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II - Princesa


O tempo passava depressa demais naquele primeiro dia. Mal tinha tempo para respirar, para assentar as ideias e definir que personalidade deveria apresentar no Senado Galáctico. Não era uma questão de inventar uma nova persona para se escudar numa máscara, era tão somente uma necessidade de proteção, para não se atingida no seu núcleo. Um expediente comum para evitar sofrimentos inúteis, pois ela encontrava-se num local onde existiria a mesma quota parte de amigos e de inimigos.

Fora incauta ao não se ter precavido antes do encontro com o Imperador, devia já ter essa persona preparada e armar-se com tal escudo defletor, mas não esperou que o ataque viesse logo no primeiro dia que era tradicionalmente preenchido com cerimónias inócuas e receções ligeiras.

Bem, em abono da verdade, ela quisera mostrar a Palpatine de que têmpera era feita, só que fora surpreendida amargamente pelo poder malévolo dele. Fora ingénua, fora orgulhosa. Não iria perder a sua vaidade, a sua impulsividade, mas tinha aprendido a lição. Se queria combater o sistema, teria de começar pelas bases, minar os alicerces e desgastar a estrutura. Palpatine haveria de ruir desde o seu pódio. Enfrentá-lo era loucura e despeito. E ela tinha acabado de entrar no coração do poder de Coruscant.

O tempo estava realmente a passar muito depressa naquele primeiro dia. Depois da apresentação formal ao Imperador, seguiram-se os procedimentos indispensáveis à tomada de posse, depois uma reunião informal numa das coberturas envidraçadas e luxuosas do palácio senatorial onde ela pudera beber alguma coisa para mitigar a sua garganta seca e passar os olhos pelos rostos novos que, como ela, tinham sido recentemente eleitos, sem a pátina sombria do salão imperial.

Tinha dito ao pai que não estava nervosa. Palpatine não a deixara nervosa. Fora qualquer coisa de mais perfurante e pungente do que simples nervos. Continuou a não se deixar afetar nas horas seguintes, pois assim que abandonou o espaço que partilhava com o líder galáctico sentiu ser-lhe retirado o véu pesado da opressão que a cobrira quando o encarara. Na pequena festa em que sorria como as suas tias lhe tinham ensinado que sorrisse, na emulação perfeita de uma princesa, era outra. Era ela. Bail Organa encontrava-se com os senadores cessantes e ela observava o ambiente numa pose descontraída.

A festa durara pouco, lamentavelmente. Só alguns minutos-padrão, os suficientes para que ela terminasse a sua bebida, nem conseguira comer um dos apetitosos aperitivos que estavam a ser servidos, e o androide-mordomo informou-a de que deveria ir preparar-se para o baile.

Ela suspirou e deixou o copo de cristal numa bandeja, seguiu o androide-mordomo contrafeita, mas resignada. O seu estômago roncou e ela acentuou o sorriso fabricado no rosto para disfarçar a falha. Não era bem uma falha, não tivera tempo de comer, o tempo escoava-se como a areia de Tatooine entre os dedos. Agora não podia pensar em mais nada a não ser pentear-se, maquilhar-se, vestir-se e calçar-se para o baile. Revirou os olhos com o chorrilho de banalidades e visualizou a cara deliciada das suas três tias. Batiam palmas e sorriam e soltavam gritinhos. Dariam tudo para estar ali com ela, a arranjá-la e Leia melhorou o seu humor com essa felicidade genuína que a invadiu ao invocar a lembrança das mulheres.

O baile inaugural era a evento social mais importante daquele dia e encabeçava a lista de convites que lhe tinha sido entregue. Ela ainda procurou por ocasiões mais dignas de uma jovem senadora ambiciosa, que desejava realmente fazer a diferença no cargo com atividades políticas relevantes e com profundo significado no esquema galáctico, mas não encontrou nada. Era como se depois que atendesse o baile e recebesse o selo de confirmação no seu passaporte de senadora, ela estivesse preparada para ir a outros encontros, em rivalidade direta com os seus adversários políticos que também teriam o mesmo passaporte que era crucial carimbar com as cerimónias certas. Ir ao baile inaugural desbloqueava a lista de eventos politicamente importantes. Ela não sabia se o seu raciocínio estava correto, mas assumiu que estava e sentiu-se mais convencida. Estava a convencer-se a si mesma, a tentar relevar a parte séria em prol de uma parte mais descontraída de uma posição que considerava de suma responsabilidade.

