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Capítulo 19 - Teorias, Angústias e Flertes

Isso era ridículo. Realmente ridículo.

Pensou Alec enquanto atravessava o gramado até a mansão de Lynx. Tinha se passado apenas algumas horas, era ridículo que ele estivesse com saudades do anjo. Eles sequer estavam em um relacionamento e dependência emocional não era nada saudável e muito menos um traço atraente. Ele riu de si mesmo e afastou esse sentimento intruso. Não era por que tinha admitido que sentia algo por Lynx que ia começar a ficar todo emocionado.

Quando ele adentrou a casa e notou que Lynx ainda não tinha chegado de sua missão, sua mente fez um cabo de guerra entre o alívio e a decepção. Mais um do que o outro. Enquanto tomava banho, tentou se convencer de que o alívio tinha vencido. Ele não entendia porque estava sendo tão teimoso a respeito de Lynx. Seria mesmo apenas o medo de se entregar ao sentimento e acabar dando tudo errado ou havia algo mais? Não que isso importasse de qualquer forma, pois independentemente do que sua mente dissesse quando estava longe dele, o corpo e o coração agiam como queriam quando estava perto.

Após o banho, ele deitou na cama e fechou os olhos tentando não pensar em nada, mas era impossível. Sua mente alternava entre muitas coisas, mas o que mais estava perturbando ele no momento era Azazel. O que ele pretendia criando um falso céu? Como ele havia conseguido passar despercebido e enganar Lynx e todos os outros anjos por mais de setecentos anos? Quais eram os planos dele? Tinha muitos buracos nessa história. E por mais que Alec tentasse analisar de vários ângulos, ele não conseguia chegar a nenhuma conclusão que fizesse sentido.

Ele estava começando a se sentir muito perdido, como se tivesse sido jogado a força dentro de um sonho muito confuso. As vezes esperava acordar em seu quarto, em sua casa, e ver que tudo não passou de um delírio de sua mente inconsciente. Mas aí ele acordava e via que tudo era real.

Ainda com os olhos fechados, ele franziu a testa. Já fazia quanto tempo que ele tinha chegado em casa? Lynx ainda estava nas barreiras? O que ele precisava fazer lá que demorava tanto assim? Estava lutando com qualquer demônio remanescente que teria ficado nas fronteiras procurando uma brecha para entrar? Ou talvez ele estivesse fazendo outra coisa? Ele bufou e se levantou da cama com um movimento rápido e brusco. O que não foi uma ideia muito inteligente, pois a visão escureceu e ele ficou tonto. Faziam algumas horas que tinha comido pela última vez e estava com fome de novo, então vestiu uma camiseta preta larga e foi para cozinha preparar alguma coisa. No caminho teve uma ideia e sorriu enquanto prendia os cabelos. Abriu os armários e mexeu na geladeira pegando tudo o que iria precisar.

Enquanto cozinhava, ouviu as portas da frente se abrirem, em seguida passos no corredor. Ele se atrapalhou derrubando a colher de pau no chão, andou de um lado para o outro momentaneamente perdido. De repente ele se viu ansioso, com o coração martelando contra as costelas. Percebendo que estava afobado demais, ele se acalmou, pegou a colher do chão e a lavou na pia, voltando a se ocupar com a comida. Como se nada tivesse acontecido, fingiu não notar que alguém estava vindo, e sentiu muito idiota com toda essa cena.

-Chegou cedo, Capitão Lynx. - ele disse como cumprimento, um sorriso lentamente se espalhando pelo rosto. A despreocupação completamente contraditória ao que ele realmente sentia. -Pensei que seria uma missão mais demorada. Como foi lá? Muitos demônios tentando se esgueirar pra dentro da cidade?

No entanto, quando Alec se virou, não era Lynx atrás dele. O sorriso deixou seu rosto, que foi tomado pelo espanto.

