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Alrune, o pedido de sua mãe

— Quando eu era de outro exército, aos meus dezoito anos, patrulhava a cidade da minha mulher e filhos. Lá, tinha um único amigo, Badi. Ele havia fugido da guerra, e mudou o nome, para não o encontrarem. — Suspira. — Numa de nossas conversas, questionei a ele porque não vivia como um cavaleiro? Era forte, e teria que trabalhar muito menos no que na fazenda. Sabe o que ele me disse? — Oskar questiona retórico, dando uma breve pausa — "Se vive muito melhor cortando grama do que cabeças". No momento eu ri, pois, achei uma piada. — O general abaixa a cabeça, e cata algumas gramas. — Mas depois que Magni foi bêbado a minha cidadela, e matou a todos que eu amava, e ao meu melhor amigo. Percebi o quanto ele estava certo. Existem homens que não deveriam conhecer a guerra. — Ele se levanta, indo para próximo da fogueira. — Acho, na verdade, que todos deveriam ser camponeses assíduos que nem o Badi. Eu não te enfiei na guerra, mas quero te dar a chance de sair dela.

— De onde você era? — Dylan pergunta, curioso com a história.

— Gales.

A palavra soa quase como uma piada na mente de Dylan.

— Aliás. — Oskar para sua subida — Meu nome é Oskar Lançarote III, filho de Galahad Lançarote II. Vá viver, criar cabras, coçar o saco. Não tem motivos para ter mais sangue entranhado em sua carne. Inclusive, se quiser me matar, não hesitarei em morrer. Sei dos meus pecados, os pagarei sem remorso. — Volta a subir

O espanto bate em sua mente. Ravensburg parece ter mudado a mentalidade de todos. Ao ponto de tudo parecer uma fantasia de mau gosto. Não é como se tudo seja capaz de ser crível da água para o vinho, mas as sensações ali são verdadeiras. O coração acelerado de Dylan sabe disso. Não há mentiras, aqueles homens podem ter lhe causado mal, mas nunca mentirão sobre suas intenções.

"Livre... Criar cabras e vacas."

Dylan pensa naquilo. Voltar às suas raízes e apagar a estúpida ideia que teve de segurar uma espada para batalhar por dinheiro. Desde sua adolescência só vê sangue e morte, como será criar de um bezerro novamente? Cuidar de algo. As pontadas em seu coração ficam mais fortes, até que por conta delas o rapaz começa a chorar. Apenas Ivarr vê aquelas lágrimas descerem. Algo que não a visto por anos de caminhada. Por um lado, o cavaleiro de prata se sente culpado, por outro, aliviado. Ele sabe que seu caminho é uma trilha até a morte, e isso a angústia, mas não faz mal. O último peso de suas escolhas é retirado naquele momento, num abraço de perdão.

Ivarr ajuda Dylan a se levantar, puxando-o para que pudesse festejar a morte de seus aliados. Quando chegam próximos à fogueira, Príncipe e Cão se encararam. O nobre, saboreando a carne de pato, utilizando de luvas para não sujar seus dedos. Enquanto o plebeu tem aquele constante aspecto sujo e acabado. Mas Dylan pode esboçar um pequeno sorriso para seu amigo. Viðga fica espantado, mas com uma contra resposta alegre o ofertou uma taça de vinho.

— É bom tê-lo aqui, amigo. — Viðga faz questão de dizer.

Dylan pega a taça, e por um momento esquisito naquela noite, aquele rapaz parece iluminado. É algo angelical e espantoso, que ofusca os olhos dos presentes.

Ofusca, literalmente.

Aquele brilho é de alguém. A luz branca, como uma rajada ao solo, quebrando à terra do plaino do morro com facilidade.

Uma Valquíria.

Travestida com sua armadura azul oceânica, e sua espada branca que força a vista de quem quer que olhe. Ela sobe o morro até chegar próximo dos soldados. Alguns se armam para tentar pará-la, mas quem disse que são capazes?

Os movimentos daquela mulher estão acima de qualquer cavaleiro comum. Ela pode parar ataque de machados e espadas com as mãos nuas. Enquanto desmembra pedaços daqueles homens com um único movimento de espada. Espertalhões que tentam alcançá-la pelas costas sentem a força das asas, que os arremessam. Ela para suas botas em cima da fogueira, não se importando com o fogo abaixo do metal. Curva seu corpo, se ajoelhando na frente do príncipe. O movimentar das asas, apaga as chamas deixando que o escuro seja iluminado por sua espada e a lua.

— Príncipe Viðga, sou Alrune. Vim protegê-lo a mando de sua mãe.

O rapaz fica boquiaberto e amedrontado. Sua boca balbucia — M-m-minha mãe?

— Exato lorde, Beadohild. A mãe de todas. Quer que você venha comigo.

— Não acredite nessa víbora! — Um baloar de espada é ressoado, o choque das espadas de Oskar e Alrune interrompe a conversa. — O que faz aqui Alrune!?

— Oskar. — Ela movimenta a ponta de sua espada para cima jogando a do seu adversário, e faz um corte em seu torso. — Odin está lhe esperando. Matou seu filho querido, saiba que ele não está nada feliz.

— Quero queimá-lo nas brasas de Helheim junto a sua carne!

— Que meigo.

— Parem! — Viðga se levanta — O que está dizendo é verdade? Minha mãe quer me ver?

— Não acredite nela Viðga! Essa maldita Valquíria nem se importa com essa guerra!

— Mesmo que não acredite... Se eu não for, você vai matar a todos aqui, não é?

Alrune sorri de lábios fechados. Surpresa com as falas frias do rapaz. O intelecto que está a sua frente não é algo inocente mesmo que queira crer. Ela embainha sua espada e pega da mão do nobre a sua taça de vinho, engolindo todo o líquido numa única golada.

— Isso mesmo.

Viðga olha para Dylan, e com delicadeza tira as luvas sujas das mãos. Apertando a mão do ex-escravo com força. O nobre aos poucos se aconchega num abraço forte e apertado — que por algum motivo não faz o machucado de Dylan arder. — Quando solta segura firme pela nuca e olha o Cão no abismo de sua íris.

— Suma destas terras. Retorne para seu país! — Viðga a solta indo em direção a Alrune — Você nunca foi de guerra, nunca será.

A Valquíria segura o príncipe, e com o bater de asas, alça voo, para levá-lo abraçado ao seu corpo. Sem tempo para paz, os homens ficam silenciosos. Todos ali querem saber o que há ocorrido, mas não são capazes de conceber a mais uma derrota.

— Para onde ela o levou? — Dylan questiona a Oskar que está amarrando mais bandagens a sua nova ferida.

— A Valhalla. Ao Lago Müritz.

— Então vamos.

— Não se lembra do que acabei de te dizer, me recuso a vê-lo...

— Eu sei! Mas ele é meu amigo, e precisa de ajuda. Ele é o filho do elfo que me salvou, preciso salvá-lo, é o mínimo que posso fazer.

— É... — Ivarr aparece, acabado por ter recebido um dos golpes das asas de Alrune — Você libertou o rapaz, não dá para impedi-lo.

— Merda. — Oskar cospe no chão. — Sabe para onde estamos nos levando não é Ivarr?

Pôde-se ouvir o barulho de um uivo tão alto parece estar perto do restante de seus homens. Eles estão cansados, mas precisam continuar. Aquele uivar é o limiar da resposta sobre o início das trevas.

— O que foi isso? — Dylan fica assustado.

— É o uivo de Fenrir, o somdo prelúdio de Ragnarok. Para salvar o príncipe temos de enfrentar a guerra dosdeuses.

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