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Capítulo 2 - O Stalker Retorna

Dois Meses Depois

Quando Alec era criança, assim como a maioria das crianças, tinha muitos sonhos.

Anotar pedidos e limpar mesas em um cybercafé lotado de adolescentes escandalosos, passava longe de ser um deles. O final da tarde era o período mais agitado do dia pois era o momento em que eles saiam da aula e lotavam o estabelecimento, se aglomerando desde as mesas no andar de baixo até os computadores do andar de cima. O barulho das conversas animadas misturado com o da chuva lá fora preenchia seus ouvidos. Havia alguns jovens ocupando o balcão também, usando o local para se proteger da tempestade. Setembro havia chegado e o fim do inverno se aproximava, mas ainda fazia bastante frio e a chuva não dava trégua, e graças as mudanças climáticas preocupantes acontecendo no planeta, sua confiança em coisas como estações e previsões do tempo tinha diminuído drasticamente.

Apesar do horário de pico barulhento, Alec não odiava trabalhar ali, mas em alguns momentos lamentava por ter tido que trancar a faculdade que mal tinha começado. Não que o coitado pudesse continuar pagando de qualquer forma. Sua vida tinha chegado em um ponto onde ele teve que escolher entre estudar música e não passar fome. O aluguel de onde morava não era tão caro considerando o bairro e a simplicidade do apartamento, mas viver estava se tornando cada vez mais caro e só agora Alec tinha noção disso. Então ele tinha que se virar e dividir o que ganhava entre, aluguel, conta de luz, água, condomínio e mercado, e se ele tivesse sorte sobrava para algum mimo. As vezes ele até agradecia quando tinha que fazer hora extra ou cobrir o turno de alguém. Esse era o resultado de não depender mais dos pais ricos. Mas era uma coisa boa. Primeiro porque a independência tinha um gosto incrível para ele, e segundo que era melhor desistir de seu sonho temporariamente do que deixá-lo morrer para sempre, pois era isso que aconteceria se ele tivesse ficado em casa e deixado seus pais guiá-lo por um destino traçado desde que nasceu.

Seu relacionamento com a família era difícil, ele não guardava rancor, mas também preferia manter distância. Seu pai sempre tinha sido muito frio e autoritário ao passo que a mãe, embora amorosa, o tratava como se fosse o menino de ouro exemplar colocando nele expectativas que eram somente dela. Portanto, foi um choque para eles quando o jovem saiu de casa para viver por conta própria. Um choque e um desgosto. Era praticamente uma certeza de toda família que Alec seria o sucessor da empresa do pai. Seus primos provavelmente tinham ficado satisfeitos com sua partida, pois agora tinham uma chance de sentar na cadeira da presidência um dia. Na visão dos tios e avós ele tinha jogado um futuro brilhante no lixo para perseguir o sonho inútil de ser artista.

Mas a arte era para os sonhadores afinal, e se Alec não perseguisse seu sonho ele nunca ia se realizar. Ele acreditava que mesmo que não fosse possível agora, talvez um dia desse certo.

Em geral, Alec achava que estava se saindo surpreendentemente bem, fora alguns perrengues normais de se morar sozinho e pagar as próprias contas nada demais tinha acontecido Exceto, pelo fato de que ele tinha sido perseguido e quase morto por um stalker nos últimos meses. Fora isso, tudo bem Exceto pelo fato de que ele dormia menos de seis horas por dia e a maior parte de sua dieta era composta por miojo e delivery. Mas estava tudo bem, claro Exceto pelo fato de que fazia tanto tempo que ele não criava nada que sentia como se nem soubesse mais como segurar uma guitarra ou compor uma melodia.

Talvez não estivesse tudo tão bem assim, mas ele sabia que ficaria. Nenhuma fase era eterna, por isso era apenas uma fase.

