Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

III - Boneca


Mordia os lábios à medida que aprofundava a leitura mais séria disponível no seu holopad. Quisera mudar para textos legislativos para evitar aumentar a sua irritação, mas o estratagema não estava a dar resultado. Sem conseguir fixar-se no texto cujo segundo parágrafo relia sem entender uma palavra, pousou o aparelho com um baque e deixou-o em cima da secretária, entre as mãos, uma de cada lado. A sua assistente pessoal olhava-a inquisidoramente. Aguardava instruções depois de lhe ter apresentado a agenda e porventura, pela sua atitude calma, esperava aquela reação.

Winter sempre fora mais tranquila e de trato mais fácil. Leia recostou-se na cadeira e cruzou os braços de forma tensa. Tinham crescido como irmãs, já que a outra mulher fora adotada por Bail e Breha Organa os pais de Leia, vice-rei e rainha de Alderaan. Era mais velha poucos anos, já entrara na casa dos vinte enquanto ela contava com dezoito. As mesmas tias que a tinham educado dispensaram os seus ensinamentos também a Winter e era esta última que colhia os elogios mais emocionados sempre que era realizada uma tarefa ou acontecia uma ocasião formal que contava com a participação da Casa Real. Winter era uma princesa perfeita, sem ter sangue azul, enquanto ela, Leia, a verdadeira princesa, via-se como uma imitação. Não sentia qualquer rancor, desdém ou inveja, costumava usar a irmã como um escudo que a protegeria das exigências que recaíam sobre si. Empurrava-a de bom grado para a ribalta e escondia-se aliviada nas sombras, embora nunca se conseguisse manter mais do que um punhado de segundos-padrão fora da atenção geral. Era frustrante não poder enviar Winter em seu nome. Muitas vezes Leia tinha desejado que fosse ao contrário – ela a aia de companhia, a outra a princesa.

Winter era uma mulher bonita, distinta, altiva. Tinha o cabelo branco de uma alvura semelhante à neve, os olhos eram de um tom bonito de azul, a cor da água dos lagos das montanhas. O nariz afilado era afirmativo, como todo o seu rosto, a sua personalidade inteira. Os seus gestos eram estudados, não para serem automáticos, mas para evitar movimentos exagerados ou desnecessários. Era alguém confiável, resistente, de uma bela intransigência que inspirava. Fora por todas essas qualidades e pelo facto de lhe ser bastante próxima, que Leia mandou-a chamar a Coruscant e fez de Winter a sua assistente pessoal. Não dispensou as que lhe tinham sido designadas pelo gabinete burocrático, seria um mau passo e lançaria um alerta de que ela não estaria disposta a colaborar. Bail Organa assim a tinha aconselhado e, mesmo sem o aviso paterno, Leia saberia que isolar-se seria uma péssima decisão. Juntou Winter à equipa e quando pretendia tratar de assuntos mais delicados – que naqueles primeiros dias eram tão escassos que ela se sentia caprichosa quando a chamava ao gabinete – escolhia a sua irmã.

Então, Leia olhou para Winter. A boca contraída, as pálpebras descaídas, as mãos escondidas em dois punhos nos braços cruzados. Fez uma longa expiração. Winter manteve-se ereta e profissional, a aguardar. Nenhum comentário, nem uma só palavra.

- Já sabias que isso iria acontecer? – perguntou Leia.

- Tinha imaginado algo semelhante, não o nego, senadora.

- Estamos sozinhas. Por favor, deixa-te de formalismos.

- Não podemos deixar de formalismos, nunca, em Coruscant.

Leia zombou daquela observação dramática.

- Oh, por favor... Dispensei o androide intérprete e não se ouve um rumor que seja do outro lado da porta, o que significa que os corredores estão desertos. Não passa ninguém lá fora há imenso tempo. Não há nada a temer.

- Senadora, devemos manter a decência.

- Estaremos a fazer algo reprovável por nos tratarmos como amigas, aqui dentro? – Leia levantou-se, exasperada. Lançou os braços ao alto. – Se não posso estar à vontade no meu gabinete, onde poderei ser livre na capital galáctica?

- Em Coruscant devemos ser aquilo que nos é exigido ser. Tu, princesa de Alderaan, uma senadora. Eu, a tua assistente.

- Oh, percebi... Hoje é um dia para esquecer!

Leia andou em círculos pelo cubículo até se cansar. Apoiou as costas na parede junto à porta fechada. Colou o queixo ao peito com um suspiro.

