제로Capítulo Único.
Oi, minha gente! Tudo bem? Então, irei explicar toda essa mudança repentina antes de iniciar a nova versão. Primeiro de tudo: Essa Fanfic virou uma OneShort (Contém apenas um capítulo). Antes ela era composta por oito capítulos mais o prólogo, porém, ela não estava do meu agrado. Contudo, depois de muitas ideias e pensamentos aleatórios, resolvi mudá-la um pouquinho. Me desculpem por isso...
Jungkook continua deficiente visual, Aghata continua sendo uma garota brasileira que sofre com a xenofobia e o título continua fazendo referência a todo o contexto da estória. Ok? No entanto, a estória passou para o colegial, iremos reviver um pouquinho do passado do Jungkook antes de se tornar deficiente visual e tudo mais, espero que gostem.
No mais, obrigada pela segunda chance e pelo apoio que sempre me deram. Vocês sempre foram, e sempre serão muito importantes em minha vida. E para os recém chegados, espero que possam gostar e sejam bem-vindos (as) a essa nossa família!
¡Avisinhos rápidos!
1. Jagiya é como um homem chama a sua namorada, esposa ou algo do tipo;
2. A música que está na mídia é a que terá no capítulo.
Lhes desejo uma ótima leitura, escrevi tudo com muito carinho e amor! I Auur u! 💜🐯💜
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Dentro daquela escola repleta por milhares de alunos, vulgos, adolescentes, Jeon Jungkook sempre foi um garoto sorridente e rodeado de amigos. Sem dúvidas, era extremamente popular entre todos, não existia ninguém dentro daquela escola que não o conhecesse. Sempre espalhou bondade, sorrisos largos e até mesmo suspiros apaixonados. Não era fácil ser inteligente, capitão do time de basquete e ter a voz mais bela diante do coral da escola. O garoto alto, de seus quase um e oitenta de altura, porte atlético e rosto esculpido, poderia até gostar de correr dentro de uma quadra e fazer milhares de cestas. Porém, o que ele realmente amava: Era cantar. A música e o canto eram os donos fiéis do seu coração juvenil, sentia-se leve e até mesmo esquecia de todos os seus problemas dentro de casa.
A sua família era rígida, tradicional e muito bem estabelecida. Ele era o irmão do meio diante de três irmãos homens. Seus pais idolatram o mais velho entre eles, e sempre disseram que o Jungkook deveria seguir os mesmos passos que o mais velho. No entanto, tudo o que o Jeon do meio menos queria era trabalhar dentro de uma sala de escritório, vestido em ternos caros e sempre sendo venerado sem necessidades. Temia; Tinha pavor. Seu sonho eram os palcos, o canto e o seu companheiro violão. Ele estava decidido, esse era o seu sonho, o caminho da felicidade que ele havia escolhido para si.
E em todos os ensaios do coral, Aghata estava lá. Não participando, pois era tímida demais. E outra, o restante do pessoal do coral não iria aceitá-la tão facilmente como aceitavam os demais. Aghata era estrangeira, dona de um rosto ocidental e um sotaque que todos reprovavam. Os olhares julgadores não eram poucos, ela fingia saber lidar com todos, mas no fim, quando estava sozinha, desabava. A garota amava cantar, era o seu refúgio e o seu abrigo em dias de tempestade, porém, naquele país não bastava ter uma bela voz quando não se tinha uma bela aparência aos olhos orientais. Foi com isso que ela passou a apenas observar escondida os demais ensaios, e seus olhos e coração não pouparam a euforia ao avistarem ele. Seus ouvidos pareciam agradecer quando ele cantava sobre aquele palco. Agradeciam por tamanha voz agradável, era como se fosse a voz de um belo anjo.
Aghata passou a contemplar todos os ensaios, não perdia um sequer. Sempre perdida no fundo daquele auditório, apenas observando e ouvindo atentamente Jeon Jungkook. — Garoto que tornou-se a sua inspiração diária. Os olhares que recebia não eram problema para ela quando se tinha a voz de Jungkook ressoando na volta de seus ouvidos, nada importava naquele momento. Ela não sabia, mas o moreno já havia notado a sua presença em todos os ensaios há muito tempo. O garoto sentia-se curioso, por que ela não participava também sendo que aparentava apreciar o canto? Não entendia, ele até queria perguntar, mas também era tímido. — Por mais incrível que pareça.
Porém, ele nunca fôra tímido, mas parecia que com aquela garota em específico, tudo ficava diferente.
— Eu irei contar hoje a noite para os meus pais sobre o meu sonho, não posso ocultar o fato de amar a música. — Jungkook contava sobre os seus planos para os seus melhores amigos.
O garoto estava cansado de ouvir os planos que seus pais faziam por ele, pareciam decidir o futuro do garoto sem escrúpulos. A vida era dele, não poderiam tomar conta dela de maneira tão descabida, Jeon também tinha o poder de escolha diante do seu futuro. Porque seus pais gostando ou não, o futuro era dele. Somente dele.
— Fico feliz, Dongsaeng. Você é muito talentoso, e se é o que te faz feliz, eu apoio com toda a minha certeza. — Namjoon tocou um dos ombros do moreno, sorrindo sereno e lhe passando confiança.
— Eles crescem tão rápido. — Taehyung, outro melhor amigo de Jungkook, disse. O rapaz fingia um choro emocionado, tirando risos e reviradas de olhos dos demais amigos.
— Obrigado. — Jungkook disse apenas, sentindo-se absurdamente feliz. Ter o apoio dos seus melhores amigos já era mais do que o bastante — Irei indo, até mais, Hyung's! — Jeon arrumou a mochila sobre as suas costas e saiu sorridente, virando-se uma última vez para abanar para os rapazes atrás de si.
Jungkook não poderia estar mais nervoso, temia a reação de seus pais, mesmo já prevendo que não seria nada boa. Seu irmão mais velho não diria absolutamente nada, porque já previa que o irmão do meio tinha outros interesses. O pequeno, JunGyon não entendia ainda sobre esses assuntos, mas com certeza apoiaria o Jungkook, pois o que realmente importava para ele era ter o irmão por perto.
Jeon andava distraído pelas ruas, já estava anoitecendo, ficou até tarde ensaiando para o coral e depois jogando com os seus amigos na quadra da escola. Estava ansioso para os jogos que estavam chegando, as competições o deixavam ainda mais competitivo do que ele naturalmente já era. Com isso, enquanto ele pensava sobre a raiva que o seu pai sentiria de si ao ele contar o seu sonho, o moreno acabou esquecendo de prestar atenção nas ruas enquanto as atravessava. Então não demorou muito para que um carro acertasse em cheio o sonhador Jungkook. Não teve reações, apenas assustou-se com o barulho do freio e da buzina. Mas, quando ele menos notou, já estava desacordado e caído sobre o asfalto.
Pessoas o cercavam; Assustadas.
O baque não havia sido tão forte ao ponto de ele quebrar algum osso ou fraturar algo. Porém, acarretou em coisas mais importantes do que ossos fora do lugar. Jeon Jungkook ficou com alguns arranhões, cortes e ferimentos leves, mas o baque que a sua cabeça levou ao colidir-se com o chão fez com que afetasse a sua visão. E só comprovaram o ocorrido um dia depois, quando Jeon acordou em meio a um hospital e mesmo com os olhos abertos tudo não passava de uma imagem sólida e preta. E infelizmente, os médicos lhe disseram que seu estado era crítico. Tudo dependeria de si e dos tratamentos, porém, não lhe deram muitas esperanças.
Jungkook passou um tempo amargurado, trancou-se em seu quarto e sequer levantava para ir ao colégio. Seus cinco amigos fiéis o visitavam quase todos os dias, implorando para que o Jeon voltasse a ativa como antes. No entanto, ele sentia-se inútil e um grande fardo para todos ao seu redor. Mas, depois de alguns meses, Jungkook voltou a frequentar a sua escola, mas tudo estava diferente. Ninguém mais o parava nos corredores para falar com ele, ninguém mais parecia o idolatrar como antes. Nenhuma garota mais o parava pedindo o seu número, e ele não tinha mais o bracelete de capitão do time de basquete. Não poderia jogar, e nem tinha como. O garoto não estava reclamando sobre não ter mais garotas correndo atrás de si, e nem garotos puxando o seu saco apenas por ele ser popular.
Só que, foi com isso que ele percebeu que tudo não passava de uma imagem. Depois que Jeon perdeu a sua visão foi como se ele tivesse perdido a graça e o encanto. Ninguém mais fazia questão de falar com ele, muito menos de ser seu amigo. Ele sentiu-se usado, ridículo e desumano. Nem seus pais ligavam mais para a carreira que ele queria seguir, depois de um tempo ele contou que queria ser músico, e não trabalhar na empresa do pai. O Jeon mais velho deu de ombros, não fazia diferença agora já que o seu filho era cego. Seria um inútil na sua empresa. E com isso, Jungkook percebeu que nem os seus pais acreditavam mais em si, que a sua carreira musical também tinha ido por ralo abaixo.
Dentro daquela escola tudo havia mudado, Jeon não era mais o centro das atenções. Muito pelo contrário, agora era apenas um garoto normal e que vivia sendo seguido por seus amigos, uma bengala que o ajudava a andar pelos corredores e uma professora especial para ele. Jeon estava aprendendo braille, mas não tinha muito paciência. Era difícil aceitar a sua nova realidade. Um garoto cheio de sonhos que foi empurrado de um ladeira, não tinha mais o que fazer, nada poderia o reerguer no momento.
Nada que não fosse ela. — A Aghata.
— Nosso próximo evento será um musical, pessoal! — A professora de canto do coral anunciou animada, fazendo com que o restante dos alunos uivassem em animação.
Jungkook sempre sonhou em participar de um musical, pois adorava misturar o canto com o teatro. Porém, as suas expectativas foram decepadas segundos depois do anúncio da professora.
— A sua voz seria perfeita para o papel principal, Jeon. — Ele alegrou-se de imediato, sorrindo largamente enquanto mantinha-se sentado em um dos assentos do auditório — Entretanto, infelizmente a sua deficiência impede que você interprete esse papel, quem sabe na próxima. — A senhora de meia-idade informou sentindo-se verdadeiramente triste, pois ela amava o tom suave da voz do moreno.
Jungkook suspirou, tentando controlar o embrulho que formou-se em sua garganta e estômago. Seus sonhos pareciam estar cada vez mais distantes, o que o deixava a cada dia mais frustrado e sem esperanças. Tudo parecia desabar ao mesmo tempo, ele não conseguia segurar tamanha decepção e angústia. Sem querer prolongar o seu sofrimento, e muito menos esperar que a primeira lágrima escorresse por seu rosto em frente a todos ali presentes, Jeon levantou-se e guiou-se em meio ao auditório com o auxílio da sua bengala. Um dos seus amigos que também participava do coral tentou segui-lo, mas foi impedido.
— Deixe ele, Jimin. — Taehyung segurou o braço do mais baixo, olhando com pesar para as costas de Jungkook ao ele andar com cuidado até a saída do auditório — Ele precisa de um tempo sozinho, você conhece ele. — O Kim suspirou, e disse mesmo não gostando da ideia de deixar o Jeon sozinho.
Jimin voltou para a sua posição anterior a contragosto, tendo que admitir que o Taehyung estava certo. Jungkook precisava achar o seu propósito mais uma vez, mas para isso precisava de um tempo só dele com a sua mente, por mais doloroso que possa parecer. O moreno precisava aceitar a sua atual realidade e procurar os lados positivos, estava vivo, e mesmo com a sua deficiência ele era rico em saúde. Tinha grandes problemas familiares, mas tinha dois irmãos bondosos e amigos que os consideravam como a sua verdadeira família. Era só pensar positivo, porém não era tão fácil assim.
Jungkook vagava pelos corredores vazios daquela escola, perguntando-se mentalmente o porquê de tudo ter ocorrido tão repentinamente. Não conseguia achar mais esperanças, não sabia o que o futuro lhe preservava e temia saber. Era jovem ainda, recém dezenove anos completos, mas tudo parecia diferente agora. E realmente estava, mas bastava ele enxergar o que realmente era necessário para si. Enxergar com o coração; Sentir. Estava tão vazio, precisava de uma mão que sequer ele sabia que precisava. Um sentimento oculto de falta. Mas falta de quê? Talvez de sonhos, momentos felizes e propósitos.
Jungkook andava pelo corredor que estava em desuso no momento, algumas salas dali estavam fechadas e logo entrariam em reforma. O colégio havia passado por uma bela mudança há algum tempo, então as salas daquele corredor estavam praticamente abandonadas. Mas ele nem sequer sabia aonde estava, guiava-se por sua bengala e uma hora ou outra esbarrava em algum banco ou lixeira, praguejando baixinho pela pequena dor do impacto.
