Os astros dizem, 2: investigue!
Previsão do dia para o signo de virgem:
Mistérios se aproximam do virginiano. Para solucioná-los, investigue e confie na sua intuição!
♍
Eu sinto muita falta de Jimin hyung. Muita, muita falta mesmo.
Eu sinto falta dele em meu quarto, escondido comigo em nossas barracas de lençol e travesseiro.
Sinto falta daquela risada gostosa que ele dava antes de se jogar em cima de mim ou se jogar para qualquer lado e acabar caindo da cadeira.
Sinto falta do seu jeito de sempre dizer "Nossa, mas eu vou dar um soco naquele babaca" quando se estressava com alguém, mesmo que não houvesse nenhuma possibilidade de concretizar a agressão porque ele tem medo de se meter em confusão.
Eu sinto falta. Só isso.
Eu sinto falta dele todinho, mas fico feliz por ver que ele é tão querido por todo mundo, ainda que essa popularidade crescente seja exatamente o que acabou com o espaço que eu tinha na vida dele.
Tudo bem, sabe?
Quando mudamos para essa nova escola e Jimin foi rapidamente conquistando nossos colegas, ele tentou me inserir em todos os seus novos círculos de amigos. Tentou mesmo, por isso não duvido do quanto ele me valorizava.
Mas eu não sou sociável como ele. Gosto mais de ficar na minha mesmo. Então por mais que eu também tenha tentado me aproximar de toda aquela gente que entrou em sua vida... a química não bateu.
Às vezes eu me pergunto como seria se eu fosse um pouquinho mais disposto para interagir com outros seres humanos, mas eu não sou assim.
Interagir com mais de três pessoas de uma só vez sempre resulta em de duas, uma: pressão despencando de nervosismo ou dor de barriga psicológica.
É desconfortável mesmo. Acho que por isso eu gosto tanto de animes. Personagens 2D não me oprimem como pessoas em 3D.
E parte do meu receio existe por conta de uma percepção muitíssimo firmada em minha mente. Como posso dizer? A minha percepção sobre a percepção que os outros têm de mim.
Os outros sempre me acham estranho.
Sério. Meu nome é Jeon Jungkook. Existem várias possibilidades diferentes para se referir a mim, dentre honoríficos e apelidos carinhosos. Por exemplo, Jimin sempre me chamava de Jungkookie.
E eu tenho dados. São confiáveis? Não são, não. Porque eles não têm nenhuma base em cálculos exatos, já que eu odeio matemática com a força de mil rasengans.
São dados meramente ilustrativos. A fonte? Da juventude.
Mas é o seguinte: noventa por cento das pessoas não acha que é suficiente se referir a mim pelo meu nome, sobrenome ou apelidos. Nope. Elas precisam eliminar todas as margens para dúvidas, já que existem outros Jeons e Jungkookies por aí. Então me chamam da forma que, na cabeça delas, parece ainda mais apropriado que o nome escolhido por meus pais. Elas me chamam de "aquele menino lá que as vezes viaja olhando para o nada".
Todo mundo sabe que não é prático, mas funciona. Qualquer um que me conhece sabe que esse sou eu.
Jimin-ah sempre se divertia, porque às vezes eu estava super concentrado num minuto e, no outro, deixava minha mente viajar longe enquanto meu olhar se perdia.
Ele dizia que era o momento em que eu tinha visões do futuro, como em As visões da Raven. Aí me perguntava se eu tinha visto algo bacana no futuro dele e fazia isso com seu jeito leve e confortável.
Era divertido ver Jimin rindo do meu jeitinho particular, porque ele nunca fazia isso de maneira maldosa. Ele ria com diversão e carinho, demonstrando o apreço que tinha até mesmo pelos traços de minha personalidade que fazem todo mundo me achar esquisito.
Com ele, era confortável ser eu mesmo. Com os outros... não é.
E eu odeio ter que fingir o que não sou, porque isso dá trabalho e eu sou bem preguiçoso quando se trata de fazer esforços desnecessários, então não finjo.
Logo, sempre me olham meio estranho depois do primeiro contato. É por isso que eu não gosto muito da ideia de estar cercado por novas pessoas.
Então eu fui me tornando incompatível com a vida agitada de Jimin, mas ele não me deixou de lado. Não foi isso que aconteceu. Eu percebi seus esforços para tentar se dividir entre seu entusiasmo pela popularidade cada vez maior e a calmaria de nossa velha amizade.