- Nunca pensei que fosse assim... – confessou desanimada.

- Nem todos os dias serão gloriosos. Existirão dias de trabalho árduo, de muita diplomacia para que se consiga alcançar uma minúscula vitória que fará parte de uma vitória maior que efetivamente servirá para o cumprimento de algum magno objetivo.

Leia exclamou:

- Vim aqui para lutar! Vim aqui para mudar as coisas... Não para servir de enfeite numa casa de fantoches!

Winter não replicou. Percebia a perigosidade das palavras e não devia alimentar a desilusão evidente e insidiosa. Os venenos mais poderosos são aqueles que atuam lentamente e que tomam o organismo com paciência, para depois estarem tão entranhados que se torna impossível extirpá-los. Olhava-a neutra, esperava. Não faria por contrariá-la, não iria também colocar-se incondicionalmente ao seu lado. Leia desabafou, agitada, abanando a cabeça:

- A minha primeira presença numa sessão oficial do Senado Galáctico foi lamentável! Não consegui falar, atrapalhei-me com a ordem de trabalhos, a minha proposta foi sumariamente rejeitada por, alegou a mesa que presidia à sessão, estar falha dos requisitos mínimos. Mas eu verifiquei tudo antes, o androide intérprete assegurou-me que a proposta estava regulamentar... Nada falhou! Apenas porque sou novata não me deixaram avançar! Mas eu pretendo sinceramente impor algumas mudanças. A galáxia não está no seu melhor momento e é claro que o governo imperial não está a cumprir com a sua missão. Existem demasiadas desigualdades, demasiadas injustiças.

- Os boletins oficiais contestam essa versão dos factos, senadora.

- Claro que contrariam! Claro que os boletins oficiais declaram que os tempos são pacíficos e de prosperidade. E o Senado Galáctico é uma fachada. Os senadores não pretendem problemas e validam todos os decretos do Imperador, mesmo que isso signifique desalojar sistemas inteiros das suas populações indígenas para instalar um novo estaleiro que produza letais star destroyers que apenas servem o propósito da guerra e da morte!

E ao falar elevou o tom de voz ao ponto de estar a gritar nessa derradeira afirmação, acompanhando o solilóquio com um braço a movimentar-se pelo ar de forma enérgica. Calou-se, apertou os dentes. Devia guardar as suas energias para a sala senatorial, mas não podia ser sincera a esse ponto ou corria o risco de ser cercada pelos seus inimigos e de ficar isolada, de ser vilipendiada e de ser destituída. Não iria dar esse desgosto ao seu pai, não iria dar essa satisfação aos seus adversários, não iria permitir que a derrubassem devido à sua ingenuidade.

- Senadora, foi apenas o primeiro dia – lembrou Winter conciliadora.

O nariz de Leia empinou-se, desafiante.

- O primeiro dia ou o último, serão todos importantes. Eu quero lutar, disse-o ao senador Amyrell no baile inaugural. – Humedeceu os lábios, a fúria tinha-a feito corar. – Tê-lo-ia dito ao Imperador Palpatine se não tivesse ficado indisposta!

- Perfeitamente, senadora. Eu acredito nas tuas capacidades.

- Eu sei que acreditas. Mas os outros... Preciso de convencer os outros que não me conhecem tão bem como tu, Winter. E o que a imprensa oficial escreveu sobre mim, depois da sessão do Senado... não foi exatamente aquilo por que eu esperava.

Winter inclinou a cabeça, um meio sorriso. Foi o primeiro indício da quebra de protocolo. A assistente pessoal queria ser mais expansiva na postura, mas refreava-se por uma questão de respeito, de distância. Ela costumava ser rígida no que tocava a preceitos e a regras, nunca desobedecia e nunca falhava. Perfeita em mais do que um aspeto. Era irritante e admirável.

- Compreendo, senadora. Falas daquele artigo sobre os novos senadores na coluna social do periódico que relata diariamente os assuntos do Senado Galáctico... É isso que te está a perturbar tanto?

- E não devia ficar perturbada? – inquiriu Leia admirada.

- Dos cerca de setecentos e vinte novos senadores, apenas duzentos acabaram referidos no artigo. Ou seja, menos de metade. E desse total apenas sessenta e dois foram identificados pelo seu nome, os restantes foram-no pelo sistema de origem. Creio que ao te encontrares num grupo restrito de senadores mencionados, que representam cerca de oito porcento do conjunto, é um sinal de que causaste algum impacto.

- Não creio que tivesse sido positivo o facto de se referirem a mim como uma princesa cintilante que irá abrilhantar a magna sala de reunião senatorial. Não me consideraram uma diplomata, mas sim... um adorno.

- É isso que te magoa.

- Sim, Winter. Isso, efetivamente... magoa-me. Não sou... apenas uma princesa.

- Verdade, não és somente filha de reis – concordou Winter. – Mas esse ponto de partida, destaque por via do teu sangue real, vai abrir-te o caminho, senadora.

Leia foi cabisbaixa até à mesa de trabalho, tocou no holopad com a ponta dos dedos.

- Não quero dar razão às tias – resmungou.

No dia em que anunciou que iria formalizar a sua candidatura ao Senado Galáctico, acontecia o festival Florido, um dos feriados mais importantes de Alderaan. Num pavilhão montado nos jardins da capital decorria a cerimónia do chá, com a presença dos reis e da princesa, para além de alguns duques, príncipes convidados e pessoal selecionado da casa real. As tias estavam também no pavilhão, a observar com um olhar crítico os preceitos que estavam a ser seguidos. Costumavam apontar as falhas e reportá-las numa reunião, as correções eram feitas e os procedimentos revistos. A cerimónia do chá era complexa e Leia detestava-a, porque não se via como conseguiria substituir a perfeita rainha Breha na presidência daquele complicado ritual. Eventualmente teria de fazê-lo, ao herdar o trono. Eventualmente iria orientar uma cerimónia do chá num festival Florido – se não tivesse outros planos para o seu futuro. Então julgou que aquela ocasião seria mais do que apropriada para fazer o anúncio da sua decisão e fê-lo, quando, num curto intervalo de tempo entre um bule e o seguinte era permitido aos convidados descontraírem e conversarem. Leia comunicou que iria candidatar-se ao Senado Galáctico.

Ninguém sabia daquele seu propósito, nem mesmo o pai, Bail Organa, que era senador. Decidira-se por ser senadora, não para fugir do peso das suas responsabilidades enquanto herdeira das tradições de Alderaan, mas para corrigir as desigualdades da galáxia. Assim dito parecia vaidade, megalomania, utopia. Mas ela acreditava sinceramente que estava talhada para a tarefa, assim como Breha era a mulher ideal para ser a rainha de Alderaan, com todos os gestos decorados para servir o chá.

E quando fez o anúncio, tendo o cuidado de ser o mais natural possível, notou os olhares censuradores das tias. O pai felicitou-a pelo arrojo, a mãe aceitou a declaração com uma frieza despreocupada. Mais tarde, fora do pavilhão, terminada a cerimónia, numa saleta em que conferiam as ofertas alusivas ao festival deixadas pelos súbditos, as tias declararam que não tinham gostado do que ela tinha dito. Achavam a ideia de ela querer ser senadora absurda e inútil. Estava a ser educada para ser princesa, devia antes procurar um príncipe adequado para se casar, não entrar em aventuras políticas insignificantes, que nenhuma vantagem lhe traria.

Ela detestou a avaliação das tias. Empinou o queixo, sorriu afetadamente, declarou que estava determinada e que já tinha enviado a candidatura prévia. Era mentira, esperava pelo conselho do pai para formalizá-la, mas a intransigência das tias, a falta de crença nas suas capacidades para além de ser um enfeite bonito que podia ser trocado de mão em mão consoante as conveniências e as aparências, fizeram-na ficar mais teimosa do que nunca. Ela seria senadora, ela seria mais do que uma princesa no Senado Galáctico.

No entanto, a realidade encarregava-se de lhe dar uma forte bofetada.

No entanto, naquele primeiro dia em que ela ia cheia de vontade sentiu a sombra da repreensão das tias sobre si e vacilou.

- Leste o artigo, Winter? – perguntou Leia. – Leste o artigo todo?

- Certamente. Faz parte das minhas funções ler toda a imprensa diária, os comunicados, os memorandos e demais documentos oficiais para filtrá-los e apresentá-los, para que possas desempenhar o teu cargo com mais eficiência. Se perdesses tempo a selecionar os assuntos que mais te interessam, não te restaria energias para te dedicares ao que verdadeiramente importa.

Leia cruzou os braços. Mordeu os lábios, declarou impaciente:

- E crês que foram justos...

- Não me compete fazer juízos de valor sobre os artigos que verifico, senadora.

- Foram injustos – insistiu Leia. – Mencionaram o meu nome apenas para denegrir a minha reputação.

- Um mero artigo de opinião, uma reportagem com lacunas. Não creio que devas dar-lhe mais importância do que aquela que efetivamente merece.

- O artigo refere-se à minha pessoa como uma princesa a brincar ao faz-de-conta, que deveria estar entediada no seu bonito palácio e que resolveu vir experimentar a política como... diversão! Afirma que eu nunca serei uma verdadeira diplomata!

Rugiu. Perante a expressão imutável de Winter, desviou o olhar zangada por não estar a conseguir convencê-la da sua indignação. E não iria fazer uma cena, haveria de perder. Winter sempre fora melhor do que ela a controlar as emoções. Nunca se vangloriara por derrotá-la nas discussões, mas colecionava as pequenas vitórias e isso incomodava-a. Sempre fora melhor princesa do que ela, era inegável.

Deu meia volta, apoiou-se na secretária.

- Vou provar a todos que estão errados. Todos! A começar pelas tias.

- O teu problema são as tias...

- Oh, sim! São as tias! Se eu falhar no Senado, terei um baile à minha espera onde desfilarão os pretendentes à minha mão... Elas irão dizer-me e repetir-me e afirmar com toda a veemência o erro que cometi e que nunca devia ter saído de Alderaan para brincar... aos políticos. Irão fazer uma declaração irrefutável de que a minha decisão foi errada e de que eu, Leia Organa, princesa de Alderaan, devo escolher um príncipe e casar-me! Será a conclusão óbvia, final e expetável de toda este capricho! – finalizou, agitando a mão.

- Só será essa a conclusão se assim o desejares, senadora. Primeiro, deverás desejar que esse artigo te incomode. Depois, deverás desejar mostrar que esse artigo efetivamente não te incomodou. Por fim, deverás desejar ser uma diplomata e uma princesa, que os dois conceitos não se anulam necessariamente. Que é possível ser-se jovem, inteligente, ter sangue azul e talento para o nobre jogo da política.

Leia mirou Winter com verdadeira admiração. As suas palavras foram espantosamente motivadoras e certeiras. Um tiro laser que desfez as grades que a enjaulava. Respirou fundo, com um certo alívio.

O artigo também mencionava que ela era a senadora mais nova a ser eleita, em toda a longa história do Senado Galáctico. Duvidava se isso incluiria o longo rol de senadores que tinham servido aquela magna casa nos tempos da Antiga República, mas mesmo se a contabilidade fosse tão alargada era um ponto que teria de utilizar a seu favor. Fora mencionado num tom pejorativo, os seus dezoito anos serviram para realçar a sua inexperiência como senadora, mas ela iria usar esse encanto juvenil para seu proveito. Outro ponto forte fora a reação do público, assim relatava o artigo. As pessoas gostaram dela... Uma carinha bonita. Que fosse! O artigo mencionava essa apreciação positiva como um exemplo da volatilidade da opinião pública em relação aos políticos, mas para ela era outra vantagem. Vendo bem, ela até tivera um destaque razoável no grupo de senadores novos que urgia classificar pela imprensa bem-pensante que era um poder oculto dentro do Senado. Uma vez classificados, o molde era criado e fugir dessa uniformização revelava-se um desafio.

Pois bem, era o seu desafio, o repto que ela desejava.

Pediu a Winter o relatório sobre a proposta de lei do sistema Jelucan. Winter advertiu-a que ela deveria antes estudar a legislação sobre dimensões permitidas aos cargueiros que transportavam gado vivo, a discussão seria dali a três horas-padrão na comissão de especialidade e ela era um dos senadores que faria parte da sessão.

- Mais tarde, Winter – cortou Leia, lembrando-se da leitura enfadonha que interrompera no holopad. – Mais tarde. Antes quero conversar com o senador Amyrell. Vou precisar de estar preparada.

- É fundamental que também estejas preparada para a tua primeira participação numa comissão de especialidade.

- Estarei preparada! Disseste que terei três horas-padrão.

- A matéria é complexa...

- Enquanto estudo a proposta de lei de Jelucan, quero que me resumas o que preciso de conhecer por tópicos de fácil pesquisa, assim ganharei tempo.

- Fiz essa resenha, senadora. Aquilo que estavas a ler no holopad era já um texto preparado nesse sentido...

- Não estava suficientemente resumido, Winter – exigiu Leia aborrecida. – Quero a apresentação num formato diferente. Menos maçudo e com menos partes técnicas. Preciso de uma indicação clara dos contributos que poderei dar na reunião. Alderaan apoia as alterações e não sei que alterações são essas! Sei que havia qualquer recomendação do meu pai sobre essa legislação, sobre até que ponto nos podemos comprometer. Creio que existe uma contrapartida vantajosa para nós, numa questão posterior...

Winter acenou com a cabeça.

- Compreendido, senadora.

- Quero um documento de trabalho que me permita estar à vontade na discussão da comissão, sem que me torne uma especialista em cargueiros!

Leia estendeu a mão, num gesto exigente. Winter acionara rapidamente o seu holopad, fez a busca necessária e estendeu o aparelho à princesa que o agarrou com impaciência. Sentou-se na mesa de trabalho, apenas uma das botas assente no chão. Lia rapidamente, os olhos a movimentarem-se de um lado para o outro à medida que corria as linhas do texto, a mão que não segurava o holopad da sua assistente assentava no queixo. Entretanto, diligente e profissional, Winter comunicava com o gabinete do senador Amyrell para saber se a sua agenda mais imediata permitia que recebesse a senadora Organa.

Quando Leia agarrou no seu casaco para sair, já o encontro tinha sido marcado entre os dois gabinetes. Fez um agradecimento curto a Winter e dirigiu-se para esse encontro.

Foi apressada, foi ansiosa, sabia que não podia demorar muito tempo naquela reunião marcada de urgência, pois não queria falhar na tal comissão da especialidade. Tinha-se mostrado segura perante Winter, mas internamente sabia que precisava de se esforçar bastante para ter decorado aquela matéria sobre cargueiros e fazer uma excelente figura. Fazer uma boa figura não chegava, mesmo que Winter lhe desse o melhor dos resumos.

Entrou no gabinete do senador de Jelucan. Um androide recebeu-a e comunicou-lhe na sua voz metálica que a reunião anterior ainda não tinha terminado. Leia crispou a testa, contrariada. Indagou se a reunião era formal, o androide respondeu-lhe que não. Os senadores tinham aparecido sem marcação e o senador Amyrell tinha-os recebido por cortesia. E ela não se fez rogada. Carregou no botão do painel da porta e entrou no escritório do senador.

Parou no limiar do compartimento. Josh Amyrell estava de pé rodeado por cinco criaturas. Três delas eram Durosianos que não gostaram da interrupção. Os nativos de Duros foram das primeiras espécies a realizar comércio na galáxia, Leia sabia-o pelos enfadonhos livros de História. A outra era uma nativa de Zeltron, uma mulher humanoide de pele vermelha e cabelo longo azul, enfeitado profusamente com contas de vidro, magra e atraente que tinha os olhos semicerrados e parecia enfastiada com a presença dela. A última era uma criatura mais excêntrica e Leia teve dificuldade em identificá-la num primeiro relance, mas era indubitavelmente um Nalroni, indígenas de Celanon. Esse planeta situava-se na Orla Exterior e era bem conhecido no mundo das rotas comerciais, usado como base tanto por negociantes honestos e devidamente registados, como por contrabandistas e outros traficantes foras-da-lei. Celanon dedicava-se maioritariamente à agricultura, a sua prosperidade, porém, derivava das taxas cobradas aos mercadores que operavam nas suas vizinhanças, nomeadamente na chamada Lança de Celanon, um caminho comercial apetecido para qualquer um que pretendia enriquecer rapidamente. O Nalroni tinha o aspeto de um canídeo e rosnou-lhe.

Leia fingiu não se ter apercebido da sua intrusão indelicada e fez um dos seus sorrisos mais radiosos. O senador Amyrell veio recebê-la, pedindo licença ao grupo com quem falava.

- Cara senadora. Caros senadores... apresento-vos a senadora Organa, de Alderaan.

