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Capítulo 10 - Tensão No Ar

Alec estava fazendo uma pausa de trinta minutos quando encarou a tela do celular e franziu a testa irritado. Era a décima mensagem que ele recebia e ainda não era nem meio dia. Ele se acomodou no balcão do cybercafé e pensou em várias respostas grosseiras para a mensagem, mas não enviou nenhuma. Responder era o mesmo que se importar, e ele não dava a mínima para o remetente. Tinha sido totalmente inesperado, mas Alec achou que já deveria esperar algo assim vindo dele.

Faziam duas semanas que Nathan tinha começado a perturbá-lo com mensagens aleatórias. Começou com um simples bom dia, e agora ele mandava coisas desnecessárias tipo fotos de comida e paisagens, e fatos sobre a China que Alec não perguntou. Ao que parecia, Nathan estava em Xangai e a todo momento mandava fotos de pontos turísticos que fazia Alec se perguntar porquê diabos Nathan achou que ele se importava. Tinha sido direto na última conversa com ele, e lembrava claramente de ter dito que ele não entrasse mais em contato. No começo, respondeu por educação, mas agora sua paciência havia esgotado e ele simplesmente ignorava, apagando a conversa assim que as mensagens chegavam. Alec odiava quando ele agia assim, ignorando a vontade dos outros e simplesmente fazendo o que queria, como se ele não estivesse fazendo nada de errado ou sendo inconveniente. Como ele costumava fazer durante o breve relacionamento deles, quando sumia sem avisar durante semanas e voltava depois como se nada tivesse acontecido. Alec não era burro, e Nathan nem se dava ao trabalho de disfarçar que via outras pessoas mesmo dizendo que Alec era o único. Nathan era uma pessoa carinhosa e divertida, e as vezes até meio grudento demais, mas embora ele tivesse suas qualidades, ele também tinha o péssimo hábito de se fazer de sonso diante dos próprios defeitos.

Alec apagou a conversa no celular e guardou o aparelho no bolso. Geralmente, ele usava essa pausa para beliscar alguma coisa ou comprar um café, mas não andava sentindo muita fome ultimamente. A realidade era que os pesadelos faziam com que ele acordasse com o estômago embrulhado, e eventualmente pulava o café da manhã, coisa que em circunstâncias normais ele não faria de jeito nenhum. O café da manhã costumava ser sagrado, mas parecia banal se preocupar com comida quando sua vida estava correndo do risco.

Alec sabia que ainda estava em perigo. Não importava o quanto as coisas estivessem calmas agora, essa calmaria não ia durar para sempre. Duas semanas depois desde aquele dia fatídico em que ele e Lynx fizeram um passeio indesejado a Cidade Fluorescente, e ele sentia como se tivesse sido ontem. Alec estava fazendo seu melhor para esquecer aquilo, mas não estava tendo sucesso. Sua mente revisitava o ocorrido toda vez que ele ficava ocioso. A experiência havia deixado marcas profundas. Além de acordar sobressaltado todas as noites com pesadelos, ele também experimentava alguns devaneios arrepiantes enquanto estava lúcido. Como a risada de Azazel ecoando no ouvido quando estava sozinho no banheiro, a dor fantasma nos ferimentos nas pernas quando subia as escadas do apartamento, cujas feridas foram curadas por Lynx que havia quase perdido as asas, que vomitou sangue para curá-lo.

Sem contar que ainda havia o outro problema que ele sabia que uma hora ia voltar para assombrar ele. Aquele demônio do beco. Alec tentava não pensar muito nele. Um problema de cada vez.

Lynx não podia apagar as memórias de Alec, mas quando ele acordava em um tormento silencioso por causa dos pesadelos, Lynx, que ficava na sala, parecia sentir sua angústia e batia na porta de seu quarto perguntando se estava tudo bem. Alec não conseguia responder, ele não gostava de mentir. Então Lynx abria a porta, sentava silenciosamente no pé da cama e ficava ali até que o outro conseguisse adormecer de novo. Diversas vezes sentiu alguém acariciando suavemente seus cabelos, mas sempre estava cansado demais para questionar se era sonho ou realidade.

O celular vibrou novamente em seu bolso. Alec revirou os olhos, mas dessa vez quando pegou o aparelho e viu a mensagem, ele sorriu. Era Lynx. Ele levantou a cabeça e viu o anjo do outro lado do estabelecimento sentado em uma mesa de canto olhando de volta para ele. Lynx tinha um celular agora, Alec pegou um de seus aparelhos antigos e deu a ele, achou que seria útil se tivesse um jeito deles se comunicarem se precisasse. No entanto, Lynx mandava mensagens e fotos a todo momento, mas Alec não se irritava, pelo contrário, ele gostava e ficava entretido.

Um contraste interessante em seu humor comparado a quando outro alguém mandava mensagens do mesmo tipo.

"Vc tá bem?" Dizia a mensagem de Lynx.

Ele tinha aprendido a usar abreviações, mas também usava emojis e figurinhas de forma exagerada, o que rendia muitas risadas e sorrisos de Alec para a tela do celular.

"Sim, pq?" Alec mandou como resposta.

Lynx: "Vc tava olhando pro nada parecendo preocupado"

Alec: "Não é nada"

Lynx: "Mentiroso"

Alec: "Vai jogar candy crush, vai"

Lynx: "Sua amiga está me encarando de novo"

Alec olhou para o lado e viu Rebeca no caixa, olhando para Lynx com uma mistura de assombro e admiração. Tinha sido assim desde que ela o viu pela primeira vez, embora desse seu melhor para tentar disfarçar ela era muito óbvia. E não era a única. Todo mundo que entrava no cybercafé olhava para ele duas vezes como se precisassem ter certeza de que o homem era real.

Alec não os culpava.

Lynx parecia ficar cada dia mais lindo, embora estivesse ficando cada vez mais fraco. Isso preocupava Alec, apesar das tentativas do anjo para convencer ele de que estava tudo bem. Lynx não podia mais ficar usando seus poderes angelicais, e Alec também não queria ser visto na rua falando sozinho então ele havia parado de usar feitiços para se esconder. Sendo assim, ele tinha virado uma espécie de atração. A gerente nem exigia que ele consumisse algo para ficar ali, visto que graças a ele estavam tendo o dobro de movimento, ao ponto de terem que contratar mais pessoas.

