Capítulo 1/fim
Bom dia meninas!!
Será que nossa mocinha desastrada continua aprontando?
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Enquanto o carro desaparecia, decidi não reclamar com o patrão dele, pois no final, bemmmm no final, ele tinha sido gentil comigo, um pouco rude e grosso talvez, mas aquilo deveria ser apenas falta de tato. Preferi ficar calada, afinal estávamos na véspera de natal.
— Entre, saia desse frio — girei e dei de cara com uma garota sorrindo enquanto esfregava as mãos, em frente à porta aberta.
— Ah, sim, obrigada. — Puxei minha mala e entrei em uma gigantesca sala, de onde escapava um calor aconchegante. — A propósito, sou Chaly. — É assim que todos me chamavam, eu não gostava do meu nome verdadeiro e nunca o dizia a ninguém a não ser que fosse necessário.
— Sou, Lindsay, mas me chamam de Lyn — ela completou sorrindo enquanto me ajudava com a mala. — Nossa, quanto roupa você trouxe! Está pesada — admirou-se.
— É, acho que exagerei — confirmei para não confessar que minha mala tinha sido feita pela minha amiga maluca.
— Não quero ser chata, mas porque você está vestida assim? — Percebi naquele instante seu olhar de incredulidade sobre mim, ela tinha parado na metade da escada e me encarava.
— Ah, pensei que fosse a roupa adequada.
Olhei para suas roupas, calça de ioga, camiseta de algodão e um tênis — simples e práticas. Eu não tinha nada parecido.
— Nós vamos dividir um quarto. Julia também será nossa companheira, você vai ver como ela é legal. — Apenas sorri ao perceber que ela falava pelos cotovelos.
— Que bom! Assim já começo a conhecer o grupo do escritório. — Nisso ela já estava abrindo a porta do quarto.
— Então, você é da área das que mandam ou dos que obedecem?
—Hã? Como assim mandam e obedecem? — A cada momento, aquela garota me confundia mais.
— Você é dos que detém algum título ou é assistente? Advogados, arquitetos e engenheiros mandam, assistentes obedecem. Simples assim. Alguns dão prazer de obedecer. Se é que você me entende — ela completou com uma piscadela. Sim, eu tinha entendido, eu tinha outra Eva em minha vida.
— Lyn! Onde você se meteu? — Uma garota afro-americana, com um par de olhos de gato, negros e belíssimos, estava parada no meio do quarto com as mãos nos quadris e com uma cara que pretendia ser ameaçadora.
— O poderoso patrão me pediu para esperar por Chaly, ela acabou de chegar e vai ser nossa colega de quarto — Lyn ia explicando, enquanto puxava minha mala gigante pelo quarto.
— Ah, bem-vinda, Chaly, sou Julia! — ela se apresentou, mas logo seus olhos se arregalaram, encarando-me. — Por que você está vestida assim.?
— Foi a mesma pergunta que eu fiz a ela — Lyn se intrometeu e eu tive que me esforçar para não revirar meus olhos.
— Culpa de uma amiga maluca. — Na volta para casa, eu iria matar Eva. — Esqueçam.
– Será que aí dentro você tem algo que você possa usar essa noite, que não a deixe com cara de princesa de Gales? – Julia apontou para a mala e eu me senti afundar, pois sabia que a resposta era, não.
— Ah, acho que sim — menti — Vou procurar algo adequado.
— Nos disseram que seria uma festa à fantasia, Mamães e Papais Noel, mas como você chegou tarde à empresa, acho que não ficou sabendo. — Julia continuava encarando minha gigantesca mala e eu tentava desesperadamente repassar mentalmente todos os modelitos que Eva tinha socado dentro dela.
— Acho que tenho sim.
Retirei o chapéu da minha cabeça e desamarrei o casaco, jogando-os sobre a única cama que não estava desarrumada. Eva tinha me vestido como uma madame para a viagem e, para a festa, ela havia colocado vários vestidos para que eu pudesse escolher, alguns eu tinha certeza de que jamais usaria, mas não adiantou dizer, ela os colocou da mesma forma.
Vá se divertir e esqueça aquele idiota, ou melhor esqueça de todos os idiotas que já passaram pela sua vida.
Naquele caso, ela tinha razão. Eu já tinha sido chifrada tantas vezes que havia perdido a noção de quantos foram, assim como a minha fé nos homens. A última vez tinha acontecido há pouco mais de uma semana. Logo depois de colocar um anel de noivado no meu dedo, ele decidiu combiná-lo com os chifres. A lembrança ainda me dava náuseas, eu tinha dito a ele que iria a uma noite de meninas na companhia de minhas amigas da época da faculdade e que só voltaria para casa no dia seguinte. Ele, claro, não havia gostado, mas depois de muita discussão, por fim, aceitou. Eu tive que dar a ele a liberdade para que também pudesse sair com seus amigos, ele disse que sairia, mas que voltaria cedo para casa.
