga, a situação tinha uma espécie de humor ácido. Gabriel estivera tão preocupado com o futuro deles que havia se esquecido de viver o presente. Era verdade que por conta do grau de parentesco, a vida de Gabriel duraria menos. Mas eles ainda tinham tempo, e haviam perdido tantos anos.

Entretanto, Levi entendeu naquele momento o quanto a morte do pai de Gabriel impactou sua vida. O suficiente para que ele tivesse medo de amar e ser amado.

-Você alguma vez cogitou perguntar como eu me sentia sobre isso? - Levi manteve a voz calma, lembrando-se de não se irritar e não gritar com ele. -Eu sei que vai doer se um dia eu perder você, mas não vou ficar me lamentando por isso, vou usar o amor que sinto para seguir em frente. Prefiro ter algum tempo com você do que tempo nenhum.

Gabriel arregalou os olhos com essas palavras, mas ele próprio parecia não ter nenhuma.

-Gabs... O que eu faço com você agora?

-Me beija. - disse Gabriel com um sorriso angustiado. -Dessa vez não vou brigar com você. Pode me chamar do que quiser, na frente de quem quiser. Eu não ligo. Cansei de lutar contra isso e fingir que não sinto nada.

Ele não precisou pedir de novo. Levi envolveu ele em seus braços e o beijou com duzentos anos de sentimentos reprimidos entre eles. As mãos de Gabriel seguraram seu rosto com a mesma delicadeza que ele segurava seus pincéis. Ele acariciou a cicatriz de Levi com o polegar e se entregou a ele de corpo e alma, sem contenções dessa vez.

O amor é a força mais poderosa do mundo. Ele pode transformar as pessoas tanto para a melhor versão delas, quanto para a pior. Pode se transformar em ódio, e pode transformar o ódio. No caso de Levi e Gabriel, transformou os dois em idiotas que perderam muito tempo. Talvez se Gabriel tivesse se aberto antes, ou se Levi soubesse se comunicar melhor nada disso teria acontecido.

Eles não podiam recuperar os anos perdidos, mas agora passariam o que restava de suas vidas criando novas memórias.

Até o dia que um deles não estiver mais aqui.

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