Os guardas de Thor.
O pôr do sol sumiu junto ao brilho do horizonte. O véu das chamas do astro cedeu à escuridão da noite, e a queda da temperatura. A lua se sobrepôs ao céu escuro.
Os homens, a mando de Oskar, ocupavam hotelarias e praticavam algazarra nos bares. Os cérebros, preenchidos de álcool e luxúria, não se limitavam a temer o perigo de um ataque surpresa.
Tolos são, e seu líder sabe disso.
Ravensburg não era uma ida para o descanso. Era um dos pontos mais tensos do trajeto.
Ivarr se mantém sentado ao lado de Oskar, enquanto Viðga preenche o oposto. Juntos celebravam um banquete. Trajes nobres foram cedidos aos convidados para que pudessem fartar da ceia com classe. O ducado podia estar em guerra, mas a cordialidade entre os irmãos não ia sumir.
Eles fizeram questão de entrelaçar os dedos e adentrar unidos no salão de jantar real. Separaram o toque apenas quando chegaram próximo à mesa. Sentaram a frente um do outro, e deixaram a cadeira principal vazia.
Em homenagem ao falecido primeiro Guelfo. O pai deles.
A comida era ofertada pelos criados e colocada nos pratos dos convidados e duques. Garfos e facas rangiam. Rasgavam carne e vegetais nos pratos de porcelanato. Duques e convidados não conversavam. Viðga conseguia sentir a tensão da refeição.
Barbarossa, o homem no flanco. De barba ruiva, tão alongada que passava a barra da mesa. As sobrancelhas pesavam em meio ao fitar cansado e quase dorminhoco. O príncipe podia jurar ver ponta nas orelhas dele. O cabelo, da mesma tonalidade, não era calvo, mas perdia espaço para os fios grisalhos. A extensão dos braços era coberta por tatuagens tribais, com desenhos circulares. Que contavam uma história no passar das linhas. Muito forte para um simples duque. Barbarossa encarou o príncipe com desdém, enquanto engolia um pedaço de carne.
— Você é o neto do Abutre?
— Meu avô me falou de ti. — Viðga comeu um pouco. — O homem que a cada fio de cabelo em sua barba possui nela uma alma arrancada de um soldado vadio. Ele conta algumas histórias de Ravensburg, do Henrique matador de leões, e Barbarossa o carrancudo.
— Humpf... — O Duque sorriu — Niðhad sabe como odeio ser chamado por este subtítulo. — O ranger no porcelanato diminuiu. — Possuo um tamanho apreço por aquele homem. Alberto nunca colecionou muitos aliados. — O duque levantou. — Durma em meus aposentos essa noite, irei à casa de um fraterno, tenho intenção de retornar apenas na hora do duelo. — Ele se Pegou o último pedaço de comida no prato — Oskar. Espero que seu campeão seja um bom entretenimento. Convoquei públicos pagantes para esse espetáculo.
O duque foi contemplado com a saída para o corredor do palácio, com a túnica roxa e o florete em na bainha.
Viðga acompanhou com os olhos a saída do lorde. Após a ceia só Viðga permaneceu no palacete. Ansioso para fugir de lá devido a presença de Thor no subterrâneo. Batidas na porta foram ressoadas, e sem permissão prévia o Leão adentrou ao cômodo para se despedir da noite. O duque carregava consigo uma jarra de vinho. — Não sei o quanto gosta de vinho, mas é ótimo para dormir. — Ele levou até a mesinha ao lado da cama do príncipe.
— Obrigado! — Sorriu — Nunca fui muito fã dos trabalhos de diplomacia, mas aqui está bem mais conflitante do que imaginei.
— Após a morte do pai, Barbarossa tornou-se um homem bem fechado. Ele sempre é muito religioso. E ter Thor embaixo de nosso teto é, para ele, uma resposta de que sua fidelidade possui motivo.
— Ele por acaso viu as atrocidades que Thor faz naquele salão?
— Sua fé o cegou a ponto de considerar aquilo atitudes normais. — Henrique bufou — Príncipe Viðga, sei da sua história, filho de uma Valquíria. Mas talvez o divino seja isso, e a atitude de Thor esteja certa ao seu vislumbre. Quero que fique ciente, entrar nesta guerra é contrariar tudo aquilo dito correto.
— Sei bem duque — Os ventos bagunçavam os cabelos. — Eu quero interromper essa guerra, e buscar respostas sobre minha mãe.
— Quem diria — O leão deu uma risada curta. — Encontrar nas trevas um homem que queira cessar a guerra. A sabedoria de sua mãe deve estar presente em seu conhecimento rapaz.
— Obrigado lorde Henrique. — Viðga sorriu, tímido pelo elogio.
— Uma coisa. Não tente sair do quarto durante a noite. — O tom era mais sério do que o esperado. — Algumas coisas acabam sendo sentinelas do castelo a mando de Thor.