Mas, de repente, Jeon paralisou.
O som de uma bela melodia transmitida por um piano inundou os seus tímpanos, era uma melodia baixa que aparentava vir de alguma sala em que ele estava próximo. Usou a sua audição aguçada para ir de trás do local de onde vinha aquele som, e a cada passo que dava conseguia escutar mais claramente o som do piano. Era uma melodia lenta, calma e extremamente relaxante. Jungkook conhecia aquela música, era uma de suas preferidas. Já havia cantado muito aquela letra no coral antes de se acidentar, e passava horas depois do ensaio naquele auditório. — Só ele e o seu canto. Bom, era o que ele achava, mal sabia que havia uma garota que sentia-se inspirada e mais leve quando o assistia tocar e cantar às escondidas naquele auditório.
Até que Jungkook parou em frente a uma porta fechada, quando a sua bengala tocou no local ele pôde comprovar que ela estava fechada. A sua destra tateou a porta, logo sentindo a maçaneta gelada e prateada. Seus dedos tremelicavam, estava prestes a abrir a porta e perguntar quem estava usando aquela sala. Porém, paralisou mais uma vez quando além do som do piano, uma voz passou a acompanhar a melodia doce. Jungkook não entendeu de início o porquê dos seus pelos eriçarem, do seu corpo tremelicar e de suas mãos suarem por conta daquela voz. Ela era doce, rouca e sensacional. Parecia uma bebida alcoólica, pois Jeon estava embriagado por tamanha doçura.
Nunca, em toda a sua vida havia se apaixonado de cara por uma voz. Mas naquele instante os seus problemas foram deixados de lado, tudo parecia diferente e mais feliz. Ele fechou os seus olhos, largou a maçaneta e acalmou a sua respiração. Apreciou aquela voz como nunca havia parado para apreciar uma outra antes. Se comoveu, o seu coração batia acelerado dentro do seu peito por tamanha comoção. Aquela voz era de um anjo, não poderia ser de verdade. Jungkook sentia-se acalentado e as esperanças pareciam retornar para dentro de si apenas por conta do tom sereno daquela voz. O calor daquela voz estava acalentando e, consequentemente, derretendo todas as barreiras que o próprio Jeon havia imposto para si.
O sotaque arrastado deixava tudo ainda mais belo e distinto. Ele sorria cada vez que escutava a pessoa por trás daquela porta se embaralhar na letra e praguejar baixinho, estava adorando ouvir cada palavrinha que saía pela boca daquela pessoa misteriosa. Pelo tom, Jeon teve a absoluta certeza de que era uma garota. Queria a conhecer, a ouvir de mais perto e até mesmo cantar consigo. No entanto, tinha vergonha. Nunca teve, mas por algum motivo estava sentindo naquele instante. Estava tão inerte que nem percebeu quando deixou a sua bengala cair, o objeto metálico caiu no chão e fez um grande barulho, esse que até mesmo fez com que a cantoria e o som do piano se cessassem.
Jungkook engoliu em seco, abaixou-se e sem querer bateu com a sua cabeça na porta a sua frente, então ele resmungou e bufou alto.
Aghata era quem estava dentro daquela sala, escondida dos demais para que pudesse cantar sem interrupções e julgamentos. Muitos que já ouviram a sua voz riram, dizendo que o seu sotaque estragava totalmente as músicas. Sem contar que, estrangeiros não eram bem-vindos no ramo da música coreana. A garota era simples, vivia com a sua família adotiva em um bairro mais humilde da cidade, mas sempre foi rodeada de muito amor e carinho. Tinha um irmão incrível, esse que sempre a colocava para cima e dizia para ela que a sua voz e o seu talento a levariam muito longe. — Min Yoongi, irmão mais velho e loiro.
Aghata levantou-se do banco que estava em frente ao piano, andou em passos receosos e amedrontados até a porta. Podia ouvir alguns murmúrios, mas mesmo assim se sentia com medo que fosse alguma das pessoas que viviam de trás de si apenas para fazerem piadas de mal gosto consigo. A garota de cabelos compridos já estava traumatizada, odiava aqueles comentários maldosos que, de alguma maneira lhe afetavam de forma negativa.
Ao tocar na maçaneta, Aghata a girou e finalmente abriu a porta. Seus olhos se esbugalharam, seu coração deu um solavanco e as suas mãos passaram a suar frias. Ele estava bem ali em sua frente, sem avisos prévios. Por muito tempo a garota o observou de longe, o admirou e se inspirou nele. Sentia falta de ouvi-lo cantando por aí, de assistir os seus ensaios do coral e até mesmo as suas apresentações. Nunca teve a oportunidade de elogia-lo como sempre quis, era tímida demais para isso. Sem contar que, todas as outras garotas já faziam isso, ela não queria parecer apenas mais uma louca apaixonada como as demais.
Mesmo apenas o observando, Aghata sabia que sentia algo diferente por ele, mas nunca diria algo. E isso não importava. Jeon era incrível aos seus olhos, a dedicação e gentileza dele a surpreenderam, nunca imaginou que um garoto popular pudesse ser desta maneira. Talvez ela tivesse sido preconceituosa, mas já era de se esperar. Os estereótipos eram uma grande influência para todos os adolescentes do mundo. Ainda mais quando se tratava de um capitão do time de basquete de uma escola, sem contar em sua beleza e voz estonteantes. Aghata poderia passar mais de dias apenas o escutando, sem interrupções.
Ainda mais uma música autoral dele, que ela havia decorado por conta de ficar escondida até tarde naquela escola desfrutando dos instrumentos, sendo que o Jeon continuava até tarde também naquele palco, cantando as suas músicas autorais. Era inevitável, não era por gosto, Aghata não era nenhuma stalker, apenas ficava escondida por pura timidez atrás dos palcos ou no fundo de um auditório.
— Me desculpe, não quis lhe interromper. — O garoto se recompôs, mas ainda não tinha conseguido pegar a sua bengala.
Aghata engoliu em seco, a voz dele continuava serena mesmo quando estava apenas falando. Como isso era possível? Era tão doce.
— N-Não atrapalhou em nada. — A menor tentou soar naturalmente, mas se sentia nervosa demais perto dele.