Na verdade, não se importava de ir ao baile. Todos os senadores recentemente eleitos iriam estar lá, assim como alguns dos senadores antigos, nem todos, pois havia aqueles que desejavam afastar-se de Coruscant o mais rapidamente possível.

Mais uma vez o tempo passou rapidamente e Leia viu-se a caminhar sobre um requintado tapete comprido vermelho, envergando o vestido mais bonito que algum dia tivera o prazer de usar, em tons de azul-marinho, vaporoso, uma longa cauda que se arrastava pelas fibras da carpete, mangas que esvoaçavam com os seus passos, a sua cintura definida por um apertado espartilho que lhe elevava o busto. As tranças compunham um penteado requintado decorado por fitas da mesma cor do vestido. A maquilhagem suave incendiava-lhe o olhar determinado, a boca vermelha e brilhante denunciava o seu carácter forte. Estava fragrante, estava linda, estava pronta. Iria sozinha ao baile. O pai tinha-se despedido dela no corredor dos alojamentos, dissera-lhe que precisava de partir imediatamente para Alderaan e ela não contestara o anúncio paterno. No fundo, queria livrar-se da tutela de Bail Organa, queria ser, por fim, independente.

O baile inaugural iria decorrer numa magnífica sala palaciana que constituía, por si só, o único e vasto compartimento de uma ala inteira do edifício que albergava os aposentos privados imperiais. Era aberta ao público apenas uma única vez e acontecia por ocasião deste baile. Era uma joia arquitetónica sem igual que causava comoção a todos aqueles que cruzavam os seus altos portões ogivados, painéis de madeira cara com decorações embutidas banhadas a ouro. Os lustres de cristal, compostos por milhares de peças independentes unidas em enormes pirâmides invertidas, iluminavam o espaço de forma ofuscante. Os tapetes de motivos exóticos e cromáticos cobriam o soalho encerado. A música era proporcionada por uma orquestra que atuava num palco que pairava suavemente sobre a multidão, a uma altura suficiente para não incomodar os convivas, vogando como uma nuvem em céus plácidos, a melodia era como que derramada pelos instrumentistas que debitavam canções melancólicas.

Leia entrou no salão e circunvagou o olhar pelo espaço. Sentia o coração a bater no peito. O salão era deveras imponente e destinava-se a impressionar pela grandiosidade, pela magnificência. Ela conhecia palácios, palacetes, lugares ricos, casinos, pavilhões, mas aquele superou, a uma primeira vista, todas as suas expetativas e imaginação. Teve de se esforçar bastante para não sucumbir à veneração do lugar, do poder que o cenário transpirava, uma lembrança nada discreta de todo a esmagadora superioridade do Império Galáctico.

Fechou os punhos, inspirou profundamente, normalizou a respiração ventilando apropriadamente os pulmões. Devia concentrar-se, abstrair-se, pensar em como podia divertir-se. Alçou airosamente um braço e agarrou num copo esguio de cristal contendo uma bebida azulada e borbulhante, que passava sobre uma bandeja carregada por um androide que, naquela ocasião, dispensava bebidas e petiscos. O vidro estava gelado e arrepiou-se ao senti-lo com a ponta dos dedos. Molhou os lábios e sentiu o sabor doce, aveludado do líquido frio. Acalmou-se ao estar a bebericar alguma coisa.

O salão enchia-se de diversas criaturas pomposamente vestidas, em cores berrantes, a elegância em diversos padrões e graus de dignidade, consoante as influências culturais e os costumes do sistema nativo. Não se podia afirmar que se tinha desrespeitado o protocolo em matéria de código de vestimenta, pois os trajos eram tão diversos como as proveniências de quem os envergava. Armaduras típicas, vestidos de gala, longas túnicas pesadas, capas ligeiras, aplicações, pregas, folhos, chapas, enfeites, acessórios e joias rutilantes. Acolhia-se a diversidade como prova da condescendência do regime – uma bonita efabulação, já que a ditadura imperial não admitia contestação aos seus decretos, mesmo que fossem em prol de uma suposta variedade, indissociável da galáxia.