— Que coisas? — Viðga fica curioso e amedrontado.
— Não sei te dizer, mas é melhor não deixarem te ver, como não o conhecem, podem acabar te matando. Eles não adentram aos cômodos, então apenas não saia do quarto.
O aviso quase fúnebre deixou o príncipe apreensivo. "Que este vinho me derrote". Derramou o fluido sobre o recipiente da taça preenchendo-a até a borda cunhada. A bebeu enquanto lembrava da infância.
Se recordava de momentos felizes com a mãe. Praticava reza aos deuses, e tentava se ver tão nobre como algum deles.
A imagem de Thor se masturbando, envolto de carcaças pútridas. O filho de Odin foi a figura a que mais o inspirou. "Ele é mesmo Thor?" Toda estrutura física condizia aos relatos dos livros. Viðga queria imaginar que era apenas um sósia, mas como? Como ele conseguiria convencer a si mesmo do deus falso? Que não passava de um mal-entendido feito pelos homens?
O aviso de permanência no quarto começava a parecer menos sensato. Ele sabia que tinha de confirmar. Acerca da mentira. Acerca da verdade. Ficar no quarto a noite inteira não era mais um protocolo de segurança. Viðga queria sair, e ver com os próprios olhos o poder de Thor.
"Se eu estou aqui para enfrentar valquírias e deuses, preciso saber da verdade." Disse em monólogo.
Ele se armou duma adaga contida no coldre, e tomou um último gole de vinho. Abriu a porta do quarto, e contemplou a escuridão dos corredores. "Porque as tochas não estão acesas?" Viðga esticou a mão dentro do quarto e pegou a tocha que iluminava o aposento.
Um ar frio de neblina andava pelo chão do palácio. Umidificava os pisos e resfriava a espinha do príncipe. O silêncio o fazia ter medo até da respiração. Os passos eram calculados para não fazer alarde.
Ele virou à esquerda, em outro largo corredor. Ouviu respingos constantes de gotas numa poça. A tocha não conseguia ter uma iluminação tão poderosa.
"O que é aquilo no fim do corredor? Parece à sombra de alguém..."
Ao esgueirar-se próximo de um beco a mão trêmula foi surpreendida. A boca do príncipe foi tapada por uma palma seca. O braço foi preso, e o corpo puxado para dentro da fresta escura.
Dylan manteve o dedo indicador à frente dos lábios, enquanto usava a roupa para apagar a tocha. Ele colocou o bastão de madeira no chão e puxou o príncipe para o fundo da fresta.
Apenas a luz da lua iluminava os corredores do palácio. A sombra, antes vista por Viðga, deu passos em direção a eles. Lentos e angustiantes. Acompanhavam um barulho de estalos como o cantarolar letárgico de uma cigarra ou o cricrilar do grilo. Quando a presença física apareceu na frente da fresta, Viðga viu que Dylan o salvou.
Uma criatura no corpo de um homem, com a pele rasgada, órgãos amostra e pedaços da própria carne segurada por tendões esquisitos. A cabeça não é humana. Era a junção de três cabeças de cabra viradas com as bocas para o céu. Composta por vários olhos desesperados e um barulho agonizante. Na mão carregava um machado que pingava sangue fresco.
"Algumas coisas acabam sendo sentinelas do castelo a mando de Thor."
A frase de Henrique torturava a mente do príncipe. Não conseguia crer na imagem a frente. A criatura ignorou a fresta, e acalmou os nervos dos rapazes. Eles esperam o barulho dos passos sumir dos ouvidos.
— Que merda é essa, Dylan? — Sussurrou.
— Criaturas feitas das carcaças mortas de Thor. São os soldados que ele mata junto aos animais que ele come. — A explicação foi sucinta.
— Ele tinha sangue no machado.
— Era de um dos soldados de Oskar, ele me mandou e mais dois homens para vigiarmos Thor, mas não sabíamos das criaturas.
— Onde está o outro soldado?
— Não sei.
— Henrique diz que nos meus aposentos nós estaríamos seguros destas criaturas. — Viðga deu uma pausa até entreolhar o Cão. — Mas eu preciso ver com meus próprios olhos, se aquele é Thor a qual idealizei metade da minha vida.
Dylan não o refutou, apenas afirmou com a cabeça. Aceitou a ordem do príncipe. O escravo colocou a cabeça fora do beco para analisar o perigo da área. Deu passos para fora do esconderijo. Usou do canto da parede para esgueirar-se junto de Viðga.
Próximos à sacada das escadas avistavam o salão principal. Voltar e sair eram perigosos no mesmo nível. Viðga viu várias criaturas arrastarem machados e espadas sujas pelo piso. Com caras de cabras e de bois contorcidas.
Não era um palácio.
Era o inferno.
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