Enquanto tentava manter seus últimos fiapos de otimismo fingiu não notar o olhar penetrante grudado nele pela quarta vez. O cara a duas mesas de distância não parecia muito preocupado em disfarçar. Quase como se a encarada fosse com o intuito de que Alec retribuísse o olhar, porém, o jovem fingiu que não tinha notado sua presença assim como mais ninguém ali pareceu notar. O que era estranho, pois era difícil não notar, ao menos dar uma olhadela, em alguém com aquela aparência. Um corpo alto e esguio acompanhado de um belo rosto emoldurado por cabelos longos platinados, olhos amarelados que lembravam os de um gato, tatuagens saindo pelas mangas e gola da jaqueta de couro. Ele estava apenas sentado sem fazer nada, mas parecia um modelo no meio de uma sessão de fotos. Mesmo que Alec não olhasse diretamente para ele, conseguia ver o olhar dele em sua direção com a visão periférica. De repente ele começou a se sentir um pouco ansioso, não se achava particularmente interessante, mas isso não parecia fazer diferença para os psicopatas.

O evento de dois meses atrás era um prova viva, embora os detalhes daquela noite fossem extremamente confusos.

Apesar da terapia, estava tendo dificuldades para esquecer os flashes de memória que tinham permanecido vívidos em sua cabeça. Ele ainda se lembrava da sensação de ter passado semanas sendo perseguido, frequentemente vendo a sombra de alguém com o canto do olho e quando estava prestes a aceitar que estava apenas paranoico foi que descobriu que não estava. Sua altura de um metro e oitenta e oito não foi o suficiente para intimidar o atacante já que ele era tão alto quanto Alec, talvez fosse a falta de músculos e a palidez que o fizesse parecer um alvo fácil. Alec não teve tempo de se defender na situação porque foi pego de surpresa. Na realidade, não teve como se defender porque o stalker tinha uma força sobre humana, um detalhe que ele escolheu sabiamente ocultar ou então estaria em um quarto acolchoado agora. Mas no fim, acabou que não precisou fazer nada. Carma instantâneo era real, ao que parecia. Quando estava prestes a levar uma facada, um tijolo caiu de cima do prédio no beco onde estavam e atingiu em cheio a cabeça do stalker.

Teria sido cômico se não fosse pelo sangue espirrando em seu rosto.

Alec terminou de recolher os restos de comida de uma das mesas e atravessou o recinto até a parte de trás do balcão para levá-los até a cozinha, o tempo todo sentindo o olhar penetrante sobre ele, porém, quando finalmente decidiu retribuir a encarada, o cara havia sumido. A mesa estava vazia como se Alec tivesse apenas imaginado que alguém tinha estado ali segundos antes. Olhou para a porta do estabelecimento e nem sinal de que alguém havia acabado de sair. Franziu as sobrancelhas confuso.

—O que rolou? — Perguntou Rebeca, que estava responsável pelo caixa aquele dia.

—Como assim? — Alec deu seu melhor para parecer indiferente. Se contasse a ela sobre a possibilidade de um novo stalker, a garota entraria em pânico.

—Você parece assustado, tá mais pálido que o normal.

—Haha. — Alec mostrou o dedo para ela. A garota riu, vendo que ele parecia despreocupado não pressionou mais sobre o assunto.

—Escuta — Rebeca alisou os cabelos louros e fez cara de cachorro pidão se esquecendo de que seu charme feminino não funcionava com Alec. —Você pode fechar para mim hoje? Eu sei que é minha vez mas

—Tá começando a ficar meio folgada, não acha? — Ele semicerrou os olhos para ela. —Já é a terceira vez com essa. Eu sou legal, mas não a ponto de ser idiota.

—Ain, eu sei. Você não é idiota, amigo. — Ela fez um beicinho, em seguida iluminou a expressão e sorriu. —Eu te pago um almoço em algum lugar chique quando eu receber, prometo.

Alec revirou os olhos.

—Quem é dessa vez? — Perguntou.

—Você não conhece, e é melhor nem conhecer porque ele é muito gato, você pode querer roubar ele de mim. — Ela não estava brincando.

Por algum motivo, Alec nunca conseguia ficar com raiva de verdade quando ela dizia alguma asneira desse tipo, talvez porque ele soubesse que ela nunca dizia com a intenção de ser má de verdade.

—Isso foi extremamente ofensivo. — Ele disse fingindo estar magoado só para zoar um pouco com a cara dela.

—Desculpa! Eu disse uma coisa idiota de novo — Rebeca chacoalhou as mãos tentando corrigir o que tinha dito.

—Não é porque eu sou gay que quero transar com todos os homens do planeta, muito menos os que você se interessa. — Ele falou ironicamente. —Aposto que é mais um hétero top que fica se admirando até no reflexo de uma colher.