Entre os humanoides provenientes de mundos diversos do Núcleo, como Ganthel, Chandrila, Brentaal ou Kuat, para além daqueles, em maior número, nativos de Coruscant, via-se uma multidão de outros seres com as suas características únicas. Os Gotals com as suas faces imensamente peludas, os Durosianos com os seus crânios esverdeados e os olhos alaranjados, os Lorrdianos com o seu odor corporal intenso, os Trianii com o seu aspeto felino e ameaçador, os Arkanianos com os seus sedosos cabelos brancos, os Phindianos com o seu aspeto reptiliano ou os Ryn com o seu aspeto venerando e desconfiado.

Leia não queria isolar-se, mas sentia-se um pouco apreensiva ao ter de obrigatoriamente escolher um grupo ao qual se dirigir primeiro. Raciocinando rapidamente, sabia que não deveria juntar-se aos senadores que provinham dos mundos civilizados, vizinhos de Alderaan, seria uma decisão fácil, óbvia e pouco arrojada; também não podia olvidar as alianças estratégicas estabelecidas entre o seu planeta natal e os sistemas das franjas galácticas, pois esperava-se que os compromissos fossem honrados. Tinham ajudado a elegê-la, ela estava bem ciente de todas as dívidas de gratidão criadas entre esses representantes políticos e o seu pai, que passavam agora para a sua esfera de influência. Via-se, assim, em meio de uma hesitação que a irritou. Era um simples baile inaugural, uma festa, uma ocasião para descontrair, para não ter preocupações... E ela, arreigada à sua forma de ser inflexível, estava a criar uma preocupação.

- Uma bebida interessante, mas revelou mais ímpeto que conhecimento.

A sobrancelha dela arqueou-se levemente com a observação. Era uma crítica, com algum despeito, aquela frase que a interpelava. Uma voz masculina, travessa, zombeteira. Voltou-se e olhou para o rapaz que tinha metido conversa com ela. Sim, era um rapaz, um pouco mais velho do que ela. Arriscaria vinte e dois, vinte e três anos. E sim, tinha mesmo metido conversa com ela utilizando um argumento óbvio e dececionante, o líquido azul que lhe enchia o copo gelado. Sorriu-lhe afetadamente, mantendo a sobrancelha arqueada.

- Oh... Presumo que sejas um aturado conhecedor das melhores bebidas que estão a ser servidas no baile.

O rapaz sorriu-lhe de volta, de uma maneira tão natural e brilhante que a desarmou. Manteve a custo o sorriso, o desafio impresso no rosto insolente. Ela era uma princesa e sabia ser arisca, sobranceira, desdenhosa. Desagradável nos dias piores. O rapaz era bonito, cativante, a uma primeira avaliação, a quente, repentina, sem qualquer apresentação formal, sem filtros de qualquer espécie. Ela estava a estranhar o rebuliço que de repente a assaltara – primeiro a frase que implicava que ela era uma novata a escolher bebidas, uma novata em todos os aspetos, o que correspondia à verdade; depois a admiração súbita que a fazia contemplá-lo como se não existisse nada de mais belo na galáxia.

O rapaz era bonito, todavia. O cabelo revolto em tons de cobre, olhos castanhos profundos, um rosto másculo de maxilares bem vincados que evidenciavam um queixo afirmativo, lábios carnudos. Os ombros eram largos e todo o corpo bem proporcionado. Vestia um fato escuro, a sobrecasaca descia até aos joelhos, debaixo do colete estava uma camisa em tons carmim que cintilava com a iluminação do salão.

Ela reparou que a bebida do copo dele era amarela. Disse irritada:

- Presumo que sejas um aturado conhecedor de qualquer questão que se relacione com o baile inaugural. Bebidas e... outros assuntos que envolvam os ilustres convidados aqui presentes. Talvez íntimo do Imperador? Seria uma grande vantagem.

