A viagem a Cimbric
O ambiente parece imutável. Ossos e mais ossos compõem aquela arena em forma de cidadela ao meio daquele círculo de mortes. Abutres. O que indica a Dylan a proximidade do reinado ao qual tanto repudia e sente amargura. Em sua carroça leva algumas senhoras que viajam para rever a família. Seu semblante de viajante não faz com que os soldados fiquem incomodados com vossa presença.
Aquele comércio local, e a lama no chão. O ambiente é tão pútrido quanto à primeira vez ao qual há ido para lá, e cada cheiro o remete a um nojo. Quando chega ao destino, em frente de algumas casas. Faz questão de auxiliar as senhoras para descerem da carruagem.
— Você é muito bem-educado, meu jovem. — Diz a mais enrugada. — Quanto custa à viagem?
— Para as senhoras, fiz de graça. — Dylan sorri cortês. — Vieram apenas ver seus netos, não era justo cobrar por algo tão belo.
A mais gordinha faz questão de agradecê-lo apertando suas bochechas. No solo lamacento elas partem para sumir entre as arruelas dos casebres. Deixando o viajante sozinho. Sem estar atarefado com o transporte, agora ele pode pensar melhor no que fará para chegar ao seu amigo. Ele leva sua carruagem até os estábulos públicos, onde pôde deixar os cavalos sendo tratados pelo Estado.
Ele caminha, solitário, naquelas ruas abertas. O sol bate naquele ambiente sujo e faz o podre feder. — Onde vou conseguir informações do reino? — o monólogo não o responde com exatidão. Ao ver alguns soldados entrarem no bar tem o leve raciocino de que por lá poderá encontrar suas respostas.
Além do mais, está com fome.
Dylan caminha até a taberna. Lá pode respirar, aquele ar do ambiente de guerreiros, mas ali era diferente. Os soldados riem e brindam — não que os com os quais conviveu fosse contrários a isso, mas eles estão felizes. A alegria é algo que não existe na guerra. Aqueles homens nem sequer viram o medo de perto.
O estrangeiro vai até uma mesa vazia, e lá dá um leve aceno para o garçom:
— O que deseja senhor? — o trabalhador faz questão de dar um sorriso delicado para seu cliente.
— Tem suco e algum aperitivo? — Dylan questiona.
— De aperitivo temos salsicha, e de suco recomendo o nosso de cereja. — Atina — Os nossos campos deram belas cerejas este ano.
— Vou querer então. — Dylan oferta três florins dourados. — E posso fazer uma última pergunta? — o garçom assente, chegando seu ouvido próximo ao cliente — Aqueles são soldados Abutres?
— Se eu pudesse recomendar algo a ti, diria para não atazaná-los. — o garçom sai discreto da conversa, deixando seu cliente com a pulga atrás da orelha.
Dylan reconhece bem aqueles brasões. As aves necrófagas berrantes, numa moldura assombrosa. O símbolo dos dominadores de Cimbric que não tem respeito ou honra sob juramento.
Eles conversam sobre mulheres e sobre a guerra. Com sorrisos que nunca viram uma mulher nua, ou tocado no seio de uma guerra.
"Oskar, sempre te odiarei..." ele olha para aqueles soldados que estão cheios de si, mas sem motivos para tal. "Doravante, é a primeira vez que lhe compreendo, vikings são um pé no saco."
— Aquele prisioneiro lá, continua incomodando? — Um dos soldados questiona ao que está em pé.
— O azul? Depois do último surto dele o rei fez questão de puni-lo — o de pé dá uma golada na caneca de seu amigo. — Julgo que ficará sem reclamar um bom tempo.
O azul... assim como Dylan o chamava quando era adolescente. Todavia, tal pseudônimo não tem as mesmas intenções em distintas bocas. Na sua, mesmo que um jovem irritadiço, é carinhoso e amigável. Nos lábios dos Abutres, é algo escarrado e grosseiro. O galês não está confortável, mas é a calma que o diferencia do seu eu antigo.
Seu amigo está sendo machucado, e ele precisa ajudar.
Dylan levanta de sua cadeira. O arranho dela ao chão de madeira faz um barulho incomodo que atiça a atenção de todos os presentes. Eles veem o estrangeiro caminhar até os soldados. Próximo dos Abutres sua voz fica empacada. Os soldados apenas o encaram.
— Está querendo encrenca? — O de pé questiona.
— Em que prisão se encontra esse prisioneiro? — Dylan alça o peito para frente, tentando tomar postura.
— "Tsc!" Quer visitar um encarcerado, tem culpa no corpo? — O soldado ri para seus colegas sentados, que riem junto.
— Quem é você homem? Não me parece de má índole para estar visitando um elfo. — Um dos que estão sentados tenta ser mais suave.
— ... — Dylan reluta a falar à palavra que o machuca. — O Cão. Campeão, e último sobrevivente do pelotão unificado dos corvos e abutres.
— Está de brincadeira comigo... — Outro homem assentado fica pasmo de felicidade e surpresa. Seus aliados não entendem. — Vocês não o conhecem? — Questiona, sem resposta. — É o campeão-escravo de Cimbric! Esse pelotão foi escalado para entrar em Valhalla!
Os cavaleiros ficam espantados. Os sentados admiram o Dylan, e nem mesmo ele sente essa glória sobre si. Entretanto, o de pé ainda recua em relação ao seu "compatriota". O germânico tem repulsa ao galês.
— Já que é o campeão, por que não lutamos? — O de pé faz a proposta. — Sua vitória me forçará a te levar até o prisioneiro, faço questão de lhe deixar tocá-lo.
Dylan por um momento abre os lábios em surpresa. Seu olhar é caído, mas diferente da tristeza que acumula. Transmite certa cautela entrementes os atos. Logo dá um pequeno sorriso de lábios fechados e vai se assentando na cadeira vazia.
— Prometi só erguer minha espada a outro cavaleiro quando esse estiver ameaçando alguém que amo, ou não ser humano. — Suas palavras soam sinceras. — Doravante, tenho uma contraproposta — ele mexe numa sacola — Deseja jogar gamão? — O galês sorri.
Da bolsa, o rapaz tira peças de madeira. Um tabuleiro de gamão com rodelas brancas e pretas para que possa jogar com seu desafiante. As pessoas que acompanham a conversa no bar, e os soldados, ficam deveras confusos com o ato do campeão. Que em sua simplicidade e pacificidade não ergue violência.
— Gamão? — O soldado que está de pé espanta um de seus colegas, para sentar de frente ao estrangeiro.
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