A promessa de Dylan.
Um dos homens grita em pavor. Os soldados se armam buscando se defender daquela criatura. Os corvos se prontificam de ficar armados e defender todos os flancos.
As feras possuem carne pútrida e ossos rígidos que saem de seus abdomens, às vezes rostos, ou nem isso. Alguns são curvos, outros gordos e sempre com uma aparência demoníaca. Impossível de assemelhar a qualquer animal existente avistado. Suas bocas têm dentes afiados e seus olhos vermelhos como o sangue. Parecem mortos.
E sanguinários.
É como ver demônios.
Como estar em Helheim.
Os homens de Oskar rugem e tentam se defender, mas aquelas criaturas de três. — ou quatro — metros apenas os atacam usando garras, mandíbulas, e os mais "humanos", espadas. Os soldados não conseguem se defender. Um único tapa faz vísceras e sangue voarem pelas paredes e no tapete branco. Sujando toda beleza nobre com o desespero e angústia dos aprisionados.
"Socorro, alguém me ajuda!
Tira-me daqui!
Que merda é essa!"
O grito dos companheiros ecoa nos ouvidos de Dylan com desamparo. Ele pôde ver um a um ser mastigado, destroçado e torturado por garras e dentes afiados. Sem que possa fazer nada além de se manter vivo. Um dos monstros usa da ampla garra para atacá-lo, mas o cão não recua. Utiliza dela para subir na mão do monstro e alcançar, com a ponta da espada, aquele bico afiado cheio de dentes cerrados. O galês grita enquanto rasga a carne da criatura sem dó, evitando ser atingido no processo.
Ele vira seu corpo e se joga com a lâmina para as costas da besta. Rasgando todo o seu torso e expondo pulmões, diafragma e bastante carne morta. Quando olha para dentro da criatura caída pode ver vermes e algumas moscas que saem assustadas.
— Vai embora Dylan! — Ivarr grita. Ao vê-lo, se assusta no esforço que faz para evitar ser prensado na boca de um dos monstros. Tendo suas mãos e pés destroçados pelos ossos pontudos da arcada. — Você tem uma missão aqui! Vai embora filho da puta!
Oskar chega por baixo daquele ser e corta o maxilar inferior. Fazendo uma enorme abertura onde a língua da fera cai sob a barriga e permite com que Ivar salte para dentro. Escapando pelo buraco e rasgando a língua da criatura com sua adaga de punho.
— Nós chegaremos depois Dylan! — Oskar olha o Cão — Não deixe meus homens morrerem em vão, vá!
Sem monstros tão próximos a ele. O garoto embainha sua espada e corre pelo corredor gigantesco e vazio. A única coisa que o acompanha é o nublado do dia e as pequenas gotas de chuva que jazem acima de Müritz. Além do grito dos homens do exército.
"Esteja bem Viðga!"
Dylan pensa em seu amigo. Sua respiração ofegante tenta trazer a mente apenas bons pensamentos. — É de se surpreender que ele possua isso. — O rapaz sente chegar próximo ao seu objetivo. O salão ao fundo do corredor é tão iluminado que parece de ouro — e partes dele são folheadas.
A visão o faz diminuir sua corrida, até que volte a caminhar. O tapete branco destina-se a um trono de platina, e sentado nele está aquele com quem se preocupa. Ao seu lado, de pé, Alrune aguarda ansiosamente aquele encontro.
Viðga tem um olhar semicerrado, frio.
— Viðga... — Dylan embarga em sua voz.
— Dylan. Que bom vê-lo vivo. — O príncipe recita pausado.
— Viðga! — Dylan anda um pouco mais adentro do salão, tomando precauções com os mínimos movimentos de Alrune — Vim lhe tirar daqui, vamos! Os corvos estão sofrendo com uns demônios deste castelo.
— Ah... Vejo que eles conheceram meu exército. — Viðga pega uma taça de vinho ao lado do trono. — Sinto muito. Não tenho intenção de retornar ao exército, muito menos a Cimbric.