—Está dizendo que eu tenho gosto ruim para homens? — Ela colocou as mãos na cintura e falou tão alto que um grupo próximo de pessoas se virou para olhar.

—Sim.

—Agora você está sendo idiota. — A jovem fez uma careta para ele, mas depois completou empolgada com corações nos olhos: —Mas dessa vez é sério amigo, acho que encontrei o amor da minha vida. A gente tem tudo a ver!

—Aham. — Alec riu. —Ok, eu fecho hoje, mas eu vou cobrar o almoço.

—Ah! Obrigada amigo! — A voz dela era meio esganiçada. Rebeca deu um abraço e um beijo no rosto dele e continuou tagarelando sobre seu hétero top encantado por mais um tempo até ambos voltarem a se ocupar com seus respectivos trabalhos.

—Já é a décima vez esse ano que ela encontra o amor da vida dela. — Ele murmurou para si mesmo achando graça, e então ouviu uma risada vindo do balcão. Pensou ter visto de relance a sombra de cabelos brancos, mas quando olhou para o lado não tinha ninguém.

Depois disso, o dia se passou lentamente sem grandes acontecimentos. Já estava escuro quando os últimos clientes saíram do local, Alec fechou o caixa e então começou a limpar. Ele se sentia exausto e estava feliz que no dia seguinte era sua folga. Tudo que ele queria era dormir até tarde, colocar alguns animes em dia e talvez jogar um pouco online. Pensar no cronograma mental para o dia seguinte o deixou de muito bom humor enquanto terminava o serviço. Até que uma ventania repentina e barulhenta na porta de entrada o tirou de seus felizes devaneios. O susto o deixou tenso, mas ele relaxou logo em seguida. Era realmente só o vento. Talvez estivesse vendo filmes de terror demais e dormindo de menos. O ambiente vazio e pouco iluminado naquele horário também não estava ajudando muito, pareciam haver sombras demais em todos os lugares errados o que azedou um pouco seu estado de espírito. Sentindo calafrios ele começou a rir de si mesmo. Desde quando sou tão covarde? Não que ele não tivesse motivos para ficar em alerta depois do que aconteceu da última vez. Mas era improvável que fosse acontecer de novo Certo?

Após terminar seu serviço, pegou suas coisas, trancou a loja e saiu para o frio da noite. Felizmente tinha parado de chover forte, porém, a garoa fina agulhando seu rosto ainda o deixou um pouco irritado. As ruas estavam silenciosas e vazias enquanto ele andava até o ponto de ônibus. Seus passos pareciam altos demais no chão úmido e a respiração formava uma nuvem branca diante do seu rosto. Sabe aquela sensação de estar sendo observado mesmo tendo quase certeza de que está sozinho? Foi assim que Alec começou a se sentir naquele momento e isso lhe causou mais uma onda de calafrios.

Seus olhos escuros analisaram os dois lados da rua quando ele fez menção de atravessar, mas ele provavelmente perderia o ônibus naquele dia, pois antes que conseguisse processar o que estava acontecendo foi puxado bruscamente para dentro de um beco. Tudo que conseguiu fazer foi arregalar os olhos enquanto o agressor o arrastava para as sombras.

Uma de suas mãos tampava a boca de Alec para que ele não gritasse enquanto o outro braço envolvia a cintura do jovem junto com seus braços em um aperto forte para que ele não fugisse ou se defendesse. A mão em seu rosto era muito fria em comparação com a respiração quente no pescoço. Além da força, o homem era um pouco mais alto que ele, e tudo que Alec havia aprendido sobre autodefesa virou pó em sua mente naquele momento. Mas Alec manteve a calma, entrar em pânico não ajudaria, só restava avaliar a situação e esperar por uma brecha.

—Não grite. — A voz grave e melodiosa que proferiu essas palavras lhe causou arrepios de medo pela ameaça implícita no tom. Porém, logo o medo foi subjugado pela raiva. Como diabos eu vou gritar se ele está me sufocando? Alec pensou, desistindo de manter a calma. Pisou no pé do estranho, se debateu e acotovelou suas costelas, mas ele apenas riu. Era inútil, ele não se considerava fraco, mas o cara parecia ter braços feitos de aço.