-Sinto muito desapontar, mas não sou seu anjo. - disse o visitante inesperado, sorrindo como se soubesse de um segredo.

-Ah! Castiel! - Alec desligou o fogo e foi até ele. -Tudo bem? Você falou com Lynx?

Pela expressão meio abatida dele, Alec já sabia a resposta.

-Sim, sim... Vim porque recebi a mensagem de Lynx, queria falar com ele pessoalmente. - Castiel se aproximou da bancada da cozinha. Ele vestia uma camiseta preta com um controle de videogame estampado, jeans e All-Stars. Ele ajeitou os óculos e seus olhos verdes pareciam muito brilhantes.

-Lynx está nas barreiras ainda. - Alec explicou. -Teve mais uma tentativa de invasão hoje. Foi durante a reunião em que estávamos, e foi nessa reunião também que acabamos mencionando o nome de Azazel e Luce nos contou sobre a verdadeira identidade dele.

-Eu sei, falei com ela antes de vir aqui. - Castiel parecia muito chateado. -Luce está fritando os miolos tentando entender o que Azazel planeja. Ninguém esperava por isso.

-Não mesmo, mas então... Como você está se sentindo? Depois de descobrir isso? - Alec não era bom em confortar as pessoas, mas sentia muita pena do anjo a sua frente.

Ele poderia ser muito mais velho que Alec, mas naquele momento parecia apenas um garoto indefeso. Castiel se apoiou na bancada colocando a cabeça entre as mãos.

-Eu não sei como me sinto direito. - ele respirou fundo então olhou para Alec, sua expressão estava devastada. -Cheguei no céu um pouco antes de Lynx, fui enganado por oitocentos anos... Por quê? O que aquele asqueroso pretende? Eu trabalhei pelo quê todos esses anos? Sou sequer um anjo de verdade? Nem sei mais o quê ou quem eu sou. - ele desabafou. -Ele me fez fazer coisas... Entrar na mente de pessoas e esmagar suas memórias como se fossem nada.

Alec estava arrebatado diante desse desabafo, principalmente quando começou a pensar que Lynx certamente estava tendo os mesmos conflitos internos. Alec não conseguia parar de pensar na expressão vazia que ele adotou durante a reunião e o modo distraído como se despediu dele.

-Eu entendo que você se sinta assim, eu estaria me fazendo as mesmas perguntas. - Alec vasculhou a mente procurando o que dizer, mas não havia nada que pudesse consertar o estrago que Azazel fez. -Mas Azazel enganou vocês, então você e Lynx não tem culpa de nada. E também não estão sozinhos nessa, tem Luce, a mim e aos outros.

-Eu sei disso. - o anjo ergueu a cabeça e deu um sorriso fraco para ele. -Obrigado, Alec.

-Não fique se culpando, e se precisar de alguém para conversar... Posso não ter muita coisa útil a dizer, mas sou um bom ouvinte.

O anjo suspirou.

-Consigo entender agora porque Lynx fez tudo isso por você. - Castiel disse de repente deixando Alec sem reação. -Você é uma boa pessoa, talvez não perceba, mas é agradável estar perto de você.

-Ah, obrigado. - ele disse ainda espantado. -Digo o mesmo de você.

-Você não foi com a minha cara quando nos conhecemos. - Castiel arqueou uma sobrancelha dando um sorriso mais amplo.

-Ah... Bom, eu estava irritado, mas não era nada com você. - Alec mentiu, em partes. No fundo sabia que tinha ficado um pouco com ciúmes de Castiel e sua proximidade com Lynx. -Tínhamos acabado de ser perseguidos por demônios e tal...

-Eu entendo, mas agora sinto que podemos realmente ser amigos. - Castiel deu um sorriso afável para ele. Sua expressão ainda era meio triste, mas ele parecia mais leve.

-Sim. - Alec retribuiu o sorriso. -Podemos.

De repente algo ocorreu a Alec.

