Capítulo 1
Ele parou o carro num estacionamento privado do outro lado da rua, já que o hotel não dispunha de um. Olhou no retrovisor para conferir sua aparência, sorriu para si mesmo. Agarrou a mala no banco do carona e desceu do veículo, deixando a chave com o manobrista.
Atravessou a avenida a passos largos e encaminhou-se para dentro do hotel. Ao passar pela portaria cumprimentou o guarda com um aceno de cabeça e um modesto sorriso. Aproximou-se do balcão e aguardou a recepcionista terminar o atendimento no qual já estava envolvida. Quando ela veio até ele e o saudou, com a face puída e sorridente ele disse:
— Boa tarde, sou Antero Cesar, tenho horário marcado com o diretor.
A moça pediu que esperasse enquanto confirmava com o diretor. Após um rápido telefonema ela volta até ele e lhe passa as coordenadas de como encontrar a sala do diretor, não ficava longe dali, precisava entrar no corredor a esquerda e caminhar até a porta com o letreiro "Diretoria". Assim ele o fez.
Bateu à porta vagarosamente, porém, com firmeza. Depois de aguardar alguns segundos a porta abriu-se e do outro lado revelou-se um senhor de meia-idade, calvo, os poucos cabelos que tinha aos lados do crânio eram grisalhos e finos. O homem era alto, magro, nariz pontudo e fino, olhos fundos com grandes bolsas escuras sob eles, o marrom de seu olhar misturava-se com amarelada coloração das lentes dos óculos que usava. Trajava um terno preto simples, uma camisa branca com os dois primeiros botões fora de suas respectivas casas.
— Bem-vindo Antero! — Verbalizou o diretor estendendo-lhe a mão em saudação. — Posso chamá-lo assim, não?
— É claro, é claro... — Antero segurou a mão do diretor com firmeza e balançou duas vezes. — A honra é toda minha.
Sem mais delongas o diretor o convidou para que entrasse, senta-se e relaxasse. Abriu sua adega particular e serviu duas doses de um fino uísque. Entregou um copo ao visitante e bebeu do outro. Sentou-se de frente para o estranho, pousou o copo num móvel de madeira ao lado da enorme poltrona almofadada e perguntou:
— O senhor quer escrever um livro sobre nosso hotel, é isso?
— Quase isso... — Antero sorveu de seu uísque. — Quero escrever um conto sobre o quarto 1810. — Notou a carranca imutável do diretor encarando-o. — É que faço parte de um grupo de escritores, e decidimos escrever uma coletânea, sabe? Fiquei com a parte de terror, sobrenatural, paranormal... essas coisas.
— E o senhor acredita que encontrará inspiração visitando o famoso quarto?
— Sim... Mas é mais que isso. — O diretor franziu o cenho e levou o copo de uísque à boca. Pigarreou e encarou Antero como se esperasse pelo término da frase. — Quero passar algumas noites no quarto.
— Está ciente de tudo a respeito desse quarto, senhor Antero?
— Sim, é claro... Assassinato insolúvel, pessoas dizem ouvir gritos vindo de lá, vultos, sons estranhos, algumas tentaram passar a noite lá e falharam, ou melhor, desistiram. Mas essas coisas não me assustam. Sabe, eu dormi num cemitério uma vez, em cima do túmulo do meu avô que tinha sido sepultado aquele mesmo dia e... — Percebeu a face discreta e desprovida de emoções de seu interlocutor. Pigarreou e por fim perguntou: — Pode alugar-me o quarto por algumas noites?
— É claro que sim. Mas terá de pagar adiantado e não há ressarcimento para esse quarto especificamente. Deve me entender.
— Perfeitamente — disse o escritor retirando do bolso um bolo de notas de cem, amarrado com um elástico e entregou ao homem.
— Então... — O diretor levantou-se com um fino sorriso na face e enfiou a mão no bolso do paletó, tirou uma chave presa a um cordão de couro e ordenou: — Acompanhe-me!
Pouco tempo depois eles estavam na frente do infame quarto 1810. O diretor entregou a chave para Antero, e este sem perder tempo enfiou-a na fechadura e girou com pressa. Virou a maçaneta lentamente e empurrou a porta para dentro. O interior parcialmente iluminado pelos raios do sol que atravessavam as janelas cobertas por cortinas vermelhas, revelava a mobília antiga e exatamente igual às fotos da época do assassinato. Antero adentrou ao aposento, caminhou até o centro da sala, parou embaixo do lustre e olhou para cima, averiguando o quão preso ao teto estava o objeto. Sorriu, fitou o sofá onde fora encontrada a arma. Abriu os braços para medir o espaço entre o local onde o corpo ficara pendurado e o sofá. Balançou a cabeça negativamente.
Notou que o diretor estava estático do lado de fora do quarto. Olhou ao seu redor, conferindo mentalmente cada objeto que vira nas fotografias, e descrições dos relatórios policiais, estava tudo ali.
— Não vai entrar? — Perguntou ao diretor.
— Não. O senhor já está acomodado. Espero que tenha uma boa estadia. Até breve! — Deixou o hóspede sozinho e rumou para o elevador.
Antero fechou a porta e caminhou até o quarto. Abriu as cortinas que cobriam a janela, ligou o ventilador para que o ar circulasse pelo ambiente e colocou a mala sobre a cama. Abriu o guarda-roupa e deleitou-se com o conteúdo; estava repleto de roupas femininas. Réplicas das roupas que a mulher morta possuía na ocasião. Achou um pouco macabro, mas era isso que o animava ainda mais.
Voltou até a sala e puxou as cortinas para os lados, libando assim a iluminação natural. Observou as travas pregadas por dentro. Haviam sido mantidas conforme a polícia achou, intocadas desde aquela época. Com as pontas dos dedos tocou suavemente os pregos e sentiu um arrepio extasiante percorrer sua espinha. Torceu o pescoço e dirigiu-se para a cozinha, pegou frios e iogurte na geladeira, fez uma sanduíche e comeu lentamente, saboreando cada mordida. Cada segundo naquele lugar era como uma nova descoberta de sentidos, sensações e emoções inexploradas. Valeria cada centavo.
Antero sentou-se no sofá aconchegante, abraçou uma almofada grande e macia, e relaxou por algum tempo. A viagem tinha sido longa, mais de vinte e quatro horas de estrada, mesmo com várias paradas, ele estava exausto. O calor mexera com sua pressão e o lanche o fê-lo suar como um doente febril, sem que percebesse, seus olhos cada vez mais irritados e pesados, cerraram e ele caiu um profundo sono.
Mesmo dormitando sentia as gotículas de suor brotarem em sua testa e escorrerem pelo rosto e empacarem no colarinho da camisa. Sentia o peito e as axilas umedecendo. Vez ou outra, movia os músculos da face de modo a espantar um pernilongo insistente. Ouvia vozes distantes passarem pelo corredor, saltos batendo contra o chão de porcelanato e até o ululante som do vento passando por ínfimas frestas das janelas.
O celular no bolso das calças vibrou despertando-o bruscamente. Antero pegou o aparelho e viu uma mensagem do grupo de amigos. "Foi bom te conhecer kkkk". Babacas. Guardou o aparelho e arrumou o sofá tal como o encontrara. Conferiu o horário e constatou que ainda podia jantar, havia anoitecido rápido, mas ainda não passava das oito, por sorte tinha bastante tempo. Tinha opção de pedir a comida no quarto ou descer para o salão e socializar um pouco. Optou pela segunda.
Durante o jantar conheceu um casal holandês que viera ao hotel justamente conhecer mais sobre a história, pois, eram escritores de romances policiais e este caso os intrigara há anos. Conversaram bastante, mas o casal confessou não ter coragem de passar a noite naquele quarto.
Antero esbarrou com um aposentado investigador, que trabalhou no caso na época do assassinato. Depois de muita relutância o homem aceitou falar sobre isso com o escritor, nada de tão significante foi dito, apenas o que ele já sabia; revistaram cada centímetro quadrado daqueles aposentos, e não encontraram pista alguma. De algum modo o assassino fugiu sem deixar rastros ou possibilidade de solução para esse caso.
O homem estava empolgado e depois de duas doses de vinho, engraçou-se para cima de uma garçonete, mas recebeu um belo "chega pra lá" e desistiu da ideia. Após fartar-se e sentir-se um pouco zonzo por falta de costume de ingerir bebidas alcoólicas, decidiu que era hora de se retirar, então, voltou aos seus aposentos.
Assim que entrou, tirou os sapatos e os empurrou com os pés para o lado da porta. Tirou o celular e atirou-o no sofá. Caminhou em direção ao banheiro enquanto tirava a roupa no trajeto. Após o banho, jogou-se na cama e rapidamente rendeu-se ao sono.
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Olá pessoes!
Bem-vindes de volta!
E aí, estão gostando da história? Quais foram suas impressões sobre esse início heim?
Bem, vamos adiante que tem coisa pra caramba pra rolar.
Beijitos!
xoxo
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