CAPÍTULO CINCO
Acordei com os raios de sol esquentando minha bochecha através da janela, cujas cortinas estavam abertas. Franzi o cenho, sem conseguir me lembrar de como havia chegado em minha cama, ou o porquê de ter dormido com os sapatos nos pés.
Levantei-me num salto e acabei por visualizar minha imagem desgrenhada no espelho. Arregalei os olhos ao perceber os respingos vermelhos em minhas vestes. Olhei para baixo, tendo uma boa visão das manchas em minha camiseta e soltei um grito horrorizado ao perceber do que se tratava. Era sangue, e não o meu sangue.
As memórias da noite anterior me atingiram em cheio, e eu tive que me apoiar na cabeceira da cama para não cair com o impacto que elas causaram em mim. Sentei-me no chão, sentindo as lágrimas quentes rolarem por minhas bochechas. Tentei dizer a mim mesma que já havia passado e que eu podia ficar tranquila novamente, mas aquilo não entrava em minha mente.
Levantei-me após alguns minutos, indo em direção ao banheiro e despindo-me daquelas roupas que me causavam pânico. Nem o banho quente de quarenta minutos que eu tomei, não conseguiu tirar de mim o horror que estava sentindo. Vesti-me em um vestido amarelo e joguei as roupas manchadas na churrasqueira, queimando-as até que não restasse nada além de cinzas.
Apaguei todos os resquícios daquela noite, mas não pude apagar o principal, que era o sentimento que ela causava em mim. Estava admirada com tamanha falta de sorte que eu possuía, pois, algumas coisas pareciam acontecer exclusivamente comigo, como se eu possuísse algum tipo de imã, ou coisa assim.
Engoli em seco, tentando afastar aquelas imagens que ficavam rondando minha mente. Senti como se minha cabeça estivesse prestes a explodir e considerei a ideia de que estava enlouquecendo. Afinal, cadáveres normais não ficavam com os olhos inteiramente negros, como aqueles ficaram.
Andei pela casa, de um lado para o outro, puxando os cabelos e limpando as lágrimas que insistiam em cair por minha face. Estava me tornando uma neurótica, era incontrolável. Lembrei-me do sangue em poças no chão e corri para o banheiro, com ânsia de vômito. É, eu vomitei o café da manhã que não havia tomado.
Levantei-me do chão frio e encarei minha imagem pálida no espelho. A situação estava realmente deplorável. Escovei os dentes e ao terminar ouvi batidas na porta da cozinha. Batidas rítmicas e insistentes. Arregalei os olhos em horror.
─ Cadê a sua educação, Laura? ─ a voz de João invadiu meus ouvidos e eu me dirigi até a cozinha para abrir a porta, após engolir em seco.
Ao fazê-lo, dei de cara com o garoto cujo sorriso se desfez em um segundo e transformou-se em uma careta de preocupação. Ótimo, era realmente tudo o que eu precisava pensei comigo mesma.
─ O que aconteceu com você? — indagou.
─ Estou bem ─ murmurei e ele me pegou no colo, de surpresa, carregando-me até o sofá ─ Isso é mesmo necessário?
O rapaz me olhou com uma expressão de advertência, depositou-me com a cabeça sobre uma almofada e foi até a cozinha, buscar uma cadeira para si. Revirei os olhos.
─ O que aconteceu com você? ─ tornou a repetir e eu suspirei levantando-me com tudo do sofá.
─ Eu já disse que estou b... ─ senti minha visão ficando embaçada e meu corpo todo amolecendo.
Sem o controle de meus movimentos, não pude evitar cair com tudo no chão. Senti uma dor aguda atingindo-me na testa, indicando que a havia batido em algo duro.
─ Laura? ─ a voz de João parecia ecoar no fundo de minha mente, perdendo a intensidade aos poucos ─ Laura?!
Eu não podia responde-lo, não conseguia. Senti a escuridão me engolindo por completo e não pude resistir a ela.
Abri os olhos e pisquei várias vezes contra a luz que me cegava, podendo finalmente discernir o que estava ao meu redor, mas desejei que não o tivesse feito ao ver três rostos familiares a me encarar com alívio evidente.
─ A bela adormecida resolveu dar o ar da graça ─ descontraiu João e eu lhe mostrei um pequeno sorriso, logo após encarando aos meus pais.
─ O que aconteceu? ─ perguntei, mas já sabia a resposta, soube no momento em que me deparei com as paredes brancas do hospital e a agulha em minha mão, fazendo pingar o soro em minha veia.
─ Você desmaiou e bateu com a cabeça na mesinha da sala ─ foi mamãe quem me respondeu ─ Graças a Deus que o João estava lá e te trouxe até o hospital ─ ela lançou um olhar agradecido ao rapaz, que sorriu gentilmente como reposta.
─ Obrigada, João ─ mostrei-lhe um sorriso fraco.
─ Não tem de quê, teimosa.
O rapaz se aproximou de mim.
─ Desculpe, mas eu preciso ir embora agora, vejo você amanhã.
─ Tudo bem ─ murmurei quando ele depositou um beijo em minha bochecha e acenou para os meus pais.
O rapaz deixou o quarto no mesmo momento em que um homem loiro em seus quarenta e poucos anos adentrou o quarto vestido em um jaleco branco.
─ Boa noite ─ saudou-nos e se aproximou de mim ─ Como se sente? Está com alguma dor?
─ Não, me sinto bem, só com um pouco de sono ─ respondi-lhe com sinceridade.
─ É por conta dos remédios para dor ─ explicou ─ Está com um corte considerável na testa, mas aparentemente não é nada sério.
─ Então eu já posso ir embora? ─indaguei e ele sorriu levemente.
─ Ainda não, é melhor passar a noite por aqui, só para garantir ─ mexeu em meu soro, desengatando-o ─ Não vai mais precisar disso.
Ele me deu um leve tapinha no ombro.
─ Amanhã de manhã poderá ir embora ─ garantiu-me e deixou o quarto após despedir-se de meus pais com um breve aceno de cabeça.
Após eu devorar a sopa que uma das enfermeiras trouxe em uma bandeja, meu pai se despediu de nós e voltou para casa, para dormir, afinal, teria que trabalhar na manhã seguinte. Já mamãe, pediu o dia de folga para o patrão e passou a noite no pequeno sofá para acompanhantes que continha em meu quarto de hospital.
Boa tarde, pessoinhas. Está aí, mais um capítulo para vocês, espero que se interessem. O que será que está por vir nessa história?! É o que vamos descobrir... Até logo 😁
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