-Você acha que Amarantha sabe? Sobre Azazel? - ele perguntou. -Ele não deve ter enganado todos os anjos, acredito que tenha cúmplices. E ela parece saber sobre os planos dele, uma vez ela nos disse que ele queria reparação. Por algum motivo, acho que isso não tem a ver apenas com Lynx ter quebrado as regras, até mesmo porque essas regras não valem de nada já que Azazel não é realmente um anjo.

-Reparação? - Castiel franziu a testa. -Isso pode significar muitas coisas, mas não consigo ver onde você e Lynx se encaixam nisso, pois se tem algo que sei, é que ele está totalmente obcecado por vocês... Mais especificamente você Alec.

-Eu? Como assim? - Alec se remexeu inquieto com essa nova informação perturbadora.

-Foi por isso que vim também, queria te contar uma coisa. - Castiel fez um breve pausa olhando seriamente para ele. -Uma vez ouvi pela metade uma conversa dele e de Amarantha, ele dizia que você tinha estragado tudo e que ele te odiava. Na época achei que era porque Lynx tinha se rebelado por causa de você, mas agora já não sei mais...

-Não entendo. O que eu tenho a ver com isso? Ele pareceu me odiar muito quando nos arrastou até a Cidade Fluorescente, mas achei que odiasse todos os humanos igualmente. - Alec balançou a cabeça completamente confuso e incrédulo por causa do que Castiel tinha acabado de contar. -E se ele confidencia esse tipo de coisa com Amarantha, então ela com certeza deve saber de tudo e está do lado dele.

-Com certeza. - Castiel concordou.

-Luce conhece ela, né? - Alec lembrou da forma que ela reagiu quando Lynx mencionou Amarantha. -Talvez devêssemos perguntar a Luce se ela poderia falar com Amarantha. Não ser direta, mas tentar descobrir algo discretamente.

Castiel começou a balançar a cabeça com uma expressão assustada.

-Não sei se é uma boa ideia. Não, na verdade sei sim, é uma péssima ideia, Alec. - depois de tanto tempo em pé, ele puxou um banco e se sentou de frente para Alec que estava em pé do outro lado da bancada de mármore da cozinha. -Luce detesta falar sobre ela, e acho que jamais falaria com ela de novo. Pelo que sei, as duas eram apaixonadas, ou foi o que Luce pensou até Amarantha preferir o céu a ela.

Alec pensou um pouco sobre isso.

-Ah, mas então se Amarantha era tão fiel ao céu, não faria sentido ela se aliar a Azazel se soubesse desde o começo que ele era um Príncipe do Inferno. - com isso Alec ficou meio incerto sobre sua teoria de que Amarantha estava do lado de Azazel. E se estava, por qual motivo já que isso era contraditório com seus ideais? -Talvez ela tenha descoberto depois e ele ameaçou ela para continuar trabalhando com ele.

-Ou talvez algo tenha mudado, talvez ele tenha prometido algo a ela. - sugeriu Castiel. -Amarantha não deixa nada transparecer, ela age como um robô, mas ela é bem ambiciosa também. Sempre quis mais poder.

-Pode ser... - Alec contemplou todas as possibilidades que passavam pela sua mente, descartando-as em seguida, nada fazia muito sentido.

Outro barulho na porta quebrou o silêncio concentrado que tinha se formado. Alec olhou ansiosamente para a entrada da cozinha. Os sons de passos no corredor se aproximaram. Dessa vez era Lynx. Ele surgiu na cozinha de cabeça baixa, os ombros curvados, como se estivesse imerso nos próprios pensamentos. Uma expressão sombria nublava suas feições, mas quando seus olhos encontraram os de Alec, seu rosto se iluminou um pouco, como raios de sol perfurando aquelas nuvens pesadas de aflição.

-Oi, Alec. - ele disse tentando sorrir, então se virou para o anjo ruivo. -Oi, Castiel. Que bom que veio. Como você está?

