Capítulo 7
Acordei no outro dia exatamente da forma que previ: mal humorado e dolorido. Alicia virava muito na cama e eu já tinha me acostumado com isso, mas sempre acordava com todo meu corpo doendo.
- Ali, deixa eu levantar – resmunguei e ela fez o mesmo. Ela odiava que acordassem ela e eu odiava não dormir. Justo!
- Espera um pouco, James – ela girou em cima de mim novamente e eu murmurei e a afastei para o lado, me levantando da cama a contragosto - você é tão chato!
- E você tem um namorado que não gostaria de ver nós dois assim – falei sinceramente e entrei no banheiro pra escovar meus dentes. Me olhei no pequeno espelho que tinha acima da pia e vi que meus olhos estavam vermelhos e lacrimejando. Eu estava ficando gripado, certeza.
Saí sem falar uma palavra e me dirigi até o quarto da Min, pois precisava desabafar e deitar um pouco pra relaxar a cabeça. Não poderia falar sobre isso com Lisa, ela gostava de mim e isso ia machucá-la, tudo que eu não queria fazer.
Bati algumas vezes na porta e na quinta, ou sexta, ou décima... Ela abriu a porta com uma cara inegável de sono. Pelo menos uma coisa boa no meu dia!
- De todas as pessoas que eu queria ver agora, você não estava na lista – Min sentou na beirada da cama e eu fiz questão de me sentar também - ainda mais com essa cara de quem comeu algo estragado.
- Só estou com sono – ri um pouco e me deitei na cama dela – posso me esconder aqui por enquanto?
- Se você me explicar o que aconteceu e prometer ir embora antes da minha colega voltar... - ela deixou a frase no ar e afirmei.
- Eu não falo sobre isso com ninguém, então mantenha segredo, principalmente da Lisa – ela assentiu com a cabeça e eu continuei – bem, eu sempre gostei da Alicia, sabe? Nós nunca tivemos nada além de amizade, mas eu a amo desde quando éramos pequenos – olhei para ela, que parecia chocada.
- Vocês dois sempre pareceram ter muita química mesmo – ela deu de ombros. Bem que eu queria que Alicia pensasse isso também.
- Não sei sobre isso, mas ela namora. Não pode ser assim – suspirei e ela entendeu o motivo de eu estar triste – eles passaram a noite no meu quarto enquanto estávamos lá fora.
- Você já falou para ela como se sente? - neguei rapidamente com a cabeça. Eu jamais faria uma coisa absurda dessas! O que ela iria pensar de mim? Que eu só era amigo dela por interesses maiores? - ela não pode fazer nada sobre isso se ela não sabe o que se passa na sua cabeça.
- Ela não faria caso tivesse escolha, eu garanto – coloquei o travesseiro na cara e grunhi. Que coisa mais irritante.
- Você não vai saber se não tentar – Min aumentou o tom de voz – imagina se as grandes mentes não tivessem tentado e fracassado até chegar ao sucesso? Hoje em dia não teríamos luz, celulares, aviões. Se ninguém tivesse tentado provavelmente nem estaríamos aqui. Se não tivessem tentando mudar as normas e leis, hoje em dia eu não poderia nem sair de calça! Então você largue esse negativismo e vai em frente. Pior que ser um perdedor é ser um desistente – ela tirou o travesseiro do meu rosto e fez carinho no meu cabelo, fazendo eu me tranquilizar.
- Muito motivador, Min. Vou pensar sobre e tentar fazer algo, valeu – dei um sorriso de cumplicidade pra ela, que retribuiu da mesma forma.
Eu não estava com vontade de sair do quarto para almoçar, na verdade eu não queria fazer absolutamente nada, mas meu estômago roncava alto e tínhamos atividades coletivas para fazer. Minerva tinha saído do quarto há algum tempo, depois de eu recusar ir almoçar com ela.
Se meus cálculos estivessem certo, daqui 20 minutos a cantina estaria vazia e eu poderia ir lá pedir algo para Madalena que era a cozinheira. As atividades começariam em 35 minutos, então teria que comer rapidamente, mas valeria a pena pelo tempo de solidão.
Meu corpo estava muito fraco e meu nariz não parava de escorrer. É, eu estava gripado... Bem, eu podia usar isso ao meu favor e falar pro professor que não poderei fazer a atividade física!
Cheguei até a cantina e vi Madalena de longe, apesar de ser baixinha, ela tinha uma massa corporal considerada alta. Quando ela me viu, seus olhos se iluminaram, aquela mulher era quase um anjo na minha vida escolar.
- Meu menino! Como você está amarelo hoje, já comeu? - neguei com a cabeça e ela me deu um tapa – vamos, vou preparar um prato pra você.
