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Capítulo 1 - Karma

Dois Meses Antes

A chuva batendo violentamente na janela o despertou pela centésima vez naquela noite.

Dormir tinha se tornado um suplício nos últimos tempos, e aquelas noites de tempestades não ajudavam nem um pouco. Alec encarou o teto no escuro, se sentindo incomodado por estar com tantas cobertas, mas, ao mesmo tempo, com preguiça demais para se mexer e tirá-las. Principalmente porque apesar do suor cobrindo a testa, ele estava com frio e para combinar com as paredes finas, o vento conseguia escapar através dos vãos na janela dando a ele um combo exclusivo de sua própria versão do inferno.

Dito isso, não era preciso ressaltar que Alec odiava o inverno. Além do frio desconfortável, era uma estação que sempre o deixava com uma sensação ruim de mau presságio. Ele não era uma pessoa naturalmente mau humorada ou pessimista, mas essa estação do ano em particular o fazia se sentir como um senhor rabugento de vinte e cinco anos. Ele mal podia esperar para ter de volta os dias claros e ensolarados, sentir o calor na pele e não ter que colocar trocentas camadas de roupa para se sentir minimamente aquecido. O frio também o lembrava de uma época sem preocupações, em que tudo que ele tinha que fazer era ficar em baixo das cobertas esperando sua mãe trazer chocolate quente e biscoitos. Era uma boa lembrança, mas as vezes lembranças boas eram dolorosas porque eram um lembrete de algo que não pertencia mais a você.

Ele bufou alto e empurrou as cobertas com raiva. Aquela altura, o sono já tinha escapado completamente de seu alcance. Seu pequeno quarto, composto por uma cama box, um guarda-roupa e uma mesa, estava mergulhado em completa escuridão e sua primeira palavra do dia foi um palavrão, ao bater o dedo na quina da mesa de seu computador. Ele tateou o móvel em busca do celular, e quando acendeu a tela um brilho fraco azulado iluminou seu rosto pálido e sonolento. O horário no celular marcava cinco e meia da madrugada, logo teria que levantar para ir ao trabalho de qualquer forma. Decidiu então tomar um banho bem demorado, fazer o café da manhã com calma para depois encarar o frio lá fora. Depois do banho fervente e uma boa dose de café, se sentiu revigorado e pronto para mais um dia. Apesar da sensação de sufocamento causada por estar vestindo moletom com capuz em baixo de uma jaqueta pesada — e mais uma blusa fina por baixo disso — ele decidiu que não deixaria esse frio idiota estragar seu humor.

Infelizmente, outra coisa acabou estragando.

Assim que abriu a porta do apartamento viu um vulto familiar e parou com a mão na maçaneta, cujo vulto sumiu na dobra do corredor. Alec lentamente fechou a porta e olhou ao redor. As portas de seus vizinhos estavam todas fechadas, o silêncio era quase uma presença viva no ar, e nem sinal de que havia alguém sequer acordado aquela hora.

Ai estava. A chuva e o frio não eram as únicas coisas que acordavam Alec durante a noite.

Fazia alguns meses que ele estava sendo perseguido e a pessoa estava ficando cada vez mais ousada, a ponto de se esgueirar pelo prédio onde ele morava. Não havia porteiro ali e o portão de entrada estava quebrado facilitando o acesso de qualquer um que passasse na rua. Alec morava em um bairro decrépito em um conjunto de prédios decadentes construídos pela prefeitura. Um contraste gritante com sua antiga vida, embora ele se sentisse muito melhor ali do que na casa luxuosa em que nasceu. Se você ignorasse os problemas com umidade, vizinhos fofoqueiros e a falta de segurança, não era tão ruim quanto parecia. Era silencioso, solitário do jeito que ele gostava, e apesar da infestação de insetos no verão, ainda era muito melhor do que a pressão e o julgamento constante da elite conservadora de onde ele veio.