-Estou ótimo, agora podemos sentar e chorar juntos. - Castiel falou de um jeito alegremente amargo. -Eu estava na maior bad aqui, mas sinceramente, agora estou meio puto.

-Eu entendo. - a voz de Lynx era baixa e áspera.

-Estávamos falando sobre Amarantha. - Alec contou a ele. -Se ela sabe ou não sobre Azazel.

-Tenho certeza que sabe. - Lynx se apoiou na bancada, ao lado de Alec. -Ela sempre foi muito próxima dele.

-O jeito dela também não ajuda muito a considerarmos que ela é inocente. - Alec lembrou da frieza e do jeito que ela tentou matar Lynx.

-O que você pretende fazer daqui em diante, Castiel? - Lynx perguntou ao amigo.

-Bom... - Castiel balançou a cabeça como se isso ajudasse a se livrar de todos aqueles sentimentos ruins, e colocou uma expressão determinada no rosto. -Querendo ou não, sou um espião, não é? Vou fazer o que faço de melhor. Azazel não sabe que eu sei sobre a mentira dele, então vou continuar fingindo e ver se consigo descobrir algo.

-Começando pelas proteções da cidade, como funcionam. A localização já temos uma ideia, e ele provavelmente extrai energia das Linhas Ley. - disse Lynx com um tom igualmente resoluto. -Precisamos descobrir quais são os métodos dele, se são como os de Luce, e então encontrar brechas para invadir. Eu quero aquele lugar no chão, até ser um monte de pilha de destroços.

-Pode deixar, Capitão Lynx. - Castiel deu um sorriso debochado. -Parabéns pela promoção, aliás.

-Obrigado. - Lynx agradeceu, o tom ainda sério, mas tinha sorrido um pouco.

-Mas e quanto aos anjos que estão lá? - interviu Alec preocupado com aquela frieza diferente crescendo nos olhos de Lynx. Algo tão gélido que parecia capaz de consumi-lo. -Eles não tem culpa, eu acho. Muitos devem não saber também.

Lynx piscou e olhou para ele como se tivesse acordado de um devaneio cheio de violência.

-Podemos arrumar um jeito de devolvê-los ao céu de verdade, ou abrigar eles aqui se quiserem. - ele disse. -Tem muito espaço ainda perto das barreiras, podemos construir abrigos temporários lá.

-Falando nisso, como foi lá nas barreiras? - perguntou Alec genuinamente curioso.

-Não achamos nenhum rastro de para onde os demônios foram, foi meio frustrante. - Lynx deu de ombros. -Agora que sabemos que eles podem usar portais também vai ser mais difícil, Levi acha que eles voltaram direto pro inferno.

-Se for isso mesmo, seria um pé no saco tentar ir atrás deles, não é muito fácil e agradável entrar no inferno. - Castiel faz uma careta como se estivesse revisitando memórias desagradáveis. Ele piscou acordando de seus devaneios. -Bom, eu vou deixar vocês agora, Alec parecia ansioso pela sua chegada não quero atrapalhar nada.

Alec olhou para ele com um olhar que sugeria violência, mas Castiel piscou e riu com deboche.

-Muito sutil, Castiel. - Lynx batucou os dedos na bancada enquanto sorria fracamente para ele.

-Tchauzinho, casal. - e então o anjo ruivo sumiu pelo corredor.

Alec se virou para falar com Lynx, mas assim que abriu a boca suas palavras se perderam nos braços dele, que o envolveram em um abraço apertado. Ele ficou estático por um momento, surpreso, então lentamente retribuiu o gesto, acariciando as costas de Lynx que tremia levemente, embora ele não parecesse estar chorando. Alec sentia o coração dele bater contra o próprio peito, batidas fortes e irregulares. Houve um tempo que Alec tinha achado Lynx ameaçador, mas essa imagem durou provavelmente cinco minutos. Logo ficou claro que Lynx, na realidade, era muito mais sensível do que poderia deixar transparecer. Nesses momentos, Alec só conseguia sentir uma vontade imensa de protegê-lo de todos os males do mundo.

