O deus ruivo
Nos morros alísios ovelhas balem assustadas. Por conta da presença dos alazões, ferozes e cansados, que saiam do escuro da floresta. O trote poderoso estremecia à terra fofa, e gelava a espinha dos aldeões. Os pastores perdiam o foco na condução das novilhas.
Dois estandartes surgiram da floresta. Um hasteado com o símbolo do corvo no fundo amarelo. O outro com um abutre imperador na base cinza. Oskar conduzia os homens em direção à bastilha. O arranjo era moderno. Possuía pedras brancas e limpas. Apenas musgo e algumas trepadeiras compunham a sujeira.
Os cidadãos, bem travestidos e educados, veem o terror no exército. Não existia pobreza na cidade aristocrática. O chão era limpo, sem lixo. As estruturas eram sustentadas por colunas romanas. Além das paredes que dispunham duma arquitetura encantadora.
Ravensburg era uma sociedade rica de conhecimento, cultura e classe. O exército viajante sentiu os olhares julgadores em direção à carreata caótica.
— Alto lá! General! — Um soldado trajado de roupas de bronze parou o pelotão. — Preciso que se identifique caso queira dar mais passos em nosso território.
Oskar o desprezou, mas sorriu de maneira falsa. — Milorde. Sou o general do reino de Corvina, Oskar. Vim a mando de Henrique, o Leão. Somos convidados especiais do Duque.
O cavaleiro os analisou bem. Viu o sangue encrustado nas armaduras e manchado nos brasões. O exército fedia a morte. Ele tentou dar uns passos à frente, mas o alazão de Oskar baforou na cara dele.
— Convites só podem ser ofertados a mando de ambos os Ducados. O convidado tem de expressar a solicitação com uma carta. — O guarda respirou fundo. As pernas bambeavam.
— Como pude ser rude. — Oskar desceu do cavalo e caminhou a frente. Levou a mão próximo da espada.
O Cavaleiro desesperou com a movimentação ameaçadora. Sacou o gládio e o posicionou ligeiramente no pescoço de Oskar. A população ao redor ficou pasma. Mulheres corriam para tirar as crianças do perigo. A arma tremia na mão do cavaleiro.
Oskar retirou do lado da espada uma carta, e O levou o documento à frente do rosto. Timbrado com tinta vermelha. O símbolo de um leão que expelia fogo pela boca com as duas caldas. Sem dúvidas, o símbolo real de Ravensburg. Ele tocou no gládio e abaixou com cautela. Fez o soldado redirecionar a ponta da arma para a bainha e interromper a ameaça fútil.
O cavaleiro ajoelhou em silêncio. O rosto suava frio.
— Relaxe soldado, estava apenas cumprindo ordens. — Oskar pediu a Ivarr para que o acompanhe. — Traga o príncipe e o cão também. Vamos direto aos aposentos reais. Homens! — Gritou — Arrumem nossos cavalos nos estábulos! Está é uma cidade de respeito! Sem algazarras!
Desmotivado, o pelotão moveu em silêncio para dentro da cidadela cheia de ruas largas. Ivarr segurou as correntes de Dylan enquanto Oskar caminhava com Viðga à frente.
— Ravensburg é bem evoluída para um império de centro, não acha isso estranho? — Viðga questionou.
— Sim. — Oskar respondeu ao nobre. — É obra de Barbarossa. Desde que o rabugento contraiu gonorreia ele se articulou muito bem para melhorar o status local.
— Pelo modo que você falou, isso é um problema aparente.
— Príncipe. — Oskar o mirou de canto. — Você é um homem bem religioso pelo que me recordo. Qual sua opinião sobre os deuses?
— Uma pergunta dessas fugindo da minha indagação. — Viðga bufou. — São criadores do nosso mundo a partir da morte do gigante. O mínimo que nós mortais podemos prestar é respeito já que eles só desejam nosso bem.
— Hum... Pensei nisso por um momento em minha vida. No início dela para lhe ser mais preciso. Seres superiores que se sacrificavam a nós mortais para nos ajudar.
Eles chegaram à frente do enorme portão da realeza. Estava aberto durante o horário do sol. Adentro o vislumbre da riqueza deu outro sentido ao poder nobre. O piso tão límpido que podia admirar o próprio reflexo nos detalhes em marrom.
Aristocratas e parlamentares circulavam e debatiam sobre retóricas e trabalhos administrativos. Ignoravam a presença dos visitantes.
— Oskar! — Um grito encatarrado soou a frente. Onde nele viu um homem de estatura baixa, e com barriga avantajada. Possuía uma calvície aureolar nos cabelos loiros encaracolados.
— Henrique. — O general ajoelhou.
— Sem formalidades, veio mais apressado do que imaginei.
— Você sabe que estes serviços são do meu apreço.
— Muito bem! E quem é seu campeão? Este vigoroso ruivo? — Henrique deu um tapa formoso na armadura prata de Ivarr.
— O campeão está preso a corrente, milorde.
Henrique notou a feição suja do escravo.
— Hum... Ele está bem destruído, mas mesmo assim tem uma boa postura.
