O objetivo de Dylan
— Deuses nórdicos não são coisas absurdas, filho. Ficam bêbados, querem transar, sentem raiva, tristeza, e morrem. Nada diferente dos homens que mato. Só possuem um pouco mais de força, bem... Bastante força. Tire isso deles, e só sobra carne, desespero e um desejo insaciável por manter sua honra.
— Então foi uma armadilha pensada para você.
— Exato. Eu queria apenas confirmar se Henrique estava fazendo isso de caso pensado. Quando ele disse para você dormir no palácio percebi que as intenções eram outras. E que faria de tudo para te indagar a ir em direção ao risco. Por isso mandei Dylan e mais uns homens.
— Eles morreram...
Oskar vira suas costas e caminha para direita. Indo em direção ao jardim de rosas acobertado pelas estruturas reais. — Eu sei, não me importavam. Apenas você.
O jardim é arredondado por uma plateia posta de pé em cima de pequenos degraus numa escadinha. Eles se deleitam de vinho, comida cara, velhice e falas invisíveis. Os aristocratas esperam o espetáculo na arena. Numa fala mais íntima, aguardam a morte de um pobre frente a algo cruel.
Barbarossa e Henrique conversam. Viðga entende que ele avisa ao irmão sobre o descobrimento da farsa. Os homens vão até à entrada do círculo se apresentar. O barulho de ferro das vestimentas é o marco do silêncio dos aristocratas.
Henrique e Viðga se entreolharam, quietos. O velho debochado não consegue conter a felicidade em seu rosto amargo e desonesto.
O príncipe vê ao lado dos duques, Thor, vestido com seda vermelha. Como um herói em descanso.
A plateia começa a aplaudir a presença dos soldados. Como uma gratificação pela presença sem tentativa de fuga ou clemência.
— Pelo visto o ducado está mais unificado do que imaginei. — Oskar sorri, numa fala alta, esperando a resposta de um dos irmãos.
— Foi uma trégua que determinamos — Barbarossa fala — meu amado irmão, sabia bem o que fazer.
— Bem, meu campeão ainda está aqui. Teremos de sofrer essa armadilha ou batalharemos com honra?
— Honra, claro! — Thor se pronúncia. — A mesma que teve para matar meu filho!
Das costas dos corvos, uma criatura caminha. Seus passos puxam a atenção de todos os presentes.
Ela tem três cabeças: A de um boi, uma cabra, e um cavalo. No chão, arrasta um enorme facão, sujo e bem afiado. Seu tronco é gordo e sua estrutura é bem maior que um humano conseguiria chegar. Beirando mais de dois metros.
Ao invés de atacá-los. Caminhou para o centro do círculo e se ajoelha perante seu criador — Thor.
Oskar se vira para o Cão e dá a ele a espada presa em sua cintura. O general, com delicadeza, envolve o coldre em seu escravo sem dá-lo satisfações aparentes.
General e deus se encaram de maneira fúnebre. Dando a entender que podem parar suas ameaças ali. Ou ultrapassar.
Dylan caminha para dentro do círculo, aguardando a que seu inimigo perceba sua presença.
O vendo com mais detalhes, percebe que não há pele naquela estrutura. Só carne mofada e preta, com ligas das fibras rasgadas que ainda sangram. A criação de algo nojento. O monstro se vira para vê-lo.
Dylan, para não ser surpreso, pega a espada, mas é pego de surpresa pelo brilho da arma.
A alma de Eloen.
A lâmina verde é a espada que há perdido ao longo dos anos junto a sua alma e o desejo de viver. O único motivo por ainda estar vivo ressuscita em meio ao conflito. Eles fecham a boca, e foca sua visão na criatura.
O galês põe a lâmina à esquerda da costela bloqueando o ataque do facão. O impacto das lâminas faz o vento ao redor ser cortado e um barulho estridente ressoar. A criatura usa da força para pressionar sua arma contra a defesa do escravo. Aquilo doí em Dylan de maneira severa, pois pressiona seu pulso de uma forma não articular.
O Cão gira a ponta de sua lâmina para fugir do ataque e dar uma cambalhota. A criatura se desequilibra. A oportunidade cedida dá ao rapaz ânimo para encarar a fera. Com um grito desfere uma estocada na carne envelhecida. A cabeça de cavalo berra em adorno dando um pequeno alívio a Dylan por ter conseguido feri-la.
Mas conseguirá tirar a espada?
As fibras daquela carne mofada prendem a espada. Impossibilitando Dylan de retirá-la. Ele quer sair de lá, mas não pode deixar a espada de Eloen escapar das mãos. Dylan olha para cima, vendo as cabeças da criatura. Seu corpo é macedônico, e o cheiro remete a morte. A respiração da besta transmite ao galês um enjoo que o leva a ânsia de vômito.
O monstro faz um som atormentador. Ele move seu braço corpulento, na intenção de acertar o galês. Dylan se defende, mas é arremessado como um boneco de pano em direção aos arbustos do jardim. O impacto ao solo o faz sentir os estalos na costela. Mesmo não sendo forte o suficiente para desmaiá-lo. É o bastante para fazê-lo vomitar tudo que tem no estômago.
Dylan tenta se apoiar nos braços. Quando sente a dormência do esquerdo se espantou. Seu ombro está deslocado, e a pele ao redor do cotovelo há sumido. O cão pode ver seus tendões, articulações e veias expostas naquele pedaço do membro. Em suma, é desesperador. Dylan olha o seu objetivo maior, a espada presa no abdômen da criatura.
O galês, irracional, toma mediações rápidas para sua recuperação. Com uma adaga guardada dentro da roupa rasga parte da veste e contorna o ferimento na articulação. Com frivolidade realoca a luxação de seu manguito rotador.
A plateia se espanta. O campeão causa um medo desconhecido. Dylan está enraivecido, e seu único objetivo é recuperar a espada de sua amiga. Agora, obstinado, pretende matar a criação de Thor.
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