-Deixa eu ficar assim um pouco. - Lynx pediu. Sua voz soou tão frágil que o coração de Alec se partiu. -Só um pouco, só preciso...

-Leve o tempo que precisar. - ele tranquilizou apertando-o mais forte. -Está tudo bem.

Eles ficaram assim por um tempo. Era como se Lynx estivesse transmitindo tudo o que estava sentindo através desse abraço. A angústia, o medo, a confusão, o ódio. Alec queria arrancar todos esses sentimentos dele, mas como não podia, resolveu usá-los de combustível para alimentar a determinação de que ele mesmo acertaria as contas com Azazel. Não importava como. Alec queria matar o desgraçado com as próprias mãos. Algo quente começou a se espalhar dentro dele, como se tivessem depositado uma brasa em seu coração, o calor se espalhou por todo o corpo. Alec não sabia nomear a sensação, mas talvez fosse ódio o preenchendo.

Lynx se afastou dele aos poucos, e Alec captou seu olhar. Os olhos do anjo estavam secos, porém avermelhados nos cantos, vulneráveis de um jeito que Alec nunca viu antes. A brasa no peito dele pulsou mais forte.

-Está tudo bem. - ele repetiu, a voz firme, porém, suave. -Eu estou aqui, Lynx. Sei que foi um baque pra você, mas você não está sozinho. Pode falar comigo.

-Quanto mais eu penso nessa situação, menos ela faz sentido. - a voz de Lynx era rouca e sofrida. -Se aquilo não era o céu, então o que eu sou? Tenho asas, mas nunca me senti um anjo, e agora eu sei o porquê... Eu realmente não sou um. Sou...

-Não seja precipitado. - Alec o interrompeu antes que ele se autodepreciasse mais. -Até onde sabemos, Azazel pode ter sequestrado vocês do verdadeiro céu ou algo assim.

-Não importa, Alec! - Lynx gritou se afastando dele, seu peito subia e descia rapidamente, e sua expressão estava distorcida, mas seu ódio não era direcionado a Alec. -Eu matei tantas pessoas inocentes, e se no fim nenhuma delas mereciam morrer? Tinham que morrer? No fim, não passo de um assassino, sempre vou ser. Minha vida é a porra de uma piada.

-Sua vida não é uma piada e você não tem culpa de nada, Lynx. - Alec se desesperou sem saber direito o que fazer diante de tanto sofrimento estampado no olhar dele. -Azazel mentiu e manipulou todos vocês. Como pode se culpar por algo que você nem sabia? É a mesma coisa que culpar o fogo por queimar. Você estava fazendo o que achava ser o seu dever. Eu sei que você está sofrendo, e eu não vou dizer para você não se sentir assim, só não pode deixar isso te consumir e ficar se culpando.

Lynx pareceu se acalmar um pouco depois de desabafar e ouvir as palavras de Alec, mas seus olhos ainda eram turbulentos.

-Eu quero matar Azazel. - disse ele com uma voz mortal, seus olhos sem foco vendo algo além dele. Alec segurou seu queixo gentilmente, tomando sua atenção.

-Sinto muito estragar suas intenções assassinas, mas quem vai fazer isso sou eu. - Alec foi tão convicto em suas palavras, que praticamente conseguia sentir o gosto amargo daquela declaração na língua. -Lynx, eu quero que você me treine. Quero aprender a lutar, e quero começar o mais rápido possível.

Lynx pareceu sair daquele torpor causado pelo ódio cego e olhou para ele surpreso, mas também admirado.

-Podemos começar amanhã, se quiser. - aos poucos sua expressão foi suavizando, voltando a ser aquele rosto carinhoso que Alec conhecia, embora ainda houvesse uma pontada de exaustão em suas feições. -Mas não vou pegar leve, ein?