Eu vi Jimin abrir mão de várias coisas que queria fazer só para não me deixar sentir que estava sendo trocado.
Então... fui eu quem comecei a me afastar.
Eu não queria privá-lo de nada. Comecei a inventar compromissos em família, dores de barriga e de dente. Até que eu não precisei bolar novas desculpas. Nós só fomos nos distanciando, depois mais um pouco, e mais um tanto.
Até chegarmos aqui.
Mas eu não sou aquele estereótipo do garoto que anda completamente sozinho pela escola, sendo empurrado pelos valentões do time de basquete e de futebol.
Não é esse tipo de clichê, não.
Ninguém me persegue por aqui. Fora a forma ridiculamente trabalhosa de se referir a mim como o menino-que-viaja-olhando-para-o-nada, todo mundo me trata como trata qualquer outro colega que não viaja olhando para o nada.
E eu não sou solitário, também.
Hoje, eu tenho alguns colegas mais próximos. Todos do clube de artes, onde me enfiei em mais uma de minhas tentativas de ocupar meu tempo para não deixar Jimin preocupado em estar ocupando o tempo dele com outras pessoas.
E tenho um bom amigo também.
Kim Namjoon.
Ele é o aluno que voltou há um ano de um intercâmbio, começou a me ajudar com as atividades de inglês quando percebeu minha dificuldade e, sem que planejássemos, se tornou meu amigo mais próximo.
Então está tudo bem.
Por mais que a amizade de Jimin seja insubstituível e me faça falta quando lembro com carinho das barracas de lençol, dos filmes e das risadas improváveis compartilhadas entre um libriano e um virginiano, eu estou bem.
Ou nem tanto.
Mas o motivo do drama, agora, é outro.
— Namjoon! — Eu uso toda a potência de minha voz para chamá-lo assim que o encontro no refeitório. Talvez bater na mesa para intensificar o drama na situação tenha sido exagero. O bichinho engasgou com o suco e cuspiu um pouco, que escorreu por seu queixo uns milissegundinhos antes de seu olhar me fuzilar.
Eu mostro um sorriso todo falso e nervoso, já me esticando para pegar um guardanapo de papel e entregar ao meu amigo quando sento ao seu lado.
— Espero que a cuspida não tenha sido em vão — Ele diz logo depois de se limpar, já amassando o papel em uma bolinha e colocando-a na bandeja. — Desembucha.
— Tá! — Já me livro do sorriso esquisito para voltar para minha expressão alarmada. Porque essa é uma emergência. — Aconteceu um negócio.
— Essa parte eu entendi, Jungkook. O que eu quero é entender o motivo pra decidir se te mato ou só te dou um tapa por me deixar todo babado de suco de melão.
— O suco de hoje é de melão? Raiva.
Namjoon me puxa pela gravata do uniforme, depois pega o copo cheio pela metade e o aproxima de minha boca numa ameaça muito clara: desembucha ou eu te faço engolir essa tortura em forma de suco.
— Eu já vou dizer! — Aviso, em desespero. Suco de melão é minha Kryptonita.
Ainda com um olhar desconfiado, Namjoon devolve o copo à mesa e solta minha gravata, alisando-a para ajustá-la sobre a blusa social que esquenta como amostra do inferno.
— Desculpe. Precisei tomar medidas drásticas. — Ele diz, subindo a mão para dar dois tapinhas no meu ombro. — Fale.
Antes que ele volte a me ameaçar com a pior fruta que existe, eu enfio a mão no bolso frontal da calça, remexendo tudinho até achar o pedaço de papel. Aí, bato a mão sobre a mesa outra vez — agora, para enfatizar o motivo da minha aparição dramática quando deposito a folha rasgada sobre ela.
— O que é isso? — Ele pergunta, inclinando-se um pouco mais para a frente para colocar uma porção de carne na boca, aí me analisa pelo canto dos olhos enquanto lambe o molho que ficou ao redor da boca.
— Um bilhete!
— Se for só isso, tá decidido. Eu vou te matar.