Jungkook começou a tatear o ar um pouco sem graça, ia se agachando aos poucos na tentativa de pegar a sua bengala caída, mas Aghata percebeu antes que ele pudesse se agachar totalmente. A garota fez o mesmo processo, mas com rapidez. Pegou o objeto e o estendeu em direção ao Jungkook, mas foi aí que ela percebeu que ele não poderia ver o que ela estava fazendo. Se sentiu uma idiota e tosca, então com muito cuidado, Aghata estendeu a sua outra mão livre em direção ao Jeon, e com a sua mão trêmula ela rodeou o pulso dele, mas sentiu um choque estranho e até mesmo ofegou baixinho.
— Aqui está. — A mais nova disse ao colocar a bengala entre os dedos do mais alto.
Jeon suspirou baixinho, sentindo os seus batimentos cardíacos aumentarem de maneira drástica repentinamente. Ele sorriu mínimo, fazendo uma pequena reverência para ela mesmo que não pudesse a ver. Um clima embaraçoso ficou entre os dois, pois ao mesmo tempo que o assunto tinha sido encerrado, ambos sentiam que ainda tinham muito o que falar. Jungkook sabia que deveria sair dali, mas as suas pernas pareciam não lhe obedecer de jeito nenhum. Aghata estava estática. Deveria convida-lo para entrar? Seria estranho? Não sabia, estava completamente confusa diante dos seus pensamentos.
— Você canta? — Jungkook perguntou depois de longos segundos, então franziu as suas sobrancelhas e se sentiu um idiota. Que pergunta era aquela? É claro que ela canta, seu besta! Ele respirou fundo, reformulando as suas palavras — Quer dizer, ouvi você tocando e cantando. — Ele tinha a sua cabeça baixa, agora com as suas bochechas coradas por tamanha que era a sua vergonha.
Aghata entreabriu os seus lábios um pouco confusa, mas não demorou muito para que ela ligasse os acontecimentos e se sentisse sem graça. Jungkook havia escutado a sua cantoria, aquilo só poderia ser um grande vexame. Nunca havia cantado em frente a mais ninguém que não fosse a sua família após as suas audições para entrar no coral. Se sentiu desanimada com os comentários que recebeu, até mesmo as sugestões: Acho melhor você procurar outra vocação, seu sotaque e a sua aparência não lhe favorecem em nada.
Aquilo havia sido doloroso e lhe atormentava até o momento atual. Cantava apenas para si, tirava as suas melodias do piano e violão apenas para si. Ninguém mais deveria ouvir, mas o Jeon escutou.
— Por favor, não conte para ninguém que uso essa sala. — Aghata temeu que o Jeon lhe dedurasse para a direção, ali era o único lugar no qual ela conseguia expor os seus sentimentos na música.
Jungkook arqueou as suas duas sobrancelhas e negou imediatamente com um balançar de cabeça. A garota pôde respirar aliviada, mas ainda estava com um pé atrás. Não fazia ideia do porquê um garoto como ele estava bem ali, lhe escutando cantar atrás de uma porta às escondidas. Sentia-se encabulada, era insegura diante da sua música e do seu canto.
— Eu... Posso entrar? — Ele questionou receoso, mas a sua voz entregava a sua ternura.
Aghata não poderia ter ficado mais surpresa. Jeon Jungkook estava mesmo falando com ela? Ele realmente estava puxando assunto? Aquilo só poderia ser um sonho muito bom. O seu melhor sonho. Então, mesmo totalmente nervosa, conseguiu proferir a sua resposta com clareza e sem temores na voz.
— Sim, entra. — Ela abriu bem a porta dando espaço para que ele entrasse sem dificuldades.
Jungkook com a ajuda da sua bengala passou pela porta, mas parou instintivamente após isso. Não sabia aonde os instrumentos estavam, então tinha medo de esbarrar em algo, estragar algo ou até mesmo se machucar. Ele tinha alguns hematomas pelo corpo, ainda não estava cem por cento acostumado com a sua falta de visão. No início era mais difícil, agora já tinha mais noção e sabia usar mais a sua bengala. A menor percebeu a inquietude dele, então aproximou-se um pouco sem jeito.
— Eu lhe conheço? — O mais velho perguntou de repente, assustando levemente a garota a sua frente — Desculpa, é que... Agora com a minha perda da visão não sei mais identificar muitas pessoas. — A mão de Jeon passou por sua nuca, demonstrando o seu constrangimento.
Aghata sorriu minimamente, achando adorável a forma como ele se preocupava até com as mínimas coisas.
— Eu sou a Aghata, você não deve me conhecer. — A mais nova encolheu os seus ombros, brincando com as suas próprias mãos em uma forma de se distrair.
Jungkook cerrou as suas sobrancelhas e um bico involuntário formou em seus lábios finos e avermelhados. Ele estava pensando em alguém com esse nome, mas ninguém lhe vinha em mente. Não se lembrava de ter conhecido alguma Aghata, mas não deu importância para isso. Agora ele conhecia, e uma que cantava muito bem por sinal.
— Você precisa de algo? — A menor questionou, ainda encabulada com aquela situação inesperada.
Como ele diria que queria ouvir a sua voz mais uma vez? Seria estranho? Com certeza, mas não conseguia pensar em uma forma de dizer aquilo. Jungkook não estava com pressa de ir para casa, mesmo sabendo que as aulas já estavam perto de acabar, caso não tivessem já acabado. Não fazia ideia de que horas eram, mas aquilo não importava para ele, estava entretido demais agora. Por algum motivo desconhecido, queria saber mais sobre ela, conversar e, quem sabe, cantar junto dela. Seria divertido. Fazia tanto tempo que ele não cantava com vontade e com o gosto que sempre tivera, ultimamente se sentia tão esgotado e sem vontades. Depois do acidente a sua vida pareceu ter perdido o sentido, mas agora estava com uma vontade imensa de colocar a sua voz para fora.
— Eu posso ficar lhe ouvindo enquanto ensaia? — A pergunta pegou a Aghata de surpresa.
Ninguém nunca havia feito um pedido daquele tipo. Apenas viveu escutando críticas não construtivas e julgamentos, e por mais cruel que pareça, ela já estava acostumada com esse tipo de comentário. Porém, agora o garoto que ela tanto ouviu cantar, tanto admirou e tanto a inspirou, estava lhe pedindo para ouvir os seus ensaios. Só poderia ser uma bela brincadeira do destino, porque meses atrás era ela quem ficava no fundo do auditório vendo os ensaios do coral apenas na expectativa de escuta-lo. Apenas ele.
