Capítulo 8
_ O que fizeram com ela? - perguntou novamente.
Cristiano deu um passo para o lado, desviando de Giuliana, evitando os olhos interrogadores dela
— Algo grave. É tudo o que tenho pra dizer - respondeu sem ao menos virar-se para ela.
Giuliana se viu forçada a correr até ele e se pôr , outra vez, à sua frente
— Grave como? Eu mereço respostas!
Cristiano segurou nos ombros de Giuliana com firmeza, mas sem machucá-la, e a olhou nos olhos
— As únicas respostas que eu te devo dizem respeito a sua vida e nada mais. Estas, no entanto, são sobre mim, meu passado e com quem me importo.
Giu ficou boquiaberta com a frieza com que Cristiano a respondeu. Ele recompôs sua postura e seguiu andando até o chalé, deixando Giu para trás.
— Pode até ser sobre seu passado , mas quem foi mesmo que me meteu nisso? - disse para não sair por baixo.
Cristiano balançou a cabeça, como que incrédulo. Virou-se para Giuliana com calma, tentando não perder a razão.
— Você. Você quem se meteu nisso, lembra?
— Porque você ficou brincando de stalker comigo
_ Não brinquei de stalker, eu estava fazendo uma investigação pessoal. - sua voz agora estava levemente alterada - E assim teria continuado, independente da sua interferência. Talvez, eu até estaria fazendo progressos melhores se estivesse trabalhando sozinho. E digo mais, Giuliana - ele se aproximou, caminhando devagar - Ainda que sua presença, até agora, tenha seu valor, bem como a minha deve ter para você, eu não te cobrei satisfações ou explicações sobre sua vida, cobrei?
Giu teve de engolir seu orgulho pois Cristiano estava certo. Não houve da parte dele nenhum desinteresse ou indiferença em tudo a que se propôs a ajudar. Fala acusatória e julgadora, tampouco. Giu sempre esteve à parte do que devia estar sabendo. Ela percebeu que estava sendo apenas uma curiosa incontrolável.
— Desculpa. Não farei de novo - disse ainda constrangida com o próprio comportamento
— Suponho que sim... - deu as costas para ela - Vamos descansar...Amanhã você tem de encontrar com Túlio. Te ajudo a se preparar, se quiser.
Giu nem teve tempo de responder pois Cristiano já tinha acelerado o passo e aumentado a distância entre eles.
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Ao chegar em casa, Túlio se depara com Samanta cozinhando. Ele lhe dá um beijo no rosto e avisa que vai descansar um pouco antes do expediente da noite.
— Sem problemas, querido. Quando acordar, coma alguma coisa antes de ir.
— Pode deixar, amor...
Até o caminho do quarto, foi largando suas coisas no chão: blusa, tênis, carteira. Tudo o que ele queria era dormir.
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Os dois entraram no chalé em silêncio. Giu seguiu para o quarto e Cristiano, permaneceu na sala para trabalhar.
Já deitada, Giuliana vê a notificação de Túlio, confirmando um novo encontro, com hora e localização. Para não ter de encarar Cristiano, ela repassa a informação e bloqueia o celular.
Sozinha, Giu não conseguia parar de pensar na situação com Túlio, na reação de Cristiano e nem sobre a tal Clarice, por quem tem de se passar até o fim da viagem. E pra completar a lista de problemas, ainda não havia avançado nas pistas do seu passado.
Com as mãos, tateou ao redor de si procurando pelo caderninho e acabou o encontrando atrás da cama. Depois, encarou aquela maldita sequência
BJUJPX
WFZYFCDV
TWLPAAV
A frustração que tomava conta dela era insuportável. Queria desabafar com alguém mas quem a entenderia? Pensou em Mariana porém acabou desistindo de entrar em contato. Já tinha sido inconveniente o suficiente por um dia. Cansada, virou-se de lado e decidiu dormir pois amanhã seria um dia pior do que este.
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Quando se levantou, Túlio não encontrou Samanta. Preocupado, discou o número dela que só caia na caixa postal. Vasculhou pela pequena casa algo que o ajudasse a entender o porquê dela ter partido sem mais nem menos.
Voltou para o quarto e reparou que o lado dela do guarda-roupa estava bagunçado e aberto. Grudado no espelho do móvel, um simples bilhete:
"Vi a mensagem no seu celular. Desculpe, não posso suportar a ideia de ser traída novamente. Quando decidir o que quer, me procure antes de eu ir embora
Sam."
Lamentando seu descuido com o celular, Túlio se culpou pelo mal entendido. Amanhã, sem falta, procuraria por Sam e explicaria tudo. Mas agora, ele precisava garantir seu sustento.
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Cristiano ficou tanto tempo ocupado que não percebeu o dia amanhecer. Assustado com a luz do dia que começava a clarear a área da sala de estar, se levantou para tomar uma xícara de café extra forte. Enquanto o café ficava pronto, decidiu passar no quarto de Giuliana. Abriu a porta com cuidado, entrou no cômodo e se aproximou de onde ela dormia.
Ele então contemplou o semblante sereno de Giu e riu ao ver algumas marcas no rosto por ela ter dormido em cima de objetos que não havia tirado do colchão. Entre eles, o caderno com as sequências de letras que ela tanto falava por mensagem. Ele pegou e o guardou no bolso.
Observando-a, Cristiano achou engraçado como ela parecia muito mais jovem do que realmente era. Quase uma adolescente. E, se analisasse bem, Giu, recém saída dessa fase, ainda tinha resquícios da espontaneidade e atrevimento da adolescência.
Giuliana se moveu, recolhendo as mãos para baixo do travesseiro e encolhendo as pernas. Cristiano reparou que ela não estava confortável. Ele se levantou, pegou uma das mantas do hotel e a cobriu com delicadeza. Após averiguar se ela não estava passando mal, saiu do quarto, apagou a luz e retornou ao seu trabalho.
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— Giu? - ela ouviu uma voz grave dizer baixinho - Vamos acordar?
Desgostosa, ela esticou o corpo para se espreguiçar e soltou um pequeno gritinho ao bocejar, para espantar a sonolência, que , claro, não passou. Virou-se de bruços e cobriu o rosto com a mão por conta da claridade.
— Ainda não está pronta pra levantar, imagino - continuou a pessoa dona da voz. Sentiu uma mão quente tocar o meio das suas costas e a afagar. Giu sentiu um arrepio com aquele toque agradável. A pessoa continuava falando com ela, mas Giu só queria ficar uns minutos a mais na cama para dar tempo da cabeça despertar de verdade.
— Já levanto... - resmungou baixinho. - Cinco minutinhos... - Abriu minimamente os olhos e viu de quem se tratava a pessoa que a havia acordado: Cristiano. A surpresa de vê-lo ali fez com que ela se sentasse num sobressalto e cobrisse mais ainda o corpo. Também estranhou estar coberta já que não se lembrava de ter pego aquilo antes de adormecer.
Desorientada e de mau humor matinal, Giu lançou um olhar questionador para Cristiano, que pareceu ignorar o estado de espírito dela pois mantinha na face um sorriso simpático.
— Apronte-se e tome café comigo. Tenho algo que possa te interessar. - deu dois tapinhas nas pernas delas.
Giuliana se ergueu da cama cambaleando. Vestiu a primeira muda de roupas que achou ao tatear o guarda-roupa. Depois de escovar os dentes e lavar o rosto, prendeu o cabelo e seguiu para a cozinha. Ao chegar, encontra uma mesa farta sendo posta por ele.
— De onde veio isso tudo? - ela se sentou e pegou uma fatia de pão integral
— Pedi que trouxessem o café da manhã aqui hoje, já que vamos tratar de assuntos particulares... - ele se serviu de uma boa dose de café - Não queria estar num ambiente cheio demais.
— Hmm... Sei...
— Café?
— Não...Vai me dar azia ... - e petiscou o prato de frios a sua frente, escolhendo uma fatia de presunto - O que tem pra mim?
Cristiano tirou do bolso um pequeno papel e o colocou na frente de Giuliana.
— Tá, as malditas letras... O que tem demais?
— Você realmente demora a acordar né? - ele riu - Olha de novo
Giuliana resmungou algo inaudível para Cristiano mas o obedeceu. Quando ela realmente leu com atenção, seu rosto se iluminou de alegria!
— Você descobriu! - havia uma euforia atípica na voz dela - Como?
— Assim como o primeiro enigma, esse era muito simples. E, sabendo que esse código necessitava de um número para decodificar, eu só precisei encontrá-lo.. Demorou, óbvio, mas me lembrei disso - e então mostrou a foto de Giu pequenina, onde havia uma cidade e data escritas atrás. - Juntando a data com as letras....
Cristiano pegou um guardanapo e reescreveu o que tinha feito.
B J U J P X
1 8 9 1 9 9
W F Z Y F C D V
7 1 8 9 1 9 9 7
T W L P A A V
1 8 9 1 9 9 7
— Depois, basta contar o número de letras indicadas abaixo da letra para chegar na original, sempre indo pra trás. Então, B vem após o A, letra original da primeira palavra. Foi assim que cheguei nesse nome...
— Abrigo Perpétuo Socorro - completou Giu - Mas eu não morei lá! Não que eu lembre... Acha possível que eu tenha sido transferida pra Brasília?
— É provável... Mas nos seus registros, não consta transferência alguma de instituição, ainda mais de Minas Gerais.
Giu se calou, tentando processar as novidades.
— Não ficou feliz?
— Bem... Um pouco né? Mas significa que tem mais pra vasculhar - ela apoiou o braço na mesa e o rosto na mão - Queria que fosse mais simples...
— Nada vem fácil e você vai ter que aceitar isso. Mas vamos terminar de comer e descansar mais um pouco antes de ir almoçar com o Túlio mais tarde.
— Você vai comigo?
Cristiano terminou de beber o café antes de responder
— Sim e não. Pagarei um Uber pra que você chegue lá e estarei por perto caso precise de mim.
— Tá bem...
Giuliana pegou uma maçã, cortou uma fatia com a faca e comeu.
— Por que decifrou a mensagem?
— Eu te devia isso, eu acho... - disse sem fazer contato visual, mexendo no celular - E estava cansado de ver sua frustração por conta dela.
— Ah... - Giu exclamou. - Não tá com raiva de mim?
Cristiano ergueu os olhos e, com o tom mais compreensivo que conseguiu imprimir na sua voz, respondeu à ela
— Águas passadas...Você é curiosa, era natural que me perguntaria sobre Clarice assim que se visse passando por ela. Mas, agora que o limite já foi estabelecido, está tudo bem.
Giuliana concordou com a cabeça. Era uma alívio saber que a tensão de ontem estava contida. Ele até tinha ido ao seu quarto para cuidar dela. Terminou de comer, deixou Cristiano no mundo dele e procurou se ocupar com outra coisa até seu encontro.
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Giuliana estava uma pilha de nervos enquanto esperava pelo rapaz. E saber que escondia com ela uma escuta, não ajudava muito na hora de esconder sua ansiedade. E se ele percebesse a farsa?
A cada dois minutos, ela conferia o celular na esperança de receber mensagens de Túlio, mas só havia notificações de Cristiano, informando que estava por perto e a monitorando. Vez ou outra, perguntando sobre Túlio. Giu não sabia se ele estava tão ansioso quanto ela por preocupação ou por curiosidade do que aquela conversa poderia trazer sobre Clarice, o assunto de seu interesse. Para se acalmar, já que os atendentes olhavam desconfiados para ela, Giuliana pediu um suco de maracujá.
Com trinta minutos de atraso, Túlio entrou no estabelecimento. Ele parecia agitado, o rosto abatido. Giuliana deduziu que ele teve uma péssima noite. A jovem ergueu a mão para que ele a identificasse. Quando a viu, Túlio foi em sua direção e se sentou de frente pra ela.
— Desculpa o atraso, o trabalho... Sabe como é...
- É verdade...
— Com fome? Eu tô morrendo! - e gesticulou para a atendente, que se aproximou e anotou o pedido de ambos. Algum tempo depois, os dois foram servidos e começaram a comer.
O silêncio era constrangedor, quase sufocante. E, para completar, Giu podia ouvir Cristiano falar com ela, insistindo para que ela quebrasse o gelo. Mas não foi preciso, pois Túlio o fez
— O que te trouxe a cidade, Clair?
— Ah... Você sabe... - Cristiano interviu, dando instruções sobre a resposta - Queria tirar satisfações sobre algumas coisas que aconteceram... Especialmente na última vez que estive aqui. E pensei em começar por você.
Túlio engasgou quando Giuliana disse tais palavras e ele precisou beber uma boa dose de água pra comida descer. Após se recompor, conseguiu responder
— E que tipo de satisfação pretende tirar comigo?
— Ora, Túlio... Não se faça de coitado. Você sabe muito bem... - disse Giu jogando verde.
— Isso foi a muito tempo... - respondeu ele em voz baixa - As coisas não eram pra terminar como terminaram, ok?
Giuliana notou que Túlio parecia transtornado. Ele tremia inteiro, a pele pálida e os olhos se movendo freneticamente. Querendo arriscar, o pressionou mais ainda.
— Eu quero justiça. E você vai me ajudar a conseguir isso, me confessando o que fez ou me dando provas que me ajudem.
Se antes Túlio já estava apavorado, agora, ele estava a beira de um surto. O jovem levou as mãos a cabeça, murmurando coisas inaudíveis a si mesmo.
— Anda, Túlio - insistiu Giu - Você sabe que eu mereço isso!
O rapaz encarou Giuliana, os olhos estavam marejados.
— Eu te levo até lá... Mas tem de me prometer que não vai ferrar mais ainda com a minha vida
— Bem, isso vai depender da qualidade da sua informação.
Giuliana deixou o dinheiro sobre a mesa, junto com a gorjeta, e saiu na companhia de Túlio para algum lugar, subindo em sua moto.
Túlio dirigiu por cerca de uma hora e meia. Estava tão aflito que não notou o carro que o seguia durante o trajeto. Ele estacionou em frente a uma porteira de uma chácara e ajudou Giuliana a descer da garupa.
— Me acompanha, é por ali... - apontou para uma estradinha de terra.
Apesar da aparente calma, Giuliana começava a temer por sua vida. Não fazia tanto tempo assim desde o ataque que sofreu em uma casa abandonada. E lá estava ela, na companhia de um estranho, em um local deserto, pra entrar sabe Deus onde. Rapidamente, perguntou por Cristiano na escuta. Ficou aliviada quando ouviu sua voz dizendo que estava perto o suficiente para socorre-la. Olhou para o celular e, ver que tinha sinal e bateria, aumentou sua confiança.
Túlio foi andando na frente. Após uma descida de dez minutos, Giuliana viu que o trajeto terminava em um celeiro. Ele se aproximou da porta, mexeu no trinco e o abriu.
A porta rangeu, fazendo um barulho assustador. Havia feno por todo lado, fora a sujeira acumulada com o tempo. Giu ficou impressionada do lugar manter o cheiro dos animais mesmo não sendo mais utilizada.
— Pode entrar... Fica à vontade!
A familiaridade daquelas palavras fizeram o corpo de Giuliana se arrepiar por inteiro. Seguindo seus instintos, deixou que eles a guiassem pelo local. Quando percebeu, estava diante do último estábulo. Olhou para o chão e viu manchas de sangue.
— Foi aqui Clair... Foi aqui que eu... Bem...
O coração de Giuliana batia forte, a ponto dela mesma achar que infartaria.