Ao que parecia, Alec estava destinado a ser atacado em becos por psicopatas com força sobre-humana. Não era possível que isso estivesse acontecendo de novo.

—Fique quieto, Alexander. — O agressor repetiu com um sussurro irritado. Alec parou de se debater, congelando de pavor ao ouvir seu nome saindo da boca do outro. Já tinha ficado obvio que ele não era apenas um assaltante aleatório, mas saber o nome de Alec só dizia que a situação era pior do que ele imaginava pois era como da última vez, o outro stalker também sabia seu nome.

Quando ele pareceu ter certeza de que Alec não gritaria, o cara tirou lentamente a mão de sua boca.

—Seja um humano obediente. Ouça o que eu digo, e talvez saia vivo desse beco. — A voz disse em seu ouvido. Alec estremeceu, preocupado até de estar respirando alto demais. Pensou em gritar, mas descartou a ideia, não ia adiantar e ele não queria ser sufocado de novo. —Muito bem.

No entanto, passaram-se longos segundos e o sujeito não fez nada, quase como se ele estivesse esperando por algo. Foi então que tudo ficou ainda mais bizarro. Uma nuvem de fumaça preta desceu do céu em um redemoinho e bloqueou a entrada do beco e dois pontos verdes brilhantes flutuavam no meio dela como dois vaga-lumes flutuando dentro de uma nuvem tempestuosa.

—Mas já? Vocês estão cada vez mais rápidos, mal consegui escapar do último! Ele perdeu um pouco a cabeça, coitado Espero que consiga colar ela de volta. Hehe. — O tom do estranho era de pura zombaria. —Mas não se preocupe, não vou cortar a sua cabeça, acho que está virando um mau hábito já.

Suas palavras deixaram Alec completamente em branco. Do que ele estava falando? E como alguém conseguia ser tão brincalhão e hostil na mesma sentença dizendo algo tão absurdo?

Alec teve a impressão de que estava acontecendo algum tipo de comunicação silenciosa entre a nuvem de fumaça e o cara segurando ele, e então os próximos segundos depois disso aconteceram muito rápido. No momento seguinte Alec estava agachado. O suposto stalker estava com os braços ao redor dele e uma coisa preta os envolvia, mas não era como aquela nuvem de fumaça. Era algo mais sólido, impenetrável e escuro que parecia engolir toda luz ao redor. Quando Alec conseguiu libertar um de seus braços e estender a mão para tocar aquela cortina preta, se surpreendeu com o quão macio era. Ele tateou cegamente até perceber que pareciam penas.

Do lado de fora daquele casulo parecia estar acontecendo o próprio apocalipse. Ele ouvia sons de ventos cortantes e coisas quebrando. O barulho ambiente da civilização fora completamente engolido pelo som daquela cena surreal, embora em seu estado, Alec não fosse capaz de saber exatamente o que estava acontecendo, mas tinha a sensação de que não era algo que a mente humana pudesse processar com facilidade. Em meio segundo o estranho se ergueu e o movimento levou Alec junto. O aperto de aço o mantinha colado em seu corpo limitando seus movimentos, mas por uma pequena fresta naquele casulo Alec conseguiu vislumbrar precariamente a cena lá fora.

E ficou realmente chocado com o que viu. Seu captor segurava uma foice enorme na outra mão!

A arma de prata emitia um brilho gélido, sua lâmina afiada não parecia nem um pouco de brinquedo se as rajadas de vento cortante que ele disparou usando o objeto fosse algum indicativo. Uma dessas rajadas foi em direção a nuvem de fumaça, que se dividiu ao meio e desviou como se o vento mortal não fosse nada mais que um mosquito, e o ataque da lâmina atingiu um carro no meio-fio partindo-o ao meio. O dono do carro ficaria puto, com certeza.

A cena toda se desenrolou em questão de segundos e Alec estava tão desnorteado que havia perdido a capacidade de racionar. Quando conseguiu sair do choque, seu primeiro pensamento era de que  tudo não passava de uma alucinação. Alec tinha enlouquecido. Talvez todo aquele tempero de miojo que ele consumia frequentemente em vez de fazer mal pro estômago tinha danificado seu cérebro.