-Eu não ia querer de outro jeito. - Alec rebateu. Ele respirou fundo e andou de um lado para o outro, se recompondo. -Mas agora, que tal a gente se distrair um pouco? Se não estiver cansado, ainda quero sair. Você me prometeu que me levaria para a Rua dos Pecadores.

-Eu não estou cansado, pelo contrário, me sinto elétrico até demais. - Lynx olhou preocupado para ele. -Mas e você? O dia foi longo, e você parecia bem ocupado aqui... Nada ver com o assunto, mas também gostei do seu cabelo preso.

Lynx tinha os olhos fixos em seu pescoço. Alec balançou a cabeça sorrindo um pouco.

-Obrigado. - disse passando a mão no pescoço. -E não estou cansado também. Depois de tudo isso, dormir é a última coisa que vou conseguir fazer hoje.

-Você estava cozinhando. - Lynx olhou para as panelas atrás dele. -Então, enquanto você come, eu tomo banho e me arrumo, e aí a gente sai.

-Na verdade... - Alec olhou com receio para a comida que tinha feito. -Eu fiz isso para você. Achei que podíamos comer juntos.

Lynx se endireitou, meio confuso.

-Mas, Alec, eu não...

-Talvez você realmente devesse ter lido todos aqueles livros sobre anjos, sabia? - Alec cruzou os braços.

Lynx olhou para ele com um ponto de interrogação estampado na testa.

-Esquece! - Alec sacudiu as mãos, impaciente. -Senta aqui e experimenta.

-Eu não sei se é uma boa ideia...

Mesmo assim, ele fez o que Alec pediu, sentando-se lentamente no banco alto da bancada.

-Descobri umas coisas interessantes sobre anjos hoje, tipo o fato de que anjos caídos podem comer, você não é basicamente um? - Alec colocava a comida no prato para ele enquanto falava. Não tinha feito nada demais, na verdade. Só arroz, frango com batatas, e uma salada.

-Sim, mas...

-Se você não quiser, tudo bem. - Alec se virou com o prato na mão, incerto, se sentindo bobo e parcialmente arrependido do que estava sugerindo. -Não vou forçar você a nada, só achei...

Depois que Rebeca contou a ele sobre isso, ele só conseguia pensar naquela vez em que saíram para o centro da cidade de Alec, e Lynx pareceu meio triste ao olhar para comida. Queria que ele experimentasse algo gostoso de novo, e sentia que isso também poderia melhorar seu humor atual.

-Não! Eu vou comer. - Lynx falou rapidamente. -Eu só não sabia disso...

-Agora sabe. Seu corpo processa comida de forma diferente, converte em energia e poder. Talvez você não tivesse passado tão mal durante esse tempo todo se tivesse se alimentado. - o tom de Alec era quase de repreensão. -Isso serve de lição, pra você ver o quanto a leitura pode ser importante.

Lynx estava ligeiramente envergonhado, parecia uma criança levando xingo. Alec colocou o prato na frente dele sem encará-lo diretamente para que ele não se sentisse muito pressionado diante de seu olhar. Lynx olhou com receio para a comida, mas também parecia ansioso. Alec se sentia nervoso diante do próprio prato fingindo comer, com medo de ele achar sua comida horrível. Lynx pegou o garfo e lentamente provou a comida. Os olhos dele se arregalaram.

-Tem gosto!

Alec olhou meio sem entender.

-Que bom? Mas não entendi, isso foi um elogio?

-Sim, está muito gostoso, mas é que uma vez eu tentei comer, logo depois de subir... pro céu. - a voz dele falhou um pouco. -Então eu tentei comer, mas a comida não tinha gosto de nada e eu ainda passei muito mal.