— Hyung, — Eu o chamo, dramaticamente, com a mão repousada sobre o papel ainda dobrado enquanto arregalo meus olhos em sua direção. — eu saí da sala para vir almoçar com você. Ok? No meio do caminho, lembrei que eu esqueci o fio dental na mochila e voltei para pegar. Quando cheguei lá... isso estava na minha mesa! Junto com um bombom.
— E o que tem nele pra causar essa comoção toda? — Ainda sem muita fé na importância da situação, ele pergunta e coloca mais comida na boca. De boca cheia mesmo, questiona também: — Cadê o bombom?
— O bombom eu já comi. Tava gostoso que só, meu favorito. Mas o bilhete, não sei. Não li.
— Jungkook! — Ele grita em repreensão, parecendo esquecer de toda a comida que tem na boca. Aí é uma cuspição de arroz e molho de carne.
Eu estico a mão para pegar outro guardanapo, entregando-o diretamente ao meu amigo, que vai logo se limpando da lambeção da vez.
Namjoon precisa parar de se babar todo, com urgência. É pelo bem do meio ambiente.
— Mudei de ideia. — Ele diz, furioso e me lançando esse olhar que me garante quão pouco tempo de vida me resta. — Eu vou te torturar, queimar todos os seus mangás na sua frente e depois te matar.
— Credo! — Arfo, horrorizado. Não mexe com meus mangás, não. — Eu nem terminei de falar!
— Então termina! Eu ainda tenho suco de melão sobrando aqui!
— Amizade tóxica — Resmungo, mas me rendo ao apontar para o que está escrito na parte externa do bilhete ainda não lido. — Olha. "Para Jeon Jungkook, o virginiano" — Leio em voz alta para em seguida apontar o coração desenhado com caneta preta.
— Sim. Eu sei ler. Qual o problema?
— O coração. O coração é o problema! — Meu deus, Namjoon não entende que isso é uma situação alarmante. — É um bilhete romântico!
— Alguém gosta de você, ué — Ele conclui o óbvio. — Você é bonito, inteligente, engraçado e pinta quadros muito bonitos. É natural que tenham se interessado.
— Aí é que tá! — E chegamos ao ponto chave. — Quando eu voltei para a sala, só tinha uma pessoa lá. E quando me viu, ele ficou nervoso e saiu correndo. Eu acho que é ele. Eu acho que ele gosta de mim.
— Ele quem? — Finalmente demonstrando mais interesse pelo evento mais emocionante que aconteceu em minha vida esse ano, talvez nessa década, Namjoon pergunta.
— Mingyu!
— Sério? — Namjoon não foi sorteado na mesma turma que eu, mas é claro que ele sabe quem é Mingyu. Todo mundo sabe, o cara é bonitão. Aí meu amigo pega mais uma porção de arroz, mas, antes de levá-la à boca, pergunta: — Achei que ele tinha dito que só gosta de meninas mesmo.
— Bom... — Eu dou de ombros. — Ele disse isso. Mas até eu já disse e agora acho que nem de menina gosto!
— Verdade — Namjoon concorda, sem fazer grande caso. Ele é bem resolvido sobre sua heterossexualidade, diferente de mim que ainda estou me conhecendo. Mas ele está sendo bem tranquilo no meu processo de autoentendimento. — Se for ele, deu sorte demais. Mingyu é — Ele torce os lábios num gesto de admiração. — charmosão mesmo.
— Sim! Entendeu o motivo da exaltação?! — Pergunto, abaixando o tom de voz quando um outro cara do terceiro ano ocupa uma das cadeiras vazias em nossa mesa: — E se for ele mesmo?
— Lê o bilhete primeiro. Talvez tenha uma confirmação — Namjoon sugere.
— Tô nervoso.
— Jungkook! — Ele chama nesse tom de repreensão, impaciência e, não me engana, curiosidade. — Lê!
Eu deixo uma lamentação baixinha escapar enquanto sinto o nervosismo erguer a voz dentro de mim, tentando oprimir o meu impulso de desfazer a dobra do papel para ler a mensagem que está aqui dentro.
Ai, meu deus.
"Querido virginiano,
seu sorriso é o mais bonito que existe. Espero que o bombom tenha sido capaz de te fazer sorrir e iluminar ainda mais essa segunda ensolarada.
Ass.: Seu libriano favorito (assim espero)"
A mensagem é uma graça, mas meu coração se desgraça inteiro quando vejo a última parte escrita.
Meu libriano favorito.
Era assim que eu chamava Jimin.
Meu coração aperta ainda mais com a saudade e com a ausência de esperança de que seja ele o autor desse bilhete.
A percepção imediata de que isso não veio de Jimin me frustra tão rápido quanto. E não porque eu queria receber um bilhete romântico dele.
É só que... sexta-feira, Jimin falou comigo. Ele me chamou para voltar para casa com ele e estava visivelmente todo atrapalhado. Por um momento, eu quis ficar feliz, mas não me permiti acreditar que ele estava interessado em se reaproximar. Eu não posso acreditar nisso, me encher de alegria por pensar que ele ainda sente saudade de nossa amizade e depois descobrir que, não, eu entendi tudo errado.
E ter que me desapegar da ideia de ser amigo de Jimin doeu o suficiente na primeira vez. Eu não preciso e decididamente não quero passar por isso novamente.
Mas se isso fosse ele... se, depois de me convidar para voltar para casa com ele, Jimin me enviasse um bilhete... eu teria certeza.
Eu saberia que ele ainda sente saudade de nós dois.
Mas eu sei que não é ele porque essa não parece sua letra. E eu tenho certeza de que isso é um bilhete romântico — apesar de Jimin ser bastante aberto sobre sua sexualidade e não ser segredo para ninguém que ele gosta de meninos, eu sei que ele nunca me veria com esses olhos.
Por isso, eu volto a guardar a esperança numa caixinha secreta no fundo da minha consciência teimosa e sigo com o suspeito inicial, afastando Jimin dos pensamentos para perguntar ao meu amigo:
— Mingyu é libriano?
— Não faço ideia — Namjoon responde, finalmente dando fim ao seu almoço. E eu ainda nem peguei o meu. Depois de limpar os dentes com a língua, ele pergunta: — Você ainda acha que é ele?
— É surreal. Mesmo. Aquele cara interessado no menino que viaja olhando para o nada?
— Ele pode ter se interessado por esse menino. Ou pelo Jungkook que não sabe o quanto é bonito e interessante. Talvez pelos dois. Não é impossível, cara. De verdade, você é muito mais do que acredita que é.
Eu suspiro, porque nem é que eu tenha a autoestima tão baixa. Eu me acho bonitinho, sei que sou inteligente (não quando se trata de exatas) e até engraçado, dependendo do senso de humor da pessoa. Ah, sou bom em algumas coisas também, além de pintar.
Não é porque me acham estranho que eu me odeio e me acho o pior ser humano do mundo. Eu até gosto de mim mesmo.
É só que, se tratando de alguém no nível de Mingyu... eu não tenho tanta autoestima assim.
Na minha escala de perfeição, ele está abaixo apenas de Park Jimin.
Mas que foi suspeito o jeito como ele saiu da sala, isso foi.
— Preciso descobrir a data de aniversário dele. Se ele não for de libra, está descartado. Mas se for... — Eu sorrio, um pouco esperançoso quando pego meu celular para buscar a informação nas redes sociais. — Nossa, que sorte.
— O horário de almoço não é infinito, Jungkook — Namjoon repreende, já tomando meu celular. — Vai pegar sua comida primeiro.
Minha fome não é maior que a curiosidade, mas a moral de Namjoon, é.
Então eu nem discuto, só suspiro com frustração e finalmente sigo até a fila, preparado de antemão para negar educadamente o bendito suco de melão.
Quando eu volto para a mesa que Namjoon continua ocupando, encontro meu amigo brincando com a borda do copo presa entre os dentes enquanto checa alguma coisa em seu celular. Sem parar, me apresso para sentar pertinho dele, inadvertidamente desrespeitando os limites de espaço pessoal.
— Está procurando a data de aniversário de Mingyu? — Pergunto, todo feliz.
Ele tira o copo até então preso à boca e me lança uma olhadela preguiçosa, antes de dizer:
— Só porque eu sou um bom amigo.
Perfeito! Aclamadíssimo! Não tem uma falha sequer!
— O melhor! — Faço questão de dizer.
— Mas não tem. — Ele me leva ao céu e ao inferno rápido demais. Aí desvia o olhar para bloquear a tela de seu celular. — Ele não deixa a data visível em nenhuma rede.
— Que chateação. Esperava mais de Mingyu.
