4° Capítulo: O aviso
Elizabeth observava o espelho, paralisada, como se um feitiço a tivesse aprisionado. Cada tentativa de se mover era em vão; a cena diante de seus olhos era tão surreal que sua mente lutava para compreendê-la. Com um esforço colossal, ela se aproximou lentamente e, ao lado da horrenda forca, viu seu nome surgindo, letra por letra: E-L-I-Z-A-B-E-T-H. Uma onda de náusea a atingiu como um golpe mortal, como se uma mão invisível estivesse apertando seu estômago com uma força insuportável. Não era uma repulsa comum; era um aperto que a deixava fora de si.
Desesperada, correu até o vaso sanitário, abrindo a tampa com um movimento brusco. As ânsias pareciam intermináveis, como se algo trancasse completamente sua respiração. A pressão dentro dela aumentava, já sem força, senta no chão, com os olhos completamente arregalados, em pânico.
A sensação de desmaiar estava cada vez mais próxima, e, em um último ato de desespero, enfiou a mão esquerda em sua garganta. No fundo, sentiu uma corda trancando a corrente de ar que deveria estar indo para seus pulmões, e com um impulso desesperado, começou a puxá-la. Enquanto desengasgava e grunhia, sangue e pedaços de carne se soltavam de sua traqueia devido a fricção que fazia ao puxar, uma cena completamente agoniante.
Finalmente, ao retirar a corda, ela respirou profundamente, como se estivesse emergindo das profundezas de um afogamento. O alívio foi avassalador, uma sensação que jamais experimentara antes. Sentada no chão frio do banheiro, com as costas apoiadas na parede, olhava para o teto e as paredes manchadas, tentando compreender a realidade que a cercava.
A mão ainda pressionava a garganta, onde a dor latejava como uma lembrança cruel do que acabara de enfrentar. A respiração estava descontrolada, cada inalação era um esforço constante que tinha que fazer, e o ar parecia cortante, como se estivesse dilacerando seus pulmões. Ela fechou os olhos por um instante, permitindo que as lágrimas escorressem, misturando-se ao suor que cobria a pele.
Aos poucos, percebeu que as sombras no banheiro pareciam se fechar ao seu redor, como se estivessem avançando sobre ela. As mãos tremiam, não apenas pelo choque, mas pela aterradora percepção de que a escuridão a envolvia cada vez mais. O espaço se tornava sufocantemente claustrofóbico. O que quer que tivesse acontecido, não havia terminado. Acordara de um pesadelo apenas para se ver presa em outro, e a sensação de impotência a esmagava, roubando-lhe qualquer resquício de esperança.
Com um último esforço, tentou se levantar, mas as pernas pareciam grudadas no chão. A dor e a confusão a paralisavam novamente, e a única certeza era que a corda que havia saído de dentro dela era um aviso de algo perverso que estava por trás daquilo. Aos poucos, tornou-se nítido que algo estava querendo amaldiçoa-la, ou melhor, castigá-la. Mas por quê? Apenas por ter assistido as fitas? O que de tão terrível ela poderia ter libertado ao apertar play naquela fita cassete?
Bom, ao olhar desorientada para o chão, ela notou que, em meio aquela sugeira, havia um bilhete amarrado. Não pensou duas vezes e começou a separá-lo da corda, esfregando-o aceleradamente com os punhos, tentando limpá-lo desesperadamente. Aos poucos conseguia ver já fora o suficiente: era uma mensagem ou um sinal. Ela não conseguia ver claramente, mas o que conseguiu ler dizia:
"Pare de fingir para si mesma que não sabe o que está acontecendo, ou vou arrancar esses seus olhos que estão lendo isso agora."
Após conseguir ler a mensagem com dificuldade, Elizabeth ficou paralisada, os olhos arregalados, até que, de repente, tudo se apagou. Depois de alguns longos segundos, ela os abriu ofegante, percebendo que estava suando frio, deitada em seu quarto. Os cobertores estavam espalhados pelo chão, resultado de seus movimentos agitados durante o pesadelo.
— N-não pode ser só um sonho... tudo foi tão real! — murmurou, com a voz trêmula, colocando a mão na garganta, ainda sentindo a pressão daquela experiência bizarra. — Como eu consegui sentir tanta dor? Aquela corda... meu Deus! Mas, pelo menos, estou acordada... graças a Deus, estou acordada! — Ela olhou ao redor, buscando a segurança do quarto. — É tudo tão confuso... — O que está acontecendo comigo? Por que eu?