-Bem, então os livros que Rebeca leu estavam certos mesmo. - Alec falou satisfeito e sorriu. -Bom apetite.
Antes que ele dissesse mais alguma coisa, Lynx atacou a comida e terminou tão rápido que Alec realmente ficou com medo dele passar mal. Quando ele terminou de comer pela terceira vez, olhou para o prato vazio e fungou levando-o até a pia.

-Obrigado, Alec. - agradeceu com a voz estranhamente trêmula. -Estava muito bom. A melhor coisa que já comi na vida.

-Que exagero, não é nada demais. - Alec respondeu enchendo a boca de comida para não ter que dizer mais nada, quando engoliu sentiu a garganta meio apertada.

Então ele riu. Dois gays chorando por causa de comida. Que cena patética.

-O que foi? - Lynx perguntou.

-Nada não.

-Você sabe que agora vou querer sua comida direto, né? - Lynx aproveitou para pegar um pouco de suco na geladeira também, e serviu um copo para Alec.

-A gente pode revezar na cozinha. - Alec falou entretido, já visualizando como isso seria. -O que você gostava de comer antes?

-Ah, eu gostava de coisas doces, no geral. - Lynx sentou de frente para ele de novo. -Uma das poucas coisas que sei sobre meus pais é que eles tinham uma padaria. Minha mãe fazia bolos e doces, e deixou um livro de receitas... A mulher do meu tio fazia as receitas dela as vezes, mas eles não me deixavam comer. Um dia eu roubei um pedaço de bolo e meu tio quebrou minha mão.

Alec parou com o garfo a meio caminho da boca. A forma como ele falou isso, era como se situações como essa fossem normais quando ele era criança, e como se não fossem nada demais.

-Caralho. - ele pousou o garfo no prato fazendo um tilintar. -Espero que seus tios estejam queimando no inferno agora.

Lynx riu, mas ao ver a expressão dele, disse:

-Desculpa contar algo tão deprimente na hora de comer, não quero que perca o apetite.

-Não perdi, é muito difícil eu perder a fome. - ele tentou rir para disfarçar o choque do que Lynx tinha acabado de lhe contar. -E você pode me contar o que quiser, quando quiser.

-Obrigado, Alec. - Lynx sorriu, uma expressão de alívio surgiu em seu rosto, como se ele estivesse feliz de ter com que compartilhar essas coisas.

Depois do jantar, Lynx lavou a louça e subiu para tomar banho, enquanto Alec foi se trocar. Passou muito tempo decidindo o que vestir. Uma pilha de roupas espalhadas pelo chão depois, resolveu ser um pouco mais ousado e colocou um cropped preto de mangas compridas. A peça tinha uma corrente fina acoplada de modo que o acessório ficava pendurado ao redor da cintura. Alec não era musculoso, mas seu corpo era firme e bem proporcionado. Ele colocou uma calça preta que imitava couro, e seus coturnos. Após completar o visual com alguns acessórios, ele saiu do quarto e desceu as escadas. Lynx já estava no hall. Todo de preto também. Ele usava uma blusa de gola alta colada que marcava todo seu torso. Alec reparou nos ombros largos, o peito, a forma dos braços musculosos. Lynx não chegava a ser uma geladeira duas portas, mas seu corpo era bem forte. Ele queria parar de encarar, mas não conseguia.

-Algum problema? - Lynx perguntou sem entender, olhando para a própria roupa.

-Odiei essa blusa. - Alec suspirou.

-Posso trocar então, é rápido...

-Não se atreva.

Lynx o encarou como se ele tivesse batido a cabeça no box do banheiro. Então após pensar um pouco, e prestar atenção na blusa de Alec, ele pareceu entender.

-Nesse caso, eu também odiei a sua. - ele sequer disfarçou ao secar a barriga de Alec com os olhos.

-Problema seu, não vou trocar. - Alec deu um sorriso provocativo e saiu na frente dele, passando pelas portas duplas de entrada. Ele ouviu Lynx rir e dizer:

-Ainda bem. - enquanto o seguia para a noite estrelada.

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