Desde aquele dia terrível, alguma coisa parecia ter mudado entre eles, embora Alec não fosse capaz de identificar o quê exatamente. Como se um laço crescente de cumplicidade e admiração tivesse se formado. Era como se eles tivessem derrubado alguma barreira invisível entre eles, dado um passo adiante em direção a alguma coisa nova e excitante. No entanto, era triste que eles tinham criado esse vínculo a partir de algo tão traumático. Lynx podia não dormir, mas Alec sabia que não era o único sendo assombrado por pesadelos.

Os dois viviam um dia de cada vez tentando superar, mas sempre temendo que quando menos esperassem, seriam atacados de novo. Pelo menos, teriam que conviver com esse medo e ansiedade só por mais duas semanas. Alec tinha prometido ir embora com Lynx dentro de um mês, logo sua vidinha pacata ficaria para trás por um tempo, e Alec ainda estava ensaiando como contaria isso para Rebeca.

Alec não sabia exatamente para onde iriam, só sabia que era um lugar chamado Cidade dos Mestiços. Um lugar onde híbridos viviam, pessoas que eram resultado da mistura de demônios, anjos e humanos. Cidade dos Mestiços parecia um nome apropriado. Lynx contou que todos lá tinham orgulho de ser o que eram, embora fossem caçados por isso. O céu os queria mortos por serem considerados uma anomalia, aberrações, e o inferno os queria vivos para usufruírem de seus poderes, já que eles tinham as melhores características de cada espécie. Alec tinha que admitir que apesar de não estar muito feliz com a ideia de sumir e deixar suas coisas para trás, mesmo que só por um tempo, ele estava bem curioso a respeito do lugar e das pessoas que viviam lá.

A convivência com Lynx não era nem de longe tão desconfortável como ele tinha imaginado que seria. Eles passavam tempo juntos, se familiarizavam com as manias um do outro, discutiam por coisas idiotas e coisas sérias, mas voltavam a se falar dois minutos depois. Tinha se tornado rotina. A nova rotina de Alec. Os dias que ele havia passado sozinho, que antes pareciam aconchegantes, agora pareciam vazios. Era estranho ter chegado a realização de que seus dias eram monótonos, porque agora toda vez que ele acordava pela manhã, sabia que tinha um ser sobrenatural em sua casa pronto para tornar seu dia imprevisível. De um jeito ou de outro.

Alec relutou muito em admitir para si mesmo que talvez ele só gostasse da solidão porque tinha se acostumado a ficar sozinho, porque a própria companhia era tudo que ele tinha e não havia outra alternativa não ser gostar dela. O que havia sido bom, é claro, não há nada melhor do que gostar de estar consigo mesmo e não precisar de ninguém mais para se sentir completo. Contudo, haviam espaços que podiam ser preenchidos, compartilhados com outras pessoas, e aos poucos, Lynx estava conquistando um desses espaços na vida de Alec.

Nós primeiros dias após o ataque de Azazel, Lynx ficou em um estado interminável de ansiedade e adrenalina, ele se negou a ficar em casa e seguia Alec para o trabalho todos os dias, grudado nele o tempo todo. Porém, Alec começou a se sentir sufocado, então depois de mais uma discussão eles chegaram a um acordo. Tinha dias que Alec ia trabalhar sozinho, Lynx ficava em casa até a metade do dia, depois ia para o cybercafé e eles iam embora juntos. Haviam dias que Lynx levava ele, ficava até a metade do dia e depois ia embora para casa, e havia dias Alec permitia que ele ficasse o dia todo ali.

Lynx lutou muito contra isso no começo, argumentando que ele podia ser atacado a qualquer momento e que eles precisavam ficar juntos o máximo possível. Alec sabia que ele meio que tinha razão, mas ele necessitava de um pouco de espaço e normalidade, e achou que esse era o melhor método de parecer que sua vida ainda era normal e segura. Se Lynx montasse guarda o tempo todo, além de se sentir sufocado, ele pensaria nos problemas com mais frequência do que já fazia.

Algumas vezes, quando ele chegava em casa, Lynx estava assistindo TV ou jogando videogame. As vezes ele cozinhava - coisa que tinha se tornado ainda melhor, fazendo receitas que Alec nem sonhava em reproduzir - e obrigava Alec a comer. Nessas ocasiões, Alec sentia uma coisa muito estranha se espalhando pelo peito, uma mistura de gratidão com culpa.

Algumas coisas ainda eram confusas para Alec. Coisas envolvendo o outro inimigo deles, o demônio do beco. A maioria de suas discussões era por causa disso, inclusive. Lynx sabia mais sobre isso, mas desviava do assunto toda vez que Alec perguntava algo. E em uma dessas discussões, ele finalmente confessou que não falava mais sobre isso porque ele próprio não tinha certeza das reais intenções desse demônio e não queria preocupar Alec com suposições e coisas desnecessárias depois de tudo que ele já havia enfrentado duas semanas atrás. Por isso, Alec tinha resolvido deixar de lado por enquanto. Em parte porque tinha ficado comovido com Lynx tendo tanta consideração em relação ao estado de sua saúde mental. Mas a realidade era que por mais contraditório que fosse, Lynx também havia conquistado uma boa parcela de sua confiança. Então ele confiava em Lynx, quando este dizia que era melhor não saber mais por enquanto, e Alec se questionava se isso fazia dele um idiota ingênuo.

E por fim, a maior dúvida que dominava seus pensamentos, era também a mais boba de todas, mas que por algum motivo, era a que mais assustava Alec. E era o motivo pelo qual Lynx havia salvado sua vida e parecia tão... Apegado a ele. O jovem não era estúpido e sabia bem o que parecia, mas tinha medo de olhar as evidências muito de perto. Principalmente, porque ele próprio se sentia diferente perto de Lynx agora, mas tentava não pensar muito nas coisas que sentia.

O fato era que demônios e anjos querendo sua morte era uma coisa... Um anjo possivelmente desenvolvendo sentimentos complicados por ele, era outra.