Ela respirou fundo, lutando para afastar a sensação de pânico que começava a envolver só de lembrar, enquanto as náuseas do pesadelo ainda a assombravam.
Confusa, ela se perguntava como havia acabado na cama após o banho. Lembranças fragmentadas a atormentavam,tentava juntar as cenas em sua mente, mas pouco faziam sentido, ela vivia uma luta constante para processar o pesadelo que acabara de viver. Após alguns instantes tentando reorganizar seus pensamentos, decidiu se levantar, enxugando o suor que escorria pela sua testa, frio e pegajoso. Aquela experiência fora tão intensa, tão palpável, que parecia ter sido real. Contudo, ao olhar ao redor, ficava aliviada por tudo aquilo não passar de um pesadelo aterrorizante que finalmente havia chegado ao fim.
Então caminhou até a cozinha, abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água, bebendo um gole ansioso, mal conseguindo esperar para saciar a sede. Após, olhou para o relógio, apavorando-se ao notar que eram apenas 2:00 da manhã. Como conseguiria voltar a dormir com tudo aquilo na cabeça? Tentou não pensar muito, movendo-se em passos leves para não perturbar seus pais. Deitou-se devagar, cobrindo-se até a nuca, não pelo frio, mas pelo medo que a envolvia.
Ela ficou acordada por um bom tempo, a mente em turbilhão, lutando contra o pavor de adormecer e reviver o pesadelo que a atormentara momentos antes. Após batalhar contra o sono, decidiu recorrer ao celular, ligando músicas calmantes e focando nas letras, como um escudo contra as lembranças sombrias que a cercavam. Depois de alguns minutos de concentração, finalmente conseguiu se entregar ao sono.
Na manhã seguinte, ela se espreguiçou e desceu para o café da manhã, ainda tentando afastar os ecos da noite anterior. Pegou o leite quente do fogão a lenha e o despejou no copo, acompanhando-o com seus cereais habituais. No entanto, ao lembrar da náusea do pesadelo, um arrepio percorreu sua espinha, fazendo os pelos do corpo se eriçarem. Aquela lembrança era estranhamente vívida; só de pensar, sentia-se transportada de volta para a banheira, mesmo acordada, tinha que lidar com o pesadelo a cada segundo.
Após terminar, Elizabeth deixou a louça na pia e, com poucos minutos antes de sair de casa, correu de volta para o quarto. Ao se ajoelhar para pegar a caixa das fitas, percebeu que ela havia desaparecido. Quem poderia tê-la levado? Seria sua mãe ou seu pai? Com pressa, decidiu perguntar.
— Pai, você por acaso pegou uma caixa de bonecas que estava debaixo da minha cama? — indagou, a ansiedade transparecendo em sua voz.
— Não, filha, por que eu faria isso? E não está um pouco velha para brincar com bonecas? — respondeu o senhor Anselmo, levantando uma sobrancelha.
Antes que pudesse perguntar à mãe, ela logo se antecipou:
— Nem me pergunte, Elizabeth. Tem certeza de que procurou no lugar certo?
— Mãe, eu sei onde guardo minhas coisas! — Elizabeth respondeu, a preocupação crescendo.
— E já está na minha hora — finalizou, olhando rapidamente para o relógio antes de correr ao banheiro para os últimos retoques.
Ao abrir a porta do banheiro, as lembranças do pesadelo a atingiram como um choque elétrico. Cada olhar nos cantos do ambiente trazia flashes perturbadores, paralisando seu corpo em um frio terror. O olhar se fixou no chão do chuveiro, e lentamente subiu, enquanto lágrimas começavam a escorrer, incapaz de processar a realidade ao seu redor. As imagens horríveis ainda giravam em sua mente, como sombras insistentes que se recusavam a sumir perante o sol.
Quando finalmente encarou o espelho, ficou paralisada. A forca estava ali, como se tivesse emergido de seus piores pesadelos. Tremendo, ela hesitou, pensando em fugir, mas um som aterrador cortou o silêncio: algo estava sendo escrito na forca novamente. Desesperada, tapou os ouvidos com as mãos, lágrimas escorriam pelo rosto, enquanto a cena do banheiro se materializava diante de seus olhos. Quando o barulho cessou, ela se virou lentamente, temendo o que encontraria. Lentamente, viu as letras se formarem mais uma vez: E-L-I-Z-A-B-E-T-H. Naquele instante, ela desejava literalmente morrer do que passar novamente por tudo aquilo. O que estava acontecendo? Aquilo parecia não ter fim, afinal, foi de fato um pesadelo? Uma possessão? A realidade começava a ficar mais ainda distorcida.
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