Flor de cerejeira.
O homem dá uma pequena risada, mas tenta travá-la o mais rápido para não deixar Dylan mais envergonhado do que está.
— Você não deve ser desse país, contou-me que foi traído, e mesmo assim fala com tanta abertura. Algo em ti, deve querer confiar-nos outros. — Fritz vai até o beiral da cama e junto ao rapaz abre o livro. — Vou te ensinar a ler, e se quiser ficar aqui em casa pode ficar. Wolfsburg é um distrito um pouco próximo de Valhalla, mas o exército daqui é bom para proteger esse vilarejo.
— Eles não vão conseguir parar aquilo. — Dylan olha o vazio. — Nenhum homem devia ser punido por encarar aquilo que os deuses chamam de "lar dos guerreiros".
— Diz isso como se você fosse alguém que pudesse ser punido. — Fritz o encara. — Tem tristeza em suas falas, e havia dito que foi salvar um amigo. Por algum motivo parece que ele não quis ser salvo... — O homem abre o livro — Leia comigo, e logo após irei te mostrar um lugar lindo.
Com cautela, e delicadeza. Aquele senhor grisalho toca seus dedos trêmulos, e enrugados, no papel amanteigado. Ao fim de explicitar ao rapaz aquilo que as palavras significam. Na paciência e tempo que dispõem leem juntos, páginas e mais páginas daquele livro grosso e sujo de tanto que foi lido.
No sol da tarde, Fritz sai de casa com o rapaz. — Dylan segue os passos do homem, mesmo cansado. Com sua espada no coldre. — eles caminham vilarejo a cima até chegar num pequeno bosque.
Dentro, Fritz mostra ao seu visitante um jardim de árvores de flor de cerejeiras. O toque rosado daquelas pétalas que caem aos poucos no solo é tão calmo. Dylan respira com mais atenção, sem medo.
— Há quanto tempo você segura uma espada? — Fritz não faz questão de olhar para o rapaz.
— Desde que me conheço por gente. — Dylan responde. Ele estende a mão para pegar as pétalas dançantes.
— Seu rosto, sua alma, seus gestos. São de uma pessoa que odeia a guerra, mas não sabe como sair dela. É igual ao do meu filho. — Fritz o encara. — os distritos acima de Wolfsburg possuem ciência das atrocidades de Valhalla. Agora, com o uivar de Fenrir, mal sabemos em como isso vai acabar. É o início da Ragnarok.
— Por isso estava lá, procurava por ele.
— Não é a ele que procuro... — a voz de Fritz pesa — Falhei em retirá-lo da guerra. Ainda posso lutar por você. — Fritz vira por completo para Dylan. — Você não precisa segurar uma espada caso não deseje.
— Você está pedindo para que eu pare de usar uma espada? — Dylan faz uma careta.
— "Aquele que nem o destino é capaz de domar", ou, "A fera que só sabe morder"? — Fritz encosta no peito do rapaz — Preciso saber o que desejas, daqui de dentro. Apenas quero lhe ensinar a usar a espada.
"Ser capaz de lutar pela própria paz? Uma luta tão violenta que não é necessária, arma para lhe machucar. Como seria se eu fosse atrás disto? De finalmente saber os motivos de bradar uma arma..."
Dylan desembainha a espada, e estende a ponta da sua lâmina até os olhos do idoso. Fritz fica amedrontado.
— Me ensine. – olha-o fulminante.
— Essa é uma arma mística... — Fritz pega a espada. — A energia que emana nela está quase explodindo, pelo visto você não sabe usar magia. Além de ela ser muito conectada a ti. — Fritz leva a arma até o assento de pedra do jardim, e a deixou repousando. — Para eu lhe ensinar a usar uma espada, primeiro preciso lhe ensinar a ler. Depois a lutar sem ela, até conseguir entender os motivos de estar segurando-a. Compreende-me?
O rapaz fica assustado. Está cansado demais para treinar, mas há adorado a leitura daquele livro com cheiro de mofo. Dylan caminha até o homem, e ali de pé pede para pegar o livro. Ele quer tentar ler, mas é difícil para uma primeira viagem. Fritz então põe na primeira página do livro e ali...
— Um d-dia dos se-sete mais do a-a-no... Não s-são tão ne-bu-ne-bu-losos, quan-to os outros se-is.
Com leves sussurros e sorriso quente do mestre. Dylan fica satisfeito consigo por conseguir iniciar a leitura. Ele está repetindo as falas que Fritz há dito, mas fica encantado a arte oratória. Naquele momento ele começa a se esquecer de tudo para focar no livro.
Aos poucos se esquece do tormento do castelo de Alrune.
Da traição de seu melhor amigo.
Das lutas desesperadoras contra monstros sanguinários.
Pela primeira vez, sua mente começa a imaginar como é o mar aberto na noite estrelada. Como pode o sol dar vida as flores que nascem no início da primavera para morrerem ao final dela.
Ele está aprendendo a entender as feições dos homens e o significado dos movimentos dos animais. O livro por algum motivo tira dele o desejo ganancioso de ler tudo e compreender tudo.
— O que significa algo que está dentro de si? — Fritz questiona a fala de um dos personagens da história.
— Significa...
"Significa..."
— Algo que está vivo...
"Algo que está vivo dentro de mim..."
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