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XVI - Os Segredos

No reino inteiro os comentários eram sobre um único assunto: o Baile de Inverno. A maioria das conversas eram acerca dos convidados, dos possíveis casais e dos boatos que rondavam certas famílias. Aquela noite seria lembrada por muitas décadas pelo povo de Treevalon.

Contudo o Baile em si foi a última coisa que passou pela mente do Conde Pesley no dia seguinte. Ele lembrou das mãos de Gregory em seu corpo, dos beijos calorosos e das palavras sussurradas. Não conseguiu afastar os pensamentos daquela sala pequena onde estiveram juntos e nem da proximidade dos corpos ou do ápice do prazer e obrigou-se a pensar em outro assunto porque a calça começou a incomodá-lo.

Teriam um dia a sós para pintarem e desenharem juntos logo, recordou com ansiedade. Por causa disso, decidiu ir até o porão vasculhar os quadros e telas que ainda restavam.

Espirrou por causa do ambiente empoeirado e o castiçal em mãos iluminou algumas partículas de poeira à frente. Poucas telas em branco haviam sobrado e segurou-as com a mão livre, pronto para sair dali. Virou-se, mas, como o ambiente estava escuro, tropeçou em algo e caiu.

Papéis voaram pelo lugar, levantando uma nuvem de poeira. As telas caíram no chão junto com Theodore. Um papel demorou para cair, flutuou e chamou sua atenção pois continha a caligrafia da mãe. Com o coração acelerado e os dedos tremendo Theodore abriu-o.

"Querida amiga,

Os dias com o Conde têm sido estáveis. Nunca sei quando ele terá uma reação mais agressiva. Num dia ele grita comigo e no outro apenas me provoca com comentários maldosos. Ele deseja um filho homem e deixou bem claro que uma filha não será bem-vinda. Desejo que você volte logo para amenizar minha tristeza, pois sinto que nos tornamos grandes amigas.

Condessa de Pesley"

Quem era aquela amiga para quem a mãe mandara a carta? Virou o papel entre os dedos, mas não encontrou nada que indicasse seu nome. Dentro do envelope, no entanto, descobriu uma carta de resposta.

"Vossa Alteza,

Não possuo meios para apaziguar o seu coração. Os casamentos são difíceis e lamento que o Conde pense desta maneira. O pai de Ben também desejava um menino, acredito que isto é normal entre os homens. Não deixe-se abalar, faça o que lhe deixa alegre para amenizar os dias ruins.

Jane Denvers"

A Sra. Denvers! Ambas pareciam ter intimidade. Theodore sabia que Jane possuía a mãe em grande estima e aquilo comprovava que a amizade das duas era forte e duradoura.

Na caixa na qual tropeçou, viu outros envelopes recheados de papéis dobrados. Permaneceu sentado no chão, sem importar-se com o fato de que a roupa que vestia certamente ficaria empoeirada. Ali estava o seu passado, a sua história, a história da mãe que tanto amava, pela qual cumpriria, mesmo sem saber como, aquela promessa fatídica. Tentou lê-las em ordem cronológica, até que as correspondências entre ambas pararam, provavelmente porque a Sra Denvers havia voltado da viagem que estava fazendo para cuidar dos pais.

Uma outra correspondência chamou a atenção de Theodore, cartas enviadas da Sra. Denvers para Ben.

"Amado filho,

A morte da Condessa pegou-me desprevenida. Ela era uma mulher cheia de vida e lamento saber que Theodore crescerá sem mãe. Restou para o garoto apenas o Conde, um pai distante e frio que sequer fala com ele. Devemos ajudá-lo e apoiá-lo, Ben. Vocês têm a mesma idade e peço para seu pai ler esta carta para você. A Condessa adorava você e sempre deixou-o correr livre pelo Castelo. Ela amava vê-lo brincar com Theodore, que sempre foi um menino muito sozinho e triste. Portanto, o que acha que passarmos mais dias aqui no Castelo?"

Theodore lembrou-se que a Sra. Denvers deixava Ben com o marido alguns dias enquanto trabalhava e lá o garoto aprendera a cuidar dos animais, do pasto e das hortaliças. Após o falecimento da Condessa a sra. Denvers começou a trazer o filho ainda pequeno com mais frequência para o castelo, alegrando Theodore.