—O que você pensa que está fazendo? — A nuvem de fumaça tinha uma voz. E era uma voz feminina, contida, e sem emoção.

—O que parece que estou fazendo? — O cara perguntou usando o mesmo tom que ela. Alec não conseguia ver sua expressão, mas sentia que ele estava com raiva.

De repente, a coisa preta que tampava sua visão foi retirada e ele conseguiu ver melhor o estrago no beco. Havia entalhes profundos no chão e nas paredes causados por algo muito afiado. Latas de lixo estavam tombadas e destruídas, o lixo todo espalhado pelo local como se tivesse sido atingido por um furacão. Contudo, ele não teve coragem de olhar para quem ainda mantinha um aperto de urso nele. Alec olhou  rapidamente para o lado oposto ao rosto do stalker, tentando enxergar na pouca luz do beco. Asas. Era o que parecia, que o seu novo stalker tinha um par de asas pretas, mas só pensar nisso já era absurdo o suficiente, tão absurdo quanto uma nuvem de fumaça falante com olhos, mas ambos estavam bem ali na sua frente. Alec ficou quieto ouvindo a conversa esperando que algo começasse a fazer sentido, ou que ele acordasse do pesadelo. Seu instinto de luta e sobrevivência completamente esquecido diante da surrealidade da situação.

O stalker continuou despreocupadamente: —Estou apenas cumprindo ordens, oras. Não era isso que vocês queriam?

—Você não recebe mais ordens e esse humano não é mais responsabilidade sua. — A fumaça começou a se transformar, se entrelaçando até formar uma pessoa. Era uma mulher alta e elegante. Vestia um terno branco contrastando com sua pele negra, os longos cabelos ruivos estavam penteados para trás sem nenhum fio fora do lugar e para completar tinha um par de asas rosadas que iam dos ombros até o chão. A primeira vista qualquer um pensaria que era um cosplay, porém, havia algo indescritível em sua expressão e nos olhos verdes penetrantes que causava certa inquietação e fazia esse pensamento cair por terra e não restar dúvidas de que ela não era um ser humano comum.

—Claro que é responsabilidade minha. — O stalker respondeu. Considerando seu tom de voz, parecia que ele estava sorrindo agora. —Ele é completamente meu.

Alec sentiu um tremor. Ele adoraria saber do que eles estavam falando, mas parecia uma linguagem codificada. Eles não disseram nada por um bom tempo, e Alec não sabia o que era pior; esse impasse ou a troca de palavras que não faziam o menor sentido para ele.

—Agora, solte o humano. — Ela continuou. Deu um passo cauteloso para frente, porém, o outro apontou a foice ameaçadoramente para ela. A mulher parou. —Tenho que levar você de volta para cima também, talvez ainda possa chegar a um acordo e conseguir sua posição de volta.

—Prefiro morrer e renascer como um pombo. — O homem zombou com uma risada. —Você foi instruída pra fazer tudo isso parecer que não é um convite pra uma sessão de tortura, né? Dá pra perceber, você é péssima atuando, se um dia você for banida, não tente uma carreira de atriz.

A mulher pareceu inabalada pela crítica dele.

—Você não se importa nem um pouco de estar sendo banido? — Ela inclinou a cabeça ao perguntar parecendo apenas um pouco curiosa e o gesto foi tão inumano que Alec sentiu um arrepio. Só pela sua aparência, não restava dúvidas de que ela não era humana, mas seu comportamento deixava isso ainda mais evidente.

—Sempre achei que não me encaixava bem nesse trabalho, todas aquelas mortes. Sério, quem aguenta? É mórbido demais para mim. — O individuo estremeceu de pavor, mas dava para notar que era encenação. Alec não era estúpido para não perceber que seja lá o que aquela mulher fosse, o cara atrás dele era a mesma coisa. —Vai nos deixar ir agora? Eu realmente não quero te machucar. De todos aqueles idiotas lá em cima você é uma dos que eu menos odeio. Eu até te convidei pro meu aniversário, e devo dizer, fiquei chateado porque você não foi.

Alec entendia que a situação era perigosa, mas ouvir esse cara falar desse jeito causou nele um impulso ridículo de querer rir. Talvez fosse o famoso rindo de nervoso. Ou talvez fosse porque ele também usasse sarcasmo em situações completamente inapropriada as vezes.

