Capítulo cinco
Meu pai e minha mãe seguem para retirar o bote, a escotilha sacode comigo e minhas irmãs.
-- Pelo amor de Deus, painho. Anda logo. -- Eduarda grita. Noto que Gardênia está paralisada, então olho para onde ela está olhando. É nossa irmã, nossa Denise. Seu rosto está virado para nossa direção, como se ela estivesse nos olhando. Ver ela assim me corta o coração.
-- Ai meu Deus! -- Eduarda grita. Sua mão está ensanguentada. Me desespero. -- Anda pai!
Meus pais voltam com o bote e começam a inflar ele. Começo a pensar em como faremos para entrar nele todos nós. Finalmente o bote está inflado e pronto para subirmos nele. Nesse momento sinto algo rasgar minha coxa. Grito e saio de cima da escolha. Essa foi a primeira coisa mais burra que eu já fiz na minha vida, à seguir vocês irão ver as próximas burradas que eu farei. Logo ele abre a escotilha jogando minhas irmãs para o lado. Ele vem com a faca em punho em minha direção.
Começo a fugir dele ao redor do barco. Todos vêem ao meu socorro, ele empurra todos que passam em seu caminho. À partir dai eu entendo que ele é no minimo um maníaco. Ele gosta de matar um por vez para se deliciar com o sofrimento de cada um.
Ele pula por cima do banco e logo chega até mim. Ele tenta me acertar, mas desvio á tempo. Ainda assim a faca rasga a pele do meu braço. Grito de dor e volto a correr, é ai que faço a segunda coisa mais burra, eu desço a escotilha. Não, não precisa ler isso de novo, você não leu errado. Eu realmente desço a escotilha. Não julgue uma adolescente prestes a morrer.
Eu pulo para dentro e meus pés caem encima da cabeça do meu irmão. Seus olhos esbugalhados saltam e ficam presos pela córnea, um encima do nariz e o outro no chão. Não consigo segurar a ânsia e vomito enquanto corro. Meu vômito suja minha roupa, meus pés e o chão. Paro na metade do caminho já que o capitão ainda não havia descido. Começo a pensar que ele irá me deixar para morrer por ultimo, quando caminho em direção da escotilha para subir e ajudar o que resta da minha familia, ele pula da escotilha caindo encima do meu irmão. Com o impacto da queda, um dos olhos do meu irmão estoura na mão dele. Ele olha aquilo e lambe a própria mão, novamente eu vômito.
Ele caminha lentamente em minha direção quando eu corro para o quarto dos meus pais.
Entro nele e vejo que não tem chave na porta. "Droga!" grito para mim mesma. Começo a pegar tudo o que vejo na frente e jogo em direção ao capitão. Jogo sapatos, vidros de perfume, um copo vazio.. Nada acerta. Ele sempre se aproxima cada vez mais.
Quando eu já estou encurralada e não tenho mais o que jogar nele, meu pai pula nas costas dele.
-- Vai embora, Anastácia. -- Ele grita. -- Entra no bote com suas mãe e suas irmãs.
-- Mas e o senhor? -- O capitão começa a cortar os braços do meu pai. Por ele ser um homem velho não iria aguentar por muito tempo.
-- Anda logo! -- Ele grita
Saio em disparada pelo corredor e quando faço a curva em direção a escotilha escorrego e caio de costas em meu vômito e bato a cabeça no chão. Levanto de vagar meio tonta. Ouço os gritos do meu pai, e consigo ouvir o som molhado que a faca faz ao perfurar a carne. Seus gritos são cada vez mais baixos.
Minha vista começa a arder e eu ando cambaleando. Viro o rosto para o outro lado quando chego perto ao corpo do meu irmão. Não consigo descrever a sensação que é estar pisando em vomito, líquido encefálico e gosma de olho. Nesse momento eu já não sei mais o que estou fazendo ou para quê estou lutando.
Começo a subir as escadas e minha mãe e Duda estão lá me estendendo a mão. O cheiro naquele barco está horrível, sério, cheira a gente morta. Espera, gente morta é o que mais tem aqui.. Deixa pra lá.
Subo os últimos degraus que restam e chego no convés superior. Minha mãe e Duda me abraçam. Elas não perguntam por meu pai, acho que já se acostumaram com a morte nessa última hora. Corremos, ou quase isso em direção a escada, na água o bote já flutuava. Gardênia olha para mim e começa a ter náuseas. Ela tampa seu nariz com os dedos, sei que o meu cheiro realmente está de dar nojo. Logo ela acaba vomitando.
-- Desce para o bote, Gardênia! -- Minha mãe grita, mas ela não consegue parar de vomitar.
-- Desce vomitando mesmo. -- Eduarda diz. -- antes morrer comida por insetos do que por facadas. -- Meu Deus, nem na hora de morrer ela consegue fazer um argumento convincente.
Gardênia limpa sua boca e se prepara pra descer, mas novamente o capitão sobe a escotilha. Gardênia então começa a descer rapidamente, e eu me preparo para fazer o mesmo. Eis que ele caminha a passos lentos. Em uma mão está a faca, a outra mão está para trás.
Logo ele para e mostra o que está escondendo. É a cabeça do meu pai. Começamos a gritar, olho para minha mãe e penso que agora ela morre de vez. Mas ela não desmaia, ela não passa mal.. Em vez disso, corre até a cozinha. Ele me encara, sei que eu sou o alvo principal dele agora.
-- Desde o primeiro instante em que te vi, soube que ia ser muito divertido brincar com você. Não adianta fugir. -- Ele diz se aproximando de mim.
A cada passo que ele dá em minha direção, eu dou um para trás. Gardênia já está no bote e Eduarda está pronta para descer quando minha mãe corre em direção a ele e pula em suas costas, isso não faz nenhum efeito nele. Ele a joga no chão e começa a esfaquear ela.
Ele enfia a faca por sua cabeça, barriga, pescoço.. Eduarda volta para o barco em desespero. Ela corre para a coxinha e quando chega na porta ela para por um segundo. Ela se vira e olha para minha mãe e depois entra na cozinha de volta. Ela faz sinal para que eu vá para o bote, mas mais uma vez eu não consigo controlar meu corpo. Só volto a mim quando o vejo abrir minha mãe e retirar o coração da mesma. Ele lambe o coração dela e sorri.
Corro para a escada de cordas que leva ao bote, consigo ouvir os gritos de Gardênia. O capitão se levanta e caminha em minha direção, mas Eduarda joga um prato em sua cabeça.
-- Pelo amor de Deus, vai o mais rápido possível. -- Ela diz enquanto foge dele. Começo a sentir um cheiro estranho no ar. É cheiro de gás. Ela corre dele e tenta chegar perto de minha mãe, sei o que ela quer fazer. Na mão de mamãe esta um caixa de fósforo. Corro até minha mãe e pego a caixa, me preparo para acender, mas antes que eu possa retirar o palito minha irmã passa por mim e arranca a caixa da minha mão. Nesse momento os palitos caem soltos pelo chão, me distraio com isso e o capitão esfaqueia o mesmo braço que ainda sangrava da outra facada que ele já havia me dado. Minha irmã o acerta com um pedaço do prato que ela quebrou na cabeça dele. Ele se vira para ela e ela volta a correr entre os bancos e pilares do navio.
-- Eu vou nadando. -- Ela grita. Tá ai uma coisa em que a futura pior advogada do mundo é boa, natação. Isso me convence a descer. Desço o mais rápido possível e solto a corda do bote que começa a se afastar no barco e seguindo a direção das ondas e do vento.
-- Mamãe morreu, não é? -- Gardênia pergunta entre os soluços.
-- Só restou eu, você e a Duda. -- Digo com os olhos vidrados no barco. Estamos nos afastando dele e está cada vez mais difícil enxergar ele. -- Não consigo ver o barco. -- Forço o máximo que consigo para ver o barco. Ele está com quase todas as lâmpadas quebradas, com certeza foi o capitão assassino.
-- Também não vejo nada. -- Gardênia se inclina para a frente tentando ver algo, mas assim como eu ela não consegue.
Não sei falar quanto tempo se passou, mas não foi nada além de dez minutos até o barco ascender uma luz e explodir. O impacto da explosão vira o nosso bote e nos faz cair para longe.
-- Gardênia! -- Grito e começo a nadar. Não a vejo e nem a ouço. Nado na direção em que eu acho que o bote está. -- Gardênia! Você está me ouvindo? -- Não obtenho resposta. Sei que ela sabe nadar, não é possível que ela esteja se afogando.
Contínuo nadando e minha mão bate em algo, é a bolsa de emergência que estava no bote. Volto a nadar arrastando a mesma. O barco está pegando fogo e ajuda na visibilidade. Continuo nadando em busca do bote e da minha irmã.
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