— Vamos precisar descobrir de outro jeito. — Namjoon pondera. — Mas antes, coma. Quando você menos esperar, eu vou te dar um susto pra você cuspir tudo e eu me vingar.
Eu mando um beijinho brincalhão para ele, que acaba rindo assim como me faz rir de volta (sem incidentes com cuspidas e babadas) por todo o restante do almoço.
Quando o sinal toca e nós precisamos nos separar para seguirmos até nossas respectivas turmas, nós ainda não descobrimos o dia do aniversário de Mingyu e eu já começo a me sentir ansioso por isso.
Não é nem que eu tenha algum sentimento prévio por Mingyu além de uma atração inocente, mas a curiosidade é grande e o meu desejo de solucionar o mistério, também.
Além do mais, não seria nada mal um cara daquele demonstrando interesse por mim, né?
O resultado? É impossível me concentrar nas duas últimas aulas que sucedem o almoço.
Quando a sirene volta a ecoar, dessa vez para indicar o fim de todas as aulas do dia, eu não avancei nem no conteúdo ministrado nas aulas, nem na minha busca por uma informação básica de aniversário.
Com suspiros lentos e ansiosos, eu fecho meu caderno e começo a arrumar metodicamente as minhas coisas para voltar para casa. Parece que as emoções do dia já teriam encontrado um fim, mas aí eu me viro para sair da sala e, sem querer, meu olhar encontra o de Jimin.
Ele já estava me olhando.
Há quanto tempo?
Meu deus, não faz nem trinta segundos que eu dei uma cutucadinhas no nariz.
Quando é pego no flagra, ele tem um sobressalto óbvio (assim como eu), parece ficar nervoso (adivinha como quem? Eu!), ou talvez já estivesse, mas não desvia os olhos.
Eu aperto os meus com estranheza, sem entender sua atenção demorada em mim. E lá vem de novo. A pontada de esperança e o suspiro subsequente por, mais uma vez, não poder me permitir acreditar demais.
Tudo que eu faço, então, é apertar meus lábios num sorriso que nem mostra os dentes.
O passo seguinte é sair da sala antes que a esperança volte ainda mais forte enquanto ele continua me olhando, mas eu falho.
Ela volta antes que eu sequer passe pela porta.
Parado no mesmo lugar, eu respiro fundo como quem está prestes a pegar uma prova de matemática para fazer.
Aí, subitamente, giro até ficar de frente para Jimin, ainda sentado em seu assento de sempre.
— Oi. — É o que consigo dizer.
Os olhos dele se arregalam com surpresa. Ao mesmo tempo, ele sorri.
Que saudade do sorriso dele, meu deus.
Isso é tortura.
— Oi. — Ele me responde.
Sem saber o que mais posso dizer, até um pouco arrependido do que fiz, eu balbucio algumas vezes até descobrir o que posso dizer.
A decisão, é:
— Você é amigo de todo mundo, né? — Certo. Dói perceber que minha mente segue sozinha e completa, silenciosamente: só não é meu amigo.
Eu não vou aguentar muito tempo antes de ficar verdadeiramente triste, então disparo de uma vez:
— Deixa. Não é nada. Até amanhã.
Mais uma vez, eu tento seguir o caminho para fora da sala. Mais uma vez, sou interrompido. Agora, pela voz de Jimin.
— Não, Jungkook. — Ele diz, apressado, quando pega suas coisas e levanta num pulo para correr em minha direção. Aí, me segura com cuidado. — Pode falar. Por favor.
Eu quero chorar.
A saudade dói muito.
E eu nem sei se essa pessoa aqui é a mesma de quem eu sinto falta.
— Eu só queria saber o dia do aniversário de Mingyu. — Frustrado, confesso. — Imaginei que você poderia saber.
— Ah. — Ele murmura, subitamente parecendo decepcionado. O que ele esperava que eu dissesse?
— Você sabe? — Insisto, ansioso para ir de uma vez. Não que eu realmente queira ir. Eu só não quero me machucar de novo mesmo. — Queria saber o signo dele.
— Não. — Ele aperta os ombros como num pedido de desculpas. — O único aniversário que eu não esqueço é o seu.
Eu abro a boca para falar, mas me calo diante de um sorriso teimoso que nasce contra minha vontade.
É verdade. Jimin esquecia os aniversários dos irmãos e até dos pais, o cabeça de vento já chegou a esquecer o próprio aniversário. Mas nunca esqueceu o meu.
