Capítulo 37
Izabel e Ricardo apareceram na casa de Cristiano cerca de trinta minutos após a ligação. Ao chegarem, notaram o estado de preocupação do homem, que não parava de fazer ligações e mandar mensagens pelo celular.
Cristiano, assim que percebeu a presença dos amigos, deu uma breve explicação enquanto pegava as chaves do carro na mesa de centro da sala.
¬— Chagas conseguiu mobilizar um pequeno grupo de patrulha. Não é o ideal para procurar por Giuliana mas já ajuda bastante. O resto, é com a gente! – Cristiano encarou os amigos – Posso contar com vocês?
— Não precisa pedir duas vezes – disse Ricardo
— Com toda a certeza, Cristiano. Vou entrar em contato com alguns amigos, ver em como podem contribuir. Não posso dar maiores garantias, mas acredito que terei resposta pelos próximos dias.
— Sem problemas, Izabel. Quanto mais rápidos formos, maiores as chances de encontrar Giu. – Cristiano pensou em completar a frase, mas o nó que se formou em sua garante o impediu de dizer. Pensar que Giuliana poderia morrer conforme os dias se passassem, não lhe causava bons sentimentos.
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14 de julho 2010
Sempre pensei que a dor fosse algo simples de ser descrita e identificada. Parecia ser mais fácil antes de tudo isso: dor de cabeça, dor de estomago, câimbras, dor de dente... Agora? Posso sentir cada músculo, cada tendão, veia e osso doer com tanta intensidade que parece que meu corpo está vibrando.
Meu rosto está afundado na relva molhada do orvalho da manhã. Tento mover meu tronco para me erguer mas não consigo. Faz dias que corro sem rumo de Eduardo. Meus pés estão inchados, sinto surgir esporões e calos nos dedos. Chego a achar que estou com as pernas tortas pois a cicatrização das lesões tem sido dolorida. Provavelmente vou precisar de bengalas no futuro quando sair daqui. Isso se eu conseguir.
Ouço os tiros de Eduardo se aproximando. Busco energia, respiro fundo me preparando para a árdua tarefa de me pôr em pé. Apoio os braços e faço força. A palma de minha mão escorrega e caio com tudo no chão. Com a pancada, acabo cortando o lábio inferior. O gosto metálico embrulhou meu estomago. Há quanto tempo não como uma refeição decente? Não consigo puxar na memória tal informação.
Eduardo grita por mim ao longe. Sei que preciso levantar mas os espasmos não tornam minha tarefa mais fácil. Busco com os olhos algum sinal de vida e, seguindo minha audição, tento calcular a distancia e em quanto tempo Eduardo estará em cima de mim. Meu raciocínio gira milhões de informações ao mesmo tempo, sendo impossível traçar alguma estratégia de fuga. Preciso correr, é a única certeza que tenho.
Devagar, me preparo psicologicamente para usar meu corpo outra vez. Dessa vez, tenho mais sucesso e consigo ficar de joelhos.
— Ótimo... – respiro ofegante. Uma gota de suor escorre pela minha testa, desliza no nariz e pinga na folhagem. Meu corpo vacila e sinto que cairei outra vez. Para evitar o pior, finco as unhas no chão, procurando manter o peso do corpo distribuído por igual.
Conto mentalmente até três e tento me erguer devagar. Sinto queimar minha panturrilha, meu joelho estrala e caio sobre ele. Coloco as mãos espalmadas para evitar cair de mal jeito por conta da posição estranha em que me encontro. Um choro de frustração se forma em meu peito mas não me permito chorar.
— Mais uma vez... – sussurro como que em prece. Inicio a contagem novamente. Um...Dois... Sinto um chute nas costas, me deixando completamente sem ar. Caio sem jeito, arfando e puxando o ar em desespero. O tremor que sentia no corpo parece triplicar agora. Abraço meu corpo tentando me recompor. O choro que tentei esconder, desata contra a minha vontade. Em minha mente, penso estar lidando bem com a situação: forte, corajosa.
Eduardo ri.
