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CAPÍTULO VINTE E UM

Esgueirei-me sobre os galhos da árvore gigante, meu coração batia mais forte que nunca, estava com medo. Ele parou por um segundo e fechou os olhos, como se estivesse sentindo a minha presença, mas tornou a abri-los e continuou caminhando na direção oposta da localização da cabana.
Esperei-o sumir por entre a vegetação e respirei fundo. Meu corpo tremia em espasmos, jamais pensei que seria tão ruim voltar a ver um demônio, mas as expectativas se superaram, e eu estava muito mais que aterrorizada.
Esperei cerca de duas horas pendurada nos galhos da árvore centenária, receosa de que ele poderia retornar, mas nada aconteceu e pude começar a preparar meu psicológico para retornar à cabana.
Desci da árvore, cada galho com um cuidado enorme. Caminhei até a cabana, atenta a todas as direções e com a mão envolvida no cabo da faca de lâmina afiada. A cada passo, eu apertava com mais firmeza a arma. Em meu estômago, um grande nó se formou e eu tive que me controlar para não correr, apavorada.
Praguejei o momento em que decidira sair de casa em plena manhã para colher pêssegos, se tivesse ficado, não teria sequer visto o demônio, e tudo estaria bem, provavelmente. Mas como não foi assim que aconteceu, só me restava retornar e rezar para que não me encontrassem ali.
Cheguei até a porta, tudo parecia normal e quieto, da mesma maneira em que estava quando saí, mais cedo. Posicionei meus dedos na maçaneta, girando-a lentamente. A porta rangeu enquanto abria e eu me encolhi com o barulho. Não havia nada na sala. Suspirei, aliviada e dei um passo vacilante para dentro, foi quando senti um movimento atrás de mim. Virei-me de pressa, escorregando e caindo igual a um saco de areia na porta.
Não havia nenhum ser vestido de preto do lado de fora, apenas uma abelha tentando pousar em meus cabelos. Encarei-a, soltando uma gargalhada. Uma abelha assassina, ponderei comigo mesma e ri ainda mais.
Levantei-me do chão, ainda rindo e ao me virar novamente para a sala, meu rosto murchou ao reconhecer seu sorriso maldoso e branco. Antes que eu pudesse reagir, um soco atingiu meu peito e fui jogada na terra do lado de fora da cabana.
Abri a boca, tentando respirar mas o ar não retornava a meus pulmões, minha cabeça tilintava e meu corpo todo estava mole. Ele se aproximou lentamente, seu sorriso desaparecendo a cada passo que dava em minha direção. Consegui capturar uma porção de ar, o suficiente para me arrastar para longe de sua figura, mas ele era muito mais rápido que isso, e parecia se divertir com a ideia da caça.
Era loiro e usava uma camisa de botões. Parecia o tipo de pessoa que cozinhava para os pais no fim de semana e levava a namorada para o parque, mas seus olhos sem vida não me enganaram. Ele era um deles, e eu soube a partir do momento em que o vi.
Ele parou de se mover e me assistiu enquanto eu tentava de todas as formas me afastar do mesmo, até deixou que eu conseguisse faze-lo, e então, quando estava a cerca de cinco metros de seu corpo, ele veio até mim, segurou-me pelos pulsos e mordeu o lábio inferior.
─ Pensou que ia conseguir se esconder para sempre, donzela?
Uma de suas mãos desceu até meu quadril e ele o apertou com um pouco de força. Na mesma hora a repulsa atingiu-me e eu desviei os olhos de seu rosto. Minha faca estava jogada a uns três metros dali, onde houvera caído quando fui atirada por terra.
Ainda havia uma em minha bota, mas um de meus braços estava preso em seu aperto e eu não conseguiria pega-la antes que o mesmo percebesse. Ele envolveu os dedos na barra de minha camiseta, puxando-a para cima. Diante de minha resistência, revirou os olhos e rasgou-a, deixando minha pele exposta, apenas com um sutiã desgastado.
─ Até que você é bonitinha ─ sorriu ─ Mas fique tranquila ─ sussurrou, ao perceber meu desespero ─ Eu não vou ousar fazer isso, só quero ter uma visão mais ampla dos locais em que irei te cortar.
Soltou-me, levantando-se do chão e retirando uma faca de açougueiro, nada sofisticada do cinto.
─ O que está esperando? Corra ─ gargalhou ─ Vamos, torne isso menos entediante para mim.
Foi exatamente o que eu fiz, corri o máximo que pude, parando a uns vinte metros de onde estava. Sabia que iria atrás de mim, e sabia que conseguiria me pegar, então, eu preferi usar a estratégia a meu favor, ao invés de deixar que o desespero me conduzisse.
─ Já se cansou? ─ gritou, fingindo desapontamento ─ Pensei que seria mais divertido.
Dito isso, ele andou a passos largos em minha direção e eu esperei, atenta e com o coração na garganta. Quando estava a apenas cerca de seis metros de mim, retirei minha faca da bota com agilidade, mirando em seu coração. Obviamente, ele não era um alvo em repouso, então, o coração acabou por se tornar seu abdômen.
Eu não podia reclamar, afinal, pelo menos o acertara. Ele uivou de dor e espanto, caindo de joelhos no chão. Mas então seus olhos ficaram ainda mais assustadores e me encarou enquanto retirava a faca do corpo, totalmente encoberta por sangue. Aparentemente, não fora o suficiente para derrota-lo, então, antes que ele pudesse ter a chance de se levantar, eu corri.
Precisei parar para recuperar o fôlego, mas logo avistei meu alvo com a adaga paralisada bem no meio, em uma das árvores a poucos metros de mim. Corri em sua direção, mas caí por terra quando minha própria arma, que minutos antes estava no corpo do demônio, atravessou o ar e adentrou em cheio minha cocha. Gritei de dor. Era incrível como sempre queriam destruir minhas pernas.
Ele veio se aproximando, pouco mais lento que o normal, com sua casca humana sangrando, mas ainda feroz e vingativo. Encarei minha perna com desgosto. Ele ainda estava distante o suficiente e se eu fosse esperta, poderia usar aquele tempo para garantir minha defesa.
Envolvi o cabo da faca com a mão, fechei os olhos, respirei fundo e puxei. Meu grito ecoou pela floresta, horrendo. Meus olhos s enturvaram com as lágrimas, mas não era hora de chorar, eu estava com a faca e ainda tinha cerca de dez segundos para pegar a outra. Foi exatamente o que fiz.



Boa madrugada, leitores. Como estão? Eu sumi de novo, desculpem-me, teve toda aquela coisa de Enem e eu fiquei muito nervosa.
Mas aqui está um capítulo novinho para vocês, que acabou de ser escrito e exatamente por isso, se tiver algum erro, levem em consideração que eu já estou morrendo de sono 🌚.
Desculpem por fazê-los esperar tanto. Tenham uma boa leitura, espero que gostem e MUITO OBRIGADA PELO APOIO 😚❤❤.

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