Pois era isso que estava parecendo. Qualquer um que soubesse todos os detalhes do drama entre eles poderia chegar a mesma conclusão, mas, ao mesmo tempo, Alec achava um tanto absurdo. Lynx havia grudado nele do nada que nem um chiclete. As vezes, só a forma que ele olhava para Alec fazia seu rosto arder. Flertava do nada deixando o pobre humano confuso. Sem contar a forma que ele reagiu durante toda aquela coisa na Cidade Fluorescente, a amargura e o desespero ao ver o estado miserável de Alec.

Ninguém agiria assim se não estivesse, pelo menos, minimamente interessado na outra pessoa.

Mas não fazia sentido. Nenhuma dessas coisas fazia sentido para Alec, independentemente do que parecia.

—Sério, onde você arrumou esse cara? — Rebeca perguntou pela milionésima vez nos últimos quinze dias. Alec percebeu que tinha ficado esse tempo todo encarando Lynx, que também olhava para ele de onde estava. —Ele é tipo... Meu Deus.

Não é Deus, mas veio lá de cima. Pensou Alec ironicamente.

—Ele é um amigo, conheci ele em um show, já falei. — Alec tentou soar convincente, mas não convenceu nem a si mesmo com essa fala robótica. Ele desviou o olhar e coçou o pescoço.

—Uhum... Sei... Vocês estão ficando? — Ela jogou o cabelo loiro de lado, com um risinho. —Até onde vocês já foram?

—Não é da sua conta!?!?

—Ah! Então vocês estão mesmo se pegando!

—Não foi isso que eu disse...

—Do que vocês estão falando? — Lynx havia se aproximado silenciosamente dos dois, assustando-os. Ele vestia as roupas de Alec, jeans pretos e uma blusa de lã fina com rasgos propositais da mesma cor, e o jovem achava injusto que ficassem melhores nele do que em si mesmo. Naquele momento Alec se sentia feio, vestindo a camiseta branca do uniforme de trabalho, um jeans azul escuro e os cabelos presos de qualquer jeito. Pelo menos, os coturnos ainda estavam ali.

—Nada. Não estamos falando de nada. — Alec soltou rapidamente, mas Rebeca falou ao mesmo tempo.

—Estávamos falando que vamos sair hoje a noite, e você vem junto, obviamente. — Ela passou um braço ao redor do ombro de Alec sorrindo de orelha a orelha.

—Vamos, é? — Alec tinha um sorriso congelado no rosto. —Quem disse?

—Eu disse. — Ela se afastou cruzando os braços em desafio. —Tem um bar novo que abriu esses tempos atrás, e estou te devendo uma por ter fechado pra mim aquela vez lembra?

—Pensei que ia me pagar um almoço chique, não me levar pra encher a cara em um lugar que provavelmente não vou gostar. Não estou afim. — Alec se levantou do banco do balcão, se espreguiçando e ajeitando os joelhos da calça jeans. Ele saiu andando preguiçosamente, Lynx e Rebeca vieram atrás como imãs.

—Como sabe que não vai gostar? — Rebeca se colocou na frente dele, fazendo-o parar. —Você nem conhece o lugar.

—Foi por isso que eu disse provavelmente, significa que as chances não são zero, mas são altas. — Alec desviou dela. Alguns clientes começaram a entrar, ele foi para trás do balcão, sentando-se atrás do computador onde chegavam os pedidos das mesas.

Rebeca revirou os olhos, e se debruçou no balcão para falar com ele.

—Olha, com um homem desses, — Ela apontou para Lynx que estava apoiado no balcão um pouco mais longe, mexendo no celular. — eu também não ia querer sair de casa, mas você também precisa socializar as vezes. Faz bem pra cabeça.

Alec ficou sem respostas pois estava ocupado imaginando o que Rebeca achava que estava acontecendo entre ele e Lynx. Se ela realmente soubesse o real motivo de eles ficarem presos no apartamento, não ficaria com tanta inveja assim.

—Eu estou sugerindo esse lugar porque acho realmente que você vai gostar, bandas independentes tocam lá as vezes e hoje vai ter algumas... — Continuou Rebeca tentando convencê-lo. Ela deveria estar no caixa, e não ali perturbando Alec, então ficava a todo tempo olhando ao redor para ver se a gerente estava por perto, mas a mulher carrancuda que era a gerente deles costumava ficar nos fundos em sua sala fechada.

—Desde quando você gosta desse tipo de role? — Alec questionou intrigado. Havia chegado um pedido no computador, ele imprimiu a comanda e colocou o papel grudado no quadro visível para o pessoal da cozinha pegar. Ele sempre achou que seria mais prático se os pedidos chegassem direto na cozinha, mas se os donos do lugar achavam que assim funcionava melhor, quem era ele para julgar? Quando a amiga não respondeu, ele refez a pergunta achando que ela não tinha ouvido.

—Ein? Desde quando você curte ver bandas independentes tocando?

Rebeca desviou o olhar e não respondeu.

—Tem a ver com macho, né? Que foi? Agora você gosta de músicos também? — Ele zombou.

Rebeca abriu a boca para se defender, mas foi interrompida.

—Ah Alec, vamos por favor? Vai ser legal, faz tempo que não fazemos algo diferente. — Inesperadamente, quem disse isso foi Lynx que tinha se aproximado. O lábio inferior dele estava projetado e os olhos brilhavam com a sugestão de lágrimas não derramadas. Alec semicerrou os olhos para ele tentando convencê-lo com esse teatrinho. —Sempre quis ir em uma balada mundana.

—Não acho uma boa ideia... — Alec tentou protestar, mas ninguém deu atenção a ele.

—Você nunca foi em um bar? Tipo, nunca saiu com seus amigos ou coisa assim? — Rebeca franziu o rosto para Lynx, incrédula, mas em seguida sorriu, e sem dar tempo para ele responder, ela completou: —Ótimo então! Você vai amar! Tá combinando, às dez. Vou te mandar o endereço depois, Alec.

Ela saiu cantarolando, mas antes de sumir completamente de vista ela se virou hesitante e disse:

—É... Vou levar um amigo, ok? — Então saiu rapidinho, mas Alec percebeu que seu rosto estava ligeiramente vermelho.