O jovem seguiu silenciosamente pelo corredor ouvindo atentamente, e quando o som de passos chegou até os seus ouvidos ele acelerou o passo e desceu as escadas pulando degraus, na esperança de alcançar o perseguidor, mas quando chegou na rua lá embaixo não havia ninguém nos arredores além de uma de suas vizinhas tirando as folhas molhadas do meio da calçada com uma vassoura. Tinha parado de chover um pouco, mas os estragos da chuva estavam por toda parte, uma árvore parecia prestes a tombar em cima de um carro e o céu estava repleto de nuvens pesadas, seu tom cinzento anunciando mais chuva em breve.

Quanto a esse tal stalker, suas habilidades eram dignas de um óscar porque ele sempre sumia antes que Alec pudesse sequer pensar em discar o número da polícia.

—Bom dia. Me desculpa, mas... — Ele se aproximou da senhora enquanto olhava ao redor. —Você viu alguém sair do prédio agora pouco? Uma pessoa com capuz preto?

—Vi não, meu filho. — Respondeu ela franzindo a testa preocupada. —Será que é um bandido? Tá perigoso por aqui ultimamente, né?

Então ela começou um falatório detalhado sobre uma série de ataques acontecendo na cidade nos últimos meses, parecia que a maioria das pessoas estavam em coma, e as famílias estavam indignadas com a falta de segurança no bairro. Alec se sentiu meio culpado por ter parado de prestar atenção e ainda mais porque não conseguia lembrar o nome da senhora, mas não conseguiu evitar ficar imerso nas próprias preocupações. Pensando que ele nunca havia passado por nada remotamente parecido e estava um pouco assustado. Depois de muito custo conseguiu se livrar da senhora falante e correu para pegar o ônibus ou chegaria atrasado no serviço. Ele trabalhava em um cybercafé popular no centro da cidade, ponto de encontro de jovens nos fins de tarde. Quando começou seu serviço, percebeu que teria um pouco de dificuldade de focar em suas tarefas naquele dia, pois não conseguia parar de remoer o assunto, tanto que acabou deixando escapar para sua amiga e colega de trabalho, que ficou em pânico dizendo que ele já deveria ter ido atrás da polícia.

—E se ele estiver te esperando lá fora agora? — Falou ela encarando a porta, as mãos entrelaçadas próximas ao peito e uma expressão aflita em seu rosto de Barbie. Parecia até que era ela quem estava sendo perseguida. Sua reação não era muito reconfortante.

—Eu não estava preocupado com isso até você falar. — Alec estava largado em uma cadeira em uma das mesas. Ele observou a expressão dela e tentou acalmá-la. —Mas nem é nada demais sabe, talvez eu esteja imaginando.

—Será? — Rebeca ficou em dúvida. Ela olhou para ele. —É que parece que tem acontecido muita coisa ruim ultimamente, você não viu na TV? Todas aquelas pessoas em coma. Meu pai anda tão preocupado que quer ficar vindo me buscar no trabalho.

Alec raramente assistia ao noticiário.

—Eu não devia ter te contado. — Ele suspirou se sentindo culpado. Rebeca era facilmente influenciável, e ele não queria deixar ela assustada com algo que era relacionado e ele. —Agora você vai ficar mais paranoica que eu.

—Só estou preocupada, seu idiota. — Rebeca era cabeça de vento na maior parte do tempo, mas ela também era uma boa amiga.

—Não se preocupe, talvez seja um admirador secreto. — Alec mexeu as sobrancelhas rindo para amenizar a preocupação dela. Funcionou, Rebeca riu também.

—Você é a única pessoa que eu conheço que ficaria animado com a possibilidade de ter um stalker como admirador secreto. Esquisito.

Alec fez uma careta para ela. Isso não era verdade. Ele até curtia vilões, mas não era muito fã de Dark Romance. E mesmo que tivesse algum apelo na ficção, na vida real era outra coisa. Pelo menos, ele não achava que seria capaz se apaixonar por alguém potencialmente perigoso.

Idiotas talvez, psicopatas, não.

Ele ficou aliviado por Rebeca parecer mais tranquila, o que o tranquilizou também. Com a tela do celular apagada, ele a usava como espelho tentando ajeitar os cabelos escuros, levemente ondulados, que batiam uns dois dedos abaixo do maxilar. Tinha esquecido de arrumar depois do banho e eles estavam irritantemente rebeldes. Ajeitou instintivamente o piercing na sobrancelha e guardou o aparelho no bolso da calça. Alec não era excessivamente vaidoso, mas isso não significava que ele gostava de andar por ai como se tivesse acabado de bater cabeça em um show de rock.

O cybercafé estava completamente vazio. Não havia movimento naquele horário então ele e Rebeca aproveitavam que a gerente saia para almoçar e ficavam jogando conversa.

—Você realmente deveria ir até a polícia, Alec. — Rebeca disse de repente. A tentativa dele de fazer o assunto morrer não tinha funcionado então.

—E dizer o quê? — Ele respondeu impaciente, mas sua irritação não era direcionada a ela. —Então, estou sendo perseguido por um cara, mas ele é tipo um ninja que some no ar usando algum jutsu antes que eu possa ver o rosto dele direito. Eu não faço a menor ideia de quem seja, mas tenho certeza que vocês vão descobrir. Boa sorte!

—Desse jeito, mas com menos sarcasmo e sem a referência de anime.

—Como você sabe que é uma referência de anime? — Alec ergueu a sobrancelha. Ela ficou ligeiramente vermelha.

Rebeca era uma garota loira padrão que mal assistia a filmes que dirá animes. Alec se perguntava se ela tinha algum interesse além sair com um homem diferente a cada semana. Não que ela estivesse errada. Queria ele conseguir se envolver com tanta facilidade assim com alguém sem o risco de sair machucado depois. No entanto, ele era do tipo que raramente se interessava por alguém, mas quando acontecia, entrava de cabeça a ponto de parecer um doido obcecado. O que provavelmente não era muito bom. Tinha acontecido três vezes apenas. Sua primeira paixonite do ensino médio, que surpreendentemente foi correspondida, mas quando acabou ele sentiu que fosse morrer, dramático como qualquer adolescente. A segunda vez durou um ano, e foi um ano intenso de pura paixão onde ele realmente acreditava ter encontrado a pessoa certa. Até descobrir que seu namorado tinha mais uns cinco namorados. A terceira vez ainda era meio recente, porém acabou antes que começasse de fato. E talvez tenha sido melhor assim.

Quando a amiga não respondeu, ele pressionou se divertindo:

—Ein? Como você sabe que é uma referência de anime? Tá vendo Naruto no off, é Rebeca?

—Alec, não conta pra ninguém mas... — A menina parecia prestes a confessar que cometeu uma atrocidade. —Estou saindo com um otaku.

Alec soltou uma gargalhada, em seguida cobriu a boca vendo a expressão séria e irritada dela.

—Você não pode contar pra ninguém! Sério!

—Estava planejando fofocar sobre isso no meu Tiktok, mas já que você pediu segredo... — Alec suspirou fingindo decepção.

—Você tem Tiktok?

—Foi uma piada.

—Ah.

Eles se encararam por uns segundos e então começaram a rir. Alec gostava de ter Rebeca como amiga, o jeito dela sempre o divertia e o fazia esquecer as preocupações, como aconteceu nesse momento. Alec sempre teve poucos amigos devido sua personalidade introvertida, e depois que ele se afastou de sua família acabou perdendo contato com a maioria deles. De vez em quando alguém o convidava para fazer algo, mas ele sempre arrumava uma desculpa preferindo ficar sozinho. Mas era bom ter a companhia de pessoas como Rebeca de vez em quando. Ser introvertido não significa que você quer ficar isolado dentro de um quarto escuro pelo resto de sua vida sem nenhum contato humano — embora durante uma fase depressiva Alec tenha contemplado a ideia — apenas significa que você tem um limite para interações sociais. Com o passar do tempo, Alec aprendeu que são poucas as pessoas que entendem isso, e provavelmente esse é outro motivo pelo qual sua única amiga agora é uma garota sem noção que fala a primeira coisa que vem na cabeça.