— Eu era apaixonado por você... E você vivia me provocando, mexendo com meus sentimentos... E aí tudo mudou porque no fim, era dele de quem você gostava. Eu quis te ensinar uma lição
Giuliana ouviu Túlio se aproximar a suas costas enquanto dava seu relato.
— Eu sinto muito... - e tocou nas costas de Giu.
Sem entender, flashes, como os de quando conversou com Túlio pela primeira vez, tomaram conta da mente de Giuliana. Porém, o que via não era nada agradável.
Uma moça caída no chão, a testa sangrando. Ela tinha a roupa rasgada e o corpo nu, exposto por uma mão que acabava de puxar o sutiã dela. Com um chute, o rapaz a derrubou no chão e logo subiu sobre ela. O flash mudou e, agora, Giuliana estava na posição da moça. Sentia o mesmo medo e desespero que ela. Túlio sorria satisfeito enquanto mexia em sua calça jeans. Giu sabia o que viria em seguida. Para sua sorte, aquelas memórias estranhas a pouparam de viver aquela experiência.
Ofegante após o que viu, Giuliana se afastou de Túlio.
— V-você...est...estuprou ela... - as palavras saíram com dificuldade. Ao perceber o seu erro, tentou consertar - Me... Me estuprou.... - Giu odiou dizer aquilo
Túlio começou a chorar um choro tímido, de culpa e remorso.
— Eu estava obcecado por você, Clair... Lembra? - ele se moveu na direção de Giuliana que correu pra fora do estábulo. Ao correr, escorregou no feno e viu uma barra de ferro. Giu se pôs de pé e segurou a barra com firmeza com as mãos, apontando na direção dele.
— Não se aproxime!
— Eu te amava... - lágrimas escorriam em abundância dos olhos do rapaz - E você só brincava comigo - Giu ouviu ele cuspir com rancor aquela frase. - Eu tinha que te ensinar uma lição...Mas...Mas... - ele continuava se aproximando de Giuliana, que tremia de medo. - Eu entreguei você pra ele - Túlio rompeu em lágrimas desesperadas, se jogando aos pés dela, agarrando sua panturrilha.
Giuliana gritou quando sentiu Túlio a tocar. Por um segundo, pensou em bater com força na cabeça dele mas tinha tanto medo de fazer besteira, que não o fez. Com dificuldade, chutou o corpo do jovem para que ele a soltasse. Quando conseguiu, Giuliana correu com toda força para fora do celeiro.
— Não era pra você ter ficado daquele jeito... Ele só tinha que te dar uma lição... - Túlio gritava às suas costas, mas Giuliana já não se importava mais. Só queria dar o fora.
Novos flashes vieram. Agora, a moça corria pela mesma estrada em que Giu estava agora. Era noite e não havia viva alma para socorrê-la. A moça da visão corria desorientada, gritando por socorro. De repente, alguém a interceptava, mas ela não oferecia resistência pois conhecia o homem que a abordou.
Depois, imagens dela indo até um hotel vagabundo na periferia de Pirenópolis. As imagens cessaram. Giuliana notou que seu rosto estava molhado, provavelmente, por chorar tanto quanto a moça da sua visão. Continuou correndo sem olhar pra trás até que sentiu duas mãos a puxarem. Giuliana gritou a plenos pulmões.
_ Calma, calma...Sou eu, Cristiano - ele segurou no rosto de Giu e a fez encará-lo - Calma, tá tudo bem...
Sem entender nada, Giuliana sentiu o peito doer e uma súbita vontade de chorar tomou conta dela. Ela se jogou nos braços de Cristiano e se deixou desabar. Estava confusa, com medo e sem entender o que acabara de vivenciar.
— Me tira daqui, Cris...Por favor... Esse lugar me faz mal - implorava ela.
— Já passou... - ele a abraçava forte, acariciando seus cabelos - Eu estou aqui...Ele não vai poder te machucar, ok? Desculpe por te fazer passar por isso...