Os cumprimentos foram frios, forçados. Estavam todos incomodados e até escandalizados com a arrogância dela. Leia continuou sem se deixar afetar e recebeu as saudações de forma cortês, devolvendo as vénias com a mesma frieza calculada. Causara uma impressão e mesmo que fosse negativa, apreciava, sobretudo, causar uma impressão. Era ambiciosa, não o negaria em privado, repudiaria o apontamento em público. Estava determinada em contrariar a classificação de princesa mimada e não se importava de ser inconveniente ou até ofensiva para ser levada mais a sério enquanto política. O seu pai não apreciaria o método, mas ele não precisava de conhecer todos os passos que daria naquele mundo competitivo.

O senador anfitrião percebeu a sua resolução e solicitou ao grupo a privacidade necessária para a sua reunião com a senadora Organa, que já estava agendada previamente e para aquela hora. Frisou esse detalhe, como a desculpa plausível para a interrupção. Leia também percebeu que o encontro com o grupo das cinco criaturas era informal e à margem da agenda do senador, pelo que, no fundo, considerou, adicionando legitimidade à sua conduta pouco educada, que não agira mal ao ter entrado na sala daquela maneira tão abrupta e exigente.

A porta do escritório deslizou suavemente assim que a última criatura saiu, a zeltroniana, que antes de abandonar o local deitou-lhe uma olhadela hostil por cima do ombro. Leia não expressou qualquer reação. Não se sentia no mesmo patamar do que aquela desconhecida e não viu necessidade de se rebaixar para uma qualquer réplica a uma provocação dúbia.

Ocupou um cadeirão estofado, confortável, a convite do senador. De repente sentiu-se apreensiva. Eram os dois jovens, ela e Josh Amyrell, mas ele tinha mais experiência, estava a começar um segundo mandato e isso transmutou-se num ligeiro peso que assentou nos seus ombros. Ela iria fazer de tudo para que naquela conversa existisse uma igualdade, nem que fosse forçada, porque ele estava naturalmente numa posição superior. Era ela que tinha vindo até ele, não o contrário, lembrou-se.

Leia traçou a perna, como as tias lhe tinham ensinado a fazer, era assim que uma senhora se deveria sentar. Pousou as mãos unidas uma na outra no regaço e fez um sorriso deslumbrante. Por fora mostrava-se segura de si, mas por dentro a sua habitual fortaleza esboroava-se, como areia solta nas margens de um lago, arrastada mansamente pela água.

Não podia vacilar. Não iria vacilar.

Winter esquematizara os pontos principais da proposta de lei sobre uma regulação mais apertada e economicamente mais viável para os pequenos negociadores que habitavam os sistemas da Orla Exterior e ela fizera as suas deduções simples no caminho até ao gabinete do senador. Era tudo uma questão de contrapartidas e Josh Amyrell queria obter o melhor caderno de encargos. A chave eram os mundos do Núcleo que não estavam dispostos a abrir mão dos seus privilégios. Ninguém queria verdadeiramente fazer negócio com a Orla Exterior, pois os produtos e as vias de troca eram mais arcaicas e de qualidade duvidosa, pelo que à partida não existiam grandes aliciantes para se mudar o que quer que fosse. Daí que o objetivo do senador continuasse por cumprir. Ele estava disposto a defender os mais desfavorecidos e Leia Organa encontrou algo de cativante nesse propósito. E ela era senadora de Alderaan, um dos mundos do Núcleo. Logo, Alderaan podia desencadear o processo que levaria a juntar outros mundos dessa região especial da galáxia no grupo pretendido pelo representante do longínquo Jelucan. Ou poderia ter o exclusivo e assim lucrar com essa exclusividade. Existiam sensibilidades a gerir, mas isso seria para uma segunda ocasião. Depois logo veria quais os sistemas que teria de bajular e quais os que teria de hostilizar. A política exigia um jogo súbtil de lealdades, de ganhos e de perdas. Com dezoito anos ela já conhecia essa verdade.

Afinal, ela tinha muito a oferecer e sentiu-se menos acanhada.

- Minha cara senadora Organa, é um prazer para mim receber-te no meu humilde escritório. Receio que o meu androide protocolar não tenha explicado os motivos da reunião... Mas estou totalmente aberto a sugestões. E escutarei atentamente o que me vieste comunicar.

- Senador Amyrell, falemos dessa proposta que altera os pressupostos do comércio entre os mundos do Núcleo e os mundos da Orla Exterior. Estive a analisá-la e pareceu-me... arrojada. Passará pela aprovação de Corellia, se não me engano, ou corre o risco de ser rejeitada na primeira comissão. E se considerarmos Alderaan em vez de Corellia?

Josh sorriu-lhe.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro