V
Angeline caminhou até sua varanda. Desenrolou o jornal do dia e sentou-se em sua cadeira. Nada de notícias boas. A guerra entrava em sua decisiva parte. A mais sangrenta.
Como uma mente que reerguia-se naquele caos, ela detectava o dito estado. Era o único assunto que conhecia, e o que abrangia várias temperaturas profundas da história. Quentes ou gélidas. Enquanto judeus eram mortos em massa em Awchivtz, o feroz exército alemão invadia mais ainda o inverno russo. As temperaturas se equilibravam.
O jornal voou de sua mão. O vento que soprava da Itália dominada era forte. Angeline não abaixou para pegá-lo no chão. Sequer fez força para se balançar. Respirou fundo. Esticou as pernas. Fechou os olhos. Ergueu a cabeça. Desprendeu seu corpo.
Após segundos, voltou a centrar-se no físico. Olhou para os gêmeos na praia. Brincavam na areia. Giovanni tentava construir um castelo, mas sua idade não se rendia às suas vontade e seriedade. Tomé fazia figuras na areia. Sorria. Elas saíam tortas, e ele satisfeito. Ettore só observava. Vigiava-os e forçava sorrisos discretos. Relaxava olhando-os. Relaxava na pureza da situação. Da fuga do mundo que aquelas crianças representavam.
Angeline abaixou o olhar. Fincou de novo os pés no chão. Deu outra olhada para a ação do vento. Para a forte maré. Voltou a balançar-se. Aproximou-se da ação em sua máquina de escrever. Da sua mente em letras:
"Palermo, 29 de junho de 1942.
Os pés pesados amassam o chão de terra. O soldado italiano liberta as crianças judias. Corre junto delas da guerra. Do mundo. Corre com as passagens para longe. Vai em busca da inocência. Da condição que o traiu e para a qual se atraiu. Corre para desfazer esta rima. Suja suas botas para tornar límpido seu caráter. Liberta as crianças judias para se ver livre. Chega, ofegante da fuga. Olha para os lados. Não há memórias. Não há liberdade. Só resta uma foto que ele guardou. A foto que logo entregou. A imagem que representa a condição. Condição das crianças que deixou na casa. No lugar sem passado. Do qual foi embora com desgosto.
de Angeline Dellatorre
para Angeline Dellatorre."
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro