Nove
Acordei no dia seguinte em meu quarto. Minha cabeça latejava de dor assim como a coluna, não havia dúvidas de que a ressaca seria dura. Tentei me levantar, mas uma leve tontura me abalou, fazendo que recuasse um passo ou dois.
Vi minha roupa molhada no chão de madeira do ambiente me obrigando a verificar se estava de roupa. Felizmente estava vestida, porém me questionava sobre quando tinha trocado de roupa, minha última memória era a da praça, nada depois daquilo.
Tentei puxar em minha mente lembranças da noite anterior, contudo quanto mais forçava mais dor tinha. Peguei as roupas jogadas no assoalho de madeira que tinham ensopado o mesmo e me dirigi ao banheiro a fim de torcer o pano despejando a água ralo à baixo, afinal onde estava com a cabeça para deixar aquilo ali? Assim que abri a porta do banheiro me deparei com uma figura conhecida, Ward Carter que estava lá apenas de toalha.
Isso fez que eu questionasse minha integridade moral e os fatos ocorridos dos quais eu não recordava. Minha expressão de espasmo dominou-me gerando uma risada sem igual no rosto do piloto.
- Gostou da noite, amor? - Ele perguntou erguendo uma das sobrancelhas com um aspecto muito malicioso.
- MEU DEUS - Eu proclamei, me arrependendo totalmente de ter bebido - Isso é sério?
- Óbvio que não, Catherine Turner!
Tirar aquele fardo de minhas costas foi um alívio sem igual, isso significava que eu não tinha traído Will ou pior cedido aos encantos do meu amigo mais convencido. Bati no ombro dele com pouca força, enquanto o mesmo ria e afirmava que as coisas só não aconteceram porque ele negou, já que eu estava muito louca não sei a veracidade dos fatos.
Ward se trancou no banheiro de meu quarto por mais um tempo se trocando com uma muda de roupa de meu namorado, logo que ele saiu de onde estava abriu as janelas aumentando meu ódio. A luz irritou meus olhos que estavam sensíveis, cobri a vista com o braço e o piloto percebeu o que se passava, fechando as persianas. Depois me disse que como um experiente curador de ressacas estava ali para me ajudar, café forte foi sua primeira indicação.
Em seguida me informou que a minha vizinha, Liliam tinha passado mais cedo e deixou uma sacola na cozinha. Fui buscar a mesma imediatamente e me deparei com objetos que me envergonharam na frente do rapaz, trazendo um tom mais rosado à pele de meu rosto.
A idosa colocara lá uma série de remédios para ressaca, pílula emergencial e um cartão escrito "Ele é lindo, arrasou". Tentei esconder o mais rápido possível para que Ward não achasse que eu tinha uma queda por ele ou coisa que o valha, mas o garoto já tinha visto, pude perceber pelo sorriso maldoso que dirigiu à mim.
- A Senhora Liliam falou que nossos filhos serão lindos - O piloto informou - O que andou conversando com ela?
- Uma vez disse que tinha um amigo chato, só isso.
Ele revirou os olhos indignado com minha resposta. Eu tomei o café enquanto Ward se animava com a próxima corrida que seria em três dias, teríamos de viajar é claro, contudo seria bom sair um pouco do gelo do Canadá. Foi nesse instante que me deparei com o celular tocando, verifiquei quem se tratava e me surpreendi ao ver que William estava me telefonando
Eis o problema: Eu tinha acordado a pouco tempo então meu cabelo estava todo bagunçado e a cara de quem tinha bebido muito em uma festa estava colada em minha face. Para piorar um pacote se pílulas emergenciais do dia seguinte estavam sob a mesa, fora o próprio Ward Carter que usava as roupas de meu namorado. O que William pensaria daquilo? Provavelmente algo péssimo!
Por essa razão joguei os objetos que minha vizinha trouxe em baixo do sofá e deitei no mesmo fingindo que estava assistindo alguma coisa na televisão. Atendi a chamada de vídeo, percebi logo no inicio que Will não estava em sua casa e muito menos no campo de futebol.
- Oi Cat, como vai?
- Bem.
- Que cara de sono é essa? - Ele perguntou rindo da minha situação ao mesmo instante que meu amigo me olhava com estranheza pela incenação.
- Estou meio mal - Contei à ele - Intoxicação alimentar provavelmente, já vomitei um bocado.
William pareceu nem ter se importado muito com isso, apenas mexeu em seu cabelo sempre preso em pequenas trancinhas. Sua pele oliva brilhava com o sol de onde estava.
- Gatinha eu vou aí daqui alguns dias, lesionei o pé e meu treinador permitiu que eu fosse te visitar. Incrível não acha?
- Acho, porém não vou poder te ver. Tenho que viajar pra próxima corrida em três dias!
A decepção tomou conta de meu namorado que fez um olhar de reprovação à minha última fala expondo sua opinião sobre meu trabalho. Por ele Catherine Turner estaria morando com ele na cidade perfeita que é Paris, mas eu não queria ir.
- Você fala que seu patrão é legal, aposto que ele quebra esse galho pra você!
Olhei de canto de olho para Ward que se levantou na mesma hora e se intrometeu na chamada, disse apenas um "Por mim tudo bem se ela não for". Pelo menos foi tudo que eu escutei pouco antes de largar o celular na sala e sair correndo para o banheiro a fim de vomitar.
Por Deus eu não deveria ter bebido! Com certeza aquela foi uma situação estranha para os rapazes que ficaram se olhando pelas câmeras sem saber o que fazer, imagino a expressão horrorosa que Will deve ter feito. Passado um tempo o senhor Carter foi atrás de mim, a essa altura do campeonato eu já estava escovando os dentes freneticamente para limpar a minha boca imediatamente.