- Uma enorme vantagem. Mas não conheço pessoalmente o Imperador. Para grande pena minha e das minhas ambições.

- Oh...

- Não pretendia ofender-te – esclareceu divertido. Não estava arrependido de nada e nem procurou fingi-lo. – Só estava a mencionar a tua bebida.

- Foi um prazer.

Ela recuou um passo para se afastar. O rapaz perturbava-a e sentia-se começar a corar.

- Licor de gojyriana. Pouca quantidade é suficiente para te deixar mais alegre do que decerto pretendes, Alteza. Dois copos são suficientes para te declarares inimiga do Estado e proclamar a instauração da República!

E sabia quem ela era! Leia ficou intrigada.

Ele baixou a cabeça numa deferência. Parecia que lhe lia os pensamentos, parecia que sabia o que ela queria a todo o momento.

- Perdoa-me, Alteza, pela minha falta de educação. Devia ter-me apresentado e não o fiz... Que falha lamentável! Sou o senador Josh Amyrell, representando de Jelucan.

- Jelucan?

- Orla Exterior, um planeta montanhoso, esquecido, rico em minério. Um minério pouco importante... Serve para esculturas. Há quem o queira usar nos propulsores das naves de transporte, mas até à data as experiências têm sido um completo desastre. O meu pai é um desses inventores, eu fugi de casa para me dedicar à política. Não queria fazer parte das explosões do meu pai. Em todos os sentidos.

Já a conhecia, claro. Até que ponto era profundo o seu conhecimento sobre ela, era uma incógnita. Estava inclinada a conjeturar que ele andara a fazer perguntas, a informar-se, que a tinha fixado quando entrara no salão, que estava à espera dela. Mas ela quis apresentar-se.

- Senadora Leia Organa, representante de Alderaan.

- E também princesa.

Ele tomou-lhe a mão direita disponível, a esquerda segurava no copo meio cheio, depositou-lhe um beijo na pele alva e macia, segurando-lhe nos dedos. Roçou apenas os lábios, suavemente, mas ela arrepiou-se. Ficou tão aquecida que acreditou que a bebida, aquele tal licor de gojyriana, estaria a fazer efeito. Inspirou pronunciadamente, esticou o pescoço e procurou por um androide para desfazer-se do copo. Não iria beber mais daquilo. O senador Amyrell antecipou-se e retirou-lho dos dedos. Também se descartou do seu copo e avançou alguns passos, na direção de um outro androide mais próximo. Regressou com dois novos copos cheios com uma bebida da cor do rubi.

- Vinho de Carida. Doce, aromatizado, algo mais decente e apropriado a um membro da realeza. Não causa transtorno e podemos beber duas garrafas sem temer sairmos da nossa personalidade vibrante e causar um escândalo.

Leia riu-se.

- Ah, fui salva! Muito obrigada, gentil cavalheiro!

Humedeceu os lábios no vinho. Adorou. Fez-lhe lembrar os perfumes sublimes dos vinhedos que rodeavam o palácio onde crescera, no seu planeta de aprazíveis lugares, clima ameno e paisagens bucólicas.

- Estarei sempre disposto a salvar-te, Alteza.

- Não me julgues tão frágil, senador! – replicou ela, entrando no jogo. Já se sentia menos afrontada, mais disposta a alinhar no divertimento. – Estou pronta para a luta. Não me candidatei ao Senado Galáctico para assistir a festas e servir de enfeite.

Lembrou-se da frase horrível que Palpatine lhe votara, horas antes. Uma carinha bonita...

- Estamos todos prontos para a luta, Alteza.

- Arrisco a dizer que será um segundo mandato...

- Acertaste. Os meus projetos não foram todos concluídos durante o meu primeiro mandato e não queria deixar a obra a meio. Alguns dizem que sou demasiado ambicioso, outros que sou um idealista sonhador. Quero mais e nunca estou satisfeito. – Encolheu os ombros, desviando o olhar para a multidão que enchia o salão. – Não considero os meus desejos excessivos ou deslocados. São-no de acordo com os objetivos que estabeleci e que serão benéficos para Jelucan. Nada quero para mim.

- Gosto de lutadores, de inconformistas.

