CAPÍTULO SEIS
Observei o rapaz enquanto ele vinha em minha direção, todo sorridente e com dois sorvetes em mão. Era charmoso, com seus cabelos castanhos contrastando com os olhos que hora eram verde escuros, hora castanhos. Era alto e forte, não um forte definido como os frequentantes de academia, um forte próprio dele.
Entregou-me o sorvete de chocolate e ficou com o de morango para si, alargando ainda mais o sorriso branco estampado em seus lábios grossos e rosados.
─ Viu? Não é tão ruim assim, é? ─ indagou com uma de suas sobrancelhas arqueada.
Dei de ombros, fazendo pouco caso e ele me chutou de leve por baixo da mesa.
─ Não seja uma má companhia hoje, Laura ─ passou a língua no lábio inferior ─ Eu paguei para você.
Sorri.
─ Eu sei, obrigada ─ chutei-o de volta ─ Mas não precisava cortar o meu momento drama ─ pressionei os lábios, fingindo chateação e ele me olhou com falsa seriedade.
─ Desculpe, não foi a minha intenção.
Nós rimos, enquanto terminávamos o sorvete.
Meia hora antes, eu estava deitada em meu sofá da sala, enquanto mamãe assistia a uma novela qualquer. Como o prometido, fui liberada do hospital pela manhã, com a promessa de voltar na próxima semana para a retirada dos pontos em minha testa.
Os pensamentos daquela noite não deixaram minha cabeça nem por um segundo e tive pesadelos estranhos durante a noite envolvendo o acontecimento que havia presenciado, mas, pelo menos não tornei a desmaiar. Enfim, eu estava querendo um tempo sozinha para tentar processar tudo aquilo, mas isso não estava sendo possível, ainda mais quando ele bateu na porta.
Adentrara a sala já com um sorriso estampado em sua face bronzeada, naquele exato momento eu soube que estava planejando algo. Dez segundos depois, descobri que esse algo era me tirar de casa a qualquer custo, pois, segundo ele, eu estava estressada por ficar muito tempo mofando em casa, algo que minha mãe concordou, para a minha tristeza.
Não demorou muito para que ele me convencesse, pois eu já sabia o quão insistente poderia ser quando quer algo, preferi evitar a parte dele pedindo um milhão de vezes até eu ceder, afinal, quanto mais cedo fossemos, mais cedo voltaríamos.
Após o sorvete, ele entrelaçou seu braço no meu para me acompanhar até em casa. Dava para notar o cuidado que estava tendo comigo e o medo que tinha de eu tornar a desmaiar a qualquer momento. João e Ian sempre haviam sido meus amigos mais superprotetores, isso era um fato que me fazia gostar ainda mais deles.
─ Ian está preocupado com você ─ o rapaz declarou enquanto atravessávamos a rua ─ Ele ficou tenso quando eu contei sobre o hospital.
─ Acho que era melhor tê-lo esperado voltar de viagem para dizer isso ─ suspirei ─ Sabe o quão animado ele estava para aproveitar as férias na praia.
O rapaz me encarou como um pedido de desculpas.
─ Fiquei desesperado quando te internaram, não sabia o que havia acontecido, então acabei ligando para ele, sem pensar.
─ Tudo bem ─ choquei nossos ombros levemente ─ Sei como estava preocupado comigo, pensou que fosse o certo a se fazer ─ sorri de leve e ele me acompanhou.
─ Nunca mais me assuste dessa maneira, morena ─ seus olhos buscaram os meus com intensidade ─ Sabe que eu não conseguiria superar se você me abandonasse também.
Abaixei a cabeça. Era notória a maneira como ainda éramos tão afetados pelo passado. A dor compartilhada era uma das coisas que nos mantivera tão unidos ao longo dos anos. Certos fatos nunca deixariam de nos incomodar, disso nós sabíamos muito bem.
Ao chegarmos no começo da praça, frente a minha casa, João recebeu uma ligação e parou para atender. Seu rosto se contorceu em poucos segundos formando uma careta e senti seu corpo ficar tenso ao lado do meu.
─ Tudo bem, eu entendi ─ revirou os olhos ─ Diga a ela que estou chegando.
O rapaz finalizou a ligação e fechou os olhos por um segundo, respirando fundo, depois tornou a abri-los e me encarou com a expressão que eu conhecia perfeitamente bem. Balancei a cabeça.
─ Ela está piorando? ─ indaguei baixinho e ele assentiu.
─ Teve uma nova crise e tentou se enforcar com o cinto.
Soltei-me de seu braço e passei o polegar por sua bochecha macia e avermelhada, como a de um bebê.
─ Vai ficar tudo bem ─ murmurei e ele me encarou com uma expressão cansada, parecia estar carregando o peso do mundo nas costas.
Era sempre assim, quando ele voltava a ter esperanças sobre as coisas, algo acontecia para afundá-lo no buraco novamente. Chegava a ser egoísta a maneira como o mundo parecia estar tirando aos poucos todo o sinal de felicidade que lhe restava.
─ Eu só queria um pouco de paz, as vezes ─ murmurou de volta e colocou uma mão em meu ombro ─ Vai ficar bem se eu te deixar aqui? Preciso correr antes que ela faça mais alguma loucura, e por azar, preferi vir sem o carro hoje.
─ Eu estou bem ─ garanti ─ E já estamos frente à minha casa, não vai aconteceu nada enquanto eu atravesso a rua.
─ Desculpe, mas eu realmente preciso ir ─ depositou um beijo em minha bochecha ─ Se cuida, Laura.
─ Pode deixar.
Observei-o andar a passos largos e logo sumir de minha linha de visão, ao virar a esquina. Ele realmente não merecia o que estava acontecendo. Era jovem demais para passar por todas as coisas que houvera passado nos últimos dois anos, sem dúvidas, jovem demais para presenciar uma das pessoas que mais ama no fundo doo poço, definhando pouco a pouco diante de seus olhos, enquanto ele nada podia fazer para ajudar.
Ouvi um barulho atrás de mim e me virei para ver do que se tratava. O que meus olhos avistaram foi algo que realmente me surpreendeu, e o único acontecimento do dia que conseguiu me fazer esquecer por um momento, tudo de ruim que acontecera comigo.
Oláá, leitores, como estão? Eu estou com sono, como sempre. Peço desculpas pelo atraso desse capítulo, foi uma semana bem agitada por causa das provas, então só me restou hoje mesmo.
Sem mais delongas, está aí mais um capítulo quentinho para vocês, espero que gostem e aproveitem o momento de leitura. Quem puder curtir ou comentar minha história, vai me deixar mais confiante com o que escrevo... Obrigada e um beijo de gratidão!
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