—Mas o que você tem contra otakus, afinal? Eles também são gente, sabia? — Alec não se sentia ofendido pela forma que ela falou. Até mesmo porque ele próprio não era um otaku. Só gostava de animes, jogos e mangás... E talvez tivesse uma figure do Gojo de Jujutsu Kaisen em seu quarto, ou três, mas isso era outra coisa. Ele só achava meio fútil ela estar tão preocupada com isso.

—Eu não tenho nada contra, mas se minhas amigas souberem, vão ficar me zoando. — Ela explicou. —Além disso, ele não para de falar de animes e mangás. Eu nem sei o que é um mangá! Achei que ele tava falando da fruta.

Alec nem se preocupou em disfarçar a risada dessa vez.

—E desde quando eu tenho contato com as suas amigas? Nem conheço elas, tá doida?

—Ah é. — A expressão preocupada de Rebeca sumiu num flash. Era um mistério como a cabeça dessa menina funcionava as vezes.

Alec riu ainda mais e pensou que sentiria falta desses momentos quando saísse daquele emprego. Obviamente, ele não pretendia ficar ali para sempre. Ele não sabia como ainda mas precisava fazer sua vida andar na direção de seus sonhos.

Seu turno acabava mais cedo às sextas, então Alec resolveu caminhar um pouco para espairecer depois de passar na lotérica para pagar algumas contas. Felizmente, tinha parado de chover e era possível até ver uma claridade tímida do sol de fim de tarde no céu. Alec parou para comprar um refrigerante e caminhou pelas ruas da cidade tentando não pensar em nada, mas frequentemente olhava por sobre o ombro temendo que o seu stalker estivesse por perto. Talvez fosse paranoia mesmo. Acontecia, as pessoas enlouqueciam, e ele não estava isento da loucura só porque fazia terapia de vez em quando. Ele não se sentia louco, mas era o que todos a sua volta pareciam pensar mesmo, principalmente sua família. No entanto, o conceito de loucura era complexo demais para caber apenas dentro de uma categoria, e o que eles chamavam de loucura, Alec chamava de liberdade.

Enquanto pensava se precisava de uma camisa de força ou não, ele parou em frente a uma loja de instrumentos musicais e olhou para a entrada por um longo momento, mas antes que decidisse se entraria ou não, seu celular tocou.

—Alô. — Com o aparelho na orelha, ele desviou o olhar da loja. —O que você quer?

Ele sabia bem quem era do outro lado da linha. O número estava salvo como "Desgraçado" e havia apenas um que ele conhecia que se encaixava perfeitamente no xingamento. Parecia ter sido algum tipo de invocação, ele pensou nessa pessoa brevemente aquela tarde e então ele ligou. Um fantasma vindo direto de um passado recente para lhe assombrar.

Poxa, tanto tempo e é assim que você fala comigo... — Um suspiro dramático. —Não sentiu minha falta?

—De todas as coisas que sinto falta nessa vida, você não está na lista. — Alec respondeu sem emoção.

Você tem uma lista? Me manda por e-mail depois. — A voz no celular brincou.

—O que você quer, Nathan? — Alec mudou o aparelho de orelha e continuou andando, indo para o ponto de ônibus mais próximo.

Estou mesmo com saudades, queria te ver. — Disse a voz com sinceridade. —Onde você está?

Alec bufou. Nathan era seu amigo, apenas seu amigo. Pelo menos agora. Eles foram alguma coisa sem rótulo durante um tempo, até Nathan decidir que não eram mais nada. No entanto, por algum motivo ele não largava do pé de Alec. E quanto a ele, não conseguia guardar ressentimento de Nathan porque meio que entendia o motivo pelo qual ele acabou tudo antes que começasse, mesmo que tivesse machucado e a ferida ainda coçasse um pouco.

—Estou aqui no centro, e você? — Perguntou ao antigo amigo.

Estou perto, no mesmo bar de sempre.

Alec deu fim a ligação sem dizer nada e seguiu para o tal bar.

Já estava completamente escuro quando ele chegou no lugar, assim que entrou avistou Nathan sentado em um banco alto no balcão. Além dele e do bar tender não havia mais ninguém ali. O bar estava banhado por uma luz quente amarelada. O balcão de madeira polida ficava no lado direito do espaço, no centro haviam algumas mesas espalhadas e alguns sofás de cor vinho nos cantos, e mais para o fundo um pequeno palco se erguia, reservado para as noites de música ao vivo. Não era um lugar muito caro, mas tinha um toque meio pomposo. O tipo de lugar que universitários ricos iam para se gabar de serem sustentados pelos pais. Alec tinha frequentado bastante aquele bar no passado, mas olhando agora parecia não ter nada a ver com ele. Nathan combinava com aquele lugar. Ele parecia o mesmo de antes, e ainda assim, muito diferente de terno e o cabelo preto mais curto e bem arrumado. Como Alec provavelmente estaria se ele tivesse se curvado à vontade do pai e sido "normal" como a mãe queria.

Quando Nathan o viu abriu um sorriso e acenou para ele com o copo de bebida.

—Oi, Alec. — Nathan olhou ele de cima a baixo lentamente. Dava para notar que ele já estava meio bêbado. —Você está parecendo um mendigo.

—Estou mais confortável do que você nesse uniforme de executivo. — Alec retrucou sentando ao lado dele. —Se você arrumar um chapéu e um charuto vai parecer um cafetão.

Nathan riu e se voltou para a frente. Alec pediu uma cerveja e deu um gole, tentando ler os rótulos das bebidas nas prateleiras outro lado do balcão enquanto o silêncio se estendia entre eles. Ver o antigo quase namorado depois de um tempo, não causou a dor que ele esperava, apenas irritação e um pouco de nostalgia. Foi a personalidade despreocupada dele que atraiu Alec a princípio, até ele descobrir que não passava de fachada porque Nathan se importava muito com as coisas. Coisas que nem deveria se importar, como por exemplo, o que as pessoas pensavam. E quando Alec percebeu isso, as coisas começaram a desandar e então em vez de tentar resolver, Nathan o dispensou. Alec se sentiu tão bobo e patético na época porque costumava fazer tudo o que outro queria e segui-lo como um cachorrinho para no fim ser descartado como um vira-lata.

—Seu pai ainda acha que você vai voltar. — Nathan contou. —Que isso é só uma fase rebelde.

—Não sou um adolescente. — Alec revirou os olhos. —Aquele velho não muda mesmo viu.

Na visão de seu pai ele era um garoto mimado ainda, e nem o fato de que ele havia saido do luxo para morar em um bairro pobre e se sustentar com um salário mínimo parecia convencê-lo do contrário. Nathan tinha mais contato com o pai de Alec do que ele porque trabalhava em sua empresa, mais especificamente era filho de um dos sócios e foi assim que se conheceram quase três anos atrás. O que poucos sabiam era que Nathan era um filho bastardo que tinha aparecido em um momento oportuno. O velho dele não tinha herdeiros e precisava de um, Nathan podia ser fruto de uma traição, mas era a única solução. Então eles inventaram uma história absurda de que ele tinha sido criado fora por uma tia distante. Poucos sabiam a verdade, mas obviamente muitos desconfiavam que não passava de uma mentira.

—Eu sei que não... — Nathan terminou sua bebida com um gole. —Você mudou bastante.

—Deixa eu adivinhar, foi ele que te mandou até aqui? — Quis saber Alec, com ironia na voz.

—Ele achou que eu podia te convencer. — Nathan deu de ombros e sorriu. —Costumava funcionar.

—Sim, quando eu era idiota. — Alec não retribuiu o sorriso.

—Mas se você voltasse, poderíamos recomeçar também. — Disparou Nathan engolindo em seco. Os olhos azuis exibiam nervosismo. —Durante esse último ano... Pensei muito sobre nós.

Alec se virou no banco para encará-lo.

—Você não pode estar falando, sério. — Ele deu uma risada irônica. —Foi você que acabou tudo, lembra? Foi você quem disse que era impossível dar certo, que era errado, e agora do nada quer ficar comigo e enfrentar toda aquela gente?

Claro que recomeçar estava fora de questão. Mesmo que fosse sério, era meio tarde agora para recomeçar qualquer coisa. Isso era uma das coisas que Alec mais detestava nele, achar que podia ter tudo do jeito que queria quando quisesse.

—Não assim... não teríamos que enfrentar ninguém. — Disse Nathan e o rumo da conversa provocou um mau pressentimento em Alec com o que ele diria a seguir. —Ficaríamos juntos em segredo e...

A risada amarga de Alec cortou suas palavras.

—Até quando? Até um de nós, ou os dois sermos obrigados a nos casar pra manter as aparências, gerar herdeiros, e seguir as regras de uma família tradicional? E ai seria ótimo nossas esposas tomando café juntas enquanto a gente se pega no outro cômodo. Que piada.

—Você faz parecer horrível. — Nathan olhava envergonhado para o próprio copo vazio.

—Porque é. — Ele respondeu com firmeza. Sentia um misto de raiva, indignação e pena em relação ao outro diante daquela sugestão absurda. Alec soltou um suspiro e olhou para ele. —Nathan, sinceramente, eu entendo seu lado pois era uma coisa para qual você não estava pronto e eu não podia simplesmente exigir que você se assumisse pra todo mundo e arriscasse tudo que você tem ou me priorizasse. Eu entendo mesmo. Você pode estar acostumado a viver se escondendo e sendo o que as outras pessoas querem que você seja, mas eu não sou assim. Nunca mais vou viver assim.

Nathan sorriu, um sorriso triste, enquanto olhava o rosto de Alec como se quisesse marcar cada traço em sua memória. Alec não gostava de guardar mágoas das pessoas, e estava tentando ser compreensivo porque no fundo entendia ele, mas era difícil ter compreensão quando alguém sugeria tão casualmente que você simplesmente jogasse fora toda independência que conquistou para viver uma vida de mentiras por uma relação sem futuro.

—Imaginei que essa seria sua resposta. — Falou Nathan. Alec ficou um pouco surpreso por ele não insistir mais no assunto.

—Então por que perdeu seu tempo? Me chamou aqui só para isso? — O tom de Alec foi contido, mas seco.

—Não me culpe por ter esperanças. — Ele riu, mas Alec conhecia aquela risada. Era totalmente vazia de qualquer emoção. —Mas não foi só isso, eu realmente queria te ver de novo. Estou indo viajar, meu voo sai daqui algumas horas, vou ficar dois anos fora...

Nathan colocou algo em cima do balcão, eram duas passagens de avião. Alec não respondeu enquanto absorvia a informação. Nada. Ele não sentiu nada ao saber disso. Talvez um pouco de pena misturada com perplexidade por Nathan achar que ele aceitaria ir junto sabe se lá para onde. Para ser honesto consigo mesmo, o que ele mais sentia era alívio. No fundo ele sempre sentiu que também precisava dessa conclusão, por mais horrível que aquela conversa tenha sido. Ele se levantou deixando uma nota de dez reais no balcão pela cerveja.

—Espero que você entenda que nunca vai encontrar a felicidade se continuar se escondendo dela, Nathan. — Ele disse com sinceridade. —Não é fácil, mas imagino que viver assim também seja difícil. E por favor, não me ligue mais.

Ele passou pela porta do bar se sentindo tão mais leve que só reparou na garoa fria quando já estava bem longe. Se sentia um pouco mal por Nathan, mas a muito tempo ele tinha entendido que não cabia a ele deixar todo mundo satisfeito e feliz, Nathan teria que fazer isso sozinho e Alec esperava sinceramente que ele conseguisse. Aquela era uma página virada em sua vida por mais clichê que o pensamento fosse. Ele desejou a Nathan que ele encontrasse a felicidade e naquele momento Alec percebeu, com surpresa, que ele próprio era feliz. Ele não se sentia deprimido com sua vida ou arrependido de suas escolhas, mesmo que as vezes fosse difícil e ele sentisse que faltasse algumas coisas em alguns lugares.

Mas estava tudo bem. Independente do que fosse; seus sonhos ainda distantes ou algo que ele ainda não sabia o que era... Um dia ele chegaria lá.

Com tudo isso em mente, ele sentiu um sorriso se espalhando em seu rosto no caminho para casa. Porém, nem todo otimismo do mundo é capaz de anular o fato de que coisas boas as vezes não duram por muito tempo, pois logo seu estado de espírito tranquilo foi abalado por aquela presença sombria e familiar de novo. Alec sentiu um pouco de raiva, se não fosse por esse inverno idiota e o fato de que alguém podia estar perseguindo ele para fazer sabe se lá o quê, ele poderia ter ido para casa saltitando de alegria naquele dia.

As ruas estavam começando a ficar vazias conforme os comércios iam fechando. Alec não só sentia como também via com o canto do olho uma sombra seguindo-o, mas quando olhava completamente para trás, não havia ninguém. Mais uma vez tentou se convencer de que era paranoia. Não tinha outra explicação. Contudo, a sensação de pânico começou a crescer e a tensão também. Quando se deu conta, estava quase correndo pelas ruas, tropeçou em uma lixeira e sem perceber se enfiou em um beco. Ficar de costas para a entrada de um beco certamente era uma idiotice colossal, mas ele não teve tempo de pensar nisso diante da sensação sufocante de que alguém mau intencionado estava atrás dele. Enquanto tentava se acalmar, passos a suas costas fez com que ele congelasse completamente e a calma se perdeu entre seus pensamentos frenéticos.

O tipo de coragem que só pessoas a beira da morte costumam ter, brotou nele naquele instante. Alec não era o tipo de pessoa que desistia sem antes tentar todas as alternativas, se fosse morrer, não morreria sem lutar ou ao menos tentar escapar. Ele se virou para encarar o stalker e pela primeira vez conseguiu olhar a pessoa antes que ela sumisse num piscar de olhos. O perseguidor usava um moletom com capuz preto e seu rosto estava oculto por uma máscara bizarra com X no lugar dos olhos e a boca imitando um sorriso costurado. A única coisa visível era o cabelo loiro platinado escapando do capuz.

—Por que você está me seguindo? — Alec perguntou e sua voz soou mais firme do que ele esperava. —Até se for só uma brincadeira, tá passando dos limites, não acha?

Ele tinha a impressão de que o stalker estava sorrindo por trás da máscara. Um arrepio percorreu seu corpo.

—Cara, me responde! Isso não é engraçado!

A resposta veio em forma de um ataque físico. Com uma velocidade impressionante, ele avançou contra Alec pegando-o pelo pescoço, levantando-o como se não pesasse nada. O jovem sentiu seus pés saírem do chão e um barulho engasgado involuntariamente rasgou sua garganta. Era assustador, o cara nem parecia ser tão musculoso assim! Seu dedos longos apertavam o pescoço de Alec tornando cada vez mais difícil respirar.

—Ah, Alexander... Tsc. É realmente uma pena. — A voz abafada pela máscara estranha era distorcida e indistinguível. —Mas eu vou ter que te matar.

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