— Ele machucou a Clair... - disse ela saindo dos braços de Cristiano - Eu...Eu...Eu acho que eu vi?? Eu sei que parece coisa de maluco mas eu vi, Cris.... Ele sabe quem a machucou!
Cristiano limpou as lágrimas de Giu e beijou sua testa. Com as mãos, afagava o corpo dela: os braços, as costas...Giuliana tremia inteira, o corpo frio. E a forma com que ela falava, cortava o coração dele.
— Vamos indo antes que ele me veja...Hum? - Cristiano pegou na mão dela e apertou com força. Andaram assim até chegarem no carro. Quando deu a partida, Cristiano percebeu que tinha sido visto. E, sendo sincero com ele mesmo, não sentiu pena ao ver o estado emocional de Túlio
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Samanta ouviu o namorado, ou melhor ex, bater com força na porta da casa dele. Até estranhou, já que ele mesmo tinha combinado com ela de estar ali. Cogitou a hipótese dele ter perdido as chaves. Quando o atendeu, estranhou seu estado: sujo, descabelado e os olhos inchados.
— O que houve? - disse ela o amparando - O que fizeram com você?
Ele choramingou no colo dela, o corpo pendendo no chão, fazendo com que Samanta agachasse.
— Eu sou um monstro, Sam... - ele dizia - Um monstro!
— Não, é claro que não, docinho....
— Eu contei tudo....
— Do que você está falando? - a voz de Samanta soou preocupada - Contou o que? Pra quem?
— Clarice... Ela apareceu de novo...Não morreu - ele batia a cabeça contra o chão - Eu contei o que eu fiz. Eu sou culpado pelo o que houve!
Samanta afagou os cabelos do namorado
— Espere aqui, vou pegar um calmante e você me explica melhor isso tudo, ok?
Túlio se sentou, enxugou as lágrimas e esperou por Samanta. Porém, quando ela surgiu, trazia com ela uma corda, papel e caneta em uma das mãos. Na outra, uma arma.
— Sam? O que...
— Túlio, querido... Sinto muito por ter de acabar assim. Mas, antes de ir, você precisa limpar a cagada que acabou de fazer. - ela colocou a arma na testa dele - A propósito: me chamo Red!
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Ainda em estado de choque, Giuliana não conseguia parar de chorar no caminho pra pousada. Não muito a fim de conversar no trajeto, colocou seus fones de ouvido e esperou que a música a acalmasse. Nunca, em sua vida, odiou tanto andar de carro.
Após algumas horas, chegaram à hospedagem. Já era tarde da noite. Cavalheiro, Cristiano a ofereceu para carregar Giu no colo, alegando que ele estava frágil demais com o ocorrido. Giuliana agradeceu mas negou, queria andar, espairecer.
— Eu vou caminhar...Vai na frente e já já eu encontro com você no chalé, tá?
— Tem certeza? E caso se sentir mal? - Giuliana notou que a preocupação dele era real.
— Eu vou ficar bem. - deu uma piscadela - Anda, descanse também...Se pra mim foi difícil ouvir o que Túlio disse, imagina você...
—
Agradeço pela consideração...Apesar de ter sido duro - ele respirou fundo e soltou o ar dos pulmões devagar - Não foi a pior coisa que ouvi sobre Clair. Mas não importa agora... Te vejo no chalé.
Giuliana se despediu e seguiu a pequena trilha de caminhadas que havia. Deu voltas e voltas na praça principal, refletindo sobre os tais flashes que estava tendo. Temeu estar louca mas sabia que não era alucinação. Eram memórias vividas demais. Percebeu o tempo esfriar então decidiu voltar para encontrar Cristiano. Caminhou sem pressa, chegou ao local e abriu a porta
— Voltei...
Cristiano estava vendo o noticiário. Quando ele se virou, Giuliana não gostou nada da expressão em seu rosto. Antes que pudesse perguntar, ele deu a resposta
— Túlio se enforcou em casa.
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