Capítulo 1 parte 1
Olá meninas, vamos saber mais um pouquinho da vida da nossa "mocinha"?
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Charlie ( Chaly)
Duas semanas depois
Olhei para baixo e minha vontade de chorar apenas aumentou. O salto do belo sapato de solado vermelho, que devia custar o salário de um ano inteiro de alguém, estava enterrado e preso entre as madeiras do píer. Cuide desse sapato, eu tive que deixar dois foderem meu traseiro por ele. Aquelas tinham sido as penúltimas palavras da minha amiga antes de se despedir de mim na porta do táxi. As últimas foram o berro que ela deu quando o taxi já estava se afastando: você vai ter que dar o seu para três se alguma coisa acontecer com ele.
Um frio percorreu minha espinha e, de forma involuntária, minha delicada entrada virgem e proibida se contraiu com a imagem. Não, pelo amor de Deus, não. Preferia enfrentar a morte, a ter que dar meu... Não conseguia imaginá-lo sendo arrombado por um, por três então... Aquilo seria possível?
Agradeci que o táxi já tinha se afastado e não era mais possível ouvir o que ela continuava berrando. Eu devia estar mais vermelha que um tomate maduro. Quem em sã consciência berrava essas palavras no meio de uma rua movimentada? Apenas ela, Evangeline, ou Eva para os amigos.
Ela era louca, estressada, briguenta, mas era a melhor amiga que alguém poderia ter, só por isso eu desculpava a sua boca suja e as ameaças. Tínhamos nos separado por anos depois que ela se mudou para Nova Iorque, mas os laços da nossa amizade nunca se afrouxaram, assim, quando precisei de ajuda, encontrei a mão da minha louca amiga de infância estendida.
E quando ela dizia que tinha dado a bunda pelo sapato, era melhor acreditar, pois minha amiga não se importava em dormir com alguns caras ricos e depois dizer a eles que estava com o aluguel atrasado. Apenas por isso ela podia se dar ao luxo de morar em um dos bairros mais exclusivos de Nova Iorque, graças aos presentinhos, era assim que ela chamava os pequenos favores pagos pelos seus amigos de cama. Bem, eu não a julgava, éramos muito diferentes, enquanto eu vivia no mundo da lua sonhando com príncipes encantados que sempre viravam sapos, ela saia com sapos que se transformavam em príncipes.
Olhei novamente para meus pés e rezei para que o sapato não estivesse com o salto quebrado, mas, ao puxar, vi meus piores pesadelos transformando-se em realidade. O maldito, além de quebrado, estava com o finíssimo e delicado couro arranhado. Meu desespero aumentou, minha entradinha se contraiu ao pensar que a ameaça podia se tornar realidade.
Meus olhos se fixaram no calçado destruído tentando encontrar uma solução e, por mais otimista que eu pudesse ser, percebi que não havia nada a ser feito, a não ser rezar. Será que dói muito dar a bunda? Quando percebi que aqueles pensamentos fugiram da minha mente, me dei um soco mental. Nem louca eu iria dar minha bunda por um sapato, nem minha vagina, ou mesmo a minha boca, sequer minhas mãos. Inferno, como faria para pagar essa porcaria de sapato. Se fosse em outros tempos, eu teria o maior prazer de dar aquele mimo à minha amiga, mas naquele momento seria jogar fora um dinheiro que eu não tinha.
Ainda estava divagando sobre entradas virgens proibidas, quando ouvi risadas, levantei a cabeça e vi um grupo de homens descarregando um barco que estava ancorado um pouco mais à frente rindo da minha desgraça. Não podia acreditar, onde tinha ido parar o cavalheirismo? Eles continuaram a rir, enquanto eu tentava puxar a gigantesca mala Louis Vitton, mais um empréstimo de Eva, assim como a roupa que eu estava usando e a maioria do que estava dentro da mala também. Você não irá para esse encontro de Natal da empresa vestida como uma mendiga. Então ali estava eu, vestida como uma duquesa de Sussex — só faltava o duque, porque até um chapéu ela conseguiu enfiar na minha cabeça!
— Levante o pé! — Ouvi um rosnado autoritário em minhas costas.
Girei com e dei de cara com um dos homens que estavam descarregando o barco. Ele estava sério. Não, ele não estava sério, estava bravo. Tentei olhar diretamente em seus olhos, mas não consegui, primeiro porque ele era muito mais alto que eu, segundo porque, com apenas um salto, eu ficava em uma posição torta. O ombro direito estava quase quinze centímetros mais baixo que o esquerdo.