— Senhor Henrique. — Viðga se intrometeu — Sou Viðga. Príncipe da península Cimbric e sucessor de Niðhad. Possuo total respeito a ti e a General Oskar, mas preciso entender as desavenças deste Ducado. Entendo o objetivo de meu reino, mas não de vossos interesses para com ele.
Leão e ave se entreolharam. Contemplavam a potência do pequeno abutre.
— Mostre a ele Henrique. Eu preciso disso.
O leão assentiu, e começou a andar a frente de todos. Tomou rumo numa direção um pouco menos movimentada.
— Como ia lhe dizendo, príncipe. — Oskar continuou o diálogo com Viðga. — Minha primeira descrença aos deuses foi aos meus doze anos. Minha mãe que jaz em paz contava-me sobre uma era de caos preambular ao ato final, o Ragnarok. Onde os deuses só ajudarão e salvarão aos fiéis a eles. A mulher que cuidou de mim até no fim de nossa pobreza dava mais do que podia para ofertas a Odin. Sempre a perguntei "Se Odin nos ama, por que temos de dar aquilo que nos tira a fome?" Ela me dizia que algum dia entenderia.
Eles começaram a descer escadas.
— No dia do definhamento de minha mãe eu vi Odin. Ele há subido a minha aldeia. Pensei que tivesse ido curá-la da doença, mas apenas queria ali cobiçar uma das mulheres da taverna. — Oskar amargurou ódio no olhar. — Pode crer em mim? Numa criança que pedia desesperado para o Odin. Que sua mãe, tanto clamou por salvação! Sendo repudiada por causa do seu desejo por sexo? Foi ali que aprendi que não serão deuses, gigantes, monstros místicos, nada disso salvará ninguém a não ser nós mesmos. A ganância deles é nosso caos, Ragnarok e a descida de Valhalla são a prova de que não ligam para nós.
— Oskar... Eu disse apenas a ti, quer mesmo... — O leão tentou alertar, mas foi interrompido.
— Duque abra para nós, por gentileza.
— Desde o ano passado Thor veio ao nosso reino. Juramos ser um deus salvador das tragédias que poderiam ocorrer pela descida das valquírias, mas desde então. — Henrique abriu o portão com cautela. Deixou apenas uma pequena fresta.
Viðga não podia crer no que via. Era aterrorizante e perturbador para a mente de qualquer um. O cheiro dava ânsia de vomito. Os berros das ovelhas prevaleciam. Eram ensurdecedores e davam um desgosto tamanho aos tímpanos.
O Deus nu de dois metros. Com cabelos ruivos que batiam nas nádegas. Onde no orifício anal deixava mais que a metade do cabo da Mjölnir dentro. Ele mantinha os pés em cada braço do trono. Enquanto se masturbava com uma das mãos e usava a outra para enfiar o martelo. Thor gostava de gozar por cima da barriga. O resto do salão tinha cheiro de carne fresca. Com diversas carcaças de ovelhas e bois no chão.
— Henrique me disse que ele passa o dia se masturbando. Quando está entediado pede um dos soldados do império. Costuma transar com eles até o falecimento do homem. Além de comer mais de cinco animais em cada etapa do dia. — Oskar falava sério para Viðga. O príncipe via o sorriso na faceta do general. — Quando fiz quinze anos Viðga, foi à idade em que matei meu primeiro deus. Essa é a realidade deles. Pensam que nós servimos para seu prazer. Eu suponho que está na hora de retribuirmos.
As falas do General o espantavam. Tudo no momento parecia perturbador e descrente. Onde a própria imagem que havia feito de Thor caiu em terra. Viðga não sabia mais o que fazer ou em quem acreditar. Eles saíram da frente do salão antes que fossem notados.
— Então o cachorro aqui vai encarar o Deus? — Ivarr puxou Dylan — Foi bom conhecer esse pivete.
— Não, pelo menos não agora. — contestou Henrique. — Barbarossa tem um campeão. Thor é nosso convidado apenas. Acho que se ele tivesse coragem de pedir algo ao deus teria sua cabeça esmagada.
— Ele vai encarar Gorth, O açougueiro.
— Pelos deuses! — Ivarr proferiu em alto som. — Isso soou muito pior do que lutar contra o asgardiano.
Viðga permaneceu em silêncio. O suor descia frio sob a pele. Ainda descrente da desgraça recaída sobre a luxúria e soberba do Deus mesquinho. Ao qual por anos proferiu palavras de adoração e pedidos de consolo unido a mãe.
— Henrique, pode conduzir nosso príncipe a um aposento real? Nós vamos levar o Cão para descansar no estábulo.
— Oskar. — Henrique alertou. — Barbarossa sabe de sua vinda, mas imagino que ele também tenha percebido toda essa movimentação. Ele quer primeiro fazer a aristocracia apoiá-lo com a união de Valhalla. Os velhos estão cedendo a pressão pelo consumo abusivo das nossas comidas. Até o exército está ficando a favor dele por causa do medo de Thor. É a última jogada que possuo para parar esse malefício de Asgard sobre nossas cabeças, não o desperdice.
— Henrique. — Oskar o reverenciou e virou para levar o escravo. — Sabe que ninguém, mais do que eu, tem o desejo de não desperdiçar a oportunidade.
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