Os motivos de Niðhad.
— Ele se tornou talvez aquilo que o senhor mais almejou. Um demônio. Preparado para estraçalhar Odin assim que o mesmo cruze o seu caminho. Mas isso não parece significar que ele esteja ao seu lado. — Dylan toma um gole de vinho. — Seu neto discorda de ti também, isso deve fazer a ti como um inimigo tão desejável a ser aniquilado quanto.
— Entendo... — Niðhad tosse. Em seguida toma um gole de sua taça. Dá para ver o semblante alegre em seu rosto. — Humpf... — Bufa. — Há onze anos você pisou nestas terras, e eu lhe escravizei junto a Velent ... Gostaria de saber o por quê?
Dylan trava seus músculos, surpreso com a recordação de seu passado de maneira tão inusitada. Como se o rei demônio leem-se seus sentimentos de maneira limpa. O galês nada responde, esperando se acostumar com a ideia de ter uma prosa sobre seu passado
— Traga-o até aqui. — Dylan se contrapõe, tomando o último gole. — Não seria idiota o suficiente para crer em suas palavras.
O rei respira fundo. Sabe que há subjugado o rapaz naquele momento e não deve recuar. Ele caminha para dentro do salão, e como um ímã, faz o galês acompanhá-lo. Seu rosto velho e cansado observa o portão, que começa a se abrir.
Dois Abutres carregam nas mãos, os braços azulados daquele elfo maltratado e fadigado. Assim que passam da entrada, jogam Velent no tapete.
Dylan está confuso, e mal. Após onze anos, reencontrar o elfo. Todas as palavras que Velent há o dito na adolescência batem em sua cabeça. Os questionamentos sobre a paz. A ira que carrega no corpo. As motivações por guerrear, mesmo sem gostar disto.
De algum modo Velent tenta salvá-lo, e carregando seus próprios pecados do passado, falha, por se incapaz.
Mesmo ferido, seu rosto é o mesmo de anos atrás. As algemas em seu punho roçam por tanto tempo sua pele que a carne está viva e ferida naquele ponto. O seu cabelo prateado — relembrando o próprio filho — está sujo e maltratado. É dolorido ver aquele ser como um escravo, mais mal visto que um animal de corte.
Dylan caminha até o escravo. Quando próximo, se agacha, pondo o corpo de seu amigo próximo ao seu, num abraço confortável que o elfo não sente há anos. Velent, ao ver o galês com sua fisionomia mudada, o reconhece.
Ele começa a chorar em alívio. Seus gritos lacrimosos são bem sonoros e machucam o coração daquele que o conhece há bastante tempo. Dylan acaricia os cabelos do azulado enquanto limpa suas lágrimas com os dedos.
— Me desculpe por fazer isso com você! — Velent clama baixo enquanto se aconchega no pescoço do viajante. Remetendo ao passado de tortura.
— Tudo bem... — Dylan o aperta mais. — Me desculpe por demorar...
O seu tecido vermelho é ocultado por partes da armadura preta. Ele acopla umbrais que possuem o desenho de abutres que grasnam. As manoplas têm detalhes de penas que saltam, tão afiadas que dá para pressentir o corte.
Além daquela cimitarra. De molde curvilíneo e aço chapado, tão larga, desproporcional a qualquer soldado comum.
Niðhad causa terror.
Ele joga a espada no apoio do ombro, e desce as escadas do trono.
— Anos antes de sua chegada a estas terras, ouvimos o primeiro trovão. — Niðhad larga o aço ao chão, soltando um barulho violento. — Estávamos nos preparando para invadir a Inglaterra, toda a Jutlândia. Mas a irracionalidade dos deuses nos atacou primeiro. Dois lobos, maiores que este salão. Geri, e Freki. Atacaram toda Cimbric. — O demônio observa o entrar de uma andorinha ao recinto. Ela pousa no cabo da espada. — As criaturas destruíram Dinamarca, varrendo junto a eles heróis e reis poderosos. — Ele acaricia a andorinha. — Com os lobos, vieram os Draugrs. Os mortos vivos de Valhalla.
— Não sabia que essas coisas tinham nomes. — Dylan corta sua história.
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