Minha raiva aumentou e abri a boca para dizer a ele que podia me virar sozinha. Minha vontade era mandá-lo à merda, junto com todos os seus amigos idiotas que continuavam rindo, mas antes que eu colocasse em prática tudo que pensava, ele se agachou e senti uma mão de cadeado se fechando em torno ao meu tornozelo e meu pé saindo do chão enquanto minha perna era levantada.
— O que você pensa que está fazendo, seu idiota? — Tentei me afastar, mas só consegui apoiar minhas mãos em seus ombros para evitar o desequilíbrio e consequentemente uma queda. O que aumentaria ainda mais minha cota de vexame.
— Você tem certeza de que está no lugar certo? Que não está perdida? — Ele me perguntou, ignorando meus xingamentos.
— Vou reclamar com seu patrão. Aposto que vocês deveriam estar ajudando os convidados e não rindo das desgraças deles. Isso é muito deselegante. — Soquei as costas dele e tentei afastá-lo de mim.
— Perguntei se você tem certeza de que está no lugar certo. — Naquele momento, ele parecia não estar apenas bravo, mas furioso. Talvez estivesse preocupado com minha ameaça de contar tudo ao patrão.
De forma brusca, enfiou meus pés em um par botas que deveriam pesar um quilo cada, além de enormes. Parei de socá-lo e me segurei nele para não ir direto ao chão. Percebi que estava usando apenas uma jaqueta, com um pulôver, um cachecol enrolado no pescoço e um jeans desbotado que tinha a aparência de ter sido usado desde a adolescência, nada muito quente para o frio absurdo que estava fazendo.
Olhei para o contraste entre nós dois, meu casaco preto, fino e elegante, que ia até abaixo dos joelhos, o cachecol vermelho de que não ficava atrás, as luvas de couro também vermelhas, tudo fazendo jogo com a calça de lã preta e os sapatos, que agora se encontram inutilizados. Viajei imaginando o que Eva havia dado por tudo. Melhor não pensar e tratar de cuidar, porque se mais alguma coisa acontecesse com aquelas roupas, não sabia o que que dar para poder pagar e aquilo não me agradava.
— Você não me respondeu! — ele esbravejou de forma grosseira. Realmente teria que conversar com o patrão daquela pessoa sobre os modos insolentes e poucos educados com que ele tratava as visitas.
— Esta é a ilha da família De La Cruz? — perguntei enquanto seguia tentando destravar as rodinhas da mala que também ficaram presas entre os vãos do píer. — Se for, eu não estou perdida, sou convidada.
— É, talvez você só esteja perdida no vestuário — falou, avaliando com deboche a minha roupa chique.
Quem aquele idiota pensava que era? Só deveria conhecer jeans, botas e camisas de flanelas.
— Com toda certeza terei que reclamar com seu patrão — voltei a ameaçar, mas ele apenas me olhou como se eu fosse alguma espécie rara de bicho aquático.
Com um suspiro, olhei ao meu redor, dificilmente teria ajuda daquele bando de selvagens, folgados e mal-educados. Assim que, ajustei meu chapéu na cabeça, amarrei com força o cinto de meu casaco, puxei minha mala, que ele já tinha destravado, e empinei o queixo para sair como uma madame refinada do lugar.
Só que usei força demais, as rodas voltaram a travar e com isso eu escorreguei na madeira coberta pela fina camada de gelo, estatelando a bunda na frente, não só dele, mas de todos os outros que tinham parado o trabalho e riam a gargalhadas soltas, assistindo ao meu infeliz momento. Enquanto continuava tentando me erguer novamente, meus pés calçados com a gigantesca bota deslizavam para todos os lados sem controle e eu amaldiçoei todas as infinitas gerações futuras de cada um deles, soluçando sem querer.
— Podem parar de rir, a senhorita aqui já deu o show da sua entrada. — No mesmo instante, todos os risos cessaram. Com uma mão ao redor do meu antebraço, me colocou reta e firme em frente a ele. — Vou levá-la para casa em segurança ou vamos ter que passar nossa noite em algum hospital.
Com isso começamos a caminhar. Com uma mão, ele segurava a alça da mala junto com o par de sapatos inutilizados e com a outra mantinha uma garra de aço firme em meu antebraço. Quando estávamos para sair do píer, ele parou, abriu a tampa de um tambor de lixo e jogou dentro o par de sapatos caríssimos como se fosse um guardanapo usado.
— Idiota! — berrei descontrolada. — Esses sapatos custaram dois paus na bunda! Você ficou louco?
— O quê? — Meu corpo foi sacudido e girado de frente para ele com tanta violência que temi que meu ombro tivesse sido deslocado.