- De rebeldes...

O rosto de Leia petrificou no instante. Ele piscou-lhe o olho.

- Tudo dentro da legalidade e do enquadramento do regime.

- Meu caro, devemos ter cuidado com as palavras que pronunciamos publicamente – advertiu ela, átona.

- Os meus discursos são inflamados, mas nunca ofensivos que motivem a desconfiança do Imperador. Também sou um sobrevivente, Alteza. Um segundo mandato não prova nada ou prova alguma coisa.

- Por favor, trata-me pelo meu nome. Aqui serei outra senadora como tu, não uma princesa.

De qualquer modo, a proximidade tinha ficado inquinada com aquela insinuação de sedição, aquele apontamento pequeno de que nunca se podia confiar em demasia. Nem mesmo numa festa aparentemente inofensiva. Todos eram amigos, todos eram inimigos. Ela forçou-se a sorrir e bebeu mais um pouco de vinho. Ele tocou no copo dela com o seu, como num brinde. Foi sedutor ao dizer:

- Se me chamares Josh... Leia.

- Josh...

- Bonito. O meu nome nos teus lábios é música.

- Por que insistes? – cortou ela abruptamente.

- Estamos num baile. Não quero discutir decretos e moções neste ambiente extraordinário. – Fez um gesto amplo de braço, girou sobre os calcanhares e um aroma doce, cativante, soltou-se dele. Estava perfumado, estava bem vestido, era bonito. Era um sonho, podia ser uma hipótese de acompanhante para aquela noite. – Este lugar é magnífico! Aproveitemos a magnanimidade do Imperador e não sejamos parcos a celebrar.

- Então... A ordem será desfrutar.

Ofereceu-lhe o braço e Leia apoiou os dedos na curva do cotovelo dele. Passearam-se pelo salão. Formaram um casal e quando Amyrell começou a cumprimentar os presentes, aqueles senadores que já conhecia e até aqueles que não faziam parte do seu círculo pessoal, fazia-o, no entanto, com tanto à-vontade que ninguém recusava o contacto mais amistoso por temerem estar a ostracizar um possível aliado no futuro, todos julgaram que eles tinham vindo juntos para a festa.

A música pairava no ar, inefável, inspiradora. Durante o passeio Leia notou, pela primeira vez, que havia um espaço dançante onde alguns convivas ensaiavam movimentos corporais que emulavam um bailado tímido. Havia também pares que rodopiavam e se riam, contentes com o seu desempenho na pista de dança.

Amyrell desculpou-se com uma vénia, disse-lhe que ia buscar mais bebida. Ela sentia mais sede, efetivamente, e deixou-o ir com uma suave declinação da cabeça. Os gestos eram delicados, pensados, havia uma sedução implícita. Tanto Leia, como Josh, estavam a provocar-se mutuamente, a estender os limites do que cada um podia obter do outro. Ele levou ambos os copos, desapareceu entre as gentes, ela marcou-lhe os passos. Bonito, sim, bastante interessante. E cumpria um segundo mandato, tinha experiência. Claro que ela iria apoiar-se no pai, Bail Organa, para um conselho mais avisado e depois de ultrapassar o seu monumental orgulho, pois desejava apresentar-se sozinha e com as suas armas, só depois buscaria ajuda do progenitor, mas ter alguém mais próximo, jovem como ela, atual senador era uma opção bastante mais apelativa.

Postou-se com as mãos unidas à frente, mirando o ambiente com um suave sorriso a enfeitar-lhe a boca brilhante, mais vermelha por causa do excelente vinho de Carida. As suas tias ficariam felizes por saber que ela estava a comportar-se no exclusivo salão do palácio imperial, em Coruscant. O núcleo da galáxia.

- Cuidado, senadora! O senador Amyrell é um conquistador dissimulado.

Girou o pescoço para encontrar um homem magro, cabelo cinzento desgrenhado, olhos azuis como dois pedaços de gelo, profundos, mas incrivelmente quentes. Havia faíscas geladas que eram despedidas por aquelas íris matreiras. Lábios finos, voz grossa de quem estava habituado a fazer longos e eloquentes discursos. O braço esquerdo posicionava-se atrás das costas, a mão direita segurava de forma displicente a aba do seu longo sobretudo.

