Três dedos
Velent notou a tristeza e lamento do amigo.
Gritar em ódio e matar todos na sala?
Os desejos de Dylan eram fáceis ler, mas as ações foram interrompidas. Velent conhecia a guerra, e não permitiria que o aliado fosse morto pela irracionalidade.
— Milorde, os abutres de Jutlândia enviaram um mensageiro há alguns meses. Eles esperam uma resposta sobre a trégua no canal de Kiel. Além de pedirem nossa ajuda para...
— Oskar, não vamos unificar com os Abutres. Imaginei ter tido esta conversa em outro momento.
— Mas... — o general tentou validar os argumentos, mas foi interrompido pelo dedo erguido do rei.
— É um dos meus mais honrosos servos, Oskar. Porém, continue a me questionar e perecerá antes de poder ter uma família de novo. — o rei ameaçou — Com que audácia crê que pode altercar minhas palavras? — Ele caminhou para voltar a sentar ao trono — Esqueceu que é o filho de uma escrava?
A pergunta dolorosa do rei alçou uma raiva fúnebre no general. Oskar nada fez. O cavaleiro amargou o insulto voltado a mãe. Ele apertou as mãos uma na outra. Encarou a ponta dos sapatos. Só Ivarr concebia a fúria na íris dele.
O régio olhou para frente, e viu alguém ultrapassar o portão de platina. Indiscriminado. O desconhecido não era humano. A imponência dos passos o fez respeitado perante o silêncio.
Dylan caminhou ao lado. Segurado pelo couro da roupa. Para que pudesse ser parado caso saísse de controle. Ele esbanjava vontade por briga.
— Com que desonra eu tenho prisioneiros em minha sala? — O rei pegou um copo de vinho.
— Senhor. — Velent ajoelhou. Com a força da mão fez Dylan ajoelhar também. — Sou Velent, rei de Alfheim. Peço com humildade para que nos conceda a liberdade, e permita-nos levar a espada. Ela é fruto da vida honrosa da colega de aliado.
Por um momento o silêncio pairou sobre a sala. O régio começou a rir do pedido do elfo. Ele deixou a taça de lado, e bebeu o vinho direto do jarro.
— É engraçado ter tantos imbecis a essa hora da noite, mas não estava planejando assistir comédia agora. — Ellis levantou, com dificuldade. Pôs força nas mãos para hastear as pernas. Foi até Velent. — Não sei como saíram da prisão, mas posso lhe matar com minhas próprias mãos, sabia disso?
Velent ergueu o rosto. Soltou o amigo. Ele era alto para Ellis. O rei se engasgou. Percebeu que não passava dos peitos do elfo.
— Você pode me bater mil vezes, Lorde Ellis! Eu pago o preço da nossa liberdade. Não almejo sangue derramado em minhas mãos, por isso, caso precise apanhar pela liberdade, farei de bom grado.
A resposta espantou todos em sala. Causou descrença. Ele parecia mais poderoso e destrutivo do que o corvo monarca. Ainda sim tudo soou tão sincero. O rei não soube o que fazer. Paralisado. Hesitou. Fechou o punho, e com um grito frágil socou o rosto do elfo. Velent nada fez, como prometido.
— Aceitou que irei te matar com tanta facilidade elfo?
O prisioneiro o olhou. Os cabelos acobertavam a visão.
— Deveria parar de falar sobre morte com tanto desejo, rei. — Velent assustou Ellis. Ele se sentiu inferior à sabedoria do agredido. — Seus olhos não me passam o calejar de uma guerra. São mansos, você nunca matou ninguém senhor. Foi guloso, pessoas foram mortas na sua frente, e aprisionou homens entristecidos. Agora matar, não. Nunca foi capaz de fazer isso. — Velent abriu os braços. — Soque-me até sua raiva esvair, pobre humano, quero que ela se esvaia para que possamos falar sobre paz.
Ellis estava fragilizado. Ele virou-se para os soldados. Esperavam do rei uma atitude dominante, mas os olhos pediam socorro. Nunca tomou decisões. O elfo mastodôntico. Pronto para apanhar pela diplomacia. O fez desejar o colo da falecida mãe. Tentou se recompor. Levantou a palma aberta. Preparou para esbofetear o elfo.
Velent fechou os olhos. Esperou o golpe. Que nunca chegou.
Um choramingo foi soado. Ao abrir os olhos viu a ponta da lâmina de Dylan com a ponta para o teto. O monarca chorava. Segurava a mão ensanguentada. No chão três dos dedos decepados ficaram. Ellis andou de costas, e tropeçou na escadaria do trono. Pedia misericórdia.
— Cão! — o elfo chamou.
— Eu não ia deixar essa briga de palhaços continuar! Ele não queria conversar e pronto. — garoto posicionou uma base. Deu passos laterais, e ficou a frente dos cavaleiros. — Vocês vão pagar pelo que fizeram com ela!
— Ivarr, acha que consegue cuidar do grandão? Quero esse garoto. — Oskar desembainhou a espada.
O baderneiro ficou próximo ao rei. Deu espaço para o estrangeiro e o general.
Dylan correu para cima do oficial. "Não posso vacilar, observe a postura dele, analise as aberturas." A mente não o permitia descuidos. O inimigo era um oponente bem difícil de cair.
— Cão... — Oskar refletiu sobre o pseudônimo ofertado pelo elfo. — É uma boa nomenclatura para ti, reativo, voraz, e focado. Seus olhos são tão pesados quanto os meus, filho. Desde que ano guerreias?