Mesmo agora que estamos afastados, ele lembrou. Meia noite em ponto do último primeiro de setembro, meu celular vibrou com uma mensagem sua me desejando os parabéns.
Foi fofo, mas foi horrível. Fiquei feliz e triste ao mesmo tempo.
Todas essas coisinhas me fazem pensar que, desde que Jimin saiu de minha vida, eu fiquei todo desregulado.
— É. Você é meio cabeça de vento mesmo — Falo meio sem pensar. Por sorte, Jimin ainda tem o mesmo humor leve e sorri um pouco. Em seguida, vem o silêncio.
Deus, me leve agora.
Essa situação está me dando picos de nervosismo.
— Mas por que você quer saber o aniversário dele? — Parecendo curioso, ainda sutilmente decepcionado como se esperasse algo a mais, ele pergunta. — Se puder me dizer.
Eu posso?
Sei que posso. Ainda que não sejamos mais amigos, eu ainda sei que posso confiar em Jimin. Então eu posso pagar o maior mico da vida achando que talvez Mingyu esteja interessado em mim e tenho certeza de que, por Jimin, a notícia nunca vai se espalhar e virar piada.
Diante de minha breve ponderação, eu decido revelar:
— É que um libriano deixou um bilhete romântico na minha mesa hoje. Eu acho que foi ele.
Os olhos de Jimin, primeiro, esboçam alguma confusão. Pouco a pouco, vão se arregalando e demonstrando nada além de horror.
— Não! — Ele diz como provavelmente gritaria se fizesse um gol contra na final do campeonato interescolar.
"Não" o que?!
— Você acha que não foi ele? — É a única coisa em que consigo pensar, o que imediatamente faz meu rosto se contorcer de vergonha. Meu deus, meu deus, meu deeeeus. — Que vergonha! É claro que não foi Mingyu, ele é muita areia pro meu caminhãozinho!
— Não, Jungkook! Não é isso. — Jimin grita. Por que ele continua gritando?! — Não tem areia nesse mundo que seja demais pro seu caminhãozão!
Ah. Que gracinha. Fofo demais.
Mas... que?
— Então o que foi?! — Questiono mais uma vez.
— Por que você acha que é um bilhete romântico? — Jimin pergunta como se a resposta pudesse dar fim à sua vida. — E por que você acha que foi ele?
— Porque tinha um coração! Quem desenha um coração em algo que não tem significado romântico?! — Questiono. Jimin vai perdendo a cor. — E ele era o único que estava na sala quando eu voltei e vi o bilhete. Estava perto da minha carteira e saiu todo nervoso quando me viu!
Espera.
Por que eu estou gritando também?!
Jimin continua esquisito. Ele está pálido e desesperado, parece prestes a desmaiar. E se ele desmaiar eu desmaio também, é sério.
— Eu preciso ir — Sem me dar qualquer resposta, Jimin subitamente diz.
Eu tento fazer novos questionamentos, mas tudo que tenho tempo de fazer é ver quando ele me dá as costas e abre a porta de correr com a maior violência, se lançando pelo corredor numa corrida desajeitada. Quando eu corro para a porta numa última tentativa desesperada, a última coisa que vejo é Jimin correndo sabe deus para onde, até tropeçando no próprio pé.
Como a cereja no topo do bolo de confusão, ele ainda grita:
— Lascou!
☆☽☀☾☆
E aí, nenéns? O que acharam do capítulo dois, dessa vez narrado pelo melhor virginiano?
Será que vocês sofreram de novo com esse capítulo? Ou será que o elemento diversão foi um pouquinho maior?
Mas eu prometo que a partir do capítulo que vem o foco vai já é bem mais no presente, com algumas lembranças pontuais! Acho que assim segue melhor a proposta de ser mais divertida que dramática :D
Ah, eu tornei pública a playlist que fiz pra escutar enquanto escrevo. Como não to conseguindo deixar link na bio, vocês podem procurar no spotify por "O beijo de libra [playlist oficial]", by eucatastrophia, que acham!
Pronto! Capítulo que vem voltamos ao ponto de vista de Jimin pra ver como ele vai reagir ao pequeno erro no seu plano perfeito <3 Então até terça-feira ou até a #LibrianoFavorito <3
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