—Nós vamos, né? — Perguntou Lynx animado, fazendo Alec voltar sua atenção para ele.

—É seguro? — Alec respondeu com outra pergunta. Lynx murchou como uma balão sendo esvaziado. —Não é que eu não queira ir, mas... Você sabe.

—Sinceramente, não sei... — Admitiu o anjo cabisbaixo. —Por um momento comecei a pensar na ideia de a gente se divertir um pouco e me esqueci disso tudo.

—Talvez seja bom. — Falou Alec mudando de ideia após ver a expressão triste dele e pensar um pouco. No fim, Rebeca tinha razão também. Faziam dias que eles mal saiam de casa. Era do trabalho direto para o apartamento e vice-versa, eles precisavam fazer algo diferente para distrair a mente. Ficar fixados nos problemas não resolveriam eles, ter cautela era bom, mas continuar vivendo também. A vida não esperava seus problemas irem embora para acontecer, ela só acontecia, e já que estavam nessa situação mesmo, poderiam ao menos tentar aproveitar enquanto ainda podiam.

—É um lugar movimentado, não é? — Lynx tinha uma expressão pensativa agora. —Eles não vão fazer nada com tanta gente ao redor. Testemunhas demais, e anjos não podem envolver humanos nesse tipo de coisa sem um bom motivo.

—É, mas Azazel faz o que quer, você mesmo disse que ele distorce as leis.

—Mas ele não faria algo tão publicamente como nós atacar no meio de um lugar cheio de gente. — Lynx franziu a testa. —Pelo menos, eu acho que não, a menos que ele tenha perdido os parafusos que restavam.

—Por que ninguém faz nada com ele? Os outros anjos mais fortes não sabem as coisas que ele faz?

—Bem, aí que está o problema. — Lynx coçou a cabeça. —Azazel está abaixo apenas dos Arcanjos, ele tem muito poder e status lá em cima, então é fácil pra ele encobrir as coisas que faz. E os Arcanjos são ocupados demais pra se importarem, eu acho.

—Isso é tão confuso. — Alec que estava sentado em uma cadeira giratória começou a girar de um lado para o outro, pensando em como o céu era estranho. Algo para ele em tudo isso que Lynx falava, não fazia o menor sentido. Mesmo que Azazel estivesse em uma posição de poder, como era tão fácil assim para ele simplesmente jogar tudo para debaixo do tapete? A Cidade Fluorescente também, havia algo nela que incomodava Alec e ia além de sua aparência fantasmagórica.

—Nós vamos então? — Lynx o puxou para a realidade. —Hoje a noite, quero dizer.

Alec suspirou.

—Não quero envolver Rebeca nisso, e se algo acontecer com ela?

—Não vai. — Lynx deu um olhar reconfortante a ele. —Eles não vão envolver pessoas inocentes nisso. Os anjos, pelo menos, não vão...

Alec tinha suas dúvidas, mas preferiu não dizer nada.

—Tá certo então, acho que vamos sair hoje.

Lynx sorriu animado esfregando as mãos.

—Mas não se empolga muito, temos que ficar atentos... E tente não dizer nada estranho na frente dos outros, não quero ter que ficar arrumando desculpas do porquê você não sabe o que é tal coisa.

—Sim, senhor. — Lynx cruzou os braços e fez uma expressão parte chateada, parte emburrada. —Eu aprendi muita coisa recentemente, não sou mais tão ignorante assim, tá? Assisti muitas séries, também li alguns dos seus mangás.

Alec fez um som sarcástico com a parte do "Assisti muitas séries e li mangás ". Era como se Lynx fosse um robô ou um alienígena consumindo cultura humana para saber como se misturar aos reles mortais, mas, no fundo, ele era só alguém que havia sido congelado no tempo e agora estava aprendendo e absorvendo séculos de mudanças em muito pouco tempo. De fato, Lynx tinha aprendido muita coisa e muito rápido, mas as vezes ele ainda soltava perguntas idiotas e só por isso Alec tinha falado aquilo, mas não era culpa dele ter sido privado de tais conhecimentos. Isso faz Alec se sentir meio culpado.

—Desculpa, não quis te deixar mal, Lynx. Eu sei que você não é ignorante, só um pouco dramático e chantagista... Espera aí... — Ele franziu o rosto deixando o breve sentimento de culpa de lado. —Quais mangás você leu?

Alec fez uma breve lista mental dos itens que tinha. Não eram muitos, pois livros e mangás tinham virado artigo de luxo e ele só podia comprar quando aparecia uma promoção. Ele basicamente só comprava suas obras favoritas que já tinha lido online ou depois de ver muitos reviews.

—Não me lembro bem o nome, mas foi aquele que o cara trabalha em uma loja de conveniência e conhece um gangster... — Lynx tinha uma expressão séria como se estivesse se esforçando muito para lembrar.

Alec congelou sem saber se ria ou chorava. Em outras circunstâncias teria explicado para Lynx a diferença entre um mangá e um manhwa, mas estava mais preocupado com o conteúdo do que o anjo tinha lido.

—De tudo que eu tenho, você foi ler logo esse... — Alec riu meio sem graça. —Você leu tudo? Todos os volumes?

—Sim, achei bem legal. — Lynx respondeu com naturalidade. —Só achei meio irrealista, nenhum órgão daquele tamanho caberia...

—ENTENDI. — Alec falou tão alto que chamou atenção de Rebeca que olhou para eles curiosa. Ele controlou a voz. —Já entendi. Err... Por que você não vai dar uma volta, ein? Compra um café pra mim do outro lado da rua, por favor.

—Mas tem café aqui. — Lynx encarou ele, então seus lábios começaram a se curvar em um sorriso involuntário. Ele se apoiou no balcão e se curvou, aproximando-se de Alec para sussurrar: —Você está com vergonha porque li seus quadrinhos indecentes?

—Não. — Sim, ele estava. Lynx era um anjo. Um ser puro de luz e inocência... Certo? Ele não deveria ficar por aí lendo essas coisas. E Alec se sentia envergonhado porque essas coisas pertenciam a ele. O que Lynx pensaria disso? Certamente, que ele era um grande pervertido.

—Entendo. — Disse Lynx como se entendesse mais do que Alec gostaria. Ele ainda tinha um sorriso no rosto. —Vou buscar seu café.

Depois que ele saiu, Alec escondeu o rosto vermelho entre as mãos e reprimiu um ataque de risos. Quais outros mangás, livros ou manhwas de sua coleção ele havia lido? Alec deixou escapar uma risada enquanto teve uma imagem mental de Lynx em casa sentado no sofá lendo quadrinhos pornográficos. Se ele fosse para o inferno quando morresse, certamente seria por ser indiretamente culpado de corromper um anjo com as obras indecentes que guardava nas prateleiras do quarto.

                                   ***

Mais tarde em seu apartamento, Alec estaria mentindo se dissesse que não estava pelo menos um pouco animado em fazer algo diferente pela primeira vez em duas semanas. No entanto, uma voz sussurrava no fundo de sua mente, dizendo que talvez não fosse uma boa ideia. Ele tentou silenciar a voz enquanto se arrumava. Era apenas o trauma falando, a ansiedade e o medo causados pelos acontecimentos recentes. Claro que havia uma chance de perigo, mas não era do feitio dele ser tão pessimista o tempo todo. Ficaria tudo bem.

Ao olhar para seu guarda-roupa, decidiu se vestir um pouco diferente do que usava no dia a dia. No lugar das camisetas pretas estampadas, ele vestiu uma camisa branca fina de botões deixando os de cima abertos. Colocou um choker de spikes que chamava atenção para seu pescoço fino e sua clavícula pálida exposta. A calça preta era bem justa nos lugares certos, e ele colocou parte da camisa para dentro dela para destacar o cinto e as correntes penduradas. O coturno era insubstituível, assim como os anéis e pulseiras, ele finalizou o look com uma jaqueta de couro. Ele raramente usava maquiagem, mas sentiu vontade de fazer um leve esfumado preto nos olhos.

Alec não ficou satisfeito com sua aparência final, mas no fim, nem sabia por que estava se esforçando tanto.

Ao pegar a carteira e o celular ajeitou o cabelo na frente do espelho uma última vez antes de sair do quarto. Lynx estava na sala vestindo nada extraordinário, apenas jeans preto e a mesma blusa preta com rasgos e botas pesadas, e ainda assim parecendo uma pintura contemporânea, sentado no sofá mexendo no celular. Alec gostava da forma que seus cabelos brancos contrastavam com as roupas pretas, como se ele fosse uma fotografia em preto e branco.

Lynx levantou os olhos da tela do celular e ficou encarando Alec em um estado meio hipnótico. Seus olhos de gato passearam vagarosamente por Alec e pararam no trecho de pele exposta pela camisa aberta em cima.

—Que foi? — Alec de repente se sentiu nervoso como um adolescente, e resistiu ao impulso de fechar mais a camisa.

—Nada. — Lynx voltou atenção para o celular com muito esforço. A voz dele era grave e baixa quando falou: —Você está bonito.

—Ah, obrigado. — Alec respondeu casualmente, esfregando as mãos úmidas na perna da calça. —Vamos indo então?

Lynx se espreguiçou e levantou do sofá, indo até a porta e abrindo ela para Alec passar. Alec saiu, Lynx fechou a porta e pegou a chave da mão de Alec para trancá-la. Esse tipo de situação rotineira parecia tão normal para eles, quem visse nem imaginava que se conheciam a menos de um mês.

Alec não estava com paciência de esperar por ônibus, que demoravam ainda mais naquele horário, então chamou um Uber. Lynx ainda odiava andar em qualquer veículo, mas tinha se acostumado o suficiente para não parecer que ia vomitar no motorista. Quando eles chegaram no lugar combinado, Rebeca já estava na porta do bar. Ela acenou assim que viu os dois atravessando a rua.

A fachada do lugar era toda preta com portões de ferro desbotados, parecia uma casa qualquer espremida entre outros dois prédios. Uma placa de néon vermelha pendurada em cima dizia "O Beco", Alec franziu a testa, não era muito fã de becos. A rua estava movimentada com carros e motocicletas estacionadas no meio-fio. Muitas pessoas alternativas transitavam na calçada terminando suas bebidas e cigarros antes de entrar lá dentro.

Quando ele e Lynx chegaram perto o suficiente de Rebeca, foi que notaram o rapaz de cabelo muito escuro e óculos ao lado dela. Algumas mechas do cabelo preto dele caiam sobre a lente dos óculos escondendo ainda mais seus olhos azuis. Ao contrário da jovem, que chamava atenção com seus cabelos longos e loiros, o rosto bem maquiado, um vestido prateado ressaltando as curvas, e as botas salto alto, ele parecia o tipo de pessoa que passaria despercebido a noite toda no canto da parede. Então Alec viu a camiseta dele e reprimiu uma risada. Rebeca tinha ficado com o otaku, afinal. Por isso tinha ficado vermelha quando falou que levaria um "amigo". Isso era incomum para ela que nunca ficava com o mesmo cara duas vezes, então devia ser sério. O cara vestia uma camiseta do Fullmetal Alchemist que tinha apenas um símbolo característico do show estampado, mas obviamente Alec reconheceria seu anime favorito em qualquer lugar.

—Vocês realmente vieram! — Ela cumprimentou Alec e Lynx com um abraço. —Achei que ia me enrolar e não aparecer.

—Você me ameaçou então eu tive que vir, né? — Brincou Alec. Ele estava pensando em como contaria para ela que estava se demitindo e sumiria por tempo indeterminado. Tinha certeza que ela faria algum drama.

Um silêncio repentino e desconfortável se assentou entre eles enquanto esperavam a menina fazer as apresentações. A expressão do amigo de Rebeca se contraiu brevemente quando ele viu Lynx.

—Então, — Rebeca tossiu. — esse é meu amigo...

O cara ao lado dela bufou. Apesar do visual nada marcante, ele era bem bonito e parecia ter uma personalidade forte, no modo como olhava para ela agora, com as sobrancelhas grossas franzidas expressivamente. Ele também era bem alto, quase do tamanho de Lynx.

—Esse é Cadu. — Ela disse entre dentes. —Meu namorado.

Cadu sorriu satisfeito.