— Olhe só esse, que lindo! — Voltei dos meus devaneios com as palavras de Júlia.
Ela tinha aberto minha mala, pegado um dos vestidos e estava se admirando em frente ao espelho, exibindo o modelito preto em frente ao corpo — um corpo lindo, diga-se de passagem.
— Sim, ele é lindo — concordei com ela.
— Se não fosse pela fantasia, eu pediria emprestado. — Riu.
— E esse vermelho? Que lindooooo! — berrou. — Se não fosse longo, seria perfeito para hoje à noite.
— Verdade! — lamentou Lyn, apenas um segundo antes dos olhos quase saírem das órbitas. — Menina, isso é um Valentino?
— Se aí diz é, porque é. — Não ia dizer a elas que toda a mala era emprestada e que todos os vestidos eram de grifes famosas.
— Se é um Valentino, não importa: você o usará. Eu mesma usaria se tivesse um também — sentenciou Júlia.
Enquanto elas continuavam revirando minha mala, me recostei na cama, tentando retirar um pouco do cansaço e estresse dos últimos dias. Só percebi que tinha passado do cochilo para o sono pesado, quando Lyn me acordou com uma pequena sacudida.
— Já é tarde, te deixamos dormir um pouco, mas é melhor se arrumar e descer. — Passei as mãos no meu rosto tentando espantar o sono. — Consegui isso para você, assim não vai ficar tão deslocada.
Julia me entregou um gorro de papai Noel com um pompom branco na ponta, ela também tinha um na cabeça e usava um vestidinho de Mamãe Noel tão colado ao corpo que parecia uma segunda pele, além de um par de sandálias com saltos tão altos que eu me assombrava por ela conseguir se equilibrar sobre eles.
— Vou me arrumar e já desço, mas nem sei onde fica. — Sai da cama e alonguei meu corpo. A pequena soneca havia me deixado ainda mais grogue, o efeito tinha sido o contrário.
— Vou deixar meu anel. — Lyn me estendeu a mão para que eu admirasse o belo anel de noivado. — Hoje eu quero aproveitar e ele só vai atrapalhar.
— E seu noivo? Vai trai-lo? — Não estava acreditando! Julia também deu de ombros como se não fosse grande coisa, será que eu era a única anormal?
— Não chamo de traição, só quero me divertir um pouco. — Ela deu de ombros. — Estamos indo. Quando descer, se guie pela música, não tem como se perder.
Lyn me lançou um beijinho e se foi balançando os quadris de forma sensual. Balancei também minha cabeça, sem acreditar no que ela estava prestes a aprontar e tive pena do noivo que estava a ponto de ser chifrado. Esperei que desaparecessem para entrar no banheiro e tomar meu banho, esperando que tirasse um pouco do meu sonambulismo.
Enquanto a água caia, lembrei-me outra vez do noivo que iria receber um par de chifres. Eu já tinha passado por isso. Até uma semana atrás, eu não só acreditava cegamente nele como me considerava a garota de mais sorte no mundo. Ia me casar com um homem lindo, inteligente, fino e educado, o genro com que as mães sonhavam, se não fosse um último adjetivo: cafajeste. Era como Eva se referia a ele.
Ao sair do banheiro, olhei o deslumbrante vestido estendido sobre a cama, sem me decidir se o usava ou não, mas Julia havia dito que, se fosse um Valentino, eu seria perdoada por usar um longo em uma festa à fantasia. Queria desistir, mas as palavras do meu ex noivo, atual idiota Freddy Barker e sua amante, ainda ecoavam em minha cabeça.
— Não sei como você teve coragem de ficar noivo daquela garota sem sal.
— Já te contei todos os meus motivos, mas não se preocupe, nada vai mudar entre a gente.
— Como você transa com aquilo? Ele deve ser pior que um congelador — Ela riu.
— Também não sei. Se ela fosse um pouquinho mais gostosa, eu até poderia dar uma chance.
— Não me preocupo com isso, aquela coisa nunca vai conseguir esquentar....
Meia noite e eu já estava morrendo de saudade e com pena de tê-lo deixado sozinho, entre xingamentos de umas e apoio de outras, voltei para casa. Fazia apenas um mês que havíamos decidido morar juntos e uma semana que eu carregava com orgulho o anel de noiva. Uma da manhã a reunião de 'luluzinhas' com minhas amigas, na qual tínhamos nos dedicado a ver pornografia, falar do tamanho dos membros masculinos, beber e rir como idiotas. Cansada e com vontade de pôr em ação algumas das cenas que havíamos visto, tomei o táxi e, toda boba, fui para casa fazer a ele uma surpresa, mas a surpreendida fui eu. Minhas pernas e minha bunda encontraram o chão, enquanto meus ouvidos se recusavam a continuar ouvindo. Só continuei ali porque não tinha forças para sair do lugar onde tinha caído.