As lágrimas encheram seus olhos e deixou-as rolar, afinal, não havia ninguém ali para julgá-lo. Então encontrou cartas mais próximas da data de morte do pai e esforçou-se para se concentrar.

"Mamãe,

o Conde está cada vez mais debilitado e, como a senhora diz, ele foi um péssimo marido para a Condessa. A senhora diariamente cede aos caprichos dele e cuida-o como se fosse sua enfermeira. Isto não é certo, podemos fazer algo.

Ben Denvers"

Theodore franziu o cenho, intrigado com aquela frase final. O que ele queria dizer com "fazer algo"? Vasculhou, com ansiedade, até encontrar a resposta da Sra. Denvers.

"Ben,

você não é mais uma criança e precisa ajudar seu pai no campo. O Conde está debilitado, é verdade, mas logo tudo acabará, tenho certeza. Sinto pena de Theodore, porque o garoto ficará desamparado, mas não há nada que possamos fazer. Ou tem alguma sugestão? Eu tive ideias, pois o Conde está com pneumonia e isso aliviaria o sofrimento dele, mas tenho medo. Irei destruir estas cartas logo.

Jane Denvers"

Theodore encarou o papel, boquiaberto. Ela seugeriu... livrar-se dele? Theodore lembrou-se das circunstâncias da morte do pai, agarrado ao papel como se ele pudesse lhe dar respostas. Concentrou-se para recordar cada detalhe. A janela estava aberta, a noite ventava e estava fria. Havia perguntado-se, diversas vezes, por que a janela estivera aberta, por que o pai havia aberto-a, mas... E se alguém tivesse feito aquilo de propósito? A pior parte daquela descoberta era saber quem havia feito aquilo. 

"Mamãe,

A pneumonia é uma doença grave e qualquer tempo gelado ou vento é capaz de piorá-la.

Ben Denvers"

Ben, que era seu melhor amigo. Ben, a quem considerava como um irmão. Ben. E a Sra. Denvers, que havia agido como sua mãe por tanto tempo! Com os olhos fixos e cheios de lágrimas, Theodore passou os dedos pelo rosto com irritação. Chorando como um garotinho novamente. As pessoas em quem mais confiava, as únicas pessoas que considerava como sua família, não mereciam sua confiança. Havia sido ingênuo por acreditar que alguém gostaria de ser seu amigo sem um interesse maior. O que eles ganhariam com a morte do pai? Não fazia sentido!

Ouviu passos no corredor e, em seguida, um barulho de sapatos subindo as escadas do porão. A sra. Denvers surgiu no espaço apertado segurando um castiçal e olhou-o intrigada. Os olhos dela voltaram-se para a caixa ao lado de Theodore e se arregalaram. A surpresa foi tamanha que ela deixou o castiçal cair e, por pouco, o fogo não se alastrou.

Theodore olhou-a, ainda sentado no chão, com fúria. Segurou as cartas com raiva e jogou-as na mulher, levantando-se num rompante em seguida. Fechou as mãos em punhos e gritou:

━Não quero vê-la no castelo nunca mais, tampouco Ben. Vá embora e não volte.

━Senhor, por favor! Ela uniu as mãos como se implorasse por algo.

Theodore negou veementemente com a cabeça e disse:

━Não quero ser obrigado a usar minha força para tirá-la de minha propriedade.

━Seu pai nunca foi um bom pai! Mas o senhor é diferente! Ela exclamou, como se aquilo anulasse e justificasse todo o resto.

━Não importa. Você e Ben planejaram matá-lo.

A Sra. Denvers resignou-se, cansada, e assentiu com a cabeça. Antes de sair, com o olhar marcado pelas lágrimas, ela murmurou:

━Ele mereceu.

Theodore atirou o castiçal contra a parede na direção da mulher, mas ele bateu de encontro à parede e espatifou-se no chão um segundo após a partida dela. Deslizou até o chão e enterrou o rosto nas mãos. Havia descoberto que o pai tinha sido um péssimo marido e que a governanta e seu filho haviam conspirado para matá-lo, com sucesso. Não entendeu os motivos por trás daquela decisão ardilosa. Chorou copiosamente por horas no cômodo escuro, sentindo-se mais próximo da infância triste e cheia de perdas do que nunca.

