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Galahad, o herói de meu vô

Suas pálpebras pesam como se estivesse adormecidas há anos. — talvez sim, aliás, quem diria que não? — Algo fala em sua mente tentando trazê-lo para despertá-lo. Não chama seu nome apenas uma, ou duas, mas diversas vezes.

Velent ...

Sussurra inconsciente. O nome que não quer pronunciar. Jogado no chão escuro e vazio de sua própria mente. Um cão feroz de olhos avermelhados empurra-o contra o solo, impedindo seu despertar.

— Foi uma batalha e tanto em Dylan. — O cachorro ladra, feliz.

— Sai de cima de mim, preciso levantar.

— Essa é a graça. Ainda sim quer continuar lutando, para de mentir para os outros. Você ama isso, o sangue que suja nossos corpos, nossas almas.

— Não! Detesto isso!

— Como detesta, se em toda sua vida só viveu assim?

— Dylan! — Viðga o desperta do pesadelo, balançando o ombro do escravo.

O campeão tenta erguer seu torso, mas a ferida no dorso não o permite. A atadura esconde a carne que expele pus como um vulcão. Qualquer movimento é pior que puxar a pele da ponta do dedo para o alongamento dele.

— Calma — Viðga ajuda seu amigo a virar o peito para cima. — Não imaginei que ficaria vivo para ser sincero.

— Tsc! Como estão as coisas no palácio?

Viðga se levanta do beirado da cama indo à direção à janela. Os estrondos, gritos e tremores ainda podem ser sentidos, e a moldura da paisagem só passa caos e desordem.

"Oskar levou ele para longe daqui. Não está se movimentando sem pensar."

O tempo que passa perto do velho general causa certo respeito, repugnante, que nem o príncipe gosta de admitir.

— O palácio está destruído. Oskar está enfrentando Thor, com alguns soldados que restaram.

— Quantos estão sendo utilizados para matá-lo?

Outro barulho do relâmpago ensandece os ouvidos e olhos dos rapazes. O príncipe retira sua cara da janela pela luminosidade que o relâmpago da Mjölnir causa. O teto estremece, deixando o pó dos cascalhos caírem sobre o piso de madeira. Aquele ambiente não passa mais segurança aos rapazes.

— Por enquanto, só Oskar. Sobraram poucos homens. — Viðga fuzila Dylan com os olhos — Pelo que conto não devemos passar de cinquenta homens.

"Cinquenta? Éramos três mil!"

Viðga está descrente da realidade que reverbera seu âmago. A notícia não nocauteia o ferido com a mesma intensidade.

— O que você irá fazer? — Dylan o questiona

— Que pergunta é essa? Tenho cara de herói ou algo assim?

— Meu avô era um amante da Grã-Bretanha... Sempre me contou histórias sobre Galahad, e seus feitos para o povo na época dele. Como inspirava outros cavaleiros, e trazia a sensação de existir um amanhecer posterior às trevas. Ele viveu nos últimos gloriosos anos do reinado de Arthur. Após a queda. Gales tornou-se um ambiente de entranhas. Mas o velho sempre teve esperança de que Galahad voltaria de sua última expedição. Trazendo ouro, ovelhas e paz para nossas terras. Ascendendo um reinado maior que de Arthur. — Dylan, com calma, e muito esforço, tendo de ignorar as dores, consegue se colocar de pé. — Quando fui para a guerra. Tive de proteger uma criança de homens sem senso de moral, pudor e humanidade. Percebi ali que Galahad nunca voltaria. Não existem heróis na guerra, apenas o último a ficar de pé.

O cão parece acabado, e se mexe com lerdeza. Mas mesmo ao fim de sua vida curta pega sua espada no chão e ajeita a coldre na cintura. Ele não sabe se voltará vivo daquele inferno, e muito menos pensa nisso.

Mas Viðga devaneia, e se sente enojado consigo mesmo por isso. Tudo bate tão forte dentro de si que começa a não acreditar que um dia se considerou um cavaleiro.

"Como? Como encarar a sua maior admiração? Um deus. Não é qualquer carne viva perambulando na terra. É aquele a qual rezei por anos. Merda."

Viðga pega sua espada e começa a ajeitar algumas partes da armadura em seu corpo. Por um momento tira uma pequena risada do Cão.

— Do que ri?

— Seu cérebro parece que aceitou a morte, mas seu corpo corresponde diferente.

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