- Catherine Turner você está bem? - Vendo que eu confirmei com a cabeça o piloto prosseguiu - Te liberei da próxima corrida, fica me devendo uma!
***
Ward insistiu que minha presença no aeroporto não era necessária, então não fui ver ele partir. Sendo franca despedidas não me agradam muito e se posso evitar elas assim o faço. Eu sabia que meu amigo voltaria em pouco tempo, passaria apenas o tempo da corrida no Brasil. Contudo a certeza de que um piloto voltará da pista jamais é 100%, de modo que aumentava a minha insegurança.
Por isso quando ele disse que eu não precisava leva-lo ao embarque agradeci aos céus, pois provavelmente eu iria ficar tensa e preocupada com Ward. Fora o fato de não haver ninguém com ele para o livrar de suas próprias burradas, o senhor Carter teria de se controlar. Meu pai já tinha conhecimento de que tudo isso se passaria em minha mente e justamente por essa razão não contrapôs o novato.
Na noite que os pilotos partiram, meu namorado chegou. Eu estava ansiosa para vê-lo como em um daqueles filmes que o casal fica anos sem se ver e se encontram em um campo aberto. Óbvio que no meu caso o campo aberto poderia ser descartado, o que importava mesmo era a presença de Will.
Preparei um jantar magnífico para que assim que ele cruzasse a porta se surpreendesse com a comida. Fiz seu prato favorito: lazanha. Arrumei a casa duas vezes para ter certeza de que tudo estava no devido lugar e que nada sairia do perfeito.
O aroma do molho pairava no ar acompanhado pela infinidade de estrelas que podia ver pela janela. Quando escutei a campainha tocar fui destrancar a porta imediatamente com o coração acelerado por estar tão perto de meu amor. Abri a porta e o observei por um tempo tendo uma linda visão, com toda certeza ele andara malhando.
Notei de cara que não trazia muleta e nem nada enfaixado, achei estranho porque Will me informou uma lesão. Todavia não questionei nada apenas o abracei como se fosse não a última vez, mas a única vez. Um abraço que não pode ser comprado ou vendido somente dado com todo coração!
Um gesto tão genuíno que se torna poesia e entra para a memória semelhante aos nossos grandes amores. Ele me encarou ainda em meus braços silabiando um "eu te amo".
Sentir o perfume dele foi um prazer maior do que tudo que eu imaginava que seria. Ele entrou no apartamento e logo se deslocou até a mesa de jantar que eu havia preparado. Abriu a garrafa de vinho tinto que estava na extremidade da mesma e o despejou em duas taças de vidro, uma para ele e outra para mim.
Sentamos de frente um para o outro em uma maneira que me permitia visualizar seus olhos curiosos percorrendo meu ser. William puxou o ar apreciando o cheiro da comida me dando um sinal para encher seu prato de massa.
- Senti tanta sua falta Cat!
- De mim ou da minha comida? - Brinquei enquanto o queijo quente se derretia no prato dele.
- Das duas.
Caímos na gargalhada com a audácia do jogador de futebol espanhol. Seu sotaque castelhano já não era mais tão visível, estava pegando o linguajar francês de seu local de trabalho, percebi isso com facilidade.
- Vi seu último jogo, mandou bem!
- Não tanto quanto esperava, queria ter feito um gol pra você.
- Tenho certeza de que não faltarão oportunidades - Falei tentando amenizar o pesar da frustração dele - Além de que sua presença aqui vale tanto quanto!
Passei o prato cheio para ele e comecei a por o meu, percebendo uma estranha peculiaridade no sorriso nervoso e ansioso de Will. Ele estava tramando alguma coisa, nunca conseguia esconder nada de mim. Nada mesmo!
Uma vez no começo de nosso namoro ele tentou me pregar uma peça e eu não só o desmascarei como também fiz com que passasse vergonha na frente de todos os seus amigos. Suspeito que até hoje ele não tenha me perdoado por isso, se bem que com tudo que vivemos isso é o de menos.
Aprontar era um dos hábitos de meu namorado então fiquei a espreita esperando qualquer movimento suspeito a fim de me livrar de seus truques baratos. Nada aconteceu além de comermos me desapontando um bocado. Quer dizer nós conversamos sobre o dia a dia, meu novo emprego e coisas do tipo parando várias vezes para os apontamentos repetitivos de Will sugerindo minha mudança à França. O de sempre basicamente, porém o sorrisinho não saiu de sua boca por um só instante me fazendo crer que imaginava o que faríamos depois do jantar.
Todavia chegou um momento em que o jogador segurou minha mão e respirou mais lentamente tomando coragem para o que se seguiria aumentando minha curiosidade.
- Cat sinto que os momentos que estou com você são inesquecíveis e suspeito que se sinta assim também - Eu ia confirmar, mas ele sinalizou com a mão para não o interromper - Venho pensando nisso há um bom tempo e acho que a distância está nos afastando um pouco.
- O nosso amor é capaz de resistir a isso!
- O nosso amor pode resistir a tudo, não duvido disso por nada nesse mundo - Will falou com uma certa emoção levando lágrimas aos seus olhos - Por isso tenho um pedido muito especial pra te fazer hoje.
Ele deu a volta na mesa e ajoelhou ao meu lado. Sabia o que meu namorado estava prestes a fazer e o nervosismome atingiu por isso, não é todo dia que alguém lhe pede em casamento.
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