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Alguns dias a rotina da família Lynch era repleta de brigas, provocações e discussões. Os dois irmãos geralmente iniciavam as faíscas que poderiam ou não tornarem-se algo mais grave como um embate corporal. Naquele dia, os irmãos pareciam calmos e evitaram-se na maior parte do tempo.

A cena que Gregory havia visto no bordel continuava rondando sua mente. Seria um escândalo se alguém tivesse visto o Príncipe Eric naquela situação. Pior ainda era saber que Gavin era amigo dele; mas não uma surpresa. Gavin sempre desejara tornar-se mais prestigiado e ressentia Gregory por ser quem herdaria o título e as propriedades da família.

Prestes a entrar na sala de chá, o filho mais velho dos Lynch ouviu cochichos entre Gavin e a mãe. A viscondessa mostrou um tom de voz alarmado enquanto Gavin inclinava-se em sua direção com o dedo em riste, parecendo ameaçá-la. O impulso de Gregory foi de intrometer-se, mas ouviu o irmão sussurrar um nome no ouvido da mãe e deteve-se:

Eric.

Tentou lembrar das vezes que a família real foi assunto ali, mas não conseguiu. Geralmente não conversavam sobre o rei Leon e seus descendentes. Por que não falavam com mais frequência da realeza, visto que eram parte da nobreza? Sua mente divagou em hipóteses e seu cérebro ansioso por um mistério, obrigou-o a dar um passo no aposento, fazendo a mãe e o irmão assustarem-se com sua entrada repentina.

━Algo errado com o Príncipe Eric? Perguntou com o semblante curioso.

A mãe abriu a boca, olhou para os filhos com nervosismo e ajeitou o vestido verde-musgo que usava. A boca comprimiu-se numa linha fina, visivelmente desapontada com aquela intromissão.

━Não, Gregory. Gavin e eu estávamos apenas conversando sobre o Baile.

Gregory encarou, com suspeita, o irmão. Ele estava nervoso, olhando para o relógio de bolso a toda hora, parecendo ansioso para ir embora.

━Gostou da companhia da Srta. Rose, Gavin? Gregory resolveu provocá-lo.

Haviam sido hostis um com o outro a vida inteira e Gregory não lembrava-se de um momento em que trocaram palavras gentis ou amenas. Gavin sempre encarava-o com uma carranca, como se o fato de Gregory existir fosse o suficiente para odiá-lo eternamente.

━Sim, mas jamais me casaria com uma plebeia.

━Os Collins podem ser plebeus, mas tem mais carisma do que você, rebateu e o peito estufou de raiva ao pensar em Lavender sendo insultada daquela forma.

━Me pergunto porque prefere a companhia do Conde Pesley ao invés da sua estimada Lavender, Gregory?

O sangue de Gregory gelou ao ouvir aquela frase. O que Gavin quis dizer com aquilo? Escrutinou o rosto dele em busca de alguma confirmação e encontrou o mesmo sorriso debochado de sobrancelhas arqueadas. Havia algo atrás daquele semblante presunçoso que o fez arrepiar-se. Era como se o irmão soubesse de algo. Temeu por Theodore.

A viscondessa massageou as têmporas e colocou-se no meio de ambos para apartar a discussão. Ela estava acostumada aos embates dos dois, bem como os insultos travestidos de elogios que usavam. Era doloroso vê-los brigarem daquela maneira, mas era algo que precisaria aguentar, visto que os dois já eram adultos e não davam indícios de quererem melhorar o relacionamento.

O olhar de Gavin permaneceu cravado no rosto de Gregory, exibindo tanta violência e malícia que o loiro voltou-se para a mãe.

━Irei visitar Lavender.

━Certo, tome cuidado.

Gregory assentiu, beijou-a no rosto e não olhou para Gavin ao sair do aposento. Do outro lado da porta, ouviu cochichos abafados e pressentiu que ambos estavam brigando, por qual motivo não sabia e era o que precisava descobrir. Antes precisava colocar os pensamentos em ordem e a única pessoa que conseguiria ajudá-lo era Lavender (e Theodore, mas não queria tentar a sorte após as palavras do irmão).

