Eu sinto muito
pelo meu barco, não pelo seu.

Eu assisti a água invadindo o meu barco enquanto eu te ajudava a concertar o seu.  Só que na hora de cuidar do meu, você sumiu.

Sinto muito pelo meu barco.

Talvez o amor seja sobre isso
pelo meu barco, não pelo seu.

Você disse que ressuscitei seu barco, mas pouco importa se no fim me vi sozinha e perdida, no escuro, com a água no joelho e o vento me batendo. No fim, a única coisa que me resta é meu barco.

Todos me disseram para ter cuidado ao acreditar nas histórias dos marinheiros, mas você sempre foi bom me convencendo de que não era um. De todos os perigos e traumas que te fizeram deixar de navegar, em nenhuma das suas histórias você me contou que seu barco sumia.

Pela primeira vez, não estou olhando para trás e procurando o seu barco. Precisaram me convencer a parar de olhar porque eu ainda estava preocupada com os buracos do seu, como se você não tivesse destruído o meu.

Hoje eu torço para que seu barco não esteja lá.

Sei que nunca pensou no meu barco, nem por dois segundos, porque caso tivesse também sentiria muito ao vê-lo ameaçar afundar.

Talvez eu me torne uma das suas histórias e alguém acredite não foi você que abandonou o meu barco.

Agora que me ajudaram a concertar meu barco, com todos os pedaços que me restaram, posso finalmente navegar na paz de não me preocupar com o seu.

Pensando em tudo que aprendi, só me resta torcer que você aprenda a não aceitar os pedaços do barco alheio para concertar o seu.

Mas, mais do que isso, torço que eu aprenda a nunca mais dar pedaços do meu barco para tentar concertar o barco outra pessoa.

Porque no fim, tudo o que me resta é ele.
Sinto muito pelo meu barco.