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Capítulo 13 - Noite Febril

Depois daquela longa e esclarecedora conversa no telhado, os dois voltaram para o apartamento. E apesar do conteúdo da conversa e tudo que tinha acontecido, o clima parecia mais leve. Alec sentia como se tivesse tirado mais uma camada desse mistério chamado Lynx que havia surgido em sua vida. Ele pensou que se sentiria desconfortável perto dele depois da confissão do anjo, mas Lynx agia normalmente, sem forçar nada, mas também parecia mais solto. Como se tivesse liberado uma parte ainda mais genuína de sua personalidade.

Mesmo levando tudo em conta, Alec estava feliz. Como se estivesse recuperando seu bom estado de espírito que tinha sido dispersado por Azazel e toda essa maluquice de anjos e demônios. Seu humor também havia melhorado porque sentia que estava tudo sob controle. Eles terminariam a noite numa boa. Alec teria uma noite de sono decente. Eles iriam juntos para a Cidade dos Mestiços onde estariam seguros. Pensariam em um plano para se livrar de Azazel e descobrir quem era o demônio stalker e se livrar dele também. Essa última parte talvez fosse mais difícil, mas Alec estava otimista.

Ele estava no quarto quando colocou uma de suas bandas favoritas, o I Prevail, enquanto arrumava uma mala pequena. A música tocando era Self-Destruction. Lynx estava sentado na cama ajudando ele a escolher quais roupas levar. Na manhã seguinte eles partiriam para a Cidade dos Mestiços. Alec não ia levar muita coisa, Lynx tinha dito que não precisaria levar nada se não quisesse, que eles podiam conseguir tudo que precisassem lá, mas Alec se sentiria mais a vontade se tivesse as próprias coisas. Ele já tinha conversado com o dono do apartamento, inventou que viajaria por um tempo, mas o aluguel seria pago. Infelizmente, isso significava que ele teria que mexer no dinheiro que estava guardando a anos para investir em sua carreira musical. Ele odiava a ideia, mas não queria devolver a chave do apartamento e ter o trabalho de mover todas as suas coisas, nem tempo para isso teria, além do mais, ele pretendia voltar para casa o mais rápido possível.

Quanto a seus pais... Ele pretendeu visitá-los para dar a mesma desculpa, de que iria viajar, mas não teria tempo então ele apenas mandou uma mensagem para a mãe.

—Não quer mesmo ver seus pais? — Perguntou Lynx depois que Alec mencionou eles e a ideia de ir vê-los antes de partir. —Espero resolver tudo isso o mais rápido possível, mas também pode demorar e você não vai ver eles por um bom tempo.

—Acho melhor não. — Alec disse pensando em algumas coisas. Ele largou a mala aberta no chão, abaixou um pouco a música, e sentou-se ao lado de Lynx na cama. —E se acabarmos levando o perigo até eles? Além disso, eles provavelmente criariam algum drama, desenterrando coisas que já deixei para trás então... Não quero ficar estressado. Sem contar que eles provavelmente não se importam tanto assim. Depois que viram que eu não corresponderia as expectativas deles e não faria o que eles queriam, mudaram completamente a forma que me tratavam. Era como se eu fosse um estranho particularmente detestável, não o filho deles. Até minha mãe que eu considerava a pessoa mais carinhosa do mundo, se tornou fria. Quando me assumi, ela fez um show falando sobre como nunca teria netos. Como se adoção não existisse e gays fossem incapazes de criar uma criança com amor e educar ela pra ser uma boa pessoa. Tenho certeza que podemos fazer isso melhor do que muitos heteros que tudo que fazem é estragar e traumatizar seus filhos.

Alec parou quando percebeu que estava desabafando demais.

—Pode continuar se quiser, estou ouvindo. — Lynx falou suavemente. A gentileza em sua voz encorajou Alec a completar:

—É só que eu sinto como se eu fosse um objeto pra eles, mas um que veio com defeito e eles não podiam devolver. E as vezes me culpo por não ser como eles queriam.