—Vão arrancar suas asas. — O tom dela era como se estivesse anunciando o tempo.

—Voar me deixa enjoado de qualquer forma. — Alec sentiu o cara dar de ombros.

—Solte o humano. — Ela insistiu.

—Caramba, você é um pé no saco, parece um robô. — Ele bufou perdendo a paciência. —Já que você é tão leal e dedicada, mande uma mensagem pro seu chefe, então. Diga que eu cansei disso tudo e que eu vou matar todos vocês desgraçados que vierem atrás de mim. Eu tenho apenas duas regras agora; a primeira é não seguir regras e a segunda é decapitar anjos intrometidos que ficam me perseguindo.

A foice que ele segurava sumiu com um clarão de luz branca. A mulher não expressou nenhuma reação diante de suas palavras.

—Desculpa. — Alec só percebeu que aquela palavra era para ele quando seus pés foram subitamente arrancados do chão e de repente eles estavam no ar.

Algum som finalmente saiu de sua garganta: um grito de pavor. Alec ouviu um barulho alto e afiado no ar, e em seguida o ser que o segurava mais firmemente ainda agora, soltou um chiado de dor. Ele resmungou mais alguma coisa, mas Alec só conseguia ouvir o vento ensurdecedor nos ouvidos. Ele fechou os olhos para evitar a náusea. Eles estavam sobrevoando a cidade, e Alec não queria saber a que altura. De repente, o ar frio e o barulho da noite se tornaram abafados, como se eles tivessem entrado em algum lugar fechado. Eles fizeram algumas curvas e então pararam, quando Alec abriu os olhos estava em um lugar muito mais que familiar A porta de seu apartamento no último andar do prédio que ele morava. O homem finalmente afrouxou o aperto em Alec e o jovem o empurrou e cambaleou para o lado, mas logo percebeu que algo estava errado. Considerando sua força de antes um empurrão não seria nada, mas ele bateu bruscamente contra a parede do corredor e deslizou ate o chão. Suas asas pretas, grandes demais para aquele espaço minúsculo, foram diminuindo até sumirem nas suas costas e Alec conseguiu ver o sangue manchar lentamente sua jaqueta no ombro.

E para sua surpresa, ele percebeu que aquele era o cara que ele viu no cybercafé mais cedo.

—Olá, Alexander — Sua voz estava arrastada como se ele tivesse chapado.

Alec se sentia meio desconfortável quando o chamavam pelo nome em vez do apelido, mas esse era o menor de seus problemas naquele momento.

Quando o cara no chão olhou para Alec, seus olhos amarelos estavam semicerrados e seu rosto parecia febril, seu sorriso era meio maníaco e não ajudava muito que seus caninos fossem levemente pontudos. Um vampiro com asas? Que merda é essa? Acorda. Acorda. Acorda. Mas não importava quantas vezes Alec fechasse e abrisse os olhos, ele continuava ali. O sangue escorrendo do ferimento no ombro dele o fez sair daquela paralisia. Depois ele iria atrás de explicações, no momento só precisava tirar o homem sangrando do corredor antes que os vizinhos vissem e chamassem a polícia. Abriu a porta do apartamento. O homem de cabelos brancos ainda estava vagamente consciente enquanto Alec o arrastava para dentro tentando não entrar em pânico com o fato de que ele sabia seu endereço.

Embora surtar por causa disso parecesse estúpido levando em conta tudo que já havia acontecido naquela noite.

Alec arrastou o homem até o sofá onde ele acabou caindo desajeitado e soltou um gemido de dor. O sangue tinha parado de escorrer um pouco, mas ele ainda parecia com dor e pálido. Ele nunca tinha cuidado de uma pessoa ferida, mas pensou que o Youtube certamente saberia o que fazer. Claro que em uma situação normal, o certo seria chamar uma ambulância, mas aquela situação passava longe do normal até porque aquele cara não parecia ser realmente uma pessoa. No entanto, antes que Alec conseguisse decidir o que fazer exatamente uma mão pálida coberta de tatuagens voou e agarrou a frente de sua blusa com tanta força que ela rasgou.

—Alexander — Sua voz estava rouca e cansada. —Eu realmente devia ter te matado.

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