— Seu exército? — Dylan fica pasmo, parando de caminhar. — Aquelas coisas mortas estão comendo pessoas... O que você está dizendo!?
Viðga se levanta, e caminha até Dylan, prostrando-se a frente de seu único amigo. O príncipe é mais alto que o Cão, mas seus olhos não se desgrudam.
— Serei eu a comandar Valhalla. Acabarei com esta guerra, com Odin, e com o rei demônio, meu avô. Não haverá mais uma Era de deuses, Dylan. Impedirei que mais guerras destruam esse país, e ninguém vai me impedir. — Viðga olha-o, feroz — Nem a nossa amizade.
Os sons dos gritos de adorno ao externo do salão puxam a atenção do Cão e do príncipe. Oskar se arrasta, seu braço esquerdo está com os ossos expostos. Sua armadura despedaçada dá lugar a rios de sangue que descem sobre seu tronco. No braço direito, ele carrega Ivarr. O campeão de prata tem um olhar morto. Mesmo tendo força nos pés, é de se admirar um alguém andar com um buraco tão grande no peito.
Oskar solta seu amigo, deixando Ivarr ir em paz e fugir daquele inferno. O general se agacha ao lado do companheiro.
— Como é cara... Você é o único que morreria por mim... — O corvo chora enquanto acaricia o rosto do seu aliado. — Mas, eu sabia que era incapaz de ver este dia chegar...
— Oskar. Sinto muito. — Viðga encara seu antigo general, mas a frieza no olhar deixa-o desgostoso.
— Vejo que conseguiu o que queria príncipe. Não precisa ser cordial e falso agora — Ele cospe no chão — Não estamos na realeza.
— Você tem razão — Viðga se sente livre para dar um pequeno sorriso — Não se preocupe. Odin é meu objetivo, assim como era o seu.
— Humpf... — Os dentes avermelhados do general sucumbido são assustadores. — Para isso se concretizar está tornando-se um deles. Espero que suas escolhas não o façam se tornar aquilo que combate, se bem... — Sua respiração falha. — Que você deve saber bem o que se tornou.
— Oskar! — Dylan vai ao corpo caído do general. — Oskar!
— Me deixa descansar garoto — sussurra — Você continua ladrando que nem um cão.
Oskar não respira mais, assim como seu único amigo, ambos haviam sumido daquele lugar a tempos. Dylan não tem vínculos afetivos com ambos os mortos. Desde a última conversa seu ódio tornou-se algo distinto e incompreensível. Uma sensação amarga e desoladora.
Mãos alongadas, como sombras que saem do exterior do corredor escuro começam a avançar sobre o salão. Arrastando os falecidos, e Dylan. Eles seguram com força o corpo do jovem, que luta com tudo que tem segurando o tapete aos berros.
— Me perdoe amigo. — Viðga volta a se sentar no trono, vendo o Cão ser arrastado.
— Viðga! — Ele rosna como antes, com aquele olhar canino e seus dentes ferozes. — VIOGA! — Seu corpo desaparece na escuridão enquanto é envolto pelas mãos. Até seus gritos sumirem com o fechar do portão. Assim que acaba a cena o príncipe bufa de alívio, não esperou tanta tensão numa despedida. Doravante a porta retorna a abrir, com gritos, força e ódio. A luz da sala dá destaque aquele olhar enraivecido e o dedo que faz questão de apontar ao príncipe — Eu vou voltar Viðga! Ouça bem minhas palavras! Pois, na próxima vez que formos nos ver terá de decidir se é mais importante seus objetivos ou seus princípios! Caso não escolha com sabedoria vai ser o último corpo que irei enterrar!
Aquela ameaça é sincera. A porta se fecha uma última vez. Viðga fica boquiaberto com a promessa de seu amigo. Descrente de seu retorno contra os monstros de Valhalla.
É o fim. O fim do início da Ragnarok. O fim dos tempos começou.
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