—Oi, prazer. — Falou com uma voz profunda.

Alec sentiu um sorriso que não era de felicidade, e sim zombaria, se acender em seu rosto.

—Prazer Cadu, ouvi muito falar de você. — Ele disse olhando para Rebeca, que parecia ter encontrado algo muito interessante no poste do outro lado da rua. Lynx não falava nada, mas observava atentamente a situação.

—Também ouvi bastante sobre você, inclusive, seu estilo é muito legal. — Elogiou o namorado de Rebeca.

—Valeu. — Alec apontou para ele. —Gostei da camiseta.

—As moças podem trocar elogios depois, estou com frio, quero entrar. — Rebeca disse mau humorada, abruptamente puxando Cadu pelo braço, os saltos da bota dela estalando conforme ela passou pelo portão aberto até a porta de entrada.

—Não entendi. — Lynx sussurrou para Alec. —Se eles estão namorando é porque se gostam, mas ela parece com vergonha disso.

—Ela está com vergonha porque sabe que vou zuar ela depois. — Alec falava enquanto ele e Lynx seguiam pelo mesmo caminho de Rebeca. Depois da porta, havia uma mulher cobrando a entrada e colocando uma pulseira verde néon no pulso deles.
—Rebeca não é do tipo que se apega a alguém... Pelo menos, não era. Mas, mesmo assim, estava sempre em busca de uma alma gêmea, e aparentemente acabou encontrando alguém que foge completamente do padrão que ela tem na cabeça dela.

—É impossível escolher por qual tipo de pessoas vamos nos apaixonar.

—É, Rebeca deve estar descobrindo isso agora.

Alec tinha a impressão de que Lynx não tinha falado isso baseado em sua profunda pesquisa das relações humanas atuais em séries de TV, mas aquele era um terreno que ele não queria pisar, então não fez nenhuma pergunta e deixou a conversa morrer.

O bar era apertado, mas não estava tão cheio quanto Alec esperava. Os banheiros ficavam próximos à entrada, havia um bar do lado esquerdo onde uma menina com tranças no cabelo servia as bebidas, e um palco baixo na extremidade oposta a entrada. Já havia uma banda tocando, mas só metade das pessoas presentes estavam prestando atenção nela. Alec instintivamente se aproximou mais do palco para observar melhor. A banda tinha uma pegada de punk rock, e embora o vocalista não fosse muito bom, o instrumental era agradável aos ouvidos. Imerso na música só notou Lynx ao seu lado quando o ombro dele tocou no seu. Ele também observava a banda e parecia, como sempre, fascinado com algo que estava vendo pela primeira vez. O som estava extremamente alto, então Alec não entendeu nada do que Rebeca disse quando ela se aproximou com uma cerveja na mão e entregou a ele. Outra cerveja foi entregue a Lynx por Cadu, o anjo olhou para a garrafa com curiosidade e deu um gole. Alec arregalou os olhos discretamente, Lynx olhou para ele e deu de ombros.

Lynx não comia, nem bebia nada, quais efeitos aquilo poderia ter nele?

Os caras no palco pareciam ser amigos de Cadu, ele fez um joinha para a banda e o vocalista retribuiu. Rebeca parecia estar gostando mais do que Alec achou possível, ou talvez ela já estivesse bêbada, uma vez que se pendurava em Cadu como se ele fosse um galho de árvore e o beijava o tempo todo. Logo eles estavam se pegando em um canto.

Alec ficou ali curtindo a música e o ambiente, quando reparou em Lynx de novo, ele balançava a garrafa vazia franzindo a testa como se achasse uma audácia a bebida ter acabado. Alec não tinha certeza se era a luz baixa, mas os olhos do anjo pareciam brilhantes demais. Ele pegou a garrafa da mão de Lynx e colocou em cima do balcão junto com a própria. Apoiados no bar, ele se aproximou de Lynx para tentar falar com ele por cima de barulho.

—Isso não vai te fazer mal? — Ele ergueu a voz. —A cerveja?

—Sei lá. — Nessa hora, Lynx tinha se inclinado para mais perto ainda e sua respiração quente fez cócegas na orelha sensível de Alec. Ele sentiu um tremor no estômago. —Eu não preciso comer e beber, mas pensando bem, ninguém nunca disse que eu não podia.

Alec não tinha certeza, mas a voz dele parecia ligeiramente arrastada. Sua preocupação se transformou em diversão e curiosidade a respeito das novas experiências do anjo.

—Você tá gostando daqui? E o que achou da cerveja?

—Achei os dois uma porcaria. — Lynx falou com muita sinceridade. —Mas a parte boa é que a música tá tão alta que posso conversar com você pertinho assim.

Realmente. Quando Alec parou para prestar atenção, ele estava praticamente espremido no canto do bar, Lynx estava tão perto que a ponta das botas dele batia nas de Alec.

—Você está invadindo meu espaço pessoal. — Disse Alec, embora não estivesse achando nem um pouco ruim.

—Estou? — Ele olhou para baixo medindo os meros milímetros entre eles, antes de voltar os olhos claros para os escuros de Alec. —Pra mim, não estou perto o suficiente ainda.

—Você está flertando comigo ou não tem noção do que está dizendo? — Ele perguntou a Lynx, encorajado pelo álcool e a penumbra. As luzes coloridas dançaram na expressão indecifrável de Lynx antes de os lábios dele se curvarem.

—Como assim? — Seu tom de inocência não convenceu Alec. Ele semicerrou os olhos para Lynx, as luzes coloridas faziam os olhos claros dele oscilarem entre vários tons, mas apesar da beleza indescritível, nada era visível naquele olhar enigmático.

Mas Alec teve certeza de uma coisa; o anjo não era tão bobo como tentava parecer as vezes.

—Deixa pra lá. — Alec riu e tomou mais um gole da própria cerveja. Lynx pegou a garrafa de sua mão e bebeu tudo de uma vez só. —O que você tá fazendo? Eu disse pra não se empolgar.

—Eu só quero me divertir um pouco, Alec. — Ele bateu a garrafa no balcão. A sugestão de diversão em sua expressão sendo substituída por melancolia. —Estou tão cansado.