- Bate e depois assopra, não é mesmo? - segui ela para dentro do refeitório e ela começou a preparar meu prato - só estou amarelo porque gripei.
- Já tomou um remédio? - balancei novamente a cabeça em negativa e Madalena me olhou brava - você quer morrer?
- Não, Madalena. É só que eu comecei a me sentir assim por agora, não tive tempo e tenho que ir falar com algum dos professores para me liberar – me justifiquei e peguei o prato de arroz com galinha e salada da sua mão - muito obrigado, minha rainha.
- Por nada, filho. Coma direitinho e nada de fazer atividade estando doente – ela me deu bronca e eu saí do refeitório, procurando algum lugar escondido para me sentar e comer.
Achei um local embaixo de uma árvore, uma bela sombra. Sentei-me lá e comecei a comer minha refeição, não tinha comida melhor que a de Madalena, aquilo era quase os céus e era algo tão simples.
Comi apressadamente e corri até a quadra, chegando lá completamente sem ar. Me recuperei antes de me aproximar do professor de educação física, recebendo olhares de todos da escola, inclusive de Alicia.
- Josh, Justin... Ah, James – o professor tentou vários nomes até lembrar do meu, ele sempre fazia isso – o que houve, meu jovem? Você não me parece muito bem.
- James – afirmei – e eu realmente não estou bem, acordei um pouco gripado hoje e não consigo nem me imaginar correndo pela quadra.
- Tudo bem, James. Pode ficar no seu quarto, mas quero uma pesquisa de 40 linhas sobre doenças causadas pela falta de atividades físicas e quero tudo bem detalhado – assenti com a cabeça e voltei para o quarto, deixando as pessoas mais curiosas do que já estavam.
Ufa! Terei paz o dia todo. Peguei meu notebook na mala e coloquei nas pernas, começando a fazer a pesquisa que o professor pediu, mas acabei me desconcentrando ao pensar na letra de uma música, então tive que cantarolar.
Teu sorriso foi onde eu me perdi
O coração me implorando pra sair
Pra sair fora do peito
Não ser doido no teu jeito
E as coisas idiotas que você faz eu rir
Não ser doido nessa rima
Viciado nessa mina que não é pra mim
Ouvi o som de palmas ecoando pelo quarto e me virei para a porta, já sabendo que era Alicia. Eu não acredito que ela me ouviu cantando. Nunca mostrei isso para ninguém, nem para os meus pais.
- Nossa, que espetáculo! Ficou linda, James. Não fazia ideia de que você cantava tão bem – ela se aproximou e sentou na minha cama, deixando-me aproveitar o doce cheiro do seu perfume. Se ela soubesse quantas coisas ela não sabe...
- É, eu nunca tinha contado para ninguém, e nem era pra você saber. Tenho que te ensinar a bater na porta antes de entrar nos lugares... E se eu estivesse sem roupa? - Alicia ficou tão vermelha que poderia ser facilmente comparada a um tomate – pois é, seria constrangedor.
- Foi mal, não pensei nisso – balancei a cabeça - o que você estava falando para o professor? Por que não está na quadra fazendo as atividades?
- Bem, a questão é: por que você não está lá? - perguntei curioso. Aliás, as tarefas valiam ponto – e eu estou me sentindo meio indisposto, acho que é gripe, isso que eu falei com o professor – a expressão dela mudou rapidamente de vergonha para preocupação.
- Desde quando? - não sei o que me levou a dizer para ela que estava doente, Alicia era mais preocupada comigo que meus pais e me deixava louco quando começava a me dar sermão - por que você não me disse?
Ela não respondeu minha questão, então decidi não responder a dela, apenas dando de ombros e voltando a me concentrar no relatório. Alicia não parou de bater os pés pelo quarto, me dando nos nervos com aquele barulho.
- Dá pra parar com isso? - simplesmente explodi - você não sabe o que quer da vida mesmo, está querendo apenas me deixar louco, não é mesmo? - levantei e me aproximei dela, meu semblante estava fechado.
- Do que você está falando, James? - ela desviou os olhos dos meus e começou a olhar para as próprias mãos.
- Por que se importa tanto se estou andando com outras pessoas, se estou doente, se estou querendo beijar alguém, se gosto de alguma pessoa? Você vive no seu próprio mundo, tem seu namorado, seus amigos e coisa melhor para fazer do que me confundir – segurei o queixo dela de maneira delicada, fazendo ela me olhar – só me responde isso.
- Eu... James... - o rosto dela estava em um tom de vermelho tão adorável e eu não consegui resistir ao impulso de acariciar suas bochechas, percebendo o quanto estavam quentes. Ela fechou os olhos e entreabriu os lábios.
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