—Se eles não conseguem perceber o quanto você é incrível, o defeito está neles, não em você. — Lynx foi firme na declaração. —E se eles não sabem apreciar as suas qualidades do jeito que você é, então eles é que estão errados nessa história. Você não tem culpa nenhuma.

—Obrigado, Lynx. — Alec ficou comovido e olhou para ele com um sorriso.

—Não imaginava que você se sentia assim. — Lynx se moveu, virando-se de frente para ele com uma perna dobrada sobre a cama. —Mesmo na Cidade Fluorescente, quando você disse que sua família era complicada, você não pareceu tão afetado.

—É que na maior parte do tempo eu realmente não me deixo afetar. — Alec se virou para ele também. —Guardar mágoas e remoer sentimentos ruins só faz mal para nós mesmos, as pessoas que nos machucaram continuam vivendo. A maioria delas, tranquilamente, sem se importar nem um pouco, então se elas não se importam, por que eu deveria? É desperdício de tempo e saúde mental continuar alimentando sentimentos ruins sobre coisas que não podemos mudar. Não é fácil, mas eu tento não me render e acho que estou me saindo muito bem. Mas em alguns momentos... Bom, sou apenas humano, afinal.

—Queria ser tão bem resolvido assim com minhas mágoas quanto você, mas acho que não tenho maturidade o suficiente para isso ainda.

Era irônico dizer algo assim, considerando que ele era uns setecentos anos mais velho que Alec.

—Não é questão de maturidade. — Alec pensou um pouco nas palavras. —Acho que é questão de você entender que não precisa carregar um peso que não merece.

—Talvez eu mereça. — O tom de Lynx era amargo.

—Ninguém merece. — Alec disse com firmeza. E só para amenizar a escuridão que viu se formando naqueles belos olhos dourados ele completou: —Talvez Azazel mereça um pouquinho.

Lynx riu, e a escuridão se dispersou um pouco.

—Quem te deu o nome de Lynx? — Alec perguntou. —Significa Lince, é por causa dos seus olhos?

—Sim, você é bem perspicaz. — Ele sorriu brevemente. —Mas não é exatamente meu nome, não tenho um.

Alec fez um som de surpresa. Parecia que Lynx estava se esforçando para manter o tom neutro.

—Minha mãe morreu antes que pudesse me dar um nome. Lynx é um apelido que ganhei durante um período da minha vida, porque diziam que meus olhos lembravam os do animal... E porque eu era perigoso como um.

Alec ficou triste por ele. Ele pareceu tão infeliz ao dizer que não tinha um nome. Ele pensou em falar ao anjo que Lynx combinava com ele, mas não parecia ser a coisa certa a se dizer.

—Lynx, de onde você é exatamente?

—O lugar de onde eu vim ficava onde hoje em dia é a Irlanda, eu acho. — Ele franziu a testa pensativo. —Ou em algum lugar nos arredores, não sei bem.

—E como você aprendeu a falar português? — Quanto mais Alec sabia sobre ele, mais queria perguntar.

Contudo, sentia que algumas perguntas não seriam muito bem-vindas, como por exemplo, o motivo pelo qual ele era considerado perigoso.

—Eu sei falar todas as línguas do mundo. — Ele respondeu como se não fosse nada, e completou com sarcasmo: —Uma habilidade extra que vem com se tornar um anjo, afinal é muito útil saber a língua das pessoas que preciso matar.

—Nossa, isso é muito legal. — Alec falou, mas rapidamente se corrigiu: —Não matar pessoas, mas saber todas as línguas.

Lynx riu.

—Eu sei, eu tinha entendido.

—Eu falo inglês, francês e japonês, — Contou Alec tendo alguns flashbacks desagradáveis sobre aulas muitos rígidas com professores muito chatos. — meus pais meio que me obrigaram a aprender, mas foi bom porque posso ver anime sem legenda.

—Isso definitivamente é muito mais útil.

Os dois riram um pouco.

—Eu tenho curiosidade em saber que tipo de pessoas meus pais seriam. — Lynx compartilhou um pouco triste. —Se me amariam, e se eu teria sido diferente caso tivessem me amado.