Fora um aviso.

- Creio que estarei preparada para esse tipo de predador...

Sentiu outro calafrio, mas não fora inteiramente por causa da advertência. Era aquele homem, distinto, perigoso e afável, trocista, seguro, mundano. Uma aura de veterania que a atraiu de imediato. Um senhor de qualquer dimensão, espaço, tempo...

Num gesto brusco e sensível, ele tomou-lhe a mão, beijou-a descaradamente e anunciou-se:

- Senador Heskey, de Corulag.

- Senadora Organa, de Alderaan.

- Admiro muito o teu pai. Irei proteger-lhe a filha com todo o meu engenho.

- Não preciso de proteção.

- Claro que precisas. O teu pai exigiu-mo! Uma carinha tão bonita...

A frase deixou-lhe o estômago azedo. Ele percebeu a ofensa e sorriu-lhe de forma condescendente. Outro erro. Leia preparou-se para se afastar, mas o velho ergueu-lhe os braços e fê-la rodopiar.

- Dancemos!

- Senador! – protestou ela indignada. – Julgo que não será apropriado...

- Chiu... Dancemos.

Num conjunto de piruetas, ela ficou zonza, ele ficou mais convencido, chegaram à pista de dança. Ali, por meio de um sistema de som engenhoso disfarçado em pilastras de mármore de Hyrre, a música era mais alta, envolvia os bailarinos, abstraindo-os do burburinho que permeava o salão devido às milhentas vozes que conversavam entre elas. Podia-se afirmar que se sentiam todas as nuances da melodia, que obrigavam a uma maior concentração na dança sem distrações exteriores. Leia viu-se metida numa espécie de esfera invisível construída pelas vibrações de som.

- Não achaste que foste um pouco abusivo, senador Heskey? – censurou Leia zangada, sendo arrastada pelo homem que dançava como se estivesse numa competição e almejasse o primeiro prémio. Ela acompanhava-o, a custo.

- Não.

- Se o senador Amyrell é um conquistador dissimulado, o que dizer da tua atitude?

- Sou um conquistador assumido.

- Oh! – Leia corou com a arrogância do homem.

Heskey estava sério, compenetrado, não falhava um passo, conduzia-a magistralmente e em breve ocupavam, com algum destaque embaraçoso, o centro da pista. Havia gente a ver, gente a bater palmas.

Puxou-a para junto do seu peito, ela não soube se deveria debater-se.

- Minha querida – sussurrou-lhe –, sei que pretendes deixar a tua marca no Senado Galáctico. Vais ser uma mulher de causas e de arroubos, queres ser notada pelas razões certas. Por isso não te deslumbres com os primeiros brilhos.

Antes que ela conseguisse responder, Heskey rodou-a, exibiu-a à pequena assistência, dobrou-se numa vénia e ela acompanhou-o na reverência. A música tinha diminuído de intensidade o que indicava uma transição para uma nova melodia, noutro ritmo. Uma curta ovação, ela sentiu-se exibida como um troféu. Endireitou-se, o pescoço hirto, os lábios contraídos, os olhos coruscantes. Ele mostrou-lhe os dentes num sorriso irónico e arrastou-a para uma segunda dança.

- Creio que já ilustraste o teu ponto de vista, podemos parar com a charada.

- Ah, gosto de dançar, minha querida.

- Para de me tratar por querida.

Ela ensaiou um coice, mas ele segurava-a com firmeza e não a largou. Era um homem forte, malgrado a aparência esmaecida. Teria sido bonito em jovem, agora era um pavão convencido e intrusivo, desagradável ao ponto de ela achá-lo repulsivo. Fixou-lhe um olhar assassino, mas ele não se deixava intimidar.

- Ele não vos roubou todas as danças, presumo?

Josh Amyrell surgiu providencialmente junto deles. Leia suspirou alto e por fim Heskey amoleceu a força que impunha ao abraço. Ela deslizou para longe dele. Sorriu de forma aberta, aliviada, desafiante para o jovem senador de Jelucan.

