INOCÊNCIA PERDIDA
Um calor de quase trinta e dois graus, um final de tarde do dia quinze de fevereiro. Depois de um dia com um sol extremamente forte, o mormaço causado pelo verão ainda erguia uma pequena fumaça no asfalto quente na frente da casa de Nolan, que estava sentado diante do ventilador ligado na velocidade máxima em seu quarto. Trajando somente uma toalha enrolada em seu corpo, o jovem tinha saído há pouco do banho, mas o corpo já suava como se tivesse acabado de correr por quilômetros. O verão sempre foi uma época detestada por ele, quando precisava usar roupas curtas e as vezes mais claras por conta do calor. O sol, o suor, o desconforto para fumar um simples cigarro escondido do lado de fora de casa. Tudo era extremamente incomodo e insuportável nessa estação.
Ficar na frente do ventilador com o vento tocando o corpo úmido causava uma sensação muito refrescante, mas um movimento em falso e o calor já o atingia novamente. Nolan estava se preparando para encontrar duas das pessoas mais importantes de sua vida: Thália e Antônio. Amigos que tinha conquistado e que o tinham conquistado. Sua amizade vinha se desenvolvendo desde o começou do ensino médio, uma das piores fases de sua vida, que somente foi suportada pela presença iluminadora dos dois. Antônio era um ano mais velho que Nolan e Thália. Se conheceram por acaso em uma saída noturna, entediados em um círculo de pessoas desconhecidas, acabaram se conhecendo e a partir daquela noite, não se separando mais.
Estavam quase sempre juntos. Passavam dias nas casas uns dos outros, faziam pequenas excursões, acampamentos, festas particulares e diversas atividades. Adoravam a companhia um do outro e parecia que não conseguiam mais viver separados. Antônio tinha conseguido pegar o carro do irmão mais velho, prometendo levar Nolan para uma noite inesquecível em seu aniversário de dezoito anos. Ele e Thália compraram bebidas, petiscos rápidos e cigarros para sua pequena "junção da maioridade".
Nolan estava ansioso pelo momento. Passar esse dia com eles seria incrível para marcar esse momento de sua vida. Eles logo iriam para a faculdade, iriam se separar por alguns quilômetros de distância, mas com a promessa de sempre se verem, já que estariam razoavelmente próximos.
Já eram dezenove e trinta. Nolan vestiu-se, escondeu sua carteira de cigarros pela metade na mochila, colocou alguns CDs dentro da mesma, uma garrafa de Curaçau enrolada em um moletom e alguns copos plásticos. Olhou o celular e viu o aviso de Thália de que estavam chegando para pegá-lo.
Correu pelo quarto para arrumar um pouco da bagunça que tinha feito. O movimento foi fazendo seu corpo suar mais um pouco. Quando estava satisfeito com a rápido arrumação, pegou suas coisas e foi até a cozinha onde estava sua mãe, fumando, sentada em um pequeno sofá enquanto assistia ao jornal na TV do cômodo. Avisou-a que estava indo encontrar os amigos, deu um beijo em seu rosto, ouviu o sermão de precauções padrão que ela sempre lhe dava, e foi para frente de casa.
Uma onda de calor mais forte ainda o atingiu quando abriu a porta. Ficou aguardando pelo carro por alguns minutos, até que o avistou no final da rua. Correu para o portão, e quando o automóvel parou, seus amigos desceram o mais rápido possível e o abraçaram com toda a força que tinham. Apesar de não ser o maior amante de contato físico, aquele momento pareceu preencher sua alma. Estava com pessoas que amava e se preocupava. Seria uma noite maravilhosa ao lado deles.
Entraram então no carro. Nolan foi para o banco traseiro com as outras mochilas. Quando arrancaram, Antônio já pediu para que alguém acendesse um cigarro e o passasse. No rádio do carro, um rock desconhecido para Nolan foi posto para tocar, não se importou. Acendeu três cigarros, um para cada um e começaram assim, a breve viagem de comemoração de seus dezoito anos.
Alguns minutos na estrada e já tinham passado pelo centro da cidade, e agora estavam em bairros mais afastados. Quase nos limites para a rodovia. Nolan questionou onde iam, e a única resposta que obteve foi de que seria uma surpresa.
A autoestrada estava completamente vazia. O pôr do sol já cedia seu lugar para a massa negra da noite. O vento morno entrava pelas janelas abertas. A música em um volume mediano para que pudessem conversar. Tudo estava perfeito. Nolan sentia-se muito bem. Parecia estar vivendo em um clipe ou em uma daquelas cenas de filmes adolescentes onde as coisas estão perfeitas em um momento mágico.
Entre risadas, música, cigarros, bobagens ditas, lembranças de momentos embaraçosos dos três e agora, alguns goles de bebida alcoólica, seguiam viagem para acampar, beber (ainda mais) e se divertirem. Para viver mais momentos bons uns ao lado dos outros. E sem saberem, para um dos últimos momentos juntos.
Já faziam quase duas horas que estavam na estrada, a energia do grupo não tinha sido abalada em nada pela viagem. Estavam ansiosos para chegar e poderem aproveitar. A noite tinha se instalado. Outro cigarro aceso por Nolan. Fumar compulsoriamente quando estavam juntos e longe de pais ou parentes, era comum. O vicio dos três, tinha começado praticamente ao mesmo tempo, quando se conheceram e resolveram "experimentar". A partir daí, foram aderindo e sempre que estavam juntos, fumavam.
A música terminou, e começou Born To Die, da Lana Del Rey. Nolan deu um gritinho de animação, colocou o cigarro no canto da boca e se esticou para aumentar o volume e falou:
- Finalmente uma música minha depois de tanto tempo!
- Chegou a era da tristeza na viagem. Não sei como você gosta tanto dela – Falou Antônio.
- Deixa, é aniversário dele. E as músicas não são ruins para falar a verdade. – Concluiu Thália.
- OBRIGADO! – Respondeu Nolan em tom irônico, voltando para seu acento e recolocando o cinto.
- Ficou com medo de morrer, né! Até colocou o cinto. – Ironizou Antônio.
Os três riram com um certo desconforto pela piada, e ele logo sentiu-se mal por tê-la feito.
- Seria tragicamente poético se acontecesse enquanto toca essa música. – Disse Thália olhando para fora.
- Impossível acontecer isso em uma estrada seca e sem uma viva alma, né garota.
Quando Antônio concluiu a fala e retomou a atenção para a estrada iluminada pelos faróis do carro, um vulto surgiu do meio da mata correndo e parou na frente do carro. A cena foi apavorante e Nolan foi o primeiro a processar o que viram. Um homem sem camiseta, totalmente ensanguentado, com uma bermuda esfarrapada e somente um pé de tênis calçado tinha saído corrido para o meio da estrada e parado ali mesmo. Mal houve tempo para reação do motorista quando uma figura aberrante surgiu do meio da floresta e voou sobre o corpo do homem apavorado. Os dois se embolaram, e no mesmo momento, sem tempo de frear, o carro bateu com tudo nos dois.
Tudo pareceu parar naquele instante. Os dois corpos tinham voado contra o para-brisas e rolado por cima do teto do automóvel. O carro derrapou por alguns metros, de lado, girou duas vezes sobre as quatro rodas, e parou, virado com o lado do motorista na direção de onde as duas figuras tinham surgido.
Os três amigos estavam atordoados. Nolan, que estava segurando uma garrafa de bebida e perto das outras, estava todo cortado com os cacos. Thália e Antônio estavam zonzos, porque os cintos de segurança tinham sido abruptamente ativados e acabaram por sufocar lhes ligeiramente, e ainda tinham alguns cortes e fontes de sangramento por conta dos vidros que tinham cortado Nolan, e voado por todo o carro.
O para-brisas do carro estava com uma rachadura imensa. A lataria da frente estava toda amassada e parecia ensanguentada. Mas isso era o de menos. Eles tinham atropelado dois homens, ao que parecia, pelo menos.
Na estrada, onde haviam batido, havia uma mancha gigantesca de sangue. Os dois corpos caídos tinham sumido da frente do carro. Estavam virados para o lado oposto da floresta e vendo somente a barreira de contenção da beira da estrada.
Após alguns segundos, Antônio começou a choramingar e falar repetidamente que eles estavam ferrados. Ele olhava fixamente para o volante do carro, ignorando completamente tudo ao seu redor.
Thália virou-se para trás para checar como Nolan estava e quando fez isso, paralisou na metade do caminho e seus lábios começaram a tremer. Nolan, ao perceber a paralisia, seguiu o olhar da amiga na direção de onde estavam os dois corpos. As duas silhuetas que tinham rolado por cima do carro antes dele girar, estavam lá, eram mal iluminadas pela lâmpada amarela de um poste de luz, que não dava conta de criar uma área de visão muito grande, já que era um dos poucos a existir por ali.
Quando olhou para onde Thália estava olhando, viu um dos, até então, "cadáveres", levantando-se entre tremidas e tentativas de recobrar o equilíbrio. A enorme figura meio disforme pareceu ficar de quatro, e era colossalmente assustadora.
Antônio se virou para olhar também quando Thália o cutucou freneticamente, e ele tomou um susto maior ainda, porque quando conseguiu começar a processar a imagem, aquela coisa ficou em pé como um homem, mas era bem maior do que esperavam. A figura, ainda cambaleante, deu dois passos na direção da floresta, parou, arfou fortemente e se esticou com certa dificuldade, quando fez isso, o som de estalos como de ossos se quebrando, foi alto demais para ser ignorado e tratado com naturalidade. Antônio simplesmente vomitou todo seu almoço de horas atrás pela janela.
O som do vômito, chamou a atenção do quer que fosse aquela coisa, e fez com que ela lentamente se virasse com um olho fechado e o outro semicerrado na direção deles. Parecendo recobrar totalmente sua consciência e foco, como se não tivesse acabado de ser atropelada em alta velocidade e arremessada como um boneco de pano.
Os três congelaram em pânico com a cena. Um ronco muito parecido com um rosnado alto chegou aos seus ouvidos, vindo da direção daquilo que agora parecia estar atento a eles. Alguns novos estalos pelo corpo estranho e deformado que estava em pé, e de repente, dois olhos vermelhos brilharam na escuridão. Um frio subiu pela espinha de Nolan, que só conseguiu tocar no ombro do amigo repetidamente para que ele saísse dali o mais rápido possível.
- Vai, vai, vai. Arranca daqui com esse carro, pelo amor de Deus, garoto!
O motorista atordoado, pareceu acordar de um transe. Engatou a marcha e girou o volante para manobrar o carro em pânico. Alinhou rapidamente a parte dianteira e acelerou o máximo que pode. Nolan rapidamente ficou de joelhos no banco traseiro para olhar para a cena que deixavam para trás.
A estranha criatura começou a ajeitar o corpo e a ficar de quatro lentamente enquanto os ossos ainda se ajeitavam, alinhando-se para o carro, e disparou em uma corrida ensandecida atrás deles. Thália gritou pedindo para que ele acelerasse mais ainda, e as mãos de Antônio tremiam no volante, o pé pisando o mais fundo que conseguia, e Nolan gritando, enquanto o que ele agora identificava como um animal, aumentava a velocidade e parecia flutuar de tão rápido que vinha na direção do carro, com aqueles olhos vermelhos cheios de um brilho próprio que causava um desconforto e um medo inexplicáveis.
A velocidade do carro só aumentava. Um dos pneus parecia estar murchando, e o vidro rachado causava uma angustia no motorista por atrapalhar a visão, mesmo que estivessem em uma estrada limpa e vazia.
Thália estava desesperada, constantemente olhava para trás, choramingava, batia no braço de Antônio pedindo para que acelerasse ou para que, magicamente, fizesse com que tudo aquilo deixasse de acontecer. Nolan estava mais desesperado ainda, principalmente por estar vidrado, cuidando a distância entre eles e aquela aberração, que a cada passo, parecia ficar mais rápido e diminuir a distância entre eles.
Em muito pouco tempo, a silhueta com olhos vermelhos foi pegando mais velocidade e já se tornava mais visível: um animal gigante, era imenso em quatro patas, parecia ser da altura do carro, tinha uma cabeça grande e comprida, com feições caninas perturbadoras. O focinho longo conferia um ar mais macabro ainda, e o enorme copo possuía pelos longos e esvoaçantes, que pareciam ser um marrom escuro salpicado de preto. Apesar do barulho do carro acelerando, o animal estava bufando muito alto, e pequenos relances do som abafado e continuo que ele fazia ao correr, chegavam aos ouvidos de Nolan.
O animal começou a acelerar ainda mais, mesmo quando isso parecia não ser mais possível. Nolan engoliu a seco uma rajada de vomito que subiu por sua garganta e mal teve tempo de raciocinar quando seu perseguidor diminuiu a velocidade por um breve segundo e saltou no ar. Com esse pulo, aquela fração de segundo que se passou entre ele desaparecer da traseira do carro e o momento em que ele pousou em cima do automóvel, pareceu se arrastar por uma eternidade em câmera lenta enquanto seu cérebro se esforçava ao máximo para pensar se ele gritava ou se ele começava a chorar.
O choque do peso absurdo do animal com a lataria, fez com que os três gritassem a plenos pulmões. Pior ainda foi quando tudo retomou sua velocidade verdadeira, e Antônio começou a frear o carro. Nolan, por sorte, caiu no chão. Não sem ferimentos. Os cacos de garrafas causaram cortes enormes em seu corpo, e seu braço direito parecia ter sido esmagado por uma montanha. Quando o carro finalmente parou, os dois passageiros da frente estavam atônitos, sangrando e tontos. Nolan estava no chão gemendo de dor, e o animal, que havia praticamente voado metros na frente do carro, já estava em pé, andando decididamente na direção deles.
Nolan, no chão, quando pensou em começar a se recuperar, somente conseguiu ouvir o som do vidro do para-brisas sendo estilhaçado e seus dois amigos berrando em pânico. Seu cérebro liberou diversos alertas para todo o corpo dolorido, e ele se levantou o mais rápido que pode para o banco, e para uma cena que sempre o marcaria: As pernas de Antônio estavam atravessando aos chutes um por buraco do para-brisas, enquanto Thália tentava desesperadamente segurá-las e gritava descontroladamente.
Um puxão mais forte e o garoto foi arrancado de dentro do carro. Com o braço esquerdo, Nolan soltou o cinto da amiga e tocou-a no ombro, para que ela, de alguma forma, se alertasse e fizesse algo em relação ao carro. Thália, ainda gritando, pulou para o banco do motorista e procurou em sua memória como dirigir um carro, e Nolan, foi passando o mais rapidamente possível para o banco do carona segurando um pedaço de caco de vidro e um isqueiro. Ambas as ações foram interrompidas quando um grito gorgolejante veio da frente deles e o som de algo sendo esmagado foi mais alto do que seus próprios pensamentos e o som de seus corações batendo aceleradamente em suas cabeças.
Os dois olharam para fora e viram aquele enorme animal sendo iluminado pelo farol que ainda funcionava. Os olhos agora estavam esverdeados, como os olhos dos animais quando refletem a luz de noite. Ele estava em pé, segurando um corpo inerte em seus braços, com a boca cravada na parte entre o pescoço e o ombro daquele cadáver, cobrindo toda a estação abaixo da cabeça, parecia que poderia engolir Antônio inteiro de uma só vez, e os olhos do cadáver estavam vidrados, olhando diretamente para os dois dentro do carro.
Uma sensação de desolação recaiu sobre eles. Seu amigo estava ali, morto, nas garras de uma besta assassina. Eles estavam completamente desprotegidos e isolados com aquele animal em sua frente, com somente alguns passos os separando de um novo ataque, e da morte. O enorme ser apertou a mordida mais uma vez, e o corpo caiu no chão, restando somente o pescoço e a cabeça do rapaz, com jatos de sangue e pedaços pendendo da parte decepada.
Os dois simplesmente desabaram a a chorar. Thália cobriu o nariz e a boca com a mão esquerda, e se deixou levar pela emoção, enquanto Nolan, ficou completamente imóvel, com um olhar fixo naquela cena, sem piscar e com lágrimas começando a sair dos olhos vidrados. Ambos começaram a tatear cegamente, buscando o conforto do toque um do outro. As suas mãos se encontraram e se apertaram firmemente. Viraram-se um para o outro, sabendo que aquele seria seu último momento juntos. Seria o momento de suas mortes, o fim de tudo, sem ninguém saber o que aconteceu, sem explicações, sem dignidade e, provavelmente, com uma violência infernal.
O enorme ser lupino abriu a boca ensanguentada e deixou cair aquele pedaço morto de carne. A boca pingava um sangue grosso e escuro, que escorria pelo pescoço e pelo enorme peito do animal que respirava calmamente. Ele então andou como um ser humano, exalando uma energia de violência e falta de escrúpulos. Parou bem na frente do automóvel, subiu na lataria, ficou em pé e uivou. Um som infernal e ensurdecedor. Um uivo longo, fúnebre. Uma orquestra diabólica, um prenúncio de morte e sofrimento.
Os dois fecharam os olhos e continuaram chorando de mãos dadas. Não houve tempo de abrir os olhos para se verem inteiros uma última vez. Enquanto ainda uivava, o enorme lobisomem se jogou na direção do vidro como um nadador mergulhando. O peso e a força da ação, terminaram de vez com o restante do vidro que ainda perecia. Nolan foi pego em uma cacofonia de gritos, rosnados, som de ossos quebrando, de carne mastigada e dos jatos de sangue que banharam seu rosto.
O banco onde Thália estava, cedeu com o peso dos dois e com a violência do ataque, e caiu para trás. O enorme animal cobriu completamente o corpo da garota e agora chacoalhava a cabeça, jogando sangue e carne para todos os lados. O interior do automóvel se tornou um mar vermelho. Nolan foi atingido no pescoço e nos ombros pelas garras do animal. Abrindo quatros talhos sangrentos na carne. A enorme cabeça pesada também batia eventualmente nele, deixando-o mais atordoado ainda.
Apesar do desespero e de um impulso de pelo menos tentar salvar uma das pessoas mais importantes de sua vida, ele desferiu um soco na cara do animal que atacava sua amiga. Não foi nada útil, ele não parou de estraçalhar o corpo inerte e de se banhar no sangue de sua vítima. Nolan então buscou forças ocultas em seu ser e destravou a porta ao seu lado, abriu-a e jogou seu peso para fora do carro. Caiu pesadamente no asfalto morno e prontamente começou a tentar se arrastar para longe daquele banho de sangue. O corpo dolorido. O corte das garras assassinas queimando, sangue que ele não sabia se ele era dele, de sua amiga ou do animal, cobria seu corpo, e um pânico crescente enquanto ouvia o animal dilacerando o cadáver dentro do carro.
Pior do que ouvir aquele arranjo de sons nojentos, foi não os ouvir mais. Ele tinha perdido o interesse na carcaça. Tinha parado de estraçalhar. Nolan congelou no chão. Ouviu uma bufada pesada, e logo depois, o barulho do carro sofrendo com a mudança de peso e o som de garras grossas e grandes batendo no asfalto atrás de si. O lobisomem tinha saído para ir atrás dele. Estava ali, parado em pé, o pelo encharcado de sangue e com pedaços de carne, uma visão horrenda. Agora respirando pesadamente e fitando-o de uma forma curiosa.
Rapidamente Nolan começou a tentar se levantar para correr, contrariando todas as suas dores e feridas. Não foi rápido o suficiente. Sentiu o peso de uma das mãos de seu algoz atingi-lo nas costas, e com ela, a queimação da carne se abrindo sob as garras que o atingiram. Gritou desesperadamente e cambaleou para a frente. Caiu na terra do acostamento. O animal se pôs em quatro patas e o acompanhou. Quando caiu no chão, a pata pressionou seu corpo para baixo, e ele sentiu um focinho longo e ensopado cheirando sua nuca. As garras que o prendiam contra o chão roçaram eu suas costas, cortando mais ainda o tecido da camiseta e aumentando a dor na ferida recém causada.
O lobisomem colocou o rosto ao lado da cabeça de Nolan e rosnou em sua orelha, lambeu seu cabelo, apertou-o ainda mais contra o chão e, com a pata livre, segurou a cintura de Nolan, passou o focinho por suas costas, nádegas e coxas, e finalmente, desferiu uma mordida vigorosa na batata da perna de sua perna. A dor foi insuportável. O grito foi abafado pela terra e pela grama. Pontos luminosos tomaram conta da escuridão dos olhos fechados e uma tontura que parecia que o apagaria totalmente, completaram todos os sentimentos que foram impostos a ele naquele instante.
O peso que o prendia contra o chão, foi suspenso. Nolan continuou ali, deitado, soluçando, sangrando, sentindo-se morto. Manteve os olhos fechados, sentindo o lugar da mordida queimar como o inferno. Parecia que centenas de cobras venenosas tinham inoculado seus venenos naquela região da mordida. Esperou o abraço da morte. Que não veio. Um novo uivo foi dado para o céu. Uma tontura maior ainda tomou conta de Nolan quando ele tentou se levantar apoiando-se no braço bom para olhar para trás. Somente pode ver de relance a figura diabólica pular em cima do carro e depois saltar para o outro lado pesadamente.
Seu corpo inteirodoía. Sentia-se violado. Sua alma estava despedaçada. Vislumbrou uma lua crescentealta no céu noturno. Sentiu mais uma vez uma queimação gigantesca por todo ocorpo. Já não era nem mais dor que ele sentia, estava quase anestesiado pelo calor. Então, a escuridão tomou conta de suamente e então, ele apagou.
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