Agitado por conta do Baile e de tudo o que havia feito com Theodore naquela pequena sala, nervoso pela briga com Gavin e pela possibilidade de ser descoberto e sem conseguir tirar da cabeça a cena do príncipe Eric no bordel, Gregory subiu na carruagem que estava preparada próxima a entrada de casa deu o endereço ao cocheiro. 

Durante todo o trajeto tentou pensar em hipóteses para o olhar e a frase ambígua de Gavin, bem como para a briga dele com a mãe. Havia algum segredo entre ambos, talvez? Havia algo deixando Gavin eriçado? De um fato tinha certeza: o irmão estava escondendo algo.

A dor de cabeça obrigou-o a fechar os olhos e cruzar os braços. Precisava de um plano para descobrir o que o irmão estava escondendo. Lavender era a pessoa ideal para ajudá-lo, pois a amiga sempre era criativa nos jogos de detetive que faziam. Esperava que juntos pudessem inventar algum plano para salvá-lo e a Theodore, caso a situação exigisse. 

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Ruth Collins não acreditou quando viu a comitiva real em frente a sua casa. Sequer estava arrumada quando viu o Príncipe Eric e a Princesa Flora descerem de uma carruagem grande e opulenta. Em um minuto mandou a empregada dizer as filhas para se arrumarem e também em um minuto colocou sapatos mais elegantes e as jóias há muito tempo não usadas.

O tempo que as meninas Collins levaram para se arrumar foi recorde. Com os rostos vermelhos e a respiração ofegante, tentaram se recompor assim que desceram as escadas e permaneceram uma de cada lado da mãe, esperando ansiosamente pela batida à porta.

Qual era a razão daquela visita? Possibilidades ruins passaram pela mente de Ruth, que logo balançou a cabeça e ergueu o queixo. Se eles estavam ali era porque Rose e Lavender haviam sido educadas, gentis e ótimas dançarinas no Baile de Inverno, era no que preferia acreditar.

A batida na porta veio e o coração das três acelerou. Até mesmo a empregada tremeu ao abrir a porta e deparar-se com um guarda sério, que anunciou:

━Vossas Altezas Reais, o Príncipe Eric e a Princesa Flora.

Ele moveu-se para a lateral da porta e Flora e Eric entraram na casa com seus cabelos loiros e feições parecidas, escapando dos olhares e cochichos dos transeuntes e moradores dali.

━Senhora Collins, Eric cumprimentou-a com um beijo na parte superior da mão, exibindo um sorriso simpático e galanteador.

Ruth fez uma mesura como o protocolo exigia e sorriu, sem saber direito como comportar-se. Lavender encarou a irmã com os olhos arregalados e em seguida Flora abraçou-a como se fossem amigas de longa data. Girou-a rapidamente pelo lugar com um sorriso sincero e repleto de alegria.

━Lavender, senti tantas saudades suas que quis visitá-la hoje.

Saudades? Mas não havia passado muito tempo desde o baile...

Eric cumprimentou Rose da mesma forma que havia cumprimentado Ruth, depois foi a vez de Lavender, que recebeu um olhar enigmático do jovem rapaz. Os olhos azuis fixaram-se em seu rosto, mas sentiu-os na alma,.

━Eu disse a Eric que ele não precisava vir, pois só haveriam meninas aqui, Flora comentou e segurou a mão de Lavender.

A garota corou com o toque tão íntimo. Ser uma princesa era um sonho que perdia apenas para o de ser amiga de uma e ali estava um desejo que crescia em seu interior: conhecer Flora como uma amiga e não apenas como filha do Rei.

━Por isso mesmo eu devo vir, Flora, o Príncipe murmurou com ironia.

Lavender não entendeu a fala e franziu o cenho, confusa. Era estranho ver Eric sem a carranca do Baile, num humor menos hostil e mais aberto a conversas. Os olhos azuis límpidos dele percorreram a casa do teto ao piso e as três anfitriãs repararam na maneira discreta como o nariz dele se torceu.

━A que devemos a honra da visita, Vossas Altezas? Ruth perguntou no tom mais amigável que encontrou.

━Vim convidar Lavender para passar alguns dias no castelo comigo, Flora cantarolou.

━No castelo? Lavender perguntou, surpresa, e Eric mostrou um sorriso torto.

━Sim! Poderemos fazer piquenique no jardim, jogar jogos de tabuleiros, tomar chás importados, ler romances incríveis...