- O senador Heskey foi bastante... cordato. É um excelente bailarino e foi uma honra ter partilhado a pista com alguém tão dotado nesta excelsa arte.

Heskey agradeceu o falso elogio com uma vénia. Gostava de demonstrar essa cortesia afetada, um gesto nobre que não condizia totalmente com a sua aparência, embora fosse um homem bem-apessoado, de uma certa elegância retrógrada, digna de um meio luxuoso como o era a alta roda de Coruscant. De seguida, afastou-se depois de entregar teatralmente a mão de Leia a Amyrell, como se a estivesse a entregar a um amante concorrente. Ela sentiu-se outra vez ofendida, mas não quis partilhar essas considerações com Amyrell, que tinha acabado de conhecer. Vendo bem, eram dois estranhos, os senadores de Jelucan e de Corulag. Não estava disposta a revelar as suas vulnerabilidades a qualquer um deles, a despeito das suas avaliações pessoais. A confiança era algo que se conquistava, que se desenvolvia, não derivava de primeiras impressões.

Josh era também um bom dançarino, mas perdia em comparação com o experimentado Heskey. Não vacilava nos passos, inventava nas transições, disfarçava os tropeços com um sorriso luminoso, gostava de improvisar ao passo que Heskey mantinha-se fiel à cartilha, aos preceitos, à ordem pré-estabelecida. Onde Josh era espontâneo, Heskey era intransigente. Leia deu por si espantada com os seus próprios pensamentos que comparavam exaustivamente os dois homens. Sacudiu a cabeça, sorriu e Josh fê-la girar, fê-la gargalhar. Amparou-a no braço, ela dobrou-se pelas costas lançando uma mão num volteio. Formaram um quadro perfeito de dois bailarinos cúmplices, ela etérea nos braços viris dele. Mais palmas.

- Saiamos daqui – pediu ela. – Estamos a congregar as atenções e não me parece apropriado.

- Concordo. Ainda julgam que te estou a seduzir para que consiga aprovar a minha proposta de lei sobre comércio entre a Orla Exterior e os mundos do Núcleo.

- Ah, isso parece-me interessante...

- Hoje, não! É o baile inaugural! – censurou ele rindo-se.

- Não podemos falar de trabalho? Um pouco de negócio no ócio...

- Nem pensar. Estamos proibidos.

- Imposição imperial?

- Deveras. Lei assinada pelo punho do próprio Imperador Palpatine.

Ao fundo as enormes portas envidraçadas tinham sido abertas. Davam acesso aos terraços debruçados sobre um esplêndido jardim que crescia protegido por uma imensa estufa em cuja cúpula acendiam-se milhares de candeeiros que emulavam as estrelas. Dirigiram-se para lá.

Leia e Amyrell fizeram um brinde à prosperidade e ao sucesso. Era vinho de Alderaan, desta vez. Mais pujante do que a colheita de Carida. Leia sentia-se menos inibida. Desatou a falar do seu planeta natal, inspirada na paisagem artificial proporcionada pela vegetação que se espraiava para lá dos terraços que imitavam socalcos, postos em diferentes alturas sobre o jardim. Contou-lhe um pouco da sua juventude, de outros bailes a que assistira. Não tinham sido assim tantos, a sua jovem vida e o recato de uma educação devida a uma princesa não permitiam que fosse mostrada à sociedade antes de ser uma debutante, mas ela considerava-se uma excelente oradora e conseguiu prolongar o relato de apenas uma festa para que parecesse que tinham sido três ou mais. Amyrell olhava-a embevecido e ela admirou essa fantasia de que tinha conseguido cativá-lo ao ponto do deslumbramento.

À parte de ter admitido que tinha um pai inventor e um pouco enlouquecido, à parte de ter revelado que tinha ideias concretas sobre as rotas comerciais da galáxia, Josh Amyrell não lhe contou mais nada sobre si próprio. Leia também não queria saber mais. Os mistérios eram mais interessantes e se fossem revelados aos poucos, com esforço, à custa da inteligência e da astúcia, tornavam-se inesquecíveis.

A noite passou depressa na companhia de Josh Amyrell e o baile inaugural foi uma ocasião feliz para Leia Organa.

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