— Saia do caminho, infeliz — Tratei de empurrá-lo para pegar o sapato de volta, mas ele continuou me segurando.
— O que você disse? — Agora estava espumando, só então percebi minha gafe gigantesca. A cada segundo que passava, eu conseguia me superar.
— Disse que o sapato é caro, que custou um olho da cara. Agora se me der licença... — Inclinei-me quase caindo no fundo do tambor e recuperei os sapatos, que além de esfolados e quebrados, também estavam molhados e aquilo me levou às lagrimas.
Mas não tive tempo para lamentações, pois fui praticamente lançada para dentro de um Jeep e minha mala sofreu o mesmo tratamento. Antes que eu pudesse me revoltar, minha cabeça quase foi decepada quando ele puxou o cinto de segurança e me prendeu firme ao banco, antes de se lançar a mil quilômetros por hora em uma estradinha que na minha imaginação não permitiria nada além de vinte. Quando vi pedrinhas e neve voando ladeira abaixo, me segurei ainda com mais força. O veículo iniciou uma subida íngreme e quanto mais se distanciava do píer, a vista do mar metros abaixo se ampliava revelando a beleza do lugar e era de tirar o folego.
Enquanto ele dirigia de forma endemoniada, eu tratava de manter meu corpo colado no banco, assim como minha língua grudada na boca, não queria imaginar o que poderia acontecer se ocorresse uma distração da parte dele. Quando ele parou em frente às portas de ferro forjado de uma maravilhosa mansão, minhas pernas tremiam tanto que eu não tinha coragem de me mexer.
— Tome, pode entrar, a porta não está trancada. Diga a eles que você é a hóspede retardatária e indicaram seu quarto. Agora tenho que voltar ao trabalho, — Ele tinha retirado minha mala do Jeep e agora esperava eu que descesse.
— Sim — eu disse com a voz esganiçada, ainda não estava recuperada do pavor. Ele esperava que eu descesse, mas minhas mãos estavam grudadas no banco do carro e não se soltavam.
— Não vai descer? — disse, impaciente.
— Não seja rude, seu idiota — esbravejei para ele. — Por sua culpa acho que fiz xixi nas calças.
Ele caiu na gargalhada .
— Se eu soubesse que isso poderia acontecer, teria vindo mais rápido — zombou de mim rindo ainda mais alto.
O riso continuava ecoando pelo espaço aberto e gelado, mas de uma forma estranha conseguia me aquecer e, pela primeira vez desde que eu tinha chegado, dei a ele um olhar que não era de ódio e, mesmo que ele não pudesse ver, por dentro eu também ria.
— Não zombe de mim — Abrandei meu tom, mas ainda sem conseguir soltar minhas mãos.
— Deixe-me te ajudar. — Ele deixou minha mala perto da porta da entrada e sobre ela, os sapatos destruídos.
Depois voltou e se dedicou a soltar um a um os meus dedos, que insistiam em não largar a barra de apoio. A força com que se aferravam era tanta que eu duvidava que algum dia eles relaxariam novamente. Ele continuava rindo enquanto os soltava. Quando conseguiu me deixar livre, me ajudou a chegar à porta e abriu-a, ao mesmo tempo em que tocava a campainha. Depois me deu um leve empurrão para dentro, mas eu me neguei a entrar.
— Acho melhor esperar aqui fora, não fica bem invadir. — Ele me olhou de forma estranha, como se fosse normal invadir casas alheias.
— Como quiser. Lyn logo virá, mas agora tenho que ir, os rapazes estão me esperando. Eu trouxe o Jeep que eles tinham levado para trazer os mantimentos — dizendo aquilo, subiu no veículo, mas não saiu do lugar, como se estivesse com medo de que eu fizesse mais alguma besteira.
Como continuei plantada sem me mover, ele tomou a decisão, acelerou e saiu cantando os pneus, levantando cascalhos junto com a neve rala e sumindo no pequeno caminho que descia para a praia.
Admirei mais uma vez o lugar, o mar, as várias nuances de azul contrastava com os topos brancos das arvores. Lindo. Eu não tinha muita experiência em viagens, não conhecia muitos lugares, minha vida tinha sido uma sucessão de estudo, trabalho, mais estudo e mais trabalho. Então, antes que alguém aparecesse para me levar para dentro, aproveitei para admirar a paisagem, eu já tinha visto um pouco durante a subida, mas agora, mais tranquila, conseguia me embriagar com toda a beleza sem me sentir aterrorizada.
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Então.... estão gostando?
Nossa mocinha parece um pouco desastrada, não?
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