Dylan era incapaz de responder. Quem disse que ele queria? Ele avançou. Contrapôs o balanço da espada contra a do oficial. Com rapidez notou o erro do ataque. Devido o desequilíbrio da perna. O joelho flexionado segurou o peso do golpe do general. Trincou os dentes, possesso pela violência.
Um impulso. Direcionou ambas as espadas para cima, e deu uma cambalhota para escapar. "Ele é um desgraçado, mas é muito forte. Não há aberturas em seu combate". Dylan continuou a pensar em como derrotar o general. A mente afoita o fez perder o compasso da batalha.
Oskar está próximo demais, e usa da velocidade para atacar o estrangeiro na costela. Por sorte, o Cão consegue colocar a chapa da espada para defendê-lo, mas a força o arremessa para distante.
Dylan se levantou veloz. Digladiou contra o oponente. O oficial o empurrou até as costas chocarem contra a parede. O ar saiu dos pulmões. O cão enfraqueceu o segurar da espada, mas tentou não desesperar.
— Você não se importa com a sua vida, não é filho? — Oskar continuou a falar. — Toda essa raiva, como um verdadeiro Cão, sem se importar com a morte. Imprudente, só para alcançar o osso.
— Cala a boca! — vociferou o rapaz.
Dylan tentou empurrá-lo com um pisão, mas o pé foi pego e logo em seguida, puxado.
Oskar deu uma banda no estrangeiro. Mirou a espada no peito do garoto assim que o viu caído no chão.
Dylan girou o corpo assim que viu o ataque do general. Chutou a perna dele. Se pôs de pé. O garoto acuou. Frustrado. Não conseguia vingar a amiga. Ele estava esbaforido devido aos golpes sofridos no torso.
Oskar limpou a sujeira na armadura. Dylan parecia um soldado morto.
Ivarr foi para cima do azulado. Munido da espada. Berrou viril.
O elfo esquivou dos ataques. No momento oportuno desferiu um soco no úbere do baderneiro. Amassou a armadura do cavaleiro, e o jogou contra a parede. O concreto afundou. Velent caminhou até o trono. Onde curvou o corpo para olhar Ellis. O rei corvinal espantado e choraminga.
— Estamos livres? — questionou.
— Sim! Sim! — Chorava enquanto segurava o sangramento no dedo.
O azulado observou batalha entre o aliado e o general. Preocupado. Sabia que a raiva cegava o rapaz. Dylan caiu após receber um chute violento de Oskar.
— Reconheço a importância da justiça a sua amiga, mas se está tentando se matar não creio que poderá cumprir a promessa feita. Não despeje sua vida como se fosse algo simples.
O garoto levantou. Apoiava as mãos no cabo. Começou a correr em direção ao adversário. Oskar ficou chateado com burrice do oponente, então esperou para contra-golpear as aberturas. O corvo moveu a espada na altura da cabeça do garoto. O corte rasgou o vento.
Dylan agachou. Deu uma cambalhota longa. Foi até a caldeira. Ele viu o sangue que banhava a espada. Evitou lamúrias, e retirou a espada. A arma brilhava em verde. Outra vez, voltou-se contra o general.
Desferiu um golpe contra o oficial. Oskar percebeu a violência da lâmina cintilante. Paralelos um contra o outro. Nenhum deles cederia à morte. As técnicas de Dylan estavam mais limpas.
No embate das armas um erro crucial.
O general deixou a arma resvalar. Cedeu uma abertura. A necessária para Dylan o atingir. Oskar se recompôs há tempo. Carregava um semblante assustado. Com a manopla evitou o corte no pescoço.
Dylan arrastou a lâmina. Feriu o pulso e raspou o pescoço do corvo. Oskar não deixou barato. Na abertura deixada pelo garoto fez um corte superficial no peito.
— Vá embora garoto, terminaremos isto outra hora. — Oskar não demonstrava a dor do sangue derramado. — Logo os guardas estarão aqui, e atrapalharão nossa brincadeira.
— Vamos Dylan! Temos tudo que precisamos. — Velent o chamou, e foi em direção à janela do salão.
Dylan correu até a janela. Saltou junto ao elfo. Assim que pularam no ar o elfo alçou voo. Segurava o aliado pelo braço para escaparem do tormento.
— Por que você o deixou fugir!? Com a espada!? Vai para o enforcamento amanhã de manhã! — Ellis berrou.
Oskar foi até o rei. Ficou a frente do trono. Ele enfiou, pouco a pouco, a espada na traqueia do monarca. Os guardas reais adentraram ao salão, bem tardios. Se amontoaram no portão. Viam o general assassinar o rei.
Oskar tirou a lâmina. O movimento brusco decepou o detentor da coroa. A cabeça rolou sob as escadas enquanto o sangue jorrado banhou o oficial.
— Vocês! — Gritou aos guardas. Sem olhá-los. Se virou lento. — Se quiserem me matar por traição. A hora é agora.
Os guardas nada fizeram. Murmúrios eram sussurrados. Eles se ajoelharam. Um novo reinado surgia.
— Oskar... — Ivarr falou com dificuldades. Se recompunha do soco tomado. — Qual o nosso próximo passo?
— Falar com os abutres. Lá teremos forças para ganhar das valquírias. — O oficial ajudou o baderneiro a ficar em boa postura. Sorriu com os lábios fechados. — Estou feliz Ivarr, pela primeira vez em minha vida, pude conceber o que é ter medo.
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