— Eu não canto muito bem, é só uma bobagem minha, acho melhor você não perder o seu tempo. — A mais nova falou de forma rápida, sentindo o seu coração palpitar muito rápido dentro do seu peito.
Jungkook sorriu, achando adorável a forma como ela parecia estar extremamente sem jeito. O moreno negou minimamente, deixando a menor confusa.
— Eu meio que lhe escutei cantando por trás da porta, e eu gostei. — Ele a interrompeu, a deixando de lábios entreabertos por tamanha surpresa — Gostei muito. — Sussurrou rouco, mais dizendo aquilo para ele do que para ela.
Aghata não soube o que responder, estava em transe. Mal podia acreditar que alguém havia gostado da sua voz, sem reclamar do seu sotaque e muito menos da sua aparência. Claro, Jeon nem tinha como falar da sua aparência, mas isso não tinha importância. Pois querendo ou não, quem estava lhe elogiando era o melhor cantor que a escola já tivera, então se sentia extremamente honrada e feliz.
— Por favor, juro que ficarei bem quietinho. — Jungkook sorria angelical para ela, mostrando os seus dentes avantajados e que lembravam um coelho.
Aghata comprimiu os seus lábios, pensando nos prós e contras. Ela era extremamente envergonhada, quase nunca cantava em frente a alguém, então ainda estava com um pé atrás. Porém, não conseguiu negar, sentia-se completamente abobalhada em frente àquele garoto. Então por mais grande que fosse a sua timidez, ela falou que sim.
— Tudo bem, pode. — Disse por fim, e Jeon comemorou como uma criança alegre.
Aghata até riu se divertindo com a situação, e Jungkook a acompanhou logo depois.
— Aliás, eu sou o Jungkook. — Falou gentil, sorrindo minimamente.
Como se ela não soubesse quem ele era.
— Tem algum lugar para mim sentar? — Ele questionou logo em seguida, e Aghata varreu a sala com os seus olhos a procura de uma cadeira ou banco.
Mas ela não encontrou nada, apenas o banco que ficava em frente ao piano. Aghata estava tocando o piano, então os dois teriam que se sentar um ao lado do outro, o que a deixou nervosa só de imaginar. Por que agia assim perto dele? Era apenas um garoto. Talvez um garoto que ela admirasse demais, mas continuava sendo apenas um garoto.
— Só tem o banco do piano que estou tocando, tudo bem para você? — Aghata questionou sem graça, mordendo minimamente o seu lábio.
— Melhor ainda, poderei lhe escutar mais de perto. — Ele riu divertido, mas a garota ficou vermelha por consequência da sua timidez.
E Aghata ficou naquele impasse: Jeon precisava de ajuda para ir até o piano, ou ele iria sozinho? Estava pensando no que deveria fazer, mas ao notar que o mais alto continuava parado, ela deduziu que ele estivesse esperando por ela. Ok, era apenas uma ação de ajudá-lo, nada demais. Claro, teria contato corporal com ele, o que parecia aterrorizante por conta do seu nervosismo. A mais nova parou ao lado dele, e Jeon sentiu a presença da garota e não pensou duas vezes antes de arrumar o seu braço esperando que ela enganchasse o dela no seu.
A mais nova arregalou os olhos, engoliu em seco e foi com calma até mais perto dele. Passou com cuidado o seu braço no dele, e logo sentiu a pele dele tocando com a sua. O arrepio que passou por ambos os corpos foi inevitável, e Jeon até fechou o seu sorriso. Não de um modo ruim, mas sim porque aquela sensação era nova e o deixou agitado demais por dentro. Seu estômago embrulhou e o seu coração disparou, e com a Aghata não foi diferente.
Ambos despistaram esses pensamentos, então a garota começou a guia-lo entre os instrumentos e pela a bagunça que estava naquela sala por culpa do desuso. Já não recebia uma faxina fazia um bom tempo, o máximo que recebia era uma varrida que a própria Aghata dava quando conseguia pegar uma vassoura às escondidas da salinha de limpeza, mas nada demais. Então ela o ajudou a sentar. Jungkook escorou a bengala ao lado do banco, e não demorou muito para que a mais nova se sentasse ao lado dele. Ela suspirou baixinho, agora encarando as teclas do instrumento.
A agitação do peito de Jeon aumentou, estava mais do que ansioso à espera de poder ouvir a voz daquela garota mais uma vez. Queria tanto apreciar aquele tom doce e rouco, então estava contando os segundos para que ela começasse logo. E o melhor de tudo: Agora poderia escutar bem mais claramente por estar perto dela. Aghata tentava se concentrar na música que estava sendo repassada em sua mente, mas estava difícil ao lembrar que Jungkook estava bem ao seu lado. Folheou algumas partituras e começou a tocar o piano com maestria. Porém, errou e riu um pouco sem graça.
— Está tudo bem, tente de novo. — Jungkook a incentivou animado, sorridente como nunca antes.
Fazia tempo que o Jeon não sorria tanto como neste dia.
Então ela assentiu mesmo que ele não pudesse ver, e começou a tocar novamente em seguida. E desta vez a música soou perfeitamente. Aghata começou a cantar, até mesmo fechou os seus olhos por tamanha que era a sua concentração e amor pelo canto. Quando cantava se sentia em outra dimensão, os olhares tortos, os julgamentos, as críticas e até os risos, tudo parecia sumir enquanto ela cantava com toda a sua paixão e vontade. Amava cantar. Amava tocar.
Jeon estava paralisado, o que apenas mexia em si era o seu coração eufórico. Aquela voz... Ah, aquela voz, era mais do que apenas bela. Não conseguia pensar em adjetivos suficientes que pudessem caracterizar aquela voz perfeita. Se sentia nas nuvens. A voz de Aghata possuía um calor diferente para ele, um calor que acalentava cada parte do seu corpo. Aquecia o seu coração e o deixava mais leve. Poderia dizer com todas as certezas: Aquela era a melhor voz que já ouvira em toda a sua vida. No entanto, ele reconheceu a música e nem notou quando começou a cantarolar a melodia junto da garota ao seu lado. Aghata se assustou de início, abaixou o tom da sua voz e o olhou de canto de olho, um pouco perdida.
Fazia tanto tempo que a mais nova não o escutava cantando, ele não estava mais participando do coral como antes. Só comparecia nas aulas como ouvinte, mas não estava cantando mais. Ela ouviu os boatos de que ele tinha desistido da música após o acidente que o levou a perder a visão, porém, ela torcia para que fosse apenas boatos mentirosos. No entanto, o Jeon decidiu largar a música de verdade, não poderia estar mais desanimado depois de tudo o que aconteceu. Percebeu que todos que o cercavam antes do acidente eram falsos, que idolatram uma imagem, e não o que ele realmente era.
— Por que parou? — Aghata acordou do seu transe, e até mesmo sobressaltou ao perceber que ambos estavam perto demais um do outro.
Aghata podia sentir o hálito fresco dele com cheiro de... Chiclete? Sim, de chiclete.
— Eu... Eu... — A garota se perdeu nas palavras, intimidada com aquela aproximação.
Nunca teve a oportunidade de falar com Jungkook e agora estava agindo como uma idiota. Aghata sentia-se patética, deveria aproveitar uma oportunidade dessas, mas não, agia como dissimulada. — Isso era o que ela mesma estava pensando de si própria.
— A sua voz, ela é muito bonita. — Jungkook falou em um tom baixo e rouco, sendo sincero como nunca antes.
Aghata piscou os olhos, piscou de novo e de novo, desacreditada. Tocou o próprio peito, pois não poderia ser normal um coração bater tão rápido como o seu estava batendo naquele instante. Aquilo era loucura. Mas era uma loucura muito boa, teve que ressaltar. Ela sorriu, sorriu mesmo. Todos os seus dentes ficaram a mostra, até os seus olhos sorriam. Estava feliz como há muito tempo não se sentia. Era tão mágico aquele sentimento.
— O seu sotaque deixa tudo melhor. — Ele complementou o seu elogio, e aquilo só poderia ser uma grande brincadeira dele.
Mesmo sem ele saber, o garoto elogiava todas as inseguranças de Aghata. Todas as suas características nas quais muitos criticaram e a fizeram quase desistir de tudo. E por mais louco que isso pareça, apenas os elogios dele passaram por cima de todas as outras - Várias. - críticas alheias. Não fazia ideia que poder ele tinha, mas não podia negar, tinha gostado de sentir esses sentimentos de emoção e gratidão.
— Aliás, você não é daqui, certo? — O semblante do mais velho estava confuso, com os seus olhos perdidos a sua frente — Você é da onde? — A sua pergunta saiu animada, como se realmente estivesse curioso sobre ela. E estava.
— Sou brasileira, mas fui adotada por um casal coreano. — Explicou contente, não sentia vergonha de dizer que era adotada, pois amava a sua família. Eram incríveis.
Jungkook soltou um: "Ah". Surpreso e agora meio que compreendendo o porquê do seu belo sotaque. Achava que dava um toque especial para as músicas, sem contar que aquela voz dela ficaria bem sendo cantada de qualquer maneira, em sua opinião sincera.
— Não lembro de você no coral, mas acho que não teria como eu não lembrar, sua voz é marcante demais para ser esquecida. — Jeon nem notava o quão as suas palavras estavam afetando emocionalmente a mais nova, pois parecia pensativo.
Aghata respirou profundamente, agora um pouco cabisbaixa ao lembrar que nunca fôra aceita no coral da escola, esse que ela tanto gostaria de participar.
— Eu nunca participei do coral. — Respondeu um pouco sem jeito, sorrindo fracamente enquanto teclava uma tecla ou outro do piano apenas por distração.
Jungkook remexeu-se naquele banco em espanto. Tinha o seu cenho franzido e lábios crispados. Como aquela garota nunca participou do coral? Estava perdendo tempo, com certeza seria a superestrela daquela escola toda.
— Por que não participa? Você é incrível, seria aceita de primeira. — Falou com a sua total certeza, sorrindo gentilmente.
— Eu nunca fui aceita, e já tentei entrar mais de quatro vezes. — Aghata sorriu de canto, negando minimamente ao relembrar das audições.
Jeon não poderia estar mais chocado. Aquilo só poderia ser uma brincadeira da parte dela, nunca que negariam uma voz como aquela; Completamente perfeita.
— Isso é impossível! — Exclamou com a sua maior certeza, acreditando que a garota só poderia estar blefando.
— Sempre disseram que o meu sotaque estraga tudo, e que a indústria da música coreana nunca aceitaria uma ocidental, tanto por aparência, quanto por meu
sotaque. — Ela murmurou com a sua voz baixa, aquilo de alguma forma a machucava por dentro.
Seus sonhos pareciam cada vez mais distantes.
Jungkook até mesmo fechou as suas mãos em punhos, irritado. Ele sabia muito bem que as pessoas poderiam ser bem preconceituosas, mas não a esse ponto. Só poderiam estar loucos de recusar uma voz daquela no coral, não tinha outra explicação. Ele negava sem parar, balançando a sua cabeça de um lado para o outro, incrédulo. Com certeza teria uma bela conversa com a senhora Yang, professora de música da escola. Um talento como a Aghata não pode ser desperdiçado, ainda mais com tanta ignorância como fizeram mais de quatro vezes.
— E você? Por que largou o coral? — Aghata perguntou, realmente curiosa.
Jeon agora suspirou, demonstrando o seu desgaste emocional. Ele amava cantar, amava a música, mas parecia que tudo tinha corrido para fora do seu alcance depois que perdeu a sua visão. Era difícil compor, - Quase impossível. - tocar seu violão e até mesmo cantar. Tinha perdido as suas motivações, sequer podia enxergar e sentir a energia de uma plateia ao assisti-lo. Tudo havia perdido a graça; O encanto.
— Depois que perdi a visão passei a ser deixado de lado, parece que todo o meu encanto acabou. — Foi sincero, lembrando que agora ninguém mais o procurava, ligava para ele e até o elogiava. Não que isso importasse tanto, mas deixou claro para o Jungkook que antes ele era rodeado de pessoas interesseiras. Que se mantinham próximas de si por puro interesse e status.
Se sentiu usado. Um verdadeiro objeto.
— A sua voz continua encantadora para mim. — Aghata deixou escapar, e não demorou para que o seu rosto fervilhasse em timidez.
Jungkook sorriu, e foi um sorriso verdadeiro.
— Não me acha um inválido? — Questionou amargo, lembrando da fala de seus pais.
— Não. Você continua sendo o mesmo Jungkook de sempre. Continua tendo o mesmo talento, as mesmas opiniões e os mesmos sentimentos. — Ela disse simples, passando a pontinha do seu indicador pelo o piano.
Jeon comprimiu os seus lábios, emocionado. Aghata nunca veio atrás dele quando o garoto ainda enxergava, então isso mostrava para ele que ela poderia ser diferente de todas as outras pessoas que o abandonaram na hora mais difícil da sua vida. Ela estava ali agora, falando com ele normalmente, agindo normalmente e não o tratando como um inválido e um careta. Estava sendo sincera também, e aquilo não poderia deixar o coração de Jungkook mais feliz.
— Acho melhor nós irmos, já passou da hora do fim das aulas já faz um bom tempo. — Aghata se apavorou ao ver que horas eram, já fazia uma hora que estavam ali conversando e ambos nem perceberam o horário passando.
Jeon levantou-se com cuidado e em seguida pegou a sua bengala. Aghata fechou a tampa do piano e pegou as partituras, logo as guardando em sua mochila e a colocando em um dos seus ombros. O mais velho a esperou com educação, e Aghata se assustou quando ele estendeu o braço dele esperando que ela o enganchasse no seu. A mais nova demorou um pouco para racionar, mas logo enganchou o seu braço no dele com cuidado e nervosismo. A garota fechou a porta da sala antiga de música e saiu andando pelos corredores enquanto guiava o Jungkook.
Eles seguiram em silêncio, apenas aproveitando da companhia um do outro ao estarem lado a lado. Aghata estranhou o movimento zero da escola, mas não deu muita importância. Mas, se assustou quando chegou na porta principal da escola e notou que estava trancada por fora. Tentou abri-la de todas as maneiras possíveis, mas de nada adiantou.
— A porta está trancada, acho que nos deixaram presos. — Aghata comprovou tudo ao notar que a porta da diretoria estava trancada também e sem nenhum movimento aparente.
Estavam sozinhos e presos dentro daquele grande colégio. A garota estava prestes a pegar o seu celular do bolso menor de sua mochila, mas parou imediatamente ao escutar a voz de Jungkook.
— Vamos aproveitar! — O moreno exclamou com diversão, deixando a menor confusa — Temos o auditório e os aparelhos de som todos para nós, precisamos aproveitar esse momento, isso nunca vai acontecer novamente. — Jeon parecia uma criança empolgada prestes a fazer uma grande arte, e Aghata o achou fofo diante da situação.
Ela parou alguns instantes e ponderou aquela loucura. Nunca teve a oportunidade de usar a aparelhagem incrível do coral, pois era de uso permitido apenas para os participantes. — Coisa que ela não era. Queria muito ter a chance de tocar em um violão novinho em folha, então a ideia era muito tentadora. No entanto, sabia que se fossem pegos era suspensão na certa, e isso poderia ser fatal para ela que era uma bolsista integral. Porém, não conseguiu negar, a sua paixão pela música era muito maior do que os riscos, sem contar que, seu coração implorava por minutos a mais do seu tempo ao lado dele; Jungkook.
Ela não falou nada, mas as suas ações responderam positivamente. Enganchou novamente o seu braço no dele e passou a guia-lo em direção ao auditório do colégio. Jeon sorria felizardo, aquilo só poderia ser um sonho muito bom. E o mais incrível de tudo isso: A sua falta de visão não estava diminuindo a alegria do momento vivido.
Assim que chegaram no auditório eles andaram juntos até a frente do palco, Jeon se soltou instintivamente de Aghata, e andou com a ajuda da sua bengala até a fileira da frente e sentou-se em um dos assentos bem em frente e ao meio do palco. A garota ficou confusa, então esperou que ele se explicasse.
— Você nunca teve a chance de se apresentar junto do coral para uma plateia, então hoje eu serei a sua plateia. — O moreno disse gentil, sorrindo serenamente — Sei que não sou a melhor plateia do mundo, mas sei apreciar uma bela voz como ninguém. — O garoto disse brincalhão, mas no fundo estava sendo completamente sincero diante das suas palavras.
Aghata estava se sentindo emocionada, pensou que não poderia ter uma plateia melhor do que ele, esse que ela tanto admirou e admira. Subiu com rapidez naquele palco, pegou um dos violões novos e brilhantes que estavam em sua plataforma, e andou até para perto do pedestal que segurava um microfone desligado. Não seria preciso ligar qualquer aparelhagem, estavam só os dois ali, nenhum barulho poderia os atrapalhar. Então, ela fechou os seus olhos e se pôs a cantar com toda a sua alma, como sempre fazia.
— But hey, now, you know girl
We both know it's a cruel world
But I'll take my chances. — Os acordes do violão eram tocados com graciosidade, calma e delicadeza. A sua voz acompanhava a melodia perfeitamente, e Jungkook aproveitava da sensação maravilhosa que sentia ao ouvi-la.
Era como uma droga. Poderia ficar facilmente viciado na voz dela, e dizia isso sem escrúpulos. Ela nem olhava para a sua frente, estava de olhos fechados e viajava em torno da música. Então, nem percebeu quando o Jeon levantou do seu assento e guiou-se com a sua bengala para cima daquele palco. Subiu os degraus com cuidado, e uma hora tropeçou, mas seguiu em frente com determinação. Ele foi se guiando conforme a voz de Aghata soava mais perto de si, até que notou que já estava perto o bastante.
— O-o quê? — A garota parou de cantar ao ter se assustado com a aparição repentina do mais alto.
Ele sorria, e agora havia largado a sua bengala que caiu sobre o chão de madeira do grande palco. Jungkook chegou mais perto dela, até o momento em que apenas o violão os separava. Aghata tinha os seus olhos esbugalhados, e Jeon podia sentir perfeitamente a respiração agitada da menor. Ele fechou os olhos e expirou a fragrância dela, sentindo um cheiro único e que o deixou entorpecido.
— Você cheira a pêssego com creme. — O rapaz falou, ainda tentando inalar mais daquela fragrância doce e viciante.
Aghata ofegou, agora vendo que o garoto estendia a mão dele em sua frente aparentando procurar algo. Então a garota segurou a mão dele, sentindo o seu toque firme e quente quando ele apertou ambas as mãos. Trocaram uma energia única, somente deles. Era tão engraçado como estavam conectados sendo que só tinham começado a se falar fazia poucas horas. Foi automático, sentiam como se já se conhecessem há anos. Parecia apenas um reencontro, pois intimidade já sentiam ter há tempos. Porém, nada importava naquele momento, não estavam ligando para o pequeno tempo no qual conversaram, estavam se sentindo bem um com o outro, e era isso que importava para eles.
— Eu posso lhe conhecer, Aghata? — A voz dele saiu mais baixa e rouca do que o normal, e a forma como ele pronunciava o nome dela era adorável.
Aghata sabia muito bem o que aquilo significava. Jeon iria tocar-lhe o rosto, querendo conhecer cada expressão sua para a imaginar, mas mal sabia ele que já a conhecia. No entanto, ela deixou, pois sentia que o seu corpo e coração ansiavam pelo o toque dele.
— Pode. — Sussurrou por tão afetada que estava.
Aghata retirou o violão do seu corpo, o largou cuidado sobre o chão e deu passos em direção ao Jungkook. Um pouco nervosa, ela respirou fundo e pegou a mãe dele, em seguida a levou com calma até o seu rosto, acomodando a palma aberta em uma das suas bochechas cheinhas. Ambos suspiraram, pois aquele toque gerou muitos sentimentos bons se misturando dentro dos dois de uma só vez. Jeon dedilhou o rosto dela com cuidado, levou a sua outra mão em direção a outra bochecha, segurando o rosto dela com delicadeza e puro cuidado.
Os dedos dele traçaram as sobrancelhas da garota, logo contornando o rosto dela. Ele sorria o tempo todo, já ela tinha os seus olhos bem abertos enquanto cuidava cada mínima expressão do moreno a sua frente. Até que a pontinha do indicador de Jungkook desceu como um tobogã sobre o nariz dela, parando no seu arco do cupido (V dos lábios). Ela entreabriu os lábios involuntariamente, sentindo o seu coração se agitar dentro do peito. Suspirou, e Jeon acabou fazendo o mesmo. Estava com a respiração agitada, e agora o dedo opositor dele passava lentamente pelo o seu lábio inferior.
— Parecem macios. — Ele sussurrou, muito perto.
Aghata não ousou dizer nada, sequer sabia o que deveria dizer em momento daqueles.
Jungkook aproximou o seu rosto ainda mais do dela, e então afundou a sua face diante da curvatura do pescoço da mais baixa. Tocou o seu nariz na pele sensível dela, a arrepiando. O nariz dele descia e subia com leveza em seu pescoço, aspirando com ternura o cheiro de pêssego que ela exalava. Estava viciado, e não tinha mais volta. Mas ele não ligava, pois não queria sair mais dali mesmo. Havia encontrado o seu lugar, esse que era ao lado de Aghata.
— Você é linda. — Ele sussurrou contra a pele dela, tirando algumas cócegas da garota, essa que se encolheu segurando um risinho.
Então o moreno afastou-se do pescoço dela, pois agora tinham as suas testas coladas. Jungkook a segurava pela nunca, e alguns dos seus dedos afundavam dentro do cabelo comprido da garota, podendo sentir a maciez dos fios cheirosos. As respirações se mesclavam, e ambos não poderiam estar se sentindo mais ansiosos. Até que, finalmente, os lábios se colaram como imãs. Foi como fogos de artifício, Aghata poderia desmentir agora sobre as borboletas no estômago que todos diziam sentir, pois ela não as sentiu apenas em seu estômago, mas sim por toda a parte do seu corpo.
A fricção dos lábios carnudos dela com os lábios finos dele fôra perfeito, Jungkook não poderia ter sentido uma sensação melhor do que aquela, mas sentiu. Sentiu quando ambas as bocas se entreabriram e os músculos quentes se encontraram. Aquele beijo o embriagou, não queria mais a largar. Nunca mais. Poderia a beijar pelo resto da eternidade se conseguisse, não via problema algum. Nunca enjoaria daquele gosto, daquele cheiro e daquele sentimento que aquecia o seu peito ao toca-la. E quando as mãos dela seguravam-lhe o pescoço, Jeon teve a certeza de que a sua alma saiu do seu corpo e voltou segundos depois.
Ao se afastarem se mantiveram próximos, com as respirações ofegantes se misturando e as mãos um no outro. Estavam quentes. Aghata abriu os seus olhos e encontrou com um Jeon ofegante, de cabelos bagunçados, olhos fechados, lábios inchados e entreabertos. Estava ainda mais lindo do que já era.
— Você não terminou de cantar a música. — Ele murmurou ainda com dificuldades de regular a sua respiração.
Ela sorriu, então cantaram baixinho e juntos:
— As long as you love me
We could be starving
We could be homeless
We could be broke
As long as you love me
I'll be your platinum
I'll be your silver
I'll be your gold. — Ambas as vozes soaram juntas e sincronizadas. Eram ainda mais perfeitas juntas e tinham quase o mesmo tom.
Combinavam. Assim como eles dois.
— Podemos ser uma dupla, Jagiya. — Ele falou depois de um tempo, tendo as suas mãos entrelaçadas com as dela.
Aghata franziu o cenho, não sabia muito bem sobre a língua coreana. Nunca aprendeu perfeitamente, e seu sotaque demonstrava isso. Então, não sabia distinguir muito bem cada tratamento coreano, por isso não soube dizer o que Jagiya queria dizer.
— O que é Jagiya? — Questionou verdadeiramente confusa.
Jungkook sorriu, então disse:
— É como chamamos novos amigos.
Esse não é o fim, mas sim o começo.
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Oi, gente linda! Estão bem? Espero que sim!
O que acharam desta oneshort? Espero que tenham gostado. É algo bem singelo, fofo e carinhoso.
Jungkook é um amor, né?
Eles compartilharam seus medos, sonhos e frustrações, mas mesmo assim se entenderam perfeitamente. Jungkook até mesmo esqueceu da sua deficiência, ela não teve importância enquanto estava ao lado de Aghata. Uns amores!
Hmmm, tem certeza que Jagiya é como chamamos novos amigos, Jeon Jungkook? Bem serelepe ele!
No mais, agradeço pela chance que me deram de ele algo meu, pelo carinho e por todo o amor. Vocês são incríveis e me fazem muito feliz. Espero que possamos nos encontrar mais vezes, ficarei muito feliz! No próximo capítulo tem o segundo livro da saga, já tem VÁRIOS capítulos postados, passem lá!
I Auur u💜🐯
Com amor, Gaby💞
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