Ao dizer isso, Lynx puxou ele mais para o meio do espaço. A música tocando agora era bem agitada e muitas pessoas batiam cabeça e se balançavam sem ritmo ao som dos instrumentos musicais. Alec ficou parado, ele era mais do tipo de ficar no canto balançando a cabeça discretamente no ritmo da música. Mas Lynx não parecia ser assim, ele começou a fazer uma cena incitando Alec a se juntar a ele. Balançando os cabelos claros coloridos pelas luzes piscando, ele até fez uma imitação como se estivesse tocando uma guitarra imaginaria e desafiou Alec a se juntar a ele erguendo as sobrancelhas.

Ele não se importava em parecer ridículo, até mesmo porque ninguém ali estava julgando, pois era o tipo de lugar que as pessoas iam justamente para extravasar e Alec sabia o quanto de tensão Lynx estava carregando. Setecentos anos para ser mais exato. Sete séculos de repreensão, regras e monotonia. Ele merecia uma folga.

E Alec também. Ele arrancou a jaqueta e largou em cima do balcão.

Ele parou de se importar. Deixou a timidez de lado e se juntou a Lynx, sem se importar com como ele parecia, com seus movimentos desordenados. Era apenas eles e a música, mais uma vez. Alec sempre achou que a música era capaz de conectar as pessoas, mas nunca achou que ele próprio experimentaria esse tipo de conexão com alguém. Não tinha a ver com sentimentos românticos, ele disse a si mesmo. Era só que ele sentia como se tudo fizesse sentido enquanto ouvia o rock e via Lynx sorrir na sua frente.

Em um de seus movimentos, Alec cambaleou um pouco para trás, ele não ia realmente cair, mas Lynx o segurou pela cintura como se fosse. Seu coração começou a palpitar, mas ele não se afastou, mesmo quando o rosto de Lynx ficou cada vez mais próximo e ele deixou apenas para ver até onde o anjo iria, desejando secretamente que ele fosse até o fim. Talvez fosse a cerveja, mas ele ansiava por isso. A mão em sua cintura apertava forte e o cheiro de Lynx invadiu seus sentidos deixando mais embriagado do que qualquer bebida o faria.

Porém, quando Alec sentiu o hálito dele em seu rosto, Lynx virou a cabeça abruptamente. Seu olhar se tornou afiado em uma fração de segundos ao olhar para a entrada. Enquanto isso, Alec ainda estava completamente atordoado. Lynx tinha mesmo quase beijado ele? Logo ele saiu desse estado de confusão, pois entendeu o olhar no rosto de Lynx assim que viu o que ele estava encarando com tanta raiva. Um grupo de pessoas estranhas tinham entrado e vasculhavam o local com olhos inumanos.

—Demônios. — Alec tinha certeza que eram isso, não sabia como, mas tinha.

—Estão usando feitiços de invisibilidade, só nós podemos vê-los. Devem ter vindo a mando dele. — Lynx sussurrou para Alec. Ele pegou em sua mão entrelaçando os dedos e instruiu: —Olhe pra baixo. Vem comigo. Se os capangas dele estão aqui, ele pode estar perto.

Alec soltou uma risada nervosa.

—Como se fosse possível você passar despercebido.

Os dois desviaram das pessoas enquanto seguiam para a saída. Alec imediatamente digitou uma mensagem para Rebeca dizendo que teriam que ir embora mais cedo. Contudo, quando chegaram alguns metros da porta, havia um cara suspeito parado bem na entrada. Lynx puxou ele para dentro do banheiro, que era todo preto e tinha três cabines de frente para o espelho.

—Quão ferrados estamos? — Alec se apoiou na pia vendo o próprio reflexo desgrenhado no espelho rachado. Ele não se incomodou em ajeitar os cabelos bagunçados.

—Muito, eu acho. — Lynx com as mãos na cintura parecia relativamente calmo, ele olhou para cima. —Acha que consegue passar por aquela janela?

Alec se virou para olhar para a janela estreita no alto do banheiro.

—Óbvio que não! — A frase saiu com mais rispidez que o necessário , mas era só porque Alec não estava tão calmo assim quanto tentava se sentir. —Não pode chamar seus amigos de novo?

—Estou tentando, mas não estou conseguindo resposta nenhuma de Castiel, isso é estranho. — Lynx franziu o rosto. —Mas também queria evitar uma luta se possível, só chamaria mais atenção.

Alec começou a andar de um lado para o outro, até que um barulho na porta fez ele pular. Os dois entraram aos tropeços para dentro de uma das cabines e fecharam a porta. Alec teve um deja vu. Os dois de novo em um lugar apertado se escondendo de malfeitores. Passos vagarosos soavam do outro lado da porta de madeira fina, os pés se arrastando pelo chão molhado e pegajoso.

—Vou tentar uma coisa... — Disse Lynx com incerteza. Ele ergueu a mão cobrindo o rosto de Alec, então uma luz fraca e rápida acendeu sua visão morrendo logo em seguida. Lynx abaixou a mão e reprimiu uma tosse.

—Por que você fez isso?! — Alec disse um pouco alto demais. —A gente podia pensar em outra coisa, não precisava ter usado seus poderes! Você vai acabar morrendo assim!

Alec sabia que ele tinha engolido o sangue para não alarmá-lo, mas não resolveu nada. Ele ficou mais irritado ainda porque Lynx começou a sorrir.

—É tão bonitinho quando você se preocupa comigo.

—Você é um idiota! O que você fez, afinal?

—Foi um feitiço simples, não vou morrer por causa disso. Relaxa.

Depois de um momento, a aparência de Lynx começou a se transformar, seus cabelos longos ficaram curtos e escuros, os olhos escureceram também. Ele tossiu de novo. Alec arregalou os olhos e então percebeu que a própria aparência devia ter mudado também.

—Eles vão cair nessa? — Perguntou baixinho a Lynx.

Os passos pararam, a pessoa no banheiro agora estava de frente para a cabine deles.

—O líder não cairia, mas esses ai são muito burros, não saberiam diferenciar um elefante de um tigre.

Eles sussurravam na cabine apertada. De repente a porta tremeu quando a pessoa do lado de fora forçou a tranca que já estava quase quebrada.