A expressão sonhadora da Princesa apertou o coração de Lavender. Ela sentia-se tão terrivelmente sozinha que era doloroso vê-la quase desesperada por uma companhia. Ali na casa antiga ela parecia um anjo iluminando o ambiente com a pele branca contrastando contra os móveis escuros. Os cabelos loiros quase brancos formavam um halo numa trança bonita em volta da cabeça, destacando o rosto de feições delicadas.

━Lavender, arrume suas coisas e vá com a Princesa, Ruth ordenou.

Lavender assentiu, corou e subiu as escadas correndo, quase tropeçando nos próprios pés. Com o coração acelerado, fez as malas de qualquer jeito, jogando as melhores roupas e calçados dentro dela.

Na entrada, Rose estava silenciosa e não pareceu gostar daquele convite. Ela encarou a mãe com o rosto vermelho, envergonhada por não ter sido convidada. Flora, que era sensível e observadora, aproximou-se da irmã de Lavender, pôs as mãos nos ombros dela e, de maneira reconfortante, disse:

━Mandarei uma carruagem para buscar a senhorita amanhã, assim poderemos tomar chá juntas, o que acha?

━Obrigada, Vossa Alteza, é muito gentil.

Os olhos de Rose encheram-se de lágrimas não derramadas e Flora apertou seu ombro para acalmá-la.

Enquanto Flora estava no quarto fazendo as malas, Flora engatou uma conversa animada com Ruth e Rose sobre o bairro, a casa e o Baile. Elas ficaram tão entretidas que não ouviram as conversas acaloradas que vinham da rua.

Discretamente, Eric aproximou-se da porta e abriu-a devagar, dando um passo para fora da casa feia e pequena. Viu o guarda discutindo com um rapaz que conhecia de relance e de quem desejava ficar longe. Gregory Lynch. O rosto dele estava vermelho e ele parecia pronto para brigar com qualquer um que o impedisse de entrar ali. Um comportamento nada nobre para o filho do Visconde, Eric pensou com sarcasmo.

━Senhor Lynch, deseja conversar com alguém?

Gregory olhou para o Príncipe com irritação. Aquela nem ao menos era a casa dele! Lembrou-se da cena do bordel e engoliu em seco. 

━Gostaria de conversar com a srta. Lavender, Vossa Alteza, Gregory disse.

━Temo que ela esteja ocupada, mas logo estará disponível. Enquanto isso por que não conversamos sobre o Conde Pesley?

O sorriso repleto de malícia fez Gregory suar frio. As pernas tremeram, assim como as mãos, e deixou-se ser puxado de maneira firme pelo Príncipe e conduzido para dentro da carruagem real, onde sentaram-se um de frente ao outro.

Gregory agradeceu pelas cortinas estarem fechadas, assim Eric não seria capaz de ver em detalhes seu semblante de pavor. Por que ele queria conversar sobre Theodore? Só havia um motivo plausível. Haviam sido vistos.

━O que deseja falar comigo? Gregory reuniu coragem para perguntar

━Que tipo de relação você o Conde possuem?

Era seu fim, Gregory pensou, em pânico. Apertou uma mão contra a outra e ponderou sobre como sair daquela situação. Eric inclinou-se para a frente e a única cor que viu naquele cubículo escuro foi a dos olhos dele, azuis repletos de impaciência.

━Somos...

Lembrou-se da sensação de ser vigiado que sentiu durante todo o Baile e um arrepio subiu por sua espinha. Obviamente haviam sido vistos, mas por quem? Certamente alguém a mando de Eric. Mas por quê?! Não conseguia compreender o motivo.

━Vocês dois são amantes, Eric disse num tom rude cheio de escárnio.

Tentou fingir surpresa, mas não era um bom mentiroso. Rangeu os dentes e fechou os olhos. Se falasse algo, sua voz o trairia.

━Eu sei da natureza da relação de vocês.

Gregory franziu o cenho e lembrou-se do bordel. Não havia mais nada a perder. Era a sua vida e a de Theodore que estavam em jogo. Desejou ter tido tempo para conversar com o Conde sobre o que poderiam fazer, mas estava sendo ameaçado de maneira sutil e precisava contra-atacar. 

━Vossa Alteza gosta de frequentar lugares nada respeitáveis.

Encararam-se com ódio nos olhos azuis. Gregory ouviu-o engolir em seco, depois viu-o sorrir e então rir como um louco. Tantas expressões num semblante que podia ser gélido e cruel. 

━Acha que acreditarão em você ao invés de mim? Eu sou o filho do Rei, o herdeiro legítimo do trono.

━Todos sabem que você gosta de se divertir, só não sabem como nem onde.

O coração de Gregory acelerou ao extremo e o sangue correu com mais velocidade por conta da adrenalina do que estava fazendo. Estava ameaçando-o, pura e simplesmente. Estava jogando com ele para ver se chegariam num acordo mútuo e silencioso de proteger os segredos um do outro.

Qual seria o custo daquele acordo? Temia que estivesse fazendo um pacto com o diabo.

Eric comprimiu os lábios com irritação.

━Você não tem provas.

Era hora de blefar.

━Conheço as pessoas que trabalham naquele lugar.

━Elas jamais falariam sobre um príncipe.

━Falariam, se te odiassem o suficiente. Como anda a aprovação do seu pai com as camadas populares?

Esperava que fosse o suficiente e considerou-se vitorioso quando viu-o inclinar-se para trás e fechar os olhos. Havia vencido, mas ainda havia muito a perder.

━Não tenho nada a perder ao expor vocês, sibilou finalmente.

━Há sim coisas a perder. Uma aliança com dois nobres conhecidos e populares que podem te garantir comércios prósperos no futuro. Seu futuro como rei sempre será marcado pelo escândalo do bordel caso ele venha a público.

Precisou ser mais explícito e os olhos dele se arregalaram um pouco. Estava jogando com a sorte, brincando com o futuro, barganhando um tempo para que pensasse em toda a situação.

Eric estreitou o olhar, inclinou-se e abriu a porta da carruagem.

━Saia.

━Temos um acordo?

━Não faço acordos com ninguém.

━Talvez precise fazer para se proteger.

━Você é insolente e me subestima, Gregory Lynch.

O nome de Gregory nos lábios dele saíram como um sibilar perigoso.

━Seu segredo está protegido comigo. Proteja o meu segredo e não teremos problemas.

Falar daquela maneira com o herdeiro do trono era insolência demais, Gregory sabia, mas não havia escolha. Precisava ser duro e ameaçador. Por dentro, o coração estava galopando e as mãos suando, estava no modo sobrevivência e faria tudo o que pudesse para proteger a própria reputação e, mais importante, a vida de Theodore.

Gregory saiu da carruagem e deu de cara com Lavender, que segurava duas malas nas mãos. Ao lado dela estava Flora.

━Lavender, preciso falar com você, Gregory murmurou.

━Lamento, Gregory. Irei para o castelo com Flora, ela me convidou para passar alguns dias lá.

Gregory olhou para a Princesa e viu um carinho estranho na forma como ela olhava para a melhor amiga. Um ciúmes estranho invadiu-o. Não queria perder a amiga e muito menos deixá-la ficar sob o mesmo teto que aquele rapaz estranho e perigoso. Precisava alertá-la, mas como? 

Lavender beijou-o na bochecha e entrou na carruagem seguida de Flora. Gregory rangeu os dentes e Ruth cumprimentou-o ao vê-lo.

━Não é incrível, Gregory? Lavender agora é amiga da Princesa Flora!

━Incrível, murmurou sem entusiasmo algum.

Sem ao menos despedir-se de Ruth e Rose, entrou na carruagem que lhe aguardava ao fim da rua e mandou o cocheiro ir até o Castelo Pesley. No espaço pequeno da cabine, limpou o suor do rosto com um lenço que tinha no bolso. Fechou os olhos e tentou acalmar-se. Gavin também sabia sobre aquilo ou, pior, fazia parte daquelas ameaças? Lembrou-se do sorriso presunçoso do irmão e afundou no banco. 

Precisava de uma bebida e de Theodore. Para passar o tempo lembrou-se dos toques na noite do Baile, das carícias, dos beijos e dos gemidos... Afrouxou um botão da camisa e suspirou. Tenso e revivendo as palavras que dissera para Eric, suspirou profundamente. Agora precisaria traçar um plano com Theodore e descobrir o que Gavin escondia. 

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