E então sei que não estou me saíndo bem. Era a primeira risada em dias, já que adotei a estratégia de não esboçar nenhuma reação durante as caçadas. De canto de olho, vejo Eduardo me analisar com atenção. Aos poucos, seu riso cessa e ele volta a ter um semblante sério. Ele não está satisfeito.
Essa constatação quebra o resquício de esperança que me permito ter. O que ele fará dessa vez?
Como se pudesse ler meus pensamentos, Eduardo me chuta outra vez, fazendo com que eu me contorça novamente. Ainda desorientada, vejo que ele se debruça sobre mim. Instintivamente, me movo rapidamente, rastejando por debaixo dele. Avanço alguns poucos centímetros até que Eduardo agarra meus cabelos. O puxão somado com a dor de cabeça que já sentia me faz soltar um grito assustador até pra mim.
Sem emitir nenhum som, Eduardo me arrasta pelos cabelos durante todo o trajeto até o cativeiros. A dor vai ficando mais insuportável a cada passo que ele dá. Minhas costas batem e arranham pelas pedras e galhos no caminho.
Eduardo abre a porta com um chute e me joga dentro do cômodo escuro. Permaneço na posição em que ele me deixa, paralisada.
Após puxar a corda que acendia a lâmpada do cômodo, Eduardo procura impaciente por algo na mesa de ferramentas velha que há dentro do galpão. Meu coração acelera cada vez que ele joga furioso as coisas no chão. O que ele está planejando?
— Achei! - exclama ele satisfeito. Fecho os olhos e evito prestar atenção nos passos lentos e calmos dele. A tortura psicológica era tão cruel quanto a física.
— Como você tem me dado trabalho ultimamente e eu quase não me diverti nas caçadas… Vou fazer algo diferente dessa vez.
Arregalei os olhos ao ouvir aquilo. Rolei o corpo em uma última tentativa de escapar do que viria. Eduardo pisou no meu pé e apoiou o joelho nas minhas costas. Em um movimento rápido, Eduardo puxou meu braço direito e imobilizou minha mão. No instante seguinte, senti uma pressão intensa sobre a unha
Com o susto da dor, demorei a entender o que acontecia. Travei a mandíbula e segurei o grito.
A pressão aumentava gradativamente e eu já não conseguia mais controlar o grito. Urrei. Urrei sabendo que Eduardo estava satisfeito. A dor era agora imensurável. Meus olhos lacrimejavam e eu balbuciava palavras desconexas. De repente, um ardor e um calor nas extremidades dos meus dedos.
— O que você fez? - gritei soluçando de choro.
Eduardo não me respondeu.
— O que você fez? - gritei mais alto, com todo o resto de ar que tinha nos pulmões.
Minha resposta, outro silêncio acompanhado da mesma sensação horrível de estar sendo mutilada.
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Giuliana corria o mais veloz que conseguia. Por vezes, seu pé vacilava ao pisar em pedras, buracos ou escorregava em folhas de compostas, fazendo com que ela caísse por algumas vezes.
Sempre que podia, procurava por Eduardo mas não encontrava, apenas ouvia os tiros ecoando.
— Por que ele não me acerta logo? - resmungou ela enquanto corria.
Os tiros continuavam, mas nenhum deles eram direcionados para regiões letais. Aquilo estava deixando Giuliana impaciente.
— Que porra ele tá fazendo? Me afugentar pra longe dele? - pensou em voz alta. Para Giu, essa era a coisa mais óbvia já que ela estava mata adentro e era muito fácil se perder ali.
Mais alguns tiros ecoaram mas dessa vez, ela pôde sentir alguns rasparem no braço, fazendo com que Giu perdesse a concentração e caísse.
Rapidamente, ela se pôs em pé mas, ao pisar em falso, prendeu o pé em uma armadilha de urso.
Giuliana praquejou alto ao tentar puxar a perna.
Os tiros, agora, eram próximos, deixando a garota apavorada.
Com a adrenalina alta, Giu correu o espaço procurando por Eduardo. Nada dele. De repente, a jovem sente o cabelo ser puxado e vai ao chão. Em seguida, entre esperneandos e gritos, ela vai sendo arrastada para seu cativeiro.
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