—Como eles morreram? — Alec perguntou com cuidado sentindo um aperto no peito. Lynx demorou um pouco para responder, o que fez ele se arrepender de perguntar. —Se não quiser falar...

—Minha mãe morreu no parto. — Ele falou, sua voz tremeu, e a cabeça estava baixa. —Meu pai se matou de tristeza. Fui criado pelo meu tio, mas ele me odiava porque eu lembrava muito minha mãe e ele nunca superou a morte dela. Eu vivia a maior parte do tempo nas ruas pedindo comida, quando não me davam, eu roubava. Ficar em casa só significava apanhar mais e passar mais fome ainda. Mas as surras duraram só até eu fazer dez anos. Depois disso fui embora de casa.

—E foi para onde? — A garganta de Alec estava tão fechada que a pergunta saiu meio embargada. Uma criança não deveria passar por nada disso. Ele imaginou um Lynx pequenino, sozinho e faminto, e quase começou a chorar. Por um momento, Alec se sentiu grato. Mesmo que seus pais tivessem mudado drasticamente depois que ele cresceu, pelo menos, tinha tido uma boa infância. Mesmo que ela não passasse de uma ilusão.

Lynx virou o rosto para a janela e trincou o maxilar, mas Alec não voltou atrás na pergunta.

—Fui para um inferno diferente. — Lynx respondeu. Alec esperou ele continuar, mas aparentemente, isso era tudo que ele diria essa noite.

Depois de um tempo longo demais naquele silêncio pesado, Lynx suspirou e deu um sorriso fraco.

—Vou fazer alguma coisa pra você comer. — Assim ele se levantou e saiu do quarto sem olhar para trás.

Alec ficou um bom tempo sentado na cama com a mente revirando seus pensamentos. A vida de Lynx foi mais difícil do que ele pensava. Desde cedo ele precisou aprender a sobreviver sozinho, e deve ter feito de tudo para isso. O que só mostrava o quanto ele era forte, muitas pessoas teriam simplesmente desistido. Alec se perguntou se ele próprio teria tanta determinação, e estômago para fazer de tudo para não morrer.

Depois de terminar a mala, ele foi para a sala, e viu Lynx na cozinha terminando de preparar um macarrão com molho branco. Ele comeu em silêncio enquanto Lynx lavava a louça. O clima silencioso não era pesado nem desconfortável, era apenas como se cada um deles tivesse tirado um tempo sozinhos com os próprios pensamentos. E Alec só conseguia pensar o que Lynx queria dizer com "Fui para um inferno diferente". Sem dúvidas era algo muito ruim. Muito pior do que o que ele passou com seu tio. No entanto, Alec não se atreveria a perguntar, porque parecia algo sensível demais para Lynx, algo que ainda o abalava muito. Então esperaria ele estar pronto para contar.

Depois de resolver os últimos detalhes de sua partida, ele olhou o celular esperando ver uma resposta de Rebeca, mas além de não ter respondido, ela ainda não atendia as ligações. Alec tentou não ficar ansioso, talvez ela só estivesse ocupada, ainda mais agora que estava namorando. Ele também demorava para responder as vezes, era normal. Com isso, ele resolveu parar de se preocupar e decidiu se desligar do mundo exterior, indo jogar videogame com Lynx.

—Cara, não! Atrás de você! Lynx, você é muito ruim nesse jogo. — Alec riu enquanto a tela ficava vermelha anunciando que eles tinham perdido de novo. Era um jogo de zumbis.

—Eu não sou ruim, você que não sabe trabalhar em equipe. — Lynx se defendeu rindo também. Eles estavam sentados no chão em cima do tapete cinza felpudo. —Você simplesmente sai correndo na frente e não dá cobertura pra ninguém.

—Você é que é muito devagar.

—Não sou devagar! Você sempre menospreza minhas habilidades. — Ele fez cara de choro e Alec revirou os olhos.

—Vamos jogar outro jogo então. — Ele engatinhou até o console que ficava na hack baixa e remexeu nos jogos até achar um que queria. —Mortal Kombat?

—Sim, eu sou muito bom nesse. — Lynx empinou o queixo. —Prepare-se para ser humilhado.

—Ah tá! Olha bem com quem você tá falando. — Alec debochou.

—Quer apostar? — Lynx sugeriu. Seus olhos brilhando com uma luz sinistra. —O perdedor faz qualquer coisa que o ganhador quiser.

—Feito. — Alec concordou confiante, mas pensou que nenhuma das coisas que ele queria que Lynx fizesse eram apropriadas.

Alec colocou o jogo e eles começaram a jogar novamente, competindo um contra o outro. Acabou que Lynx era ruim em jogos de luta também. Lynx estava começando a ficar irritado por estar perdendo e Alec estava rindo tanto de suas reações que começou a sentir calor. Então de repente, a mão de Lynx disparou até seu controle, apertando vários botões ao mesmo tempo fazendo Alec perder a concentração e o jogo.

—Ei! Você tá roubando, seu babaca. — Alec reclamou enquanto Lynx gargalhava.

Alec era uma pessoa justa que sempre jogava limpo. Então ele fez a mesma coisa com Lynx apertando os botões do controle dele até que ele também começasse a perder. Os dois riam e se provocavam como duas crianças, e ficaram nessa por um bom tempo. Eles estavam lado a lado, se tocando, puxando e empurrando, um tentado sabotar o jogo do outro.

Porém, o clima de diversão foi arruinado quando em uma dessas, Lynx puxou rapidamente o controle que estava em seu colo e a mão de Alec em vez do controle, apertou a coxa de Lynx, em uma região extremamente perigosa. Alguns centímetros para o lado e... Levou alguns segundos para Alec reagir e retirar rapidamente a mão, tentando sem sucesso não prestar atenção no volume marcado no moletom cinza que Lynx usava.

—Desculpa. — Ele olhou para a tela pausada do jogo sem saber como proceder. Seu coração pulsava nos ouvidos e em várias outras partes do corpo.

De repente, ele ouviu uma movimentação ao seu lado, e quando virou a cabeça Lynx estava inclinado para ele, com um sorriso malicioso brincando nos lábios.

—Se queria me apalpar, — Ele sussurrou. — era só pedir, não precisava inventar que queria jogar videogame.

—Você está ficando cada vez mais atrevido, né? — Alec não se mexeu também. O rosto de Lynx estava tão perto que não precisaria de muito para alcançá-lo.

Lynx arregalou os olhos fingindo inocência.

—Você ataca esse pobre e indefeso anjo, e eu que sou o atrevido? Eu estava quieto na minha.

—Se você não tivesse começado a me provocar, isso não teria acontecido. — Alec se defendeu.

—Sei, sei... Mas então, você perdeu o jogo, vou cobrar a aposta.

—Não valeu porque você roubou!

—Você só está com medo de cumprir a sua parte, porque acha que vou pedir algo indecente.

—E não vai? — Alec ergueu as sobrancelhas.

—Claro que não. — Lynx sorriu de forma que sugeria o contrário.

—Tá bom, então vamos supor que eu vou cumprir a aposta. O que você quer?

O sorriso de Lynx se tornou ainda mais predatório apesar de suas palavras de que não pediria nada inapropriado.

—Supondo que você cumpriria a aposta... — Lynx se inclinou para mais perto ainda, e sua respiração no ouvido de Alec fez o estômago dele se contrair.

—Eu ia querer... Que você me deixasse ganhar pelo menos uma vez. Eu sempre perco pra você!

Alec riu e empurrou ele. O calor que que sentia agora não tinha nada a ver com a brincadeira de antes. Alec admirou as tatuagens de Lynx pensativo, então lembrou de algo.

—Sempre quis te perguntar uma coisa.

—O quê?

—Você não podia ter contato nenhum com a cultura humana, como conseguiu essas tatuagens então? — Perguntou Alec traçando os contornos da tatuagem no braço dele com as pontas dos dedos. Lynx estremeceu, mas não se afastou. —Tipo, TV não, mas se tatuar e ter brincos, é de boa?

Lynx riu.

—Essas tatuagens... — Ele demorou um pouco para responder. —Os brincos eu coloquei depois, quando me juntei a Luce na Cidade dos Mestiços. Já as tatuagens... Eu fiz elas quando ainda era humano. As técnicas de tatuagem naquela época era bem rústicas, os traços não eram bem definidos assim, mas por algum motivo mudaram depois que virei um anjo. Eu costumava odiar elas pois fiz em um impulso, em um momento de ódio de mim mesmo, eu queria sentir dor... Mas depois não suportava olhar para elas porque eram um lembrete...

—Elas são lindas. — Alec disparou antes que pudesse se conter. —Mesmo se tiverem um significado do qual você não se orgulha. São parte de você, da sua história e independente de todos os altos e baixos, sua história é importante. A de todo mundo é.

Lynx olhou para ele por um longo tempo. Seus olhos eram um mar tempestuoso de emoções. Aflição, desespero, dor, medo, culpa, arrependimento. Alec queria entender a fonte de cada sentimento, mas não se atreveu a perguntar com medo de Lynx se fechar e não dizer mais nada. Se ele quisesse falar, teria que ser espontaneamente.

—Tem tanta coisa que eu queria te contar. — O anjo finalmente exprimiu, surpreendendo ele.

—Então fale. — Alec instigou calmamente.

—Tenho medo. — Ele admitiu com a cabeça abaixada. —De você me odiar.

Alec pensou nas palavras dele por um momento. Seja lá o que Lynx fez em sua vida como humano, ele se envergonhava disso, e tinha medo que Alec fosse julgá-lo.

—Não vou te odiar por quem você era setecentos anos atrás, prefiro gostar de quem você é agora.

Com isso Lynx levantou a cabeça, ele deu um sorriso triste que partiu o coração de Alec.

—Eu me odeio menos toda vez que você fala alguma coisa assim.

Alec deixou o auto controle escapar da coleira por um momento e abraçou Lynx. O anjo envolveu ele com os braços, e acariciou a cabeça dele com a própria levemente, roçando seus cabelos nos dele. Um gesto de ternura que começou inocente, mas logo se tornou perigoso quando Lynx virou a cabeça e seu nariz tocou o pescoço de Alec inspirando seu cheiro, a respiração quente enviou ondas de arrepios por todo seu corpo. Alec se afastou e eles se encararam por um tempo com a tensão de muitas coisas não ditas e não feitas pairando entre eles. Então Alec cortou o contato visual e se levantou antes que as coisas ficassem mais intensas. Um momento atrás estavam se provocando, mas agora era diferente. Tal tensão tinha um teor mais sério, envolvendo sentimentos que ainda não tinham amadurecido por completo, e que se fossem expostos antes do tempo poderiam arruinar tudo.

—Vou dormir, vamos sair cedo amanhã, né? Quero descansar. — Sem se virar para Lynx, ele seguiu para o próprio quarto. —Boa noite, Lynx.

—Boa noite, Alec. — A voz dele era suave como uma carícia. —Nada de sonhos lascivos comigo, ein?

Alec não podia prometer isso. Mas ficou aliviado por ele ter voltado ao estado de espírito de antes. Com isso, Alec teve coragem de olhar para ele.

—Vai se ferrar. — Falou rindo. Lynx estava sentado no chão ainda, com as pernas cruzadas, o braço encostado no sofá, e um sorriso devastador no rosto.

Quando Alec fechou a porta do quarto atrás de si ele desabou no chão, apoiando-se sobre os próprios joelhos.

Ele queria Lynx.

Queria tanto que chegava a doer. Com uma leve pitada de pavor, começou a pensar que nunca tinha sentido um desejo tão forte por alguém assim. Um sentimento que se ele não tomasse cuidado, seria capaz de estilhaçar completamente sua racionalidade. Ele tinha que se conter porque não queria ser imprudente, não queria fazer nada que desse expectativas ao outro quando ele não tinha certeza do que sentia.

Atração sexual era óbvio que ele sentia.

Ao ponto de que se sentia um pervertido por ficar fantasiando coisas com Lynx, que na verdade não ajudava muito e parecia fazer algumas coisas de propósito. Como por exemplo, andar pela casa sem camisa exibindo o corpo sarado e as tatuagens, com a calça pendendo baixa na cintura. Porém, Alec não sentia mais do que isso, pelo menos, não na mesma intensidade de Lynx. Ele gostava do anjo, claro. Sentia um forte senso de cuidado em relação a ele, odiava ver ele triste e gostava de passar tempo com ele, e era verdade que odiava pensar na possibilidade de Lynx ir embora. Também queria matar qualquer um que ameaçasse fazer mal a ele. No entanto, não sabia se isso era o suficiente para retribuir o que Lynx sentia. E enquanto não tivesse certeza, teria que lutar contra esses impulsos.

Após se acalmar um pouco, ele se levantou e foi deitar na cama apagando todas as luzes. Embora seu corpo estivesse aceso, sua mente estava extremamente cansada e sentia que logo entraria no reino dos sonhos. Porém, antes que alcançasse a inconsciência de vez, ouviu um barulho alto na sala, um baque surdo como algo pesado caindo. Ele se sentou abruptamente na cama e escutou atentamente, completamente desperto. Houve um momento longo de silêncio, tanto que que achou que tinha imaginado o barulho, mas quando estava prestes a deitar novamente, ouviu uma respiração alta ofegante e uma espécie de lamento, como alguém sentindo dor e chamando por seu nome.

Ele se levantou no mesmo instante e irrompeu na sala. Lynx estava caído no chão próximo a janela, curvado com as mãos no peito puxando a própria camiseta como se sentisse falta de ar. Alec chegou até ele em uma fração de segundos e se ajoelhou diante dele.

—Lynx? — Sua voz saiu controlada, mas ele se sentia assustado. —O que houve? O que você tem?

O anjo apenas resmungou em resposta. Alec olhou em volta procurando alguma coisa errada, tipo alguém que poderia ter invadido e atacado ele, mas estavam sozinhos. O rosto de Lynx estava corado parecendo febril, ele suava, e quando Alec colocou a mão em sua testa, ele retraiu a mão como se tivesse se queimado e arregalou os olhos. Lynx estava ardendo em febre. O que ele faria? Não era como se pudesse dar um remédio normal para ele e não tinha mais nenhum daqueles remédios angelicais. Alec começou a entrar em pânico.

—Alec... Está tão quente...

—Calma, vai melhorar... Já sei! — Ele segurou Lynx tentando levantá-lo. —Lynx, preciso da sua ajuda, consegue ir até o banheiro?

—Não. — Lynx respondeu de uma forma que por um momento ele pareceu apenas uma criança fazendo birra.

—Mas vai ter que conseguir, ou vai morrer de febre. — Alec sentiu horror com a ideia de Lynx morrendo ali do nada por causa de uma febre. Essa febre sem dúvidas era resultado de todo esforço que ele tinha feito, usando o que restava de seus poderes.

Com muito esforço Alec conseguiu levá-lo até o banheiro e colocou Lynx no box, o anjo deslizou pela parede até o chão. Ele encostou o rosto no azulejo frio como se fosse agradável. A respiração dele era irregular e ele se remexia inquieto como se estivesse muito desconfortável.

—Vou tirar sua camiseta. — Alec avisou a ele, Lynx apenas assentiu lentamente com o rosto pressionado na parede. Ele ofegava muito e o suor escorria pelo seu rosto avermelhado. Alec se forçou a manter a calma, pois nervoso não conseguiria ajudar ele. Não que pudesse fazer muito. Aquilo foi a única coisa que conseguia pensar para abaixar a febre, a outra opção seria enfiar o anjo dentro da geladeira.

Alec removeu sua camiseta expondo o corpo esculpido e as tatuagens, então ligou o chuveiro na água fria. Lynx ficou instantaneamente encharcado. Alec pegou uma toalha de mão e molhou ela limpando o suor no rosto dele e pressionando o pano molhado em sua testa, sem se importar com o fato de as próprias roupas estarem ficando molhadas também. Depois de um tempo na água fria, Lynx parou de respirar pesado e abriu os olhos olhando fixamente para Alec.

—Você vai ficar doente nessa água fria. — Disse com a voz rouca.

Ele lambeu os lábios e engoliu em seco como se estivesse com sede. O anjo naquele estado, todo molhado e com o rosto corado, era uma visão muito, muito atraente. Alec se repreendeu por reparar nesse tipo de coisa em uma situação como essa, sexualizando uma pessoa doente como se estivesse em um daqueles mangás imorais que lia de vez em quando. Deixando de pensar com a cabeça de baixo, ele ficou aliviado porque Lynx parecia bem melhor, embora o rosto ainda estivesse avermelhado.

—O que você queria dizer era: Obrigado alma bondosa, me sinto bem melhor agora. — Alec corrigiu.

—Obrigado alma bondosa, me sinto bem melhor agora, mas não vou ficar nada agradecido se você pegar uma gripe por minha causa. — Lynx fechou os olhos parecendo cansado. Alec começou a ficar preocupado. Se Lynx ficasse doente por perder seus poderes... Ele morreria?

—Isso é por causa dos seus poderes?

—Sim. — Lynx se mexeu, parecendo estar recuperando as forças. —Não é nada sério, juro, quando passar vou ficar melhor. É só porque meu corpo está mudando...

Alec colocou a mão na testa dele de novo, parecia menos quente, mas ele ainda estava com febre.

—Vem, vamos tirar essa roupa molhada.

Lynx sorriu sem abrir os olhos.

—Olha só você, querendo me despir nesse estado vulnerável, depois eu que sou atrevido.

—Para de graça, Lynx. — Alec ficou ligeiramente irritado. —Você tá quase morrendo aí, mas não perde a oportunidade, né?

—Não estou morrendo, me sinto muito vivo. — Agora ele parecia drogado.

Alec o ignorou e o ajudou a se levantar, ele cambaleava um pouco, mas conseguia se manter de pé. Eles foram para o quarto e se secaram e trocaram de roupa de costas um para o outro. Alec não gostava de dormir de camiseta, então apenas trocou a calça molhada. Quando Alec se virou, Lynx estava esparramado em um lado de sua cama, de barriga para cima, com os olhos fechados. Sem ter o que fazer, ele apagou a luz e se deitou ao lado dele, mas deixou a porta do quarto aberta para que a luz que vinha da rua pela sala pudesse iluminar um pouco a escuridão do quarto.

Ele virou a cabeça e olhou para Lynx, que estava com a cabeça levemente tombada para o lado. O anjo não dormia, então era mais provável que tivesse desmaiado de exaustão. Seus cílios pálidos eram longos quase tocando as maçãs do rosto. Lynx respirava de forma rápida como se estivesse com um pouco de falta de ar ainda. Alec estendeu a mão para tirar uma mecha do cabelo dele do rosto, mas acabou não fazendo. Em vez disso, virou para o outro lado e fechou os olhos tentando dormir. Será que Lynx estaria melhor de manhã? O que aconteceria quando seus poderes se esgotassem de vez? Ele disse que seu corpo estava mudando, mas o que isso significava exatamente? Alec estava pensando nesse tipo de coisa enquanto tentava dormir, mas percebeu que aquilo seria impossível naquela noite.

As cobertas farfalharam e um instante depois braços fortes o envolveram, um peito quente foi pressionado contra suas costas, pernas se entrelaçaram com as suas e um rosto se afundou em sua nuca. A respiração no pescoço e a pele nua fervente pressionada contra a sua lhe causou um tremor, já que ambos estavam sem camiseta. Lynx resmungava seu nome enquanto tremia, embora estivesse tão quente que Alec acabou descobrindo os dois e jogando as cobertas no chão. O banho gelado tinha melhorado um pouco, mas não passado completamente a febre. Alec até tentou se soltar, mas quando se mexia Lynx apertava ele mais forte e chamava seu nome como se temesse que ele fosse fugir e desaparecer. Sem outra alternativa, Alec parou de lutar e relaxou nos braços dele. Não era tão ruim assim para ser sincero consigo mesmo. O problema era que dormir agora estava fora de questão, ele estava mais acordado do que nunca.

E como se a situação já não fosse torturante o bastante, ele sentiu algo assustadoramente grande e duro pressionar sua bunda. Lynx estava inquieto e a fricção de seus corpos fazia com que Alec quisesse gritar de frustração pelo tormento físico.

—Ah mas que porra! Anjo tarado! — Ele xingou alto, mas Lynx não reagiu. Alec entendia que ele estava sofrendo, mas sentiu uma vontade imensa de chutar ele para fora da cama naquele momento, não que ele conseguisse se mexer de qualquer forma. Alec enterrou o rosto no travesseiro resmungando que nunca tinha visto uma febre que deixasse alguém de pau duro, enquanto ele tentava ignorar a própria ereção.

Era quase dia quando Lynx finalmente se acalmou, sua febre pareceu baixar e Alec finalmente conseguiu dormir. Quando ele acordou algumas horas depois, ouviu muitos barulhos vindo da cozinha. Ele se remexeu na cama vazia e esfregou o rosto no travesseiro, resmungando, embora não se sentisse cansado. Ele sentou na cama e ficou alguns minutos olhando para o nada enquanto seu cérebro reiniciava e a alma voltava para o corpo.

Vagarosamente ele se levantou e foi até a sala. Lynx estava completamente vestido, na frente do fogão fazendo panquecas. E foi até um pouco engraçado ver ele usando sua jaqueta de couro — a que ele usava na noite em que apareceu e que Amarantha tinha feito um rasgo com suas adagas — com um pano de prato de patos no ombro.

Alec se aproximou silenciosamente, então deu um tapa na cabeça dele.

—Ai! — Lynx virou para ele com os olhos arregalados. —Por que você me bateu?

—Como você está se sentindo? — Perguntou mau humorado.

Lynx colocou a última panqueca no prato, tirou o pano do ombro e desligou o fogão.

—Estou bem. — Seu olhar era receoso como um cachorrinho ciente de que aprontou e não conseguia olhar direito para o dono. —A febre passou. Já tinha acontecido antes, mas Luce disse que é normal.

—Que bom. — Alec se sentou na mesa, não sabia bem porque se sentia tão irritado. Mas estava aliviado por ele estar bem.

—Como você está? — Lynx perguntou colocando as coisas na mesa para o café da manhã.

—Como se alguém tivesse me dado um susto quase desmaiado de febre no meio da sala e depois se esfregado em mim a noite toda. — Alec respondeu com uma calma mortal, enchendo sua caneca de café.

—A parte da febre não foi exatamente culpa minha, mas desculpa pelo resto, eu não devia ter feito aquilo... — Se Lynx tivesse orelhas de cachorro, elas estariam caídas agora.

—Você lembra? Pensei que estava delirando.

—Na verdade... Também pensei, por isso não me segurei. Desculpa.

Alec suspirou.

—Tudo bem vai... Fico feliz que esteja melhor.

—Obrigado por cuidar de mim.

Alec não respondeu, desviou o olhar bebendo um gole de café.

—Como vamos chegar na tal cidade?

—Assim que você terminar de comer, vamos nos encontrar com Castiel. — Lynx sentou em uma cadeira de frente para ele. —Precisa ser em um lugar remoto, tipo uma floresta, pra ele poder abrir o portal sem chamar atenção.

Alec estava curioso para ver isso.

—Seria interessante abrir um portal no telhado. — Alec sorriu sobre a borda da caneca com deboche. —Os vizinhos iam achar...

Mas ele não conseguiu terminar de dizer o que os vizinhos achariam, porque houve uma explosão ensurdecedora. Ele só teve tempo de registrar Lynx saltando por cima da mesa em sua direção e envolvendo ele com seus braços fortes e asas pretas, em meio à poeira e destroços.

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