V - Rebelde
O público continuou a gostar dela e o apoio era mais notório quando a imprensa insistia no ataque venenoso contra o seu lugar no Senado Galáctico. Ela deixara de ser ingénua. Compreendera que podia fazer pouco ou podia fazer muito, a opinião oficial não iria mudar grande coisa. Seria sempre apelidada de princesa mimada, caprichosa e fútil pelos jornalistas maldosos mesmo que se mostrasse o contrário, mesmo que se escondesse e que trabalhasse sem dormir. Nada iria abrandar o ataque. E ela gostou de estar sempre sob uma luz negativa. A sua motivação crescia e ela empenhava-se mais.
Naqueles primeiros dias no Senado, aprendeu uma importante lição. A traição vinha sempre dos amigos e daqueles que ela julgaria como os mais próximos, os mais simpáticos, os inquestionáveis. Não havia aliados numa casa daquelas, em que cada um tentava sobreviver a todo o custo, utilizando expedientes censuráveis e escandalosos. A trapaça era norma e o único objetivo era cair nas eternas boas graças de Palpatine. Todos vendiam todos só para conseguirem uma mísera vantagem, alguma visibilidade e a migalha de um elogio mastigado do Imperador.
Descobriu que Josh Amyrell enquadrava-se nessa categoria no dia em que a proposta de lei do senador de Jelucan sobre o comércio foi aprovada na grande assembleia. Tinham-se passado uns meros dois dias desde o infeliz incidente nos alojamentos de Amyrell, mas Leia trabalhou incansavelmente durante esse tempo, sem descansar, desdobrou-se em contactos, em estudos, em ideias, e conseguiu retirar o nome de Alderaan do texto final. Sem grande mossa. Se houvera alguma tentativa de chantagem, Winter tinha conseguido eliminá-la com uma eficiência admirável. Se houvera essa hipótese de extorsão e de dependência, Leia nunca o chegou a saber.
Não o ostracizou, nem ignorou, em nenhuma das sessões do Senado em que estavam os dois presentes. Quando se cruzavam, ela cumprimentava-o com o mais radioso dos sorrisos e as palavras mais amáveis. Ele não se desmanchava e retribuía com um gesto caloroso, sempre sedutor. Para além desse jogo de aparências não tinha acontecido uma reaproximação. Ela não a desejava, ele não a procurara.
E no dia em que o senador Josh Amyrell recebeu uma ovação do Senado pela sua vitória política, aconteceram prisões de senadores que, aparentemente, se encontravam descontentes ou que tinham desrespeitado o Imperador por este ou aquele motivo, sempre dúbio, nunca inteiramente revelado. E Leia pedira a Winter que fizesse um relatório secreto e pessoal, protegido com palavra-passe, sobre as prisões e o esquema desenhado pela sua assistente pessoal revelou algumas ligações interessantes a Josh Amyrell. Significava aquilo que o senador tinha comprado a sua vitória. O preço tinha sido a denúncia de anteriores aliados. Por exemplo, um dos que tinham sido feito prisioneiros era o senador de Dantooine que ajudara à reeleição de Amyrell. Depois de ler o relatório, ela destruiu-o. Era uma prova de que ela começava a investigar o que não devia.
Mais tarde, à medida que Leia se inteirava dos assuntos do Senado, os quotidianos e que figuravam na agenda oficial, os escondidos que eram apenas mencionados à boca pequena nos corredores ou em certos gabinetes, ela descobriu também que a perfídia de Amyrell ia mais longe. Ele caçava rebeldes. A frase era feia e ela demorou para entendê-la. Uma caçada! Pelos vistos havia quem se estivesse a revoltar contra o Império, uma organização clandestina e secreta que tinha o nome sonante de Aliança para a Restauração da República. E todos os senadores rebeldes que acabassem por cair na esfera de influência de Josh Amyrell eram denunciados.
Essa ação transformou o senador em alguém ainda mais repulsivo. Todo ele era torpe e sem carácter. Uma desilusão! Mas ela nunca se tinha iludido... Ou se parecera deslumbrada, fora momentâneo e nunca iria reconhecer que fora verdadeiramente enfeitiçada. Era ponderada e sempre o fora, mesmo quando fora enganada por ele quando o julgara um idealista, um corajoso e um obreiro. Um sonhador que concretizava sonhos e mudava a vida das pessoas. Afinal, não passava de um ambicioso corrupto.
Leia Organa desejava ser o que vira em Josh Amyrell – idealista, corajosa, obreira. Concretizar o que imaginava, converter as suas palavras em realidade. Influenciar a galáxia. Não fora por tudo isso que se fizera eleger senadora? Não devia projetar a sua missão nos outros, realizar-se através de terceiros. Isso não.
Nestes considerandos, desenhou um plano de ação. Já não aguentava Coruscant – artificial, perigosa, inatingível. Ali havia demasiado vermelho disfarçado no aço negro dos grandes edifícios.
Partiu para a Orla Exterior, foi conhecer mundos bastante diferentes do perfeito Alderaan onde era princesa, onde era protegida e amada. Durante três meses-padrão dedicou-se a trabalho humanitário para aliviar as penas daqueles que sofriam. Conviveu de perto com a miséria, com a escassez, com a insalubridade, com a ganância, com a fome, com a privação, com o desespero.
Focou a sua atenção nas crianças e nas mulheres. Estabeleceu programas de educação e de vacinação. Promoveu a construção de casas-abrigo para mães solteiras e para órfãos desamparados. Serviu com as suas mãos litros de sopa em armazéns que dispensavam a única refeição do dia a uma multidão de pobres e de carentes. Foi no terreno que compreendeu as desigualdades, as injustiças, que percebeu que o futuro da galáxia resvalava para um buraco negro se o estado das coisas não fosse alterado. O Império Galáctico não resolvia nada, apenas se interessava em reforçar o seu próprio poder, impondo-se militarmente, descartando a oposição incómoda.
E quando voltou a Coruscant não se espantou por todo o trabalho que tinha desenvolvido nesses meses não merecer a atenção da imprensa oficial do Império. Podia fazer muito, podia fazer pouco, continuava a ser a princesinha que gostava de brincar a fazer de senadora. Todo o trabalho que desenvolvera na Orla Exterior, onde efetivamente fizera alguma coisa de palpável e de útil que ajudara milhares de desfavorecidos, que mudara centenas de vidas, não recebeu qualquer publicidade. Ela sacudiu os ombros.
Falavam mal dela e ela iria ignorá-los.
Uma carinha bonita que não desmanchava a sua beleza com as críticas. Isso era uma forma de resistência, de protesto. Não se deixar afetar deixava os atacantes mais furiosos. E ela sacudia, mais uma vez, os ombros.
Na grande assembleia ela preparava-se para o seu discurso. Aguardava que lhe fosse dada permissão para falar e ela iria fazê-lo, mesmo que o pai a tivesse avisado dos perigos que podiam advir da sinceridade. Naquela sessão não haveria discussão de assuntos, apenas declarações dos senadores. Cada membro tinha cinco minutos-padrão para falar e ela tinha-se inscrito para ser um dos oradores.
- Mas não conseguirei ser menos do que sincera – argumentara ela.
- Estamos a trilhar um caminho perigoso – respondera o pai.
Ficou agradecida por Bail Organa ter usado a primeira pessoa do plural. Estava a ser apoiada. Não duvidava desse apoio, claro, mas ter uma garantia específica deixava-a mais confiante.
- Um caminho da desobediência. Sinto-me em paz com a minha consciência por ter feito essa escolha.
- Sedição.
- Se for necessário, irei rebelar-me...
- Necessário ou inevitável?
- Se for esse o fim deste caminho... estou preparada.
Nas sessões do Senado também se cruzava com o senador Heskey. A saudação que trocavam era polida, com aquela simpatia aperfeiçoada dos colegas de ofício em que a intimidade não se estende para além do local de trabalho. Nunca lhe constara que Heskey se tivesse gabado, em alguma ocasião, do que sucedera entre eles e ela mandara Winter estar atenta às movimentações do senador mais velho nos dias imediatamente a seguir àquela infeliz ocorrência e ele, verdade fosse dita, nunca lhe devotara um olhar lascivo ou de segundas intenções quando a via nas galerias. A vénia era protocolar, inflexível. As palavras eram cuidadas, isentas. Ela também nunca o espicaçou para recuperar a lembrança.
Estava arrependida? Acontecera, simplesmente. Perdera a virgindade, tornara-se mulher e continuava a sentir-se como nesse dia. Lúcida. Não houvera romantismo, amor, paixão, deslumbre ou qualquer emoção mais difícil de controlar. Fora um ato tão prático e mecânico que, se ela se quisesse recordar, e ela não perdia tempo a recordar essa era a verdade, não encontrava motivos justificáveis que fixassem esse momento na sua memória.
Não tinha tempo para o amor e outras tolices da adolescência.
E certamente que não iria apaixonar-se pelo senador Heskey!
A luz azul acendeu-se no balcão do seu transportador – curiosamente não era uma luz vermelha, mas azul – e a plataforma volitou suavemente até ao centro da enorme sala. Sem solavancos, um voo tão suave como uma brisa que não lhe desmanchou o penteado ostensivo que resolveu usar naquele dia. Leia Organa podia começar o seu discurso.
- Senhor presidente do Senado, Supremo Secretário, minhas caras senadoras, meus caros senadores. Apresento-me perante vós com uma evidência e um apelo. A galáxia precisa de nós. De nós, senadores, porque nós viemos das diversas regiões que fazem parte desta enorme e bela galáxia. Nós conhecemos os mundos, nós conhecemos os povos, nós conhecemos o terreno. Acredito numa galáxia mais igual e próspera, em que todos tenham o seu lugar, a sua importância, a sua responsabilidade. E nós somos os representantes das vozes de todos aqueles que falam na escuridão das estrelas e que clamam pela satisfação das suas necessidades. Regressei há pouco tempo de uma missão aos sistemas da Orla Exterior. Sim, a Orla Exterior... esse grande desconhecido que muitos de vós temem mencionar, que receiam visitar por não quererem sujar as vossas ricas vestimentas na lama que por lá abunda. – Baixou o tom, fez um ar compungido, um ar de compreensão. – Sim, caríssimos! Eu estive lá e têm razão... São lugares sórdidos, imundos, desprezíveis... Vi muita sujidade! Vi muita indigência!
Uma pausa em que passeou o olhar pela assistência. Não podia distinguir ninguém porque a luz azul suave do seu transportador cegava-a com a luminescência, o cenário ficava mais obscurecido. Na assembleia, nos outros transportadores, eram vultos, vultos parados como espectros que a fixavam estáticos como marionetas. E eram todos bonecos, malditos fossem, operados pela mão invisível do terrível Palpatine que os manobrava a seu bel-prazer, mantendo a corrupção e a desconfiança que lhe eram tão vantajosas. Prosseguiu elevando a voz:
- Quero anunciar-vos que Alderaan está a ajudar os sistemas planetários ignorados pelo Império Galáctico! – Levantou um braço para acentuar essa declaração. – Sim, minhas senhoras e meus senhores... O Império Galáctico não está a providenciar a alimentação, a proteção, a justiça e a educação obrigatórias a toda a população galáctica. O Império Galáctico está a negligenciar os direitos básicos da população! Existem povos a sofrer, a mendigar, a soçobrar neste preciso momento em que vos falo. Eu vi como planetas inteiros tentam sobreviver sobre escombros e sem nada, totalmente esquecidos, sem esperança alguma. A esperança não pode morrer. Nunca! Vivemos de esperança! Alderaan, um dos mundos ricos do Núcleo, está a enviar expedições humanitárias aos mundos da Orla Exterior. Não são comboios de mercadorias que irão ser transacionadas pelos intermediários sem escrúpulos que ganham fortunas com a desgraça alheia, vendendo produtos a preços discricionários, sem qualquer regulação, a coberto de um suposto funcionamento do mercado selvagem e abusivo. Não! São comboios de bens essenciais que serão dados às populações sem qualquer contrapartida. Chama-se ajuda! Alderaan está a ajudar os mundos da Orla Exterior.
A luz azul ficou intermitente. O sinal de que o seu tempo estava a esgotar-se. Um cronómetro discreto, com o tempo em segundos-padrão em regressão, surgiu ao lado do pequeno holofote. Leia fez uma segunda pausa.
- E por isso, minhas caras senadoras, meus caros senadores, estou aqui hoje para exortá-los a seguirem o exemplo de Alderaan. Não podemos ignorar o apelo mudo daqueles que sofrem! Quando esses não têm voz, seremos nós a voz de que eles tão desesperadamente necessitam. Falemos por eles! Muito obrigada. Encerro a minha participação. – Mencionou as palavras que eram da praxe, para efeitos de registo oficial: – Alderaan, Organa.
O seu transportador apagou-se e regressou, pairando, ao seu lugar de estacionamento na sala da assembleia. Na escuridão abençoada sentiu-se num refúgio e Leia permitiu-se a respirar fundo. Olhou para as palmas das suas mãos e reparou que estavam suadas. Ela sabia que tinha dado um passo muito importante. Arriscara tudo e nada voltaria a ser como antes...
A sua emancipação chegara.
No seu gabinete atirou-se pesadamente sobre a cadeira. A saia do vestido enrodilhou-se no assento, mas ela não tentou libertar os panos. Um vestido cor de açafrão. Detestava a cor, mas não quis usar o vestido branco largo, saia comprida, mangas longas, capuz que podia puxar para resguardar o rosto que Winter lhe indicara. Sentia-se fatigada, mas num bom sentido. A boca vermelha enfeitava-se com um sorriso persistente, desafiador. O seu discurso fora chocante.
Dispensou o androide protocolar depois de este lhe organizar a agenda para o dia seguinte e pediu a Winter, que digitava furiosamente o seu holopad, que ficasse mais um pouco. O rosto da irmã iluminava-se a espaços irregulares com o brilho do ecrã táctil. Estava concentrada, apreensiva, mordia o lábio inferior e as sobrancelhas uniam-se com uma ruga sobre o nariz.
Ela continuava presa à cadeira pelos panos do vestido. A tensão de ter os músculos entalados debaixo da roupa ajudava-a a mascarar o nervosismo, a permanecer imóvel. Se assim não fosse, já estaria a deambular pela sala, saltitando como um miru num dia de muito calor, o que as tias sempre tinham detestado nela.
- Não pareças um animalzinho engaiolado, pelos deuses! Uma princesa está sempre serena! – guinchavam em coro.
Leia perguntou:
- Então?
Winter sorriu, num misto de divertimento e de ironia, levantando os olhos do holopad. A expressão de preocupação tinha-se esvaído. Não havia mais rugas, nem sobrancelhas franzidas.
- Não posso crer que esperas algo de diferente.
- Já sei o que me vais dizer. Começo a conhecer o Senado Galáctico e como funciona, com a sua patética lealdade incondicional a Palpatine. Mas quero que sejas tu a dizer-me. Cobre-me de insultos.
- Oh, querida irmã. Não sejas mais dura do que o Imperador.
- Não encontras insultos?
- Mais incómodos e uma irritação cortês.
- Cortesias para comigo? Acho que vou comemorar com uma taça de vinho de Corellia! Dispara...
- Prepara os teus escudos defletores.
- Estão armados.
Winter pigarreou levemente, colocando um punho defronte da boca.
- Inveja! Pura inveja de políticos medíocres e subservientes. Sem argumentos para te combaterem no campo político da ideologia, tecem considerações pessoais ao teu discurso e alimentam os repórteres que apreciam denegrir a tua imagem com boatos. Bem, és a princesa mimada, por isso, os danos são mínimos e continuam a ser suportáveis... Enfim, os senadores que representam os mundos do núcleo são os mais ofendidos. Afirmam, ressentidos...
- Estás a adjetivar demasiado – observou Leia ácida.
- Tens razão, senadora. Peço que me desculpes o arrebatamento.
- Estás desculpada, querida irmã.
- Os senadores afirmam que Alderaan está a ganhar demasiada proeminência no campo político.
- É apenas ajuda humanitária!
- Que julgam disfarçada de segundas intenções. Coloquei alguns espiões em campo e tenho informações sobre conversações paralelas.
- Espiões?! Sabes que esses métodos me desagradam.
- Completamente inofensivos. Dois ou três androides com uma alteração de programação que me permite aceder aos dados processados pelo sistema informático central do autómato. Os próprios androides não sabem que foram pirateados e consigo desligar-me rapidamente se houver alguma suspeita, apagando os vestígios que levariam até à minha denúncia. Não te preocupes, senadora. Tenho... as minhas artes.
- Hum... Confio em ti, querida irmã.
- Podes ficar descansada. Nunca comprometeria Alderaan num esquema de escutas ilegais. Então, esses meus colaboradores colocados em pontos estratégicos, digamos assim, indicam-me que os senadores descontentes não gostam que Alderaan ganhe voz dentro do seu grupo restrito. Tentam diminuir a tua importância no senado, atacando a tua reputação, lançando calúnias e insinuações.
- Os colaboracionistas não pretendem que existam vozes que não possam controlar para não melindrar o regime. Que tipo de calúnias?
- As habituais relacionadas com o teu sangue real.
- Ah, perfeitamente aceitáveis, dentro do presente quadro. Pensei que fosse algo novo...
- És a princesa mimada.
- O público?
- O público tem uma opinião bastante favorável sobre ti, Alteza. Consideram-te arrojada, altruísta, intrépida. Apreciam os teus gestos diferentes, as tuas opções políticas, dos teus programas que olham para os sistemas abandonados. Gostam da frescura da tua presença no Senado Galáctico.
Leia sorriu. Os elogios faziam bem ao ego. Não tomava aquelas decisões e não agia em conformidade com estas para ser vista ou para obter dividendos políticos. Ela acreditava que estava a fazer o correto, que estava a realizar os objetivos que a tinham feito candidatar-se àquele posto.
- Os mundos do Núcleo – continuou Winter –, onde Coruscant se eleva altaneira por causa do seu poder incontestado, têm os seus interesses e julgam que a sua posição está a sair prejudicada por causa de Alderaan.
- Porque Alderaan não está a obedecer às linhas orientadoras do grupo que é dominado por Coruscant e por Corellia.
- Ganthel também – acrescentou Winter.
- Um trio respeitável... – Leia recostou-se na cadeira, uniu os dedos das mãos. – Se existir um sistema, um planeta, que fica ao lado do povo, os privilégios poderão acabar... Palpatine poderá olhar mais atentamente para os mundos do Núcleo e decidir castigar a todos sem procurar separar os elementos verdadeiramente culpados. As habituais e temidas purgas... Os senadores de Corellia continuam aborrecidos comigo por causa daquela lei do comércio?
- Continuam. Julgam que sabes demasiado e que foi esse o motivo que te fez recuar no contrato.
- E sei demasiado!
Leia ia para se levantar, mas lembrou-se que se enrolara na cadeira com os panos do vestido. Fez um resmungo de surpresa e de impotência. Tentou puxar a saia, mas estava presa. Gingou o torso.
- Queres que te ajude com isso, senadora?
Leia olhou desconsolada para as pernas com o tecido estirado sobre as coxas, moldando-as. Acenou que sim.
- Sim, faz-me o favor... Obrigada!
As mãos diligentes de Winter soltaram a dobra correta e ela colocou-se de pé.
- Sei demasiado, mas não irei usar essa informação – completou Leia, cruzando os braços. Quedou-se junto à cadeira. – Não me interessa fazê-lo, neste momento. Quero que todos os meus inimigos fiquem distraídos para não perceberem... onde está o verdadeiro perigo da parte de Alderaan.
Uma suspensão como o carregar no botão que congelava a transmissão de um holograma, a imagem estática naquele instante que se precisava de analisar com mais cuidado. Leia e Winter eram dois seres petrificados no centro da sala. Contemplavam-se uma à outra sem pestanejar, de respiração suspensa.
Era um passo gigantesco.
Leia não hesitava, todavia.
Quando ela estivera na Orla Exterior em trabalho de ajuda às populações locais, durante aqueles três meses-padrão, Winter recebera várias comunicações clandestinas provenientes da Aliança para a Restauração da República para apressar o alistamento da fação descontente de Alderaan à causa rebelde. A Aliança sabia que o próprio vice-rei Bail Organa, a rainha Breha e até a sua filha, a princesa Leia, faziam parte dessa fação. Sabiam que a senadora Leia Organa não se importava de falar contra os ditames imperiais em público e em plena luz do dia.
Winter tinha sido contactada pela Rebelião dois anos-padrão antes, em Bespin, um gigante gasoso situado perto do sistema de Anoat, um lugar remoto da galáxia. Aí, na Cidade das Nuvens, onde existiam importantes minas que exploravam gás tibanna, a sua assistente pessoal e irmã adotiva participara numa reunião importante sobre o futuro da galáxia. Uma reunião com os rebeldes. E agora que tinham conhecimento que era a assistente pessoal da senadora Leia Organa, agora que sabiam que Alderaan divergia da posição habitual de subserviência dos mundos do Núcleo, exerceram pressão para que tudo se concretizasse.
E Leia decidiu-se.
Winter agarrou nas mãos dela.
- Tens a certeza sobre isto?
- Sim, a certeza absoluta.
- O combate vai tornar-se mais cerrado. Estás abertamente a declarar guerra ao Império Galáctico.
- Aceito tudo o que significa fazer parte da Aliança.
Sedição, dissera-lhe Bail Organa e Leia assumiu que era mesmo isso. Revoltava-se, para sempre. Até ao fim. Se morresse durante a luta, morreria por essa causa com a certeza de que não errara quando se decidira pelo alistamento.
- Vais ser... uma rebelde, Leia.
Ela sorriu.
- Julgo que tu, irmãzinha, já és uma rebelde há mais tempo do que eu. – A seguir ficou séria. O coração batia apressado. Havia algo de fatal naquilo, mas ela estava a adorar as possibilidades de poder mudar a galáxia através dos seus atos. Contribuir, verdadeiramente para a História. – Sim, serei uma rebelde. Senadora, princesa, boneca, mulher, rebelde. Achas que vai irritar Palpatine?
- Sem dúvida!
O sorriso de Leia espalhou-se pelo seu rosto, iluminando-lhe os olhos.
Rebelde! E com a sua rebelião restauraria a liberdade à galáxia.
Haveria uma Nova República. E deliciou-se com esse sonho grandioso.
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