— Vai, 'meu cachorrão", me fode com força, não sou aquela sua noiva aguada.
— Eu sei, ê, me dê esse cuzinho maravilhoso que ela sempre nega para mim
— Ele é todinho seu, Vai com força, sem piedade, me mostre o que você tem para mim e não dá para ela.
— Você me deixa louco, sabia? Passei o dia todo pensado nessa sua bunda gostosa.
— Então ela é todinha sua agora, cachorrão, continue, não pare.
E assim as baixarias continuaram. Eu já era uma expert em chifres, não era minha primeira vez, então sabia que não adiantava armar um escândalo, eu sairia perdendo e ainda seria humilhada. Arrastei-me para fora e fui em busca de um hotel. No dia seguinte, dei uma desculpa para faltar e enquanto ele estava trabalhando, aproveitei para fazer minhas malas. Enviei um e-mail avisando minha saída da empresa que estávamos abrindo juntos, desfazendo assim a recém-formada sociedade. Também aproveitei para mudar meu número de celular, informar o do advogado e assim resolver toda a papelada. Por correio, enviei o anel.
Com tudo, pronto liguei para Eva contando o que tinha acontecido, não era a primeira vez que ela me alertava. Depois de me emprestar seus ouvidos por quase duas horas, ela só me disse uma frase: "venha ficar comigo por uns tempos, não existe lugar melhor para dar a volta por cima que Nova Iorque".
Eu deveria ter viajado no dia seguinte, mas não pude. E assim apenas quatro dias depois, lá fui eu dividir o minúsculo apartamento com uma das minhas melhores amigas de toda a vida. O que eu não tinha contado a Eva era que ele tinha me encontrado, aquela parte eu queria esquecer e tinha sido por isso que eu não tinha levado nada. Eu fugi levando comigo apenas a roupa do corpo e o pouco de dignidade que ainda me restava.
Um suspiro involuntário escapou dos meus lábios, eu realmente estava tentando ir adiante, conhecer novas pessoas, mudar minha vida. Prova disso era vir para uma festa na qual eu não conhecia absolutamente ninguém e acompanhada apenas da minha coragem.
De banho tomado, era hora de me arrumar. Mesmo não conhecendo os outros convidados, tentaria me divertir. Duas eu já conhecia e tinham sido legais, maluquinhas como Eva, apenas isso. Espalhei sobre a bancada do banheiro itens de primeira necessidade de todas as mulheres, olhei tentando me decidir para que lado ir, uma maquiagem simples, batom, máscara e blush ou algo mais atrevido. Optei pelo atrevido, um Valentino vermelho não merecia nada menos.
Quando terminei, me olhei no espelho e a vontade de rir de mim mesma foi grande, me senti a própria Jessica Rabbit. A fenda da abertura do vestido subia até a metade da coxa e rivalizava com o decote que descia até quase o umbigo. Ainda rindo, me virei de costas para ver como estava a retaguarda, nada mal, eu não tinha uma bunda avantajada, mas em compensação meu corpo era harmonioso. Terminei de calcar as sandálias, joguei um perfume maravilhoso nas mãos — também de Eva — e espalhei pelo pescoço.
Ao sair do quarto, fiquei perdida. Não seria tão fácil encontrar o local assim como Lindsay havia dito, não se ouvia absolutamente nada, mas, à medida que descia as escadas, um som, que no início era baixo, foi ficando cada vez mais alto. Fiz como ela havia dito e segui a música que vinha de um corredor e no final encontrei uma porta antiga fechada, de onde escapava o som de um rock anos oitenta. Eu a abri devagar, passei e fechei-a novamente atrás de mim. Parei no topo da escada que dava acesso à festa, que acontecia no porão da casa.
Respirei várias vezes para impedir minhas pernas de fugirem do local, pois percebi que muitos rostos estavam virando em minha direção e o burburinho que havia no início tinha diminuído em um oitenta por cento. À medida que os segundos passavam, meu desconforto apenas aumentava, tanto que voltei a cogitar a possibilidade de dar a volta e sumir. Ninguém aqui me conhecia, eu só começaria a trabalhar na volta do recesso de final de ano. Decidi desaparecer, já que ninguém lá embaixo se mexia, apenas me olhavam como se eu fosse uma extraterrestre, nem Lindsay ou Julia eu via para poder pedir socorro.
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Aqui conhecemos um pouqinho da nossa Chaly. O que acharam?
O proximo cap será do Juan Elias, até lá bjs,
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