—Eu sei que eu prometi não pedir mais desculpas, — Lynx falou rapidamente. — mas eu definitivamente preciso me desculpar por isso.

No instante seguinte ele agarrou Alec. Uma de suas mãos se embrenharam nos cabelos dele e a outra voou para sua cintura por baixo da camisa, levantando a peça até a metade de sua barriga. Lynx pressionou o próprio corpo contra o de Alec, mas no momento em que seus rostos se aproximaram ele parou. Mesmo com outra aparência, Lynx causava nele o mesmo efeito de antes. Alec estremeceu com o toque da mão dele em sua pele nua. Ele estava tão perto que Alec podia contar seus cílios se quisesse. Lynx lambeu os lábios, e Alec engoliu em seco sentindo uma vontade imensa de sair correndo.

No entanto, ele lutou contra a sensação e entendeu o que Lynx estava fazendo, era apenas uma encenação. O anjo tinha mudado suas aparências e agora ele estava fazendo parecer que eram só um casal aleatório se pegando no banheiro. Mas Alec sentia como se ele fosse se inclinar e beijá-lo a qualquer momento. Antes que pudesse processar a totalidade do que estava sentindo a porta rompeu.

Um cara alto e musculoso com a cabeça raspada surgiu encarando eles.

—Que porra você tá fazendo cara? — Perguntou Lynx, como se eles fossem apenas um casal sendo pegos no flagra e não o alvo daqueles demônios. Mas sua raiva não era encenação .

O demônio olhou eles de cima em baixo.

—Nojento. — Disse a criatura que vestia um rosto humano.

Alec rangeu os dentes. Não era a primeira vez que era chamado de nojento apenas por ser quem era. Se a situação fosse outra ele afundaria a cara desse desgraçado dentro da privada. No entanto, não podia estragar o disfarce deles então apenas ficou ali fervendo agora de raiva. Seu desejo pelo homem que ainda agarrava sua cintura com as mãos quentes, totalmente sobrepujado pela raiva da situação como um todo.

O demônio cuspiu no chão e saiu batendo a porta do banheiro. Lynx imediatamente tirou as mãos de Alec e se afastou até bater as costas do outro lado da cabine.

—Desculpa, eu...

—Tudo bem. — Alec fez um gesto com a mão descartando as desculpas e virou o rosto para esconder a expressão.

—O feitiço deve durar mais algum tempo, vamos esperar aqui e depois saímos.

—Ok. — Alec disse roboticamente não confiando muito em si mesmo no momento para dizer qualquer outra coisa.

Tinha sido fácil demais, pelo menos foi o que Alec pensou. Até Lynx sair de dentro da cabine e ser atacado por um vulto preto. O demônio saiu da cabine ao lado e atacou Lynx por traz, ambos cambalearam e bateram na pia. O cara tinha uma faca preta na garganta de Lynx.

—Vi vocês entrarem aqui antes de mudarem de rosto, meu amigo é meio burro, mas eu não. — Disse a coisa. Era o demônio que estava na porta de entrada antes.

—Se você não fosse burro saberia que é uma péssima ideia atacar alguém por trás.

Lynx deu uma cabeçada no rosto do demônio e a coisa o soltou caindo no chão. Apesar de já estar desmaiado, Lynx começou a bater nele, dando vários chutes em seu rosto até ele estar completamente desfigurado e sua bota encharcada de sangue. Por alguns instantes, o único som no ar foi o barulho de ossos faciais se partindo e o ruído insuportavelmente pegajoso de sangue e carne sendo esmagados. Alec observou o surto repentino de raiva sem se surpreender. Era obvio que alguém como Lynx reprimia muita raiva, ele fazia um ótimo trabalho inclusive, mas todos tinham um limite. Aquele rompante de violência não assustou Alec, preocupantemente, ele achou até meio sexy.

—Já acabou, Lynx? — Ele perguntou calmamente.

—Sim. — Lynx respirou fundo, mas deu um último chute violento no demônio. —Me sinto um pouco melhor agora.

—Então acho melhor sairmos antes que mais deles entrem aqui. A menos que você esteja afim de dar uma harmonização facial em todos eles.

Ele segurou o riso na última parte, mas Lynx riu alto.

—Seria relaxante, estou precisando aliviar um pouco a tensão.

Alec abriu a boca para fazer uma piada suja sobre aliviar a tensão, mas considerando todas as vezes que eles se agarraram essa noite, achou melhor ficar quieto.

Eles saíram do banheiro atentos aos arredores. A porta estava livre agora, mas muitos demônios ainda estavam por ali procurando por eles. Alec procurou em volta rapidamente por Rebeca e Cadu, franzindo o rosto preocupado quando não avistou nenhum dos dois. Ele e Lynx vestiam outros rostos, então conseguiram passar facilmente pela porta e pelos portões do bar. Porém, o feitiço se desfez assim que eles pisaram na calçada, então os dois apertaram o passo até começarem a correr, sem saber se estavam sendo seguidos ou não. Eles só pararam quando estavam bem longe, em uma rua deserta.

—Sabe... — Alec estava ofegante por causa da corrida. —Eu não seria contra ir voando pra casa nesse momento. Não tenho cabeça pra lidar com pessoas agora.

Se a situação fosse outra, Lynx provavelmente teria falado alguma gracinha, eles teriam rido. Mas não era o momento, Alec só queria mesmo ir para casa. Ele esperava ter uma noite divertida, e estava sendo, até essa bizarrice de céu e inferno vir e estragar tudo. Lynx não disse nada, apenas o pegou no colo com tanto cuidado que Alec sentiu um nó na garganta.

Ele não fechou os olhos durante o voo. Estava esgotado demais para se importar com a altura, a náusea, ou se iria despencar lá de cima e morrer. Não se importava nem mesmo se os vizinhos estariam vendo quando ele e Lynx pousaram na entrada do prédio e subiram para o apartamento. Tudo que Alec queria era tirar os sapatos e tomar um remédio para dormir.

Mas, ao que parecia, as surpresas do dia não haviam acabado, e Alec teve a sensação de deja vu pela segunda vez na noite quando abriram a porta do apartamento e Lynx ficou alerta